terça-feira, março 31, 2009

Dobroye utro, Maiakovski






O Amor
Maiakovski
(Adaptação de Caetano Veloso e Ney Costa Santos)

(...)
O século trinta vencerá
o coração destroçado já
pelas mesquinharias
agora vamos alcançar tudo o que não podemos amar na vida
com o estrelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
ainda que mais não seja
porque sou poeta
e ansiava o futuro
Ressuscita-me
lutando contra as misérias do quotidiano
ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
quero acabar de viver o que me cabe
minha vida para que não mais existam amores servis
Ressuscita-me
para que a partir de hoje a partir de hoje
a família se transforme e o pai
seja pelo menos o universo

e a mãe seja
No mínimo a terra
a terra

Da esquerda para a direita, Lilja e Ossip Brik, Roman Jakobson e Maiacóvski, foto de meados da década de 1920.

A geração que esbanjou seus poetas


Colaboração do jornalista Gutemberg Medeiros, doutorando, meu colega no grupo de pesquisas Textos da Cultura em Mídias Diferenciadas, coordenado pela querida professora Terezinha Tagé, no programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-USP.

"Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz".

Este verso do jovem Maiakovski de 1907 revela algo presente em vários momentos da cultura russa, uma atração pelo desconhecido trópico. Ainda bem que é rua de mão dupla.

Ótimo o vídeo e a letra que você postou hoje. O que me lembrou a foto que envio atachada com Lila e Ossip Brik, Jakobson e o poeta. Esta foto foi dada por Jakobson a Boris Schnaiderman quando veio ao Brasil, em 1968. Um ano antes, Boris e os irmãos Campos traduziram o poeta pela primeira vez do original no Brasil. Mas ótimo retrato de Maiakovski foi feito por sua cunhada (irmã de Lila) Elsa Triolet, como introdução à coletânea de poemas dele traduzidos por ela ao francês. Lá está a pessoa, não o mitificado. Neste texto, ele está ressuscitado, apesar de ser poeta.

É uma foto muito feliz e representativa de uma característica muito rara: o perfeito entrosamento entre os teóricos da linguagem e os artistas de vanguarda na Rússia dos anos 10 e 20. Ambos os lados interagiam e determinavam os respectivos rumos. Jakobson e Ossip eram do chamado grupo dos formalistas russos, amigos de Maiakovski e de outros artistas. Inclusive Einkhenbaum, Sklovski e Tinianov adentraram na literatura e foram roteiristas de cinema. Eisenstein intitula um de seus trabalhos mais importantes como A forma do filme não à toa. Maiakovski participava das reuniões teóricas dos formalistas russos. Uma época das mais ricas que ficou anos na geladeira e só a partir dos anos 50 começou a ser vislumbrada no Ocidente. Falta uma coletânea boa destes teóricos no Brasil traduzida do russo. Foi publicada uma pela Globo em 1971, mas tradução indireta com muitos problemas

Há um belo ensaio de Roman Jakobson A geração que esbanjou seus poetas (Cosac Naify, 2006) a partir da morte de Maiakovski e do destino adverso de outros na mesma época.

000000000000


Obrigada Gut! Vou aproveitar pra comentar outro assunto dessa gente maravilhosa e que fez o mundo melhor.

Estou com as Cartas de amor a Lilja Brik, de Maiakovski (1917-1930) (Hemus,1973). “Todas as cartas de amor são ridículas”, dizia o Fernando Pessoa, que também escreveu das suas. Eu adoro. Ainda mais desse trio fenomenal:Lila, Ossip, Maiakovski.

Têm apelidos, desenhinhos,milhões de beijinhos. São lindas. No prefácio, essa mulher extraordinária conta que viveu com ele durante 15 anos, desde 1915 até a sua morte.(Ah, Elsa Triolet, sua irmã, era casada com o poeta Louis Aragon)

“Em quase todas as cartas é lembrado O.M. Brik.

Ossip Maksimovic foi meu primeiro marido.Conheci-o quando tinha 13 anos.(..) Quando lhe disse que eu e Maiakovski nos havíamos enamorado um do outro, decidimos juntos que não havíamos de nos separar nunca.Naquele tempo Maiakovski e Brik eram já grandes amigos, unidos pelos mesmos interesses de ideais e pelo trabalho literário comum. Aconteceu assim que transcorremos a nossa vida espiritualmente e, em grande parte, materialmente, juntos.”


Isso é O Amor, traduzido na poesia postada aí em cima.




domingo, março 29, 2009

Paul MCCartney na Praça Vermelha. Moscou, 2003

Back in the USSR



Sabem lá o que foi isso?
O show foi em 24 de maio de 2003.
Este DVD assisti em Alfenas, há alguns anos, com meu primo Zé Alberto, outro beatlemaníaco juramentado. Fiquei emocionada só de ver a emoção das pessoas de todas as idades na Praça Vermelha, pela primeira vez vendo um Beatle.
Este, mais uma vez, é do Bebeto! Valeu!




sábado, março 28, 2009

Foto André Louzas




Um passeio noturno por São Paulo


tem

Gente

no chão

tem


Gente

aqui, ali

tem


Gente

enrolada

a dormir

na rua Direita

na Sé,

no Marco Zero

tem


Gente

no degrau

na calçada

na baixada do Glicério

tem


Gente

na marquise da Alfonso Bovero

na curva da Apinagés

tem


Gente



quinta-feira, março 26, 2009

Quem puxa aos seus não degenera

Atualizado em 29 de março


Minha vó materna, Julia, ficou cega após um parto.
Tia Judith, 94 anos, lá de Poços de Caldas, me lembrou hoje, domingo, que vovó perdeu a visão uma noite, na sua casa do Brás, em São Paulo, enquanto ouvia uma serenata: tocavam Branca.

Branca, valsa de Zequinha de Abreu, aqui com Heryck Santos, tirei do You tube, numa linda versão de Dilermando Reis. Heryck, músico que conheci agora, tocou à noite numa pracinha de Livramento, que talvez se pareça com aquele antigo bairro paulistano do Brás.





Mulher guerreira, aprendeu a ler em braile já velhinha, ajudou a me criar, tomava minhas lições, passava roupa, fazia biquinhos de crochê em toalhas, sim, fazia. A cada dia, ela dizia que "enxergava" uma cor: hoje tudo azul, amanhã tudo vermelho, não me lembro que cores gostava. Olhos perfeitos, linda e sempre bem arrumada, quando saia com minha mãe para qualquer lugar, perto ou longe.
E tão generosa.

