domingo, fevereiro 28, 2010

Iza: um poema

Vincent van Gogh


Maria Luiza Soares Fernandes, amiga de uma vida inteira, texto primoroso, em prosa ou em poesia, já falei sobre Iza aqui, está na lista de assuntos.

Las Bocas Rojas

Lá fora, a noite chegando
A cor desmaia
O negro invade
O perfume intenso

Eu me enrolo na capa
Me desenrolo na lapa

Eu quero só ver a noite
Ah! Meu fugidio cavalheiro
Que canta entre vilões
Que anda entre as visões
De uma tardezinha fina!

Eu nada quero
Além dos nervos, das veias
Do sangue correndo morno
Pelo sistema do corpo.

Este cavaleiro das damas
Respira a espuma dos sonhos
No jardim da taverna
E desaparece no bar
Junto ao ruído da cidade

Sigo andando
Amando a dama da noite
Doce, delicada, pequenina, branquinha
