domingo, novembro 30, 2008

Um poema antigo para Maiacóvski


Por Vladímir Maiacóvski

De Elizabeth


Vladímir voz de veludo
Carcaça gigante, eu te reverencio
Porque se passaram 66 anos
e passarão cem, e o século vai virar
e mais mil anos
e sempre ressuscitarás a cada poema
E continuarão a ler tua obra/vida
Com ou sem balalaikas
Ó delicado!
A iluminar, a brilhar
A libertar povo e poesia
Muita coisa junta para um só poeta

E a misérias do cotidiano
E os amores servis
E o deserdados do mundo
Ó delicado!
Tudo mudou
nada mudou

É preciso que tudo mude, eles dizem
Para que tudo permaneça como sempre foi

Este o slogan do século 20
(Não o seu , não o nosso)

New York, Moscou, Praga
São Paulo (Brasil, lá onde poderia existir um homem feliz)
As capitais engasgadas
Desenrolam suas misérias
Sérvio e croatas, afegãos,
e nordestinos, cucarachos e africanos
judeus, palestinos, e curdos e tantos
sangram como talvez nunca
tenha sangrado o homem

Vladímir, foi bom
foi bom que teu tempo se esgotou tão cedo
Quanto disso o poeta poderia suportar?

Resta-nos beber da tua fonte
Ó delicado!
Entoar poemas pelos bares vadios
E brilhar
Nossa vingança é brilhar
Brilhar sempre
Brilhar como o sol

sexta-feira, novembro 28, 2008

Livros, essa coisa antiga

Do Abrapalavra, do jornalista e escritor Ronaldo Antonelli:
http://ronaldoantonelli.blogspot.com/search/label/Abrapalavra

"Procurou-me uma sobrinha, na casa dos vinte anos e estudante de comunicações, perguntando pelo porão de casa, local amplo e aproveitável que uso como sala de trabalho: queria saber se lá havia ainda “aquelas estantes com livros”.
Dono de alguns milhares de livros que acumulei durante a vida, respondi que naturalmente ainda estavam lá – até pela dificuldade de sua remoção, sempre presente numa eventual perspectiva de mudança. Ela me explicou que desejava fazer uma filmagem, para um documentário que produzia como trabalho de faculdade.
Visitando o local, a sobrinha concluiu que era ideal para suas necessidades de apresentar um ambiente de “coisas antigas”, de acervo bibliográfico antiquado para introduzir a matéria sobre histórias fantásticas e de terror que constituía o tema de seu trabalho.
E veio a equipe, composta de vários jovens com tralha de equipamentos, que se mostraram admirados com a quantidade de livros e a aparência anacrônica do acervo. Com alguma discreta indagação, apurei que o que reputavam antiquado era a mera existência dos livros, reunidos em tal quantidade.
Sua matéria falava nas lendas medievais, tal como coletadas pelos irmãos Grimm, e sua busca de ambientação entre estantes vetustas tinha começado por bibliotecas públicas e sebos, mas seus pedidos tinham esbarrado na burocracia dos funcionários e na má-vontade dos comerciantes. Foi então que minha sobrinha se lembrou do porão de seu livresco tio.
Os membros da equipe fizeram seu trabalho e se foram, agradecendo-me pelo empréstimo do local. Fiquei pensando na idéia que tantos jovens atuais parecem fazer dos livros. Lembrei-me de que minha sobrinha dispõe, em sua casa, de um quarto exclusivo, com seu computador e aparelhos de áudio e vídeo, onde uns poucos livros se alojam em sua escrivaninha – aqueles estritamente utilizados no dia-a-dia escolar.

Pensei nos quartos e casas de outros jovens, incluídos amigos de meu filho mais novo, e a memória não me revelou quadro diferente. Depois me recordei de um instalador de redes, estudante de informática de nível superior, que ao visitar o porão de casa também se intrigou diante dos livros... sugerindo que “hoje o Google e a Wikipedia substituíram tudo isso, não?” Tentei argumentar que nem de longe se poderia supor tal substituição, mas logo percebi a árdua tarefa que teria pela frente.
Tremi à idéia de que estaríamos (“estaríamos” quem, cara-pálida?) repassando aos jovens a noção de que as volumosas massas de livros de papel das bibliotecas seriam “antiquadas”, ultrapassadas e... inúteis, talvez, diante das modernas tecnologias de armazenamento de textos – e, pior que isso, diante das atuais necessidades de seu uso, já não absorvido, exaustivo e mnemônico, porém imagético, salteado e acessável via cliques ou outras formas de solicitação técnica.