Sempre morou conosco. Em Poços de Caldas, eu bem pequena, ela tinha apenas dois vestidos. Não éramos exatamente bem de vida. Bateu à porta uma pessoa necessitada e ela falou para minha mãe doar um deles.
E minha mãe disse: "Mamãe, a senhora só tem dois, como é que vai ficar com um só?"
"Ah Nilde, depois você costura um pra mim, né?"
Nunca esqueço da resposta dela a um médico. Num retorno, o homem perguntou se estava melhor. Vovó respondeu: "Sim graças a Deus".
"Graças a Deus nada, graças a mim", retrucou o delicado profissional.
Quando vovó voltou novamente, à mesma pergunta respondeu:
"Estou melhor sim, graças a Deus e ao senhor".
Sabedoria da sobrevivência de uma alma delicada nesse mundo...
Outra que a tia Judith contou: Estavam a vó e minha mãe na igreja, mamãe se afastou para ir ao altar e quando voltou o padre reclamava com a dona Julia: ela estava rezando de costas pro santo. Explicada sua cegueira, o padre pediu mil desculpas...(mas que padre tonto, quem é que iria entrar na igreja pra ficar de costas pro santooo??comentou a tia Judith)
E mais: num carnaval, estávamos assistindo ao corso em Poços, minha avó grudada no laço do meu vestido e eu escapei, ela não notou. Eu era uma pestinha..... Quando se vê, ela estava segurando no cinto de um homem , que, depois das desculpas, respondeu: "Pois eu estava aqui pensando, é com essa que eu vou pra Maracangalha".>/span>

Adorava ouvir rádio: novelas, programa da Ave Maria, às 18 horas, colocava um copo d'água em cima do rádio pra benzer.
Especialmente ficou fã, já aqui em São Paulo, do Cid Franco, que tinha, segundo lembro, um desses programas. Gostava tanto que pediu a mamãe para escrever a ele. Cid Franco respondeu e mandou junto um livro dele. Quem leu para ela? Deve ter sido minha mãe.Tenho por aqui, preciso achar, o livro e a carta.

Cid Franco, me lembra o querido amigo e companheiro de tantas lutas, Davi de Moraes, era deputado pelo Partido Socialista, ele o conheceu. Quando a Assembléia era naquele prédio lindo do Parque Dom Pedro, existia uma deputada destemperada e anticomunista ao extremo chamada Conceição da Costa Neves, que andava com um chicote, e chegou a declarar que iria chicotear o Cid Franco.
Davi diz que ele fez um discurso tão incrivel na tribuna que desarmou a mulher.
Disse também que Cid sempre foi ligado nas coisas espirituais.


Minha avó Julia está sempre comigo, assim como minha mãe. Ela se foi quando eu tinha 15 anos, mamãe há seis anos.

Anos depois, vim a saber que Walter Franco, esse admirável músico, filósofo, poeta, compositor, cantor, é filho do Cid Franco.

"Quem puxa aos seus não degenera" é uma música linda dele.
"Coração Tranquilo", de 1978, é outra que só anos depois vim a entender, quando a professora de Tai Chi disse: "mente quieta, coração vazio".
Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo, repete o mantra da música de Walter Franco, que canta aqui com seu filho Diogo. A coisa mais difícil, mas não impossível.
A vó Julia gostaria de conhecer o Walter. Especialmente gostaria dessa "Quem puxa aos seus não degenera", como eu gosto.



Quem puxa aos seus
Não degenera, não
Degenera, não
Não degenera

Daí meu pai disse
Meu filho, espera
A inocência que há
No olhar da fera

E a minha mãe, ai, ai
Meu Deus,quem dera
A paciência de uma
Longa espera

Quem puxa aos seus
Não degenera, não
Degenera, não
Não degenera

E a minha mãe, ai, ai
Meu Deus,quem dera
Quanta ciência
Quanta primavera

Daí meu pai disse
Meu filho, espera
Que a violência, meu amor
Já era



quarta-feira, março 25, 2009


Salve Jorge!


São Jorge é o cavaleiro da cruz que derrota o dragão do mal, da dominação e da exclusão. Estamos bem precisados dele, por isso, nunca é demais. Descobri que o grande Jorge Benjor musicou mesmo uma parte da Oração a São Jorge ( só eu, com essas descobertas que todo mundo já descobriu...)


Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge
para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem,
tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam,
e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão,
facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Não é da oração, mas do Benjor, esse trecho que abre a música:
"Jorge sentou praça na cavalaria/Eu estou feliz porque também sou da sua companhia"
( E eu, já pedi licença pra entrar também nessa companhia.)

"Perseverança ganhou do sórdido fingimento
Disso tudo nasceu o amor"

Aqui, com uma orquestra maravilhosa da qual não tenho informações, um super arranjo, com a Banda do Zé Pretinho, presumo, e com os sempre afinadíssimos Golden Boys.

Só falta chamar o síndico!

Salve Jorge!
Ogã toca pra Ogum!
Ogunhê!





Cuidado com as trevas, ou

a verdadeira história da greve dos jornalistas de 1979:

primeira chamada




Beware of darkness, a belíssima canção imortalizada por George Harrison no Concerto por Bangladesh, em 1971, me ocorre, a propósito da eleição do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e de outras coisas.

"Cuidado com os líderes gananciosos
Eles levarão vocês onde vocês não deveriam ir
Eles só querem crescer"

Este blog voltará ao assunto muitas vezes, a partir de agora.

Acabo de saber que uma vergonhosa edição especial do jornal Unidade, daquela entidade, sobre os 30 anos da greve de 1979, não cumpriu o preceito básico do jornalismo que é ouvir os dois lados. Ouviu praticamente um, e os donos de jornais e seus representantes.

Não entrevistou o então presidente Davi de Moraes, tampouco sua diretoria.
Aliás, Davi foi entrevistado, mas nada foi publicado.

Um dos mais dignos e corretos homens e jornalistas que já conheci - e esses dias tenho me encontrado com outros companheiros que lembraram, por coincidência, a importância de sua participação naqueles idos e duros anos de reerguimento do movimento sindical brasileiro e de redemocratização do país -- foi relegado ao esquecimento por aqueles que tentam apagar a História e reescrevê-la ao seu gosto.

"A verdade emerge", me lembrou dia desses o jornalista Paulo Nogueira -- citando o então editor do Washington Post na época do escândalo de Watergate --, sobre outro episódio mal contado, a noite da morte de Wladimir Herzog e o que aconteceu naquele Sindicato. Tema, aliás, que também será abordado aqui, em breve.

Não se pode enganar a todos o tempo todo.

Trinta anos já é o tempo necessário para o distanciamento histórico e para que a falta de vergonha seja exposta publicamente.

Este blog publicará, em maio, depoimentos que contarão a verdadeira história da greve dos jornalistas de 1979.

