sábado, março 20, 2010

Programa Antitabagismo do HU-USP faz política partidária(Atualizado)

He wants you- onde quer que você esteja!

Então resolvi. Há anos paro de fumar e volto, e queria parar de vez. Me recomendaram o Programa Antitabagismo do Hospital Universitário da USP, já que pertenço àquela comunidade. Me inscrevi e estava lá com a maior boa vontade, na primeira palestra, segunda-feira, dia 15, pouco depois das 8 da manhã.
Cheguei um pouco atrasada, tentanto encontrar vaga para estacionar- aliás, na semana anterior, quando fui me inscrever, roubaram o rádio do meu carro nos arredores do HU. Talvez já fosse um sinal...

Bom, o médico já estava exibindo na tela os horrores do fumo, e eu, preocupada com meus horários, perguntei à psicóloga ao lado quanto tempo durava a palestra. O médico viu e comentou: "Já tem gente aqui querendo saber quando acaba para fumar!"
"Não, meu senhor, minha preocupação é com o trabalho", respondi.
Pensei: vou descartar os horrores do fumo, que já conheço todos, tantas matérias escrevi sobre o tema, descartar a grosseria do palestrante metido a engraçado e aproveitar o atendimento médico e psicológico gratuitos. Na platéia, em sua maioria, humildes funcionários da USP.

Lá pelo meio o médico citou meu amigo Paulo Cesar Bontempi, que trabalha na secretaria da ECAUSP, e parou de fumar no programa, há cinco meses. Eu comentei: "É verdade, no entanto Paulinho me disse que está revoltado, e se sente muito mal, pior do que quando fumava, e só entrou no programa por causa da proibição do governador de se fumar em qualquer recinto fechado deste Estado".
O médico fez que não ouviu.

Prosseguiu com suas imagens tenebrosas até chegar na do governador Serra, nosso Guru Mental, Espiritual e Corporal- como afirma o hilário professor Hariovaldo de Almeida Prado-todo bonitinho, em sua heróica luta contra o fumo. E afirmou:

"Sou apolítico, não sou a favor de Serra nem contra Lula".

Para exibir, em seguida, a imagem de Lula fumando. Tirada quando uma repórter o flagrou , tempos atrás, fumando no gabinete e ele respondeu algo como "eu posso fumar na minha sala".

Completou o médico: "Mas o Lula teve de parar de fumar recentemente porque ficou com pressão alta. E além disso, ele bebe...."

Soube depois que o médico "apolítico "chama-se João Paulo Becker Lotufo, é pediatra, superintendende do Hospital Universitário (HU) da USP, responsável pelo Projeto Antitabagismo do mesmo Hospital. (Retificando: o médico NÃO é superintendente do HU).

Declaro aqui que o dr. Lotufo utiliza indevidamente um Programa de um hospital público para fazer política partidária, certamente a mando de seu Guia e Guru não fumante. E que está, sim, do lado dele, e portanto, não é apolítico.

Que as pessoas que vão lá estão interessadas em parar de fumar, estão necessitadas de ajuda, e não devem ser objeto de política partidária. Não estão interessadas se o político X não fuma ou se o presidente fuma.

Declaro, também, que o dr. Lotufo é responsável por eu ter desistido do seu Programa, psicologicamente afetada.Que é mal intencionado e tenta usar os pacientes para fins político-partidários. Só isso já seria um bom caso de (falta de) ética a ser estudado pelo Conselho Regional de Medicina.

E que recorrerei ao meu médico particular para parar de fumar.Ele não me falará de política partidária, não tentará fazer minha cabeça, mas cumprirá sua missão simplesmente médica.

Que, aliás, é o que deveria fazer o dr. Lotufo, cujo salário é pago por nós, o povo do Estado de São Paulo.

Médico do HU responde
Cara blogueira (não encontrei seu nome no blog),Encontrei este seu comentário pois sou funcionário do HU e programo o Google para encontrar as notícias do HU.Preciso fazer um pequeno reparo:O Dr João Paulo Becker Lotufo, responsável pelo Programa Antitabágico do HU, é um excelente médico pediatra da instituição que, com seu programa, já deve ter aumentado a sobrevida e a qualidade de vida de um número de pessoas muito mais significativo do que a maioria dos médicos, cujo enfoque é somente tratar das complicações do fumo.O superintendente do HU se chama Paulo Andrade Lotufo, que é clínico e também é titular de Epidemiologia da Faculdade de Medicina da USP. Em sua área, ele conta as vidas dizimadas pelo cigarro e dá subsídios para que o Dr João Paulo continue sua luta.Apesar do nome parecido, não são parentes - talvez longinguos, mas não se conheciam antes de se cruzar no meio médico.Sou Carlos Marcello,médico clínico do HU, ex-fumante de quase 2 maços por dia - parei há 26 anos. Já assisti à palestra do Dr João Paulo e a considero excelente. Palestra motivacional deve servir para sensibilizar o maior número de pessoas possível e não a pessoas individualmente.Da mesma forma como você se equivocou ao confundir o pediatra com o superintendente, creio que você se equivocou com suas conclusões sobre o excelente trabalho do Dr João Paulo que é pessoa séria e extremamente bem intencionada. Não merecia o seu comentário.Atenciosamente
Carlos Marcello

