quinta-feira, setembro 16, 2010

Aquele buraco no meio do peito



Um querido amigo conta que ficou com insônia esta noite, lembrou dos seus mortos, consultou-os, pensando o que seria, afinal, aquele buraco no meio do peito dele. "Um enorme buraco negro, maior que o do próprio universo".
Solidão, carência, etc., etc.? Daí esta manhã, o tresnoitado que ainda consegue ler jornal, viu o artigo de um psicanalista. Falava sobre queixas de homens , de que faltam mulheres, e de mulheres, de que faltam homens. Então, escreveu o psi, quando a pessoa encontra outra de quem gosta, fica logo pensando que não gosta, que não é aquela, e corta logo.
Analisa que isso é “típico da cultura urbana moderna, em que cada um precisa, desesperadamente, do apreço e do amor dos outros, mas, ao mesmo tempo, não quer se entregar para esses outros (cujo amor ele implora). Em suma, "ficamos" e "pegamos", mas sempre lamentando os amores assim perdidos, ou seja, procuramos e testamos ansiosamente o desejo dos outros por nós, mas sem lhes dar uma chance de pegar (e prender) nossa mão. Esse é o roteiro padrão de nosso mal-estar amoroso.”
Até que o psi desta vez falou algo que presta.
Comenta o meu amigo insone: “Normalmente associamos o conceito de carência afetiva à falta de amor. Sempre estranhei ser considerado uma pessoa “carente afetivamente", afinal, desde sempre fui muuuuuuuuuuiiito amado, amadíssimo. Fui muito amado pela família, por amigos, por colegas de trabalho e, no quesito relação homem/mulher aí então foi covardia: fui amadésimo por mulheres inteligentes e interessantíssimas (muitas!). Mas, fica a dúvida freudiana: e eu amei? e eu aprendi a amar? e eu soube dar amor?”

É verdade, se tem uma pessoa amada é o Edson. Que, finalmente, começou a entender o espírito da coisa. E resolveu o que vai fazer: “Quanto a mim, encerrado este longo e-mail, vou entrar num site de relacionamento e ver se consigo alguma coisa, algum colo, algum ombro, pra encostar minha carcaça cheia de amor pra dar (embora eu não saiba bem como fazê-lo)”.



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