Enquanto isso ouçam, meditem e leiam George Harrison, aqui com Leon Russel

Atualizada em 26 de março, com a tradução da letra




Watch out now,
Take care beware of falling swingers
Dropping all around you,
The pain that often mingles in your fingertips
Beware of darkness

Watch out now,
Take care beware the thoughts that linger
Winding up inside your head
The hopelessness around you
In the dead of night
Beware of sadness

It can hit you, it can hurt you -
Make you sore and what is more,
That is not what you are here for

Watch out now, take care,
Beware of soft shoe shufflers
Dancing down the sidewalks,
As each unconscious sufferer
Wanders aimlessly,
Beware of MAYA

Watch out now, take care,
Beware of greedy leaders
They’ll take you where you should not go,
While Weeping Atlas Cedars
They just want to grow
Beware of darkness


Cuidado com a escuridão
Tradução do jornalista, escritor, poeta, roqueiro e meu amigo Ronaldo Antonelli


Atenção agora!

Toma cautela com os volúveis que caem

Pingando em volta de ti,

A dor que em geral se mistura à ponta de teus dedos,

Cuidado com a escuridão!

Atenção agora!

Toma cautela com os pensamentos que persistem

Retorcendo-se por dentro da cabeça,

O desespero que te cerca no fim da noite.

Cuidado com a tristeza!

Ela pode te atingir, pode te ferir,

Te deixando dolorido e, o que é pior,

Não é para isso que estás aqui...

Atenção agora!

Toma cautela com os trapaceiros que pisam macio,

Dançando pelas calçadas.

Como cada um dos sofredores inconscientes que perambulam sem destino,

Cuidado com Maya!

Atenção agora!

Toma cautela com os líderes gananciosos

Que te levam aonde não deves ir,

Como os ramos dos chorões nos jardins

Eles só querem continuar crescendo,

Cuidado com a escuridão!





terça-feira, março 24, 2009

De Villa-Lobos, o apaixonado brasileiro

Esta roubei do forum da Comunidade do Portal do Nassif, na página que construímos lá em homenagem a Villa-Lobos. O jornalista carioca e grande conoisseur de música erudita Henrique Marques Porto postou, e não resiti. Desfrutem.

"Sempre achei que os solos mais conhecidos compostos por Villa-Lobos para soprano -as Bachianas Brasileiras n. 5 e a Floresta do Amazonas- são na verdade mais adequados para as nossas vozes populares. Em 1968 Elizeth Cardoso cantou as Bachianas no Teatro Municipal com a orquestra da casa regida por Henrique Morelembaum. Foi uma apresentação memorável. Infelizmente não foi documentada. Procuro há anos e jamais localizei uma única gravaçãozinha amadora sequer deste que para mim foi um evento histórico para a nossa música. Um caso de falta de cuidado que dou como perdido.
Apurando a pesquisa no YouTube descobri Bibi Ferreira cantando a "Canção de Amor" da Floresta do Amazonas regida pelo mesmo Henrique Morelembaum a frente da Sinfônica do Rio de Janeiro no show "Bibi in Concert I". Bibi, que é grande cantora, confirma a minha tese. Essa canção fica mais bonita numa voz popular. Já existem postagens com essa música, mas não creio que seja demasiado acrescentar a versão em vídeo da Bibi Ferreira. E fico pensando como seria com a Elizeth, com a Elis, com a... Bom, confiram.
Abraços
Henrique Marques Porto"

segunda-feira, março 23, 2009

Sexo, paixões e cinema

Perdas e Danos-1992
Ultimo Tango em Paris- 1972


“A beleza de um corpo nu só o sentem as raças vestidas. O pudor vale sobretudo para a sensualidade como o obstáculo para a energia”.

A frase é de Fernando Pessoa, na pele de Bernardo Soares, no Livro do Desassossego, um dos meus de cabeceira.

Pensei nela sobre um post que li hoje sobre sexo no cinema, nesta vasta teia mundial.

As pessoas falavam sobre a banalização, e isso acontece no cinema, na TV, em qualquer mídia da imagem.

Então, citaram alguns filmes onde essas cenas não estão lá apenas para preencher espaços obrigatórios em função de $$$$.

Como O Império dos Sentidos, de Nagisa Oshima (1976) , O Piano (1993) da neozelandesa Jane Campion. E me lembrei de outros: O Último Tango em Paris (1972), de Bertolucci, e Perdas e Danos (Damage,1992), de Louis Malle. Além de outro de Bertolucci, La Luna (1979).

Todos tratam de relações destrutivas, de paixão sem limites, de carne e de alma.

Procurei o blog do Luiz Carlos Merten, do Estadão, que considero um crítico sério e competente, e li lá, sobre O Último Tango:

“No começo dos anos 70, não foi só a ditadura militar brasileira que se assustou com a cena da manteiga. Fui procurar nos arquivos do 'Estado' e encontrei uma reportagem de 1976, dia 5 de fevereiro, procedente de Roma, dizendo que as cópias do filme haviam sido inceradas no dia anterior, por uma decisão inapelável do Tribunal Superior de Justiça da Itália, que considerou a obra de Bertolucci perniciosa. Apenas três cópias foram salvas e depositadas na Cinemateca Nacional Italiana para documentar 'a evolução técnica e artística da cinematografia no país'. Em 1976, a Itália estava em guerra contra o terrorismo e a Máfia, mas - incrível! - o sexo parecia mais assustador do que a violência”.

No Último Tango,Marlon Brando e a desconhecida Maria Schneider.Em Damage, Jeremy Irons e Juliette Binoche. Em La Luna, Jill Clayburgh e Matthew Barry . Em O Império dos Sentidos, Elko Matsuda (Sada) e Kitisan (Tatsuya Fuji).

