sexta-feira, abril 24, 2009

Histórias das Redações

A Casa de Assis, Sete de Abril, 230, segundo andar

Casa de Assis. Foi assim que batizamos a redação dos já decadentes e pra lá do fim de linha Diários Associados, ex -império do Assis Chateaubriand, nos anos 1970, onde arrumei meu primeiro emprego, ainda na faculdade, registrada como auxiliar de escritório, já que precisava do diploma pra exercer o ofício.
Nunca se viu redação igual.
Havia de tudo lá: direta, esquerda e nada. Polícia, bandido, e nós jornalistas.
O meu primeiro dia foi interessante: minha primeira visão foi o chefe de reportagem, Zé Eduardo, em sua mesa, cercado de belas moçoilas, soube depois que eram todas ex-namoradas dele e se davam muito bem.
Daí fiz amigos: o Zé entre eles, figura que merecerá um destaque especial mais pra frente, aliás, seria preciso uma Biblioteca de Babel pra falar do Zé.



E entre os novos amigos, a querida Tania Mendes, companheira de muita batalha daí em diante. Mineira de Belzonte, que diz que não lembra de mais nada, é dela o depoimento:


"Uma das minhas primeiras saídas com fotógrafo na Casa de Assis, não lembro o assunto da matéria, foi com o Mostrangá. Voltei, fiz o texto e o Zé mandou assinar texto e foto. Assinei Tânia Mendes e Mostrangá. Assim mesmo. Imagina o que me deram de gozação por pelo menos uma semana KKKKK e o outro queria vir tirar satisfação comigo, você lembra, era tosco e por isso o chamavam Mostrangá"


( nota da blogueira: eu lembro, tinha uma verruga na ponta do nariz e se metia em todas as nossas entrevistas, eu morria de vergonha, porque falava só abóbora. ninguém lembra o nome dele, o Zé diz que nem o próprio se lembrava, não era costume assinar matéria, só em casos muito especiais, remember? E ele diz que a sua estava muito boa.)

"Zé acalmou o bicho dizendo que eu era tonta e aquilo não mais aconteceria. Me chamou e comunicou que o nome do dito era ( não lembro, você lembra o verdadeiro nome da figura??).KKKKKK

E teve o dia que o Zé me mandou prá estação do Brás entrevistar nordestinos, eu foca e completamente desorientada em relação à cidade grande. Cheguei lá já eram mais de 7 da noite, nunca me esqueço, não conhecia nada de São Paulo. Não lembro qual fotógrafo foi comigo, mas lá tive a notícia de que o trem que deveria chegar a tal hora estava muito atrasado porque houve um desastre. Imediatamente voltei prá redação e disse que não tinha matéria.

O Zé me expulsou aos berros e me mandou prá casa, mas morrendo de rir! E há o fato de que fui presa pela OBAN ( Operação Bandeirantes) na redação vetusta dos Diários. Foi um tititi que durou dias! Uma adrenalinada naquele túmulo!".


Maria Tania brinca agora, mas ela sabe o que passou e nós também.
Pois é, um dia após meu ingresso, um fulano que fazia turfe, no café veio me dizer: "Ontem foi presa uma cumunista aqui, a Tania, sabia?"
Ai meu Senhor do Bonfim, onde é que eu fui amarrar minha égua, pensei, apavorada, olhando para a cara cheia de bigodes do sujeito xexelento.

Tania, não lembro quem ao fundo, Nivaldo Notoli e Rodney Melo.

Era bom, mas era uma merda, diria o Tom Jobim. Nos reuníamos muito no Paribar, delicioso bar na Praça Dom José Gaspar, mas sempre falávamos em voz baixa, cheio de espiões disfarçados rondando. Como na música do Gil.
Depois do Zé, que foi editar Internacional, veio para a chefia de reportagem um sujeito baixinho, gordinho e perigoso: dizia-se que era ele o relações públicas do Esquadrão da Morte, o temível Lírio Branco, que ligava para as redações dando os endereços de onde eram abatidos o que chamavam de "presuntos".
Pensam que era mole???
Volto em breve, com mais eletrizantes revelações históricas da inesquecível Casa de Assis.