Prezado Carlos Marcello

Meu nome, como você pode ver em Perfil, acima à direita, é Elizabeth, e se clicar no livro “Que falta ele faz!” verá que me chamo Elizabeth Lorenzotti e sou jornalista.
Obrigada pela informação: então o dr. João Paulo Becker Lotufo não é superintendente do HU.Retifico.
Mas absolutamente não retiro o que disse. O sr. disse que o dr. não merece meu comentário.Quem não merece o aporte político-partidário do Programa somos nós, as pessoas desavisadas, que chegam a uma instituição pública em busca de ajuda, e são envolvidas em informações que absolutamente não nos dizem respeito.
Folgo em saber que o senhor, médico e funcionário do HU, parou de fumar há 26 anos.Que sorte! Também é uma agradável surpresa saber que existe um funcionário público zeloso assim, (“ sou funcionário do HU e programo o Google para encontrar as notícias do HU”), que em plena manhã de domingo está trabalhando.

Mas não tente me desqualificar, dizendo que assim como me equivoquei com a função do Lotufo, tambem me equivoquei com o restante. Distorcer não é bonito.

Saudações


Resposta de Paulo Cesar Bontempi

Como o tal funcionário citado na palestra e na matéria (Paulo Cesar) devo concordar integralmente com Elizabeth Lorenzotti, jornalista séria e competente que conheço de longa data. Corrigindo a informação do "superintendente", pois fui eu que lhe passei essa informação equivocadamente. Esse programa realmente esbarra na propaganda e panfletagem partidária. Não parei de fumar por causa desse programa, porque acho a sistemática completamente equivocada, além de tudo o que já foi dito. De motivacional não tem nada. A preocupação dos profissionais não é com os fumantes, e sim com os não-fumantes, e aí mais uma vez o partidarismo e moralismo camuflados se apresentam. Só parei de fumar por causa dessa lei ridícula, desse candidato a presidente ridículo e do terrorismo ridículo a que nós fumantes vivemos expostos. Cansei disso, parei de fumar pelo mesmo motivo que me motivou a começar a fumar (PORQUE EU QUIS - por prazer, e nessas condiçoes não fumar em São Paulo virou "prazer"). Quando as pessoas voltarem a ter liberdade neste estado, volto a fazer o que sempre quis e o que sempre tive vontade de fazer e nunca me fez mal. Porque, agora sim, eu me sinto pessimamente mal e não acho que a minha vida ou minha saúde melhoraram por causa do não fumar. E agora que preciso, ninguém me oferece ajuda ou pergunta como estou, se estou precisando de algo ou sequer se estou bem. O que importa é que apenas sou mais um número positivo nas estatísticas dos médicos e psicólogos do programa. Para eles eu sou apenas um doente, bandido, criminoso, quiçá um traficante de drogas e assassino do pulmão alheio - que se "regenerou" ou se "converteu".
Mas porque os governos e programas anti-tabagistas nada fazem contra os verdadeiros traficantes (fabricantes e comercializadores) e contra os criminosos que se utilizam do dinheiro desse tráfico (o próprio governo e, dentro dele, o Sr. Serra, que jamais terá meu voto para nada!). E vivas à democracia!
Antes que me esqueça, tenho que reconhecer e tecer meus agradecimentos à enfermeira Lazinha, do Programa, a única pessoa que me tratou como cidadão (e não como doente ou criminoso) e realmente tentou me ajudar no que lhe era possível. A ela, e somente a ela, meus agradecimentos. E à Elizabeth peço minhas sinceras desculpas por tê-la colocado nessa fria. Achei que pudesse ajudá-la mais do que ajudou a mim!
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Dá-lhe cidadão Paulinho.Não me colocou em fria alguma, apenas me deu a oportunidade de denunciar mais esse aproveitamento do espaço público para fins políticos oportunistas. Estou com você, abração.