Volto ao Merten:

“Oshima havia sido um dos alvos preferidos da censura dos militares. A abordagem de sexo e morte de ‘O Império dos Sentidos’ provocou um terremoto nas casernas. Havia coisa pior por vir, mas o País estava mudando quando Oshima adentrou justamente as casernas. ‘Furyo –(1983) Merry Christmas Mr. Lawrence’ oferece uma súmula do trabalho do diretor. Aparentemente, é um filme de guerra, que se passa num campo de concentração japonês na ilha de Java, em 1942. A guerra e a violência são intrínsecos ao filme, mas os temas são outros. O sexo como elemento de destruição, os rituais que aproximam/separam duas culturas. Oshima fala de Oriente e Ocidente, de Japão e Inglaterra. Tudo gira em torno da conceitualização da morte. Para os ingleses, importa a vida. Para os japoneses, a vida só importa como preparação para a morte, à qual dará sentido. O filme possui basicamente quatro personagens. Ruichi Sakamoto, como o militar que comanda o campo, e Takeshi Kitano, seu auxiliar. No outro extremo, David Bowie, como o comandante inglês, e Bill Conti, como Mr. Lawrence, o único que fala japonês e, portanto, vira intérprete. Mais do que o idioma, Lawrence vira uma peça decisiva porque ele entende a cabeça de Yonoi, o personagem de Sakamoto. Lembro-me, e espero não estar mentindo, que na época Oshima ressaltava que o homossexualismo não era, mas havia virado um tabu na sociedade japonesa a partir da era Meiji, quando o Japão se militarizou. Uma das primeiras coisas que os militares fizeram foi reprimir esse lado da sexualidade. O livro em que ele se baseou para fazer ’Furyo’, literalmente ‘Prisioneiro de Guerra’, não faz nenhuma referência a homossexualismo, mas Oshima transformou a relação entre os personagens numa ligação homossexual. Sakamoto e Bowie são deuses que vivem sua história de confronto e paixão sob o olhar de homens comuns, seus comandados, e que são divididos pela guerra. Toda a arquitetura dramática converge para esse beijo que David Bowie dá em Sakamoto, quando ele ameaça matar o chefe dos prisioneiros ingleses e que é uma coisa tão devastadora que destabiliza o herói japonês, implodindo todo um ritual de representação do poder montado entre ambos”.

Filmes viscerais, assisti a todos, em suas diversas épocas. Revi alguns.

Assitimos ao Tango em uma sessão na casa de amigos que voltavam da França e trouxeram escondido na bagagem. Jamais me esqueci do filme, de Brando, de Schneider, da belíssima trilha sonora de Gato Barbieri. E, claro, não tinha pra vender. Anos mais tarde, ao passar pelo aeroporto de Recife, ouvi aquela maravilha no ar e comprei. Um LP, tenho até hoje.

Saí de todas essas sessões algo diferente do que havia entrado.

Não eram as cenas de sexo o motor de minha perturbação, mas a reflexão sobre a dor da existência, das paixões nunca saciadas, porque paixões.

Isto é cinema.



domingo, março 22, 2009

Receita de domingo
Purê de batatas à la Paul McCartney


Outra do precioso acervo do Bebeto

sábado, março 21, 2009

Devemos temer os jornalistas

Elizabeth Lorenzotti


Encontrei no baú este meu artigo escrito em 15 de outubro de 1996 para a Folha de S. Paulo, na seção Opinião.

"A notícia dizia que, ao cumprir sua pauta sobre como é fácil roubar bebês de um hospital, uma jornalista de Brasília sequestrou um bebê e foi presa, juntamente com a fotógrafa. A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) partiu para a defesa da repórter, argumentando que ela "não teve a intenção".

A princípio, acredita-se que exista diferença entre intenção e gesto. Por exemplo, podemos frequentemente ter a intenção de arrancar o fígado do próximo, mas não cumprimos o gesto.
A jornalista em questão e a Fenaj, entretanto, inauguram uma nova maneira de ver o mundo e o jornalismo. Se eu não tenho a intenção de arrancar o fígado do próximo, mas vou lá e o arranco, existem bons motivos e os fins justificam os meios.

Hoje, quando vivemos sob o domínio do medo - de sequestradores, ladrões, estupradores, das crianças no faróis, da polícia, etc.- , hoje, também devemos temer os jornalistas.
Se, em 1996, sequestra-se um bebê para comprovar a falta de segurança que nos cerca, talvez em breve nos tornemos "serial killers" para escrever com sangue a verdadeira história da psicopatologia.
O talento, a técnica, a seriedade, o equilíbrio e, acima de tudo, a ética profissional passam ao largo desse tipo de jornalismo.

Mudou o mundo, mudou o jornalismo, mudamos nós, é claro, tudo que é vivo está em constante mutação. Mas perdemos algo precioso e que precisamos urgentemente resgatar, em nome dos ecos de uma talvez já longínqua história, que nos deu bravos exemplos de íntegros jornalistas - e como nos lembramos neste momento de Perseu Abramo --, de tantas corajosas lutas sindicais - e como nos lembramos daquela noite de outubro, há 21 anos, quando ao menos 300 jornalistas invadiram o auditório do sindicato de São Paulo para não permitir que o assassinato de Vladimir Herzog fosse relegado ao domínio do medo.

Eu, jornalista, me envergonho mais uma vez, e uma sacrossanta ira me atropela, em nome dessa profisão que me sustenta, em nome de companheiros vivos e mortos por ideais, em nome dos cidadãos que nos lêem e não esperam ser sequestrados ou roubados por nós, mas informados decentemente, em nome de entidades sindicais que já viveram dias mais gloriosos e dignos, em nome de editores e donos de jornais e das faculdades, que têm o dever de ensinar, de formar, de mandar para as ruas, atrás da notícia, jornalistas que não cheguem para aumentar o caos em que estamos atolados, mas para jogar um pouco de luz nessa escuridão".

sexta-feira, março 20, 2009




Hosmany Ramos candidata-se a presidente


Do blog É Tudo Política, do amigo solertíssimo repórter Eduardo Reina, do Estadão

http://etudopolitica.blogspot.com


“Um assunto que não foi citado ainda nessa cobertura da queda do secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo, Ronaldo Marzagão, é que a polícia que ele chefiava não tem a menor pista de onde está o médico Osmane Ramos, mais conhecido como Hosmany Ramos, foragido desde dezembro do ano passado de presídio administrado pelo sucessor de Marzagão, Ferreira Pinto.”

A Wikipédia conta quem é essa figura: Osmane Ramos, mais conhecido como Hosmany Ramos é um médico-cirurgião, escritor e criminoso brasileiro.

Durante os anos 1970, tinha grande prestígio na área médica, atendia em dois consultórios próprios e era assistente de Ivo Pitanguy. O próprio ex-médico não sabe dizer o que o levou à vida de crimes, mas entre o fim da década de 1970 e o começo da de 1980 começou a traficar drogas internacionalmente, inclusive com vôos agendados de seu avião particular. Em 1981 foi condenado a 53 anos de prisão por roubo de aviões, contrabando de automóveis e pelo assassinato de seu piloto pessoal, Joel Avon, e do estelionatário Firmiano Angel.

Na cadeia, foi um dos poucos a conseguir escapar do presídio de segurança máxima de Taubaté. Não foi sua única fuga: no Dia das Mães de 1996 deixou o Instituto Penal Agrícola de Bauru e não voltou, mas foi recapturado no mês seguinte, em Campinas, ao participar do seqüestro do fazendeiro Ricardo Rennó, pelo qual foi condenado a mais 30 anos.