À idéia, enfim, de que a própria cultura se estaria rapidamente reduzindo a um recurso secundário, confinada a nichos museológicos e a cargo de especialistas excêntricos. A um exótico tema de documentário para um TCC – trabalho de conclusão de curso... quem sabe, por isso mesmo, premiado pela originalidade!

sexta-feira, novembro 21, 2008

terça-feira, novembro 18, 2008

Apenas alguns minutos . De silêncio?

Sérgio Neves/AE

Paulo Sérgio, operador da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) tentou o suicídio com um tiro no peito esta tarde em São Paulo.

Está internado em estado grave, 36 anos, 3 ou 4 filhas - as notícias são desencontradas- corretor da Itaú. Sofre, segundo essas notícias desencontradas, de síndrome de pânico, entre outras doenças graves do desequilíbrio, tão corriqueiras hoje em dia.

Comprou uma casa a prestação.

Com a fusão entre Itaú e Unibanco, estava preocupado com a possibilidade de perder o emprego, o que vai acontecer com muitos e muitos bancários, claro como água.

Em nota, o Itaú afirmou que está dando "total assistência ao funcionário e a seus familiares". "Em profundo respeito ao ser humano, não comentaremos o fato", acrescentou o comunicado.

Quem ler sobre o movimento do dia da BM&F no Globo online, talvez não repare. Eu reparei:

" RIO - A instabilidade voltou com força no dia ao mercado financeiro, no mesmo dia em que o Japão anuinciou quadroo recessivo. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) apresentou queda durante toda a manhã, passou a subir por volta das 15h, começou a variar intensamente até fechar em queda de 0,2%, aos 35.717 pontos.(...)
Além da instabilidade predominante no dia, a sessão na BM&FBovespa ainda foi marcada por um grave incidente"

E aí entra o link para o tiro no peito.

Ia reclamar e xingar, quando senti do que se tratava, não sem um arrepio.

E disse lá que , na verdade, colocar a tentativa de suicídio no meio da notícia, que começa com o movimento da Bolsa, não é erro jornalístico.

(Afinal, nenhum homem mordeu um cachorro. Um homem apenas atentou contra a vida, diriam os manuais de redação).

Os trabalhos foram paralisados na Bolsa durante o tempo necessário para a retirada do corpo, e para os operadores se recomporem.

O que é uma mera vida humana perante a roda infernal da especulação financeira nacional e internacional?

A parada não foi oficial, e o pregão eletrônico continuou firme.

Por que eu iria reclamar da forma como foi redigida a notícia pelo jornalão?

Trata-se, constatei, apenas do reflexo de como essa SOCIEDADE DOENTE BANALIZA A VIDA E A MORTE, QUANDO, SEMPRE, O QUE ESTÁ EM QUESTÃO É O DINHEIRO.

A culpa não é só do jornal.

Ela é toda nossa.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Para corruptos e assassinos? Tudo!

Verissimo, no Terra Magazine

As Cobras do Verissimo vêm bem a propósito de duas noticias de hoje. À primeira vista podem fazer crer que a Justiça está sempre atenta e vigilante, mas...
Uma, o julgamento do juiz De Sanctis - cujo afastamento do inquérito que apura a Operação Satiagraha fora requerido pela defesa de Daniel Dantas. Por incrivel que pareça, a Justiça Federal de São Paulo decidiu pela permanência do juiz . O placar foi de dois votos a um, favoráveis ao magistrado.

Além deste, o juiz também será alvo nesta semana do julgamento de um processo administrativo pelo Conselho Nacional de Justiça, presidido pelo ministro do STF Gilmar Mendes, que tem feito o posíivel, o impossível e o incrível para livrar a barra de DD.

Este país , muito parecido com aquele relatado por Kafka em O Processo -- pemite que suspeitos de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e comprovadamente acusados de subornos milionários consigam virar o jogo e partir para a acusação. Um país que está sempre à frente quando se trata de livrar ricos e poderosos de suas penas.

