sábado, fevereiro 06, 2010

Sábado na Pinacoteca:Antonio Candido homenageia amigo



Retrospectiva Desenho de Mão, de Arnaldo Pedroso d'Horta (1914-1973) , com curadoria de sua filha Vera d’Horta. São 118 obras, entre gravuras, ilustrações, pinturas e documentos pessoais. Jornalista e crítico de arte, encontrou seu caminho desenhando, no conjunto Esqueletos de Animais, anatomias de insetos e aves, embora não tivesse formação de zoólogo.
Daí que ele conheceu o zoólogoo e sambista Paulo Vanzolini, e até viajou de barco com ele lá pelo Pará.
Recebeu o prêmio de Melhor Desenhista Nacional na 2a Bienal de São Paulo, em 1954. No mesmo ano, foi também o primeiro brasileiro a ser premiado na Bienal de Veneza.

Hoje, na abertura da expô, reuniram-se Antonio Candido, Vera, Renina Katz, o maravilhoso multimidia portugês Fernando Lemos, -pintor, poeta, fotógrafo, desenhista- e o pintor pernambucano José Claudio da Silva numa mesa-redonda, após um documentário sobre Arnaldo, do qual participaram.

O professor Candido lembrou de quando militaram juntos na fundação do Partido Socialista, em SP. Na época, quem não era do Partidão era considerado trotsquista, " e esse era um grande xingamento", disse. "As pessoas achavam que trotsquista era sinonimo de ladrão, etc". Eles nunca foram trotsquistas, aliás.

Que Arnaldo era muito calado, sério, bom organizador, mas às vezes muito mal humorado, e o partido era pequeno, mas tinha grande repercussão. Que o jornalista e artista era acima de tudo um homem íntegro.
"Não entendo de arte, portanto nao vou falar , apenas que uma vez ele me presenteou com um retrato meu de que gosto muito, a barba preta, parece um luto" Realmente é um belissimo retrato.
Mas integridade era a marca desses amigos, juntos pela vida: Candido, Paulo Emilio Sales Gomes, Decio de Almeida Prado, entre outros, que participaram - Candido criou, Decio dirigiu- do Suplemento Literário do Estadão, desde 1956, um paradigma dos cadernos culturais, sobre o qual falo no meu livro aí do lado.

Arnaldo Pedroso D'Horta era um dos refinados ilustradores. Fiz um capitulo só para eles, Aldemir Martins, Renina Katz, Odilea Toscano, Rita Rosenmayer, Di, Portinari, tantos...

Lembraram muitas historias, rimos muito e especialmente com o pernambucano que nao parava de falar.Vanzolini , sentadinho, falou pouco.
Mas disse que um dia Arnaldo comentou algo sobre uma música de Capoeira, que Vanzolini nao tinha nenhuma, e no dia seguinte o cientista/compositor mostrou:

Capoeira do Arnaldo. Sabiam disso?





O pernambucano contou que, na viagem de pesquisa de barco para o Pará, na época da guerrillha do Araguaia, eles eram sempre barrados. Começaram a ser vigiados por um policial chamado Felizardo. Um dia, Vanzolini perguntou: "Seu Felizardo , é verdade que o senhor durante muito tempo matou um homem por dia?"
"Ainda não consegui me livrar desse vício", respondeu.

Esqueci de dizer que o professor Candido abriu assim:"Falo de um tempo e de uma cidade que não existem mais".
(Meu coração chora, porque a minha também já não reconheço, só em dias assim,luminosos,tão raros.)

Não percam Arnaldo Pedroso d'Horta, muito linda exposição.