Hosmany responde a cerca de 23 inquéritos policiais. Durante o tempo que esteve na prisão, já publicou oito livros, sendo que Marginália foi lançado inclusive na França. Seu livro Pavilhão 9 — Paixão e Morte no Carandiru foi lançado na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2001, mas ele participou do evento por videoconferência, porque não teve sua saída autorizada pela Justiça. Cumpre pena em regime semiaberto na penitenciária de Valparaiso, mas em 1.º de janeiro de 2009, durante indulto de Natal e Ano Novo, convocou a imprensa para anunciar que não voltaria à prisão, como forma de protesto às más condições da penitenciária e pelo medo de ser morto após denúncias que pretende fazer em um livro. Ele de fato não voltou.

Antes de retornar, sua intenção era reunir-se com os juízes da Vara de Execuções Criminais a fim de explicar sua atitude de não voltar à prisão na data originalmente prevista, mas os juízes garantiram que não havia possibilidade de o receberem. "Ele prega a igualdade entre os presos e quer agora ser privilegiado? Aqui ele não terá tratamento diferenciado", avisou o juiz Emerson Sumariva.


Volto ao blog É tudo Política


“O médico-presidiário Hosmany Ramos tem uma página na internet onde se lançou candidato à Presidência da República em 2010. Veja sua justificativa para ser candidato independentre: "Aprendi na medicina o 'primo non nocere' (primeiro não fazer mal). Um candidato não pode encher o saco da população brasileira, invadindo os lares no horário nobre, com seu famigerado horário eleitoral gratuito, onde candidatos oficiais bancados pelos banqueiros e aristocratas, ocupam enormes espaços na tela da televisão para derramar sua verborragia paranóica, repleta de promessas, autopromoção e egolatria. Daí, ter escolhido ser um candidato independente. Pelo menos, não participarei dessas invasões absurdas dos lares, no horário nobre, com discursos chatérrimos que só servem para tirar o telespectador do sério, enchendo o saco, sem nada de útil. Só no Brasil, isso acontece! É um absurdo vergonhoso, ter que aturar a cara de pau desses gravatinhas maquilados. Se eleito, acabarei em definitivo, com esse suplício chamado horário eleitoral. Peço sua opinião no meu Blog, sobre o que você acha dessa invasão domiciliar no horário nobre da telinha. Se você concorda comigo, sei que poderei contar com seu apoio." Ah, bom...”


No blog do dr. Hosmany Ramos

http://www.hosmanyramos.com

você poderá ler matérias como esta:

Amnestia Internacional revela grande material sobre tortura em prisões Brasileiras (inglês)

quinta-feira, março 19, 2009

A amizade: sugestão de pauta
Beatles e Rolling Stones



">Reparem nas sapatilhas do George: me disse o Bebeto, o maior beatlemaníaco que conheço, que a gravaçao é de 1969, eles recém-chegavam da India, devia ser roupa de lá.

Aproveitei pra perguntar o nome do negão tecladista, que não conhecia, ele me contou e já esqueci. .
(O nome é Billy Preston, e ele morreu em 2006, leiam nos comentários).

Outra coisa que reparei: prestem atenção ao magrinho de óculos que aparece, em certo momento, junto à mesa de som, mais para o final.

"É o Mick Jaegger?????", estranhei.

"É ele", disse o Bebeto.

Sempre pensei que as duas maiores bandas de rock do mundo fossem concorrentes, brigados, não tivessem relações.
Nada disso, disse o Bebeto. Maior camaradagem. E contou um monte de histórias de gravações e tal, que já esqueci tudo. Seria bom o Bebeto aparecer e esclarecer essas histórias, que meus neurônios andam meio fracos.

Que linda essa gravação, hein?

Então me ocorreu, para quem se interessar, sem cobrar royalties, que este vídeo pode ser um gancho para uma linda matéria sobre a amizade. Especialmente para a TV.

Gente dessa qualidade, no topo do mundo, não rivalizava.

Ao contrário: ajudavam-se, trocavam idéias, davam palpites uns para os outros.

Mas eram gente como John, Paul, George, Ringo, Mick, Keith, Watts,Taylor (substituído por Woods em 74).


Ache outros vídeos como este em Portal Luis Nassif


Recebi do Bebeto este outro video super, os roqueiros todos devem conhecer demais, mas eu, não tão iniciada nessas maravilhas, desconhecia.

John e Mick conversam enquanto John come -- com hashi? -- e falam sobre os Dirty Mac, uma banda formada pelo Beatle para se apresentar apenas no festival Rock and Roll Circus, dos Rolling Stones, em 1968.
Mick começa chamando John de Winston e diz "Welcome to the show"
(yeah, seu nome é John Winston Lennon) e depois os Dirty Mac tocam Yer Blues, da dupla eterna Lennon e McCartney, do Álbum Branco.


E o que signiifca Yer?Ronaldo Antonelli, que no meio de sua numerosa lista de expertises, ( que começou com a de roqueiro) tem a de tradutor, me explicou assim:


Yer tem vários significados, todos ligados a gíria ou calão. À primeira vista, em se tratando dos Beatles, se pensaria num termo do slang, que é o calão ou gíria "oficial" e já antiga do submundo de Londres e outras cidades portuárias (Liverpool, Southampton etc.), no qual é uma corruptela de yes.
Essa acepção, porém, não bate com o espírito da letra da canção, que não tem nada de afirmativo, muito pelo contrário. Então o mais provável é que se trate de uma gíria do sul dos EUA, usada especialmente pelos negros, já que é um blues. E nesse caso yer é uma corruptela de your, assim como ye é uma corruptela de you."

Então, tks, tá explicado.


A banda era formada apenas por John na guitarra base e vocal, Eric Clapton, irreconhecível garoto, do Cream, na guitarra solo, Keith Richards assumindo o baixo e na bateria Mitch Mitchell, do Jimmy Hendrix Experience.
Do DVD Rolling Stones- Rock and Roll Circus, 1968, êta ano esse!!!!

quarta-feira, março 18, 2009

Despejo do Parque Cocaia
Alguma coisa está fora da ordem, muita coisa


Recebi do Henrique Yasuda, filho da minha amiga Aurora, este relato.
É incrível!
Na década de 1980, eu fiz parte de uma turma que militava na região Sul de São Paulo e fazíamos o Jornal da Periferia. O problema habitacional já era grave. A situação só piorou.
Mas fico feliz que existam garotos como o Henrique, com essa visão clara e consciência das coisas.
Um beijo, Henrique!
Seguem o texto dele e o vídeo que colocou na net.

Atualizado em 20 de março, com entrevista de moradora





Bom, para contextualizar, eu faço trabalho no Nucleo de Práticas Jurídicas da PUC-SP, que é mantido pela Faculdade de Direito. Temos um convênio com a Defensoria Publica do Estado de S.Paulo, da qual recebemos casos que envolvem a questao da regularização fundiária em toda a cidade de S.Paulo.