Pois hoje também foi dia de outro julgamento: a OAB resolveu negar a sua carteirinha ao ex- jornalista Antonio Marcos Pimenta Neves, que matou a jornalista Sandra Gomide em 2000. Ele se formou em direito em 1973, quando a lei dispensou do exame da Ordem os advogados graduados até aquele ano, mas só pediu a inscrição em 2002, dois anos portanto após o crime..
Réu confesso, condenado por assassinato premeditado, Pimenta Neves está solto há anos, e ainda quer ser livre para advogar.
Em 2006, ele foi condenado em primeira e segunda instâncias. Mas aguarda em liberdade que sejam julgados todos os recursos impetrados por seus advogados, graças a uma liminar do STF.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Guerreiros do Viaduto



Fotos Jesus Carlos



O repórter fotográfico Jesus Carlos acompanha, há mais de um ano, essa atividade sob dois viadutos em Sampa: do Café, no Bexiga, e Alcântara Machado, no Brás.

Ele diz que o boxe é um esporte considerado de baixo valor, relegado pela mídia e pelo poder público, e no projeto Garrido-Boxe, os atletas encontram espaço para desenvolver suas qualidades e especialmente, a auto-estima.
" Através da fotografía demonstro os aspectos humanos, as relações interpessoais, os combates, a vida cotidiana da comundade. 'Guerreiros do Viaduto' é minha contribuição para demonstrar, através da fotografia, a realidade do boxe e de seus atletas no Brasil.

O projeto social “Sol Nascente – Cora/Garrido” tem o objetivo de reintegração social . Entre as atividades sociais diversas do projeto, o boxe em todas as modalidades é sua maior expressão.
Implantado inicialmente sob o Viaduto do Café, também chegou ao Viaduto Alcântara Machado, no Bras.
Além do boxe, o projeto Sol Nascente abriga em suas dependências, para todos os frequentadores e a comunidade, uma biblioteca e uma academia de ginástica.
Um ensaio de Jesus Carlos sobre o tema acaba de ser publicado pelo site Foto Revista, considerado o melhor site/revista eletrônica da Argentina, voltado exclusivamente para
a área da fotografia e para os profissionais da imagem como um todo.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Burros de carga, cachorros e homens


Recebi por e-mail, uma pessoa bem intencionada , claro, me repassou o pedido da Silvana aí embaixo. Meus comentários vão após o texto:


Olá amigos,
Acabei de receber uma ligação de um pedido de ajuda, uma denúncia.
A pessoa que ligou trabalha em uma clínica veterinária, no banho e tosa, ela disse que o irmão dela está chocado com uma cena que ele vê todos os dias, um senhor morador de rua, usa seu cachorro como burro de carga, o pobrezinho puxa a carroça dele o dia inteiro, ele o usa para carregar a carroça, imaginem o sofrimento deste pobre cachorro, mas ninguém faz nada, mesmo ele estando em uma das avenidas mais famosas e movimentadas de SP.
Esta pessoa me pediu que eu divulgasse um e-mail pedindo ajuda, para que algum órgão ou alguma pessoa possa fazer alguma coisa.
O senhor que faz esta barbaridade mora na Avenida Paulista, esquina com a Rua Augusta, em frente ao Bradesco, ele está sempre nos horários da 12:00 ou após as 18:00, a pessoa que denuncio disse se tratar de um cachorro de raça, mas não sabe informar qual a raça, já que o seu irmão não sabe nada sobre raça, bem, isto é o que menos importa, mesmo sendo um vira-lata, algo precisa ser feito.
Divulguem a todos, para que chegue a algum órgão competente.
Deus abençoe-os!
Silvana


E ninguém pensou no seguinte:
se o "senhor morador de rua" estivesse ele próprio puxando a carroça, como "burro de carga", será que alguém pediria ajuda? Acharia uma "barbaridade?"
Não,afinal já se tornaram paisagem costumeira e banalizada das grandes cidades.

Além do que, é um horror atrás do outro esse pedido de ajuda: primeiro dá o endereço do pobre catador e pede que enviem aos órgãos competentes; depois ainda diz que o cachorro é de raça , não sabe qual (mas acentua que isso não importa, mesmo se fosse vira-lata: "algo precisa ser feito")

Deus que nos livre e guarde dessa gente!