Na Defensoria Pública, existe um Nucleo de Habitação e Urbanismo, que tem a finalidade de "defender" causas coletivas, de comunidades que possuem algum problema com relação a documentacao do imóvel, ou em alguns casos mais críticos, que estão com alguma ordem judicial vigente, ordens como: reintegração de posse, despejo e por ai vai.

O Parque Cocaia é uma comunidade que se enquadra tanto no problema da documentação, como na questão crítica. Lá, as familias moram há mais de 20 anos na região, que fica na Zona sul da cidade, à beira da represa Billings. A Billings, assim como a Guarapiranga, estão passando por um processo denominado Progama de Manaciais.

Este programa tem o objetivo de recuperar as áreas à beira das represas, porém eles estão recuperando apenas as partes ocupadas por populações de baixa renda, enquanto os "marajás" do outro lado da represa, vao continuar no mesmo lugar.

O mais estranho disso tudo, é o peso da lei, para os pobres a lei tem o peso da saída imediata, para os ricos, a saída é lenta e gradual, enfim."

terça-feira, março 17, 2009




Notícias do jornalismo carioca:

O DIA vira tablóide


Há alguns dias meu amigo do Rio, Victor Passos, mandou este texto, preocupado com seus colegas que lá trabalham e com nova retração no mercado.A mudança seria neste domingo, 15. Assim como aconteceu com o Jornal do Brasil, pífia lembrança do que foi.
Não sei se O DIA já virou tablóide, mas a história é esta:


No dia 15, O DIA, onde trabalhei sete anos e quatro meses, vai virar tablóide. É uma pena ver o jornal se descaracterizar outra vez. Sim, porque a última reformulação gráfica ali realizada não funcionou e o jornal ainda abriu mão de uma logomarca forte, aquele O DIA em letras negras sobre fundo amarelo.

É verdade que à época do projeto, Ary Carvalho, o dono, já não estava mais entre nós. Se vivo fosse, talvez não permitisse tal mudança. Afinal, o velho jornalista empresário tinha a amarga experiência de anos atrás, quando tentando levantar a Última Hora carioca, contratou uma redação de respeito e de uma hora pra outra mudou tudo no jornal, inclusive o azul do logotipo. Resultado: o jornal despencou de vez.

Mas com O DIA, anos depois, o "Dr Ary", como era conhecido entre os funcionários. agiu diferente. Comprou jornal em 1984 e durante dois anos e tanto não fez qualquer alteração no produto. Dedicou-se a sanear a empresa e suas finanças. Só em 1987, ele arregimentou novamente uma redação de peso que reformulou todo o projeto editorial, abandonando o sensacionalismo do "espreme e sai sangue", sem deixar de ser um jornal popular. O DIA não perdeu os leitores antigos e ainda conquistou novos.

Em 1992, o "Dr Ary" acertou de novo, investiu US$ 40 milhões para construir um moderno parque gráfico e, em seguida o jornal passou a ser impresso em cores. Aumentou a circulação e chegou a vender num domingo um milhão de exemplares. Mas quando tudo parecia ouro sobre azul o "Dr Ary" resolveu mudar e começou a errar.

O dono de O DIA sempre sonhou em ter um jornal mais classudo, tipo o que fora o JB. Consta que já tinha até um esboço de projeto nesse sentido. Contratou uma consultoria que alertou para os riscos do mercado naquela ocasião, a saber: o possível desaparecimento do Jornal do Brasil e o fato de O Globo já ter um projeto de jornal popular engatilhado.

Não sei qual foi a leitura que o "Dr Ary" fez da consultoria, mas o fato é que ele decidiu que O DIA passaria a disputar leitores com O Globo e começou a mudar o jornal. Trocou o comando da redação, que dois anos mais tarde ia fustigá-lo, chefiando a concorrência.

O poder de fogo do império global, como era de se esperar, era maior e agiu mais rápido. Em 1998 criou o EXTRA, que absorveu vários profissionais de O DIA e, em pouco tempo tomou-lhe a dianteira. O "Dr Ary" morreu sem realizar seu sonho de jornal classe A/B e vendo a sua "galinha dos ovos de ouro" definhar a cada dia na circulação.

Após a sua morte, sua filha Gigi, no comando da empresa, mudou o projeto gráfico do jornal (que não funcionou) e lançou o Meia Hora com o objetivo de concorrer com o EXTRA. O Meia Hora realmente emplacou, é um dos jornais que mais vendem no Brasil, mas foi um tiro no pé, pois "canibalizou" os leitores de O DIA.

Agora vem o tablóide, nova mudança para diminuir os custos de papel, enfrentar a crise e deter as quedas de circulação e de receita publicitária. Sei não, temo pelo emprego dos meus colegas que lá estão e por nova retração no mercado de trabalho. Torço para estar errado.

segunda-feira, março 16, 2009

Os sonhos mais lindos

(Atualizado em 17/3)

Desde sábado ouço Elis. Ontem 16, coloquei essa lindíssima interpretação. Só hoje lembrei/soube que é data de seu aniversário.
Soube também da morte de Clodovil, no mesmo dia do nascimento de sua musa.
Minha mãe gostava muito dele. Eu também. Ríamos demais com ele.
À parte suas opiniões iconoclastas sobre tudo, era um esteta: na agulha, na cozinha, nos arranjos de flores que fazia nas tardes, nas artes em geral, que promovia. E levava artistas brasileiros para se apesentarem ao vivo, coisa rara.
Minha mãe dizia assim:"Tomara que ele não fale mal de ninguém agora, nesse novo programa, pra não ser demitido".
ahahahahahah
Mas ele falava, e dançava sempre.
E a Rede TV e a Bandeirantes que me lembre - ele sempre repetia - deviam $$ a ele. Agora não precisarão pagar.
Não tinha medo de nada, eu o ouvi falar um dia, não tinha medo da morte.
E também disse que a única pessoa que amou na vida foi sua mãe.
Filho adotivo.
Deus guarde Clodovil e Elis.





sexta-feira, março 13, 2009

Trinta anos esta noite



Reproduções Sindicato dos Bancários de São Paulo- Fotos Jesus Carlos


Foto arquivo pessoal da Tita

Fulvio Abramo e Tita Dias, quando ela ganhou a primeira eleição para vereadora pelo PT, em 1988.
Fulvio ( irmão de Cláudio, tio de Perseu) : grande jornalista, bravo lutador, homem de bem



Trinta anos esta noite

A Historia do Sindicato dos Bancários mudou a partir de 12 de março de 1979

A festa foi no belíssimo prédio Martinelli, onde funciona o Sindicato dos Bancários de São Paulo. Há 30 anos, quando foi eleita a primeira diretoria que tirou a entidade das mãos dos pelegos -- dentro da histórica construção do novo movimento sindical, que desembocou em grandes lutas na década de 80, e já vinha de um processo iniciado em meados da década de 1970 – o endereço era Rua São Bento, 356, décimo nono andar.

Foi lá que os conheci: Rui, Tita, Luizinho, Gush, Augusto, Gilmar, Edson, Ademar, Washington, Vitor, Acy e quantos mais da nova diretoria. Genésio, Terezinha e dezenas, centenas de militantes de bancos particulares e estatais.Jesus Carlos fotógrafo,Valdeci jornalista, Mila e Alice secretárias, Silvia socióloga, Antonio, diagramador- poeta de Belém, apaixonado pelos concretistas, depois substituído pelo garoto Arnaldo, que aprendeu a profissão lá, Eton ilustrador, Douglas, advogado, dr. Sady, advogado que já partiu,Serginho, do Dieese.

E os meninos do teatro de rua, maravilhosa atividade cultural: Cachoeira,Renato, e mais o Jorginho Odara, o mais talentoso, na minha opinião, que também já partiu.

Quantos! Muitas vezes encontro com bancários daquela época fervilhante pela cidade, eles me reconhecem, eu lembro de seus rostos, mas não dos nomes: como lembrar de tanta gente?

Foi a experiência mais forte e importante que tive, ao longo da minha vida jornalística. O Suplemento Diário da Folha Bancária, que completará 30 anos em 2010, era uma folhinha tamanho ofício, frente e verso. Na frente, reproduções de notícias do jornal relativas ao setor bancário, atrás, denúncias sobre condições de trabalho dos bancários. Datilografadas, diagramadas de manhã cedinho, rodavam numa pequena impressora pilotada pelo seu Jairo. Coisa quase manual.

Eram imediatamente distribuídas por diretores e militantes nas agências. Tinham retorno imediato: bancários ligavam, mandavam denúncias, e o Bradesco era o campeão delas.

Interação quase tão rápida como hoje proporciona esta internet.

Começou com menos de mil exemplares, foi aumentando a tiragem, aumentando, 2 mil, 3 mil, 10 mil!! E chegou acreditem, a 100 mil, na época da intervenção, quando o bravo sindicato continuou, paralelamente, publicando, como aconteceu com os metalúrgicos de São Bernardo, em situação idêntica.

Ontem peguei nas mãos um exemplar, bonito, bem impresso, colorido: edição de 12, 13 e 16 de março: número 5.187!!!!!

Nunca briguei tanto, com tantos militantes de tantas correntes: nossa missão era preservar o equilíbrio das tendências no boletim e no jornal principal, a Folha Bancária, tradicional órgão do Sindicato, mensal.

Cada grupo de banco fazia seu jornal, e eram tantos. Estes, nós apenas revisávamos, editávamos e imprimíamos.

Assembléias rumorosas,(eu já estava acostumada com as dos jornalistas, igualmente exaltadas, mas mais comportadinhas) logo que cheguei fui cobrir uma e não acreditei: dois diretores tinham subido em cima da mesa, aos berros, e eu pensei: "Mas onde é que eu fui amarrar minha égua?"

rsrsrsrs

Libelu, Partidão, Convergência, sei lá mais que tendência, e independentes.

Ontem, no simpático Café dos Bancários, depois de discursos emocionados, bem humorados, tristes, contundentes, eu os reencontrei pra conversar e tomar cerveja. A trilha ideal seria a de Renato Teixeira:

Sentimental eu fico

Quando pouso na mesa de um bar

Eu sou

Um lobo cansado, carente

De cerveja, e velhos amigos.

Na costura da minha vida
Mais um ponto
No arremate do sorriso mais um nó

Encontrar velhos amigos é bom, encontrar velhos companheiros não tem preço.

Um dia eu conto mais. Um grande beijo para todos os que estavam e os que não estavam lá – mas só para aqueles que continuam do nosso lado.

E um beijo intergaláctico para Julinho de Grammont, o maior jornalista que nossa imprensa sindical já teve.



As matérias a seguir foram retiradas do site do Sindicato


http://www.spbancarios.com.br/index.asp


30 anos da retomada: "O Sindicato ganhou vida"



A retomada do Sindicato dos Bancários pela categoria em plena ditadura militar completa 30 anos, mas o bancário Genésio dos Santos Ferreira não se esquece da emoção que tomou conta dos trabalhadores nos dias que se seguiram à histórica eleição de 1979. "Foi uma grande festa, pela primeira vez eu vi o nosso Sindicato cheio de bancários. O clima de otimismo tomou conta da categoria, que não estava acostumada a encontrar dirigentes sindicais na porta do banco, com megafone na mão, lutando por melhores condições de trabalho. O sindicalista passou a ser de carne e osso e os bancários finalmente puderam se sentir representados. O Sindicato ganhou vida, uma novidade para todos, inclusive para os novos diretores", recorda.

Genésio era funcionário do Banco do Brasil desde 1974, mas só decidiu se sindicalizar seis meses antes das eleições de 79 para poder votar. "Era o prazo máximo. Eu não me sindicalizei nem um minuto antes para não dar um tostão para aquela diretoria que não me representava. Só me filiei para poder votar", conta o bancário, com orgulho.

Naqueles difíceis anos de ditadura, qualquer manifestação era rapidamente reprimida com violência pela polícia militar. A censura e todos os outros instrumentos de coerção do governo, entretanto, só serviam para estimular a luta dos brasileiros pela redemocratização do país, segundo Genésio. "Muitos de nós, bancários, já participávamos do movimento estudantil. Entrar para a luta no Sindicato era mais um passo contra a ditadura. Todo esse caldo servia como estimulante para trabalharmos sempre em coletivo. Antes mesmo da retomada do Sindicato, invadíamos a entidade para nos reunir, seja para discutir questões do trabalho ou organizar a luta política. Depois que retomamos o Sindicato, fazíamos reuniões no domingo à tarde que juntava mais de duzentos bancários”, lembra, destacando que o número de filiados ao Sindicato cresceu rapidamente após as eleições de 79.

Mesmo com essa vontade toda de lutar pela liberdade, organizar as greves de 1978, 79 e 80 não foi fácil. Os bancos privados demitiam quem participasse do movimento e o governo reprimia os grevistas com violência. "Fazer greve significava certamente apanhar da polícia. Não tinha erro", garante.

Preso por acaso – Em 1980, os trabalhadores do ABC, liderados por um jovem metalúrgico chamado Luiz Inácio Lula da Silva, construíram uma grande greve, que estimulou uma série de paralisações em todo o país. Sindicatos, igreja e outras entidades ou pessoas que queriam o fim da ditadura criaram um fundo para ajudar os grevistas, principalmente com alimentação.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo entrou nesta corrente de solidariedade e organizou uma manifestação em frente ao prédio do Banco do Brasil na avenida São João, onde Genésio trabalhava. Além de apoiar a greve do ABC, os bancários de São Paulo também coletavam fundos. A grande atração da manifestação foi a disputa de partidas de xadrez, com o campeão Herbert Carvalho. Genésio saiu do banco já no final da mobilização e desafiou o campeão para uma partida.

"Estava entretido com o jogo quando a polícia chegou e me levou preso, juntamente com o enxadrista e com o diretor do Sindicato, Luiz Gushiken. Ficamos detidos por cinco dias por causa do movimento de solidariedade dos bancários. O problema é que o único movimento que eu estava fazendo naquela hora era com as pedras do xadrez. No fim, acabei na cadeia, mas posso dizer que não perdi aquela partida do enxadrista campeão, até porque a polícia me levou antes que acabássemos", recorda.


30 anos da retomada: o início da grande virada


No final dos anos de 1970, a ditadura militar não conseguia mais segurar a luta pela liberdade que tomava conta do Brasil. As greves que explodiam principalmente no ABC paulista criavam um novo sindicalismo, que lutava pela redemocratização do país e contra a estrutura sindical autoritária imposta pela ditadura. Foi neste contexto que os bancários de São Paulo fizeram história há exatos 30 anos, quando, em 2 de fevereiro de 1979, um grupo de jovens funcionários dos bancos – entre eles Augusto Campos, Luiz Gushiken, Gilmar Carneiro e João Vaccari Neto, que assumiriam a presidência do Sindicato posteriormente – conseguiu o que parecia impossível: vencer uma eleição que recolocou o Sindicato na luta pelos direitos da categoria e por uma sociedade mais justa e democrática. A posse foi no dia 12 de março daquele ano.

A eleição acabou sendo um marco na história dos trabalhadores brasileiros e foi fundamental, por exemplo, para a criação da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, quatro anos mais tarde. As muitas vitórias conquistadas pela categoria de lá para cá não apagam aquele difícil começo, por conta da forte repressão dos militares e da falta de estrutura de mobilização do Sindicato, que contava apenas com uma máquina offset pequena para rodar boletins e um megafone.

Nesses trinta anos, o Sindicato cresceu e se estruturou. Criou subsedes regionais que se espalharam pela cidade e aproximaram ainda mais a entidade dos bancários. A pequena e arcaica máquina offset deu lugar a uma das mais modernas e importantes gráficas do país, a Bangraf. Já em seu primeiro mandato, o número de sindicalizados saltou de 26 mil, em 1979, para 46 mil em 1981. Os bancários também ganharam um centro de formação que investe na educação dos profissionais. Além disso, a partir de 79, o Sindicato passou a atuar mais voltado para a sociedade, investindo em políticas públicas que favorecem todo o Brasil.

Repressão e recessão – “Não havia liberdade nenhuma, a repressão era extremamente violenta”, lembra o diretor do Sindicato à época, Gilmar Carneiro, que foi preso por quinze vezes e alvo de dossiês com mais de mil páginas no Arquivo Nacional e na Delegacia Especializada de Ordem Política e Social de São Paulo, a Deops. “A falta de liberdade era grave, mas nem acho que seja o maior dos problemas. O país passava por uma grave crise econômica, havia um forte arrocho salarial, o desemprego era alto e a inflação descontrolada. Essa combinação era pior que a falta de liberdade e dos direitos humanos do ponto de vista da mobilização. A economia era o maior empecilho”, conta.

Mas a conjuntura política era extremamente favorável, afirma Deli Soares que, em 79, trabalhava no Banco do Brasil. “A categoria estava repleta de pessoas que também integravam o movimento estudantil e que queria uma direção que enfrentasse a ditadura e os banqueiros, que brigasse pela anistia, pela volta das eleições diretas”, diz.

O início e a consolidação – A primeira greve comandada pela nova diretoria, em 1979, consolidou a nova proposta de sindicalismo, mas também acirrou as perseguições por parte do governo, resultando no afastamento de quatro dirigentes e no enquadramento de outros dezesseis na Lei de Greve e um na Lei de Segurança Nacional. O novo sindicalismo pautava a luta da categoria por melhores salários e condições dignas de trabalho, aliada ao movimento constante de reivindicações gerais da sociedade: anistia, eleições diretas, constituinte. Um ano antes, em 1978, os bancários já haviam encampado uma greve, que permitiu a vitória nas eleições da entidade. Essas duas greves serviram de aprendizado para consolidar uma organização no local de trabalho que permitiu a histórica greve nacional de 1985 – movimento de massa que foi resgatado na greve da categoria do ano passado.

A relação com os bancos – “A ditadura estimula as pessoas a serem grosseiras. E os bancos, aliados do Estado e dos militares, endureciam nas relações com os bancários e com o Sindicato. O Itaú contratava espiões profissionais para infiltrá-los em nossas reuniões. O banco chegou a contratar funcionários da polícia de repressão portuguesa. O Bradesco fazia o que queria com as leis. Era muito complicado, mas o fato de os bancários serem uma grande categoria, mais de 1 milhão na época, a mobilização era mais fácil. Hoje temos 600 mil bancários a menos, 600 mil empregos que foram precarizados pelos bancos”, comenta Gilmar.

Muita coisa mudou, outras nem tanto – Para Gilmar, muita coisa mudou de lá para cá. Outras nem tanto. “Por exemplo, em 1979 formamos uma comissão para pedir o apoio do presidente do Senado. Quem era? José Sarney, que também era presidente da Arena, o partido da ditadura. Engraçado como muita coisa não muda. Mas as próprias pessoas mudam, hoje o Sarney transita tranqüilamente pela esquerda.

Outras pessoas, como o atual vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, foram para a direita. Ele lutou lado a lado com os bancários na época, inclusive o comitê eleitoral da nossa chapa de oposição ficava no prédio de propriedade dele”, conta.

A vitória da oposição nas eleições que ocorreram entre 29 de janeiro e 2 de fevereiro de 1979 e as primeiras greves que os bancários encamparam em plena ditadura militar foram os embriões que formaram o que o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região é hoje, uma das maiores e mais fortes entidades representativas dos trabalhadores do mundo. Todas as conquistas que a categoria garantiu nas últimas décadas só foram possíveis graças à luta daqueles que, em plena ditadura, decidiram desafiar os militares e construir um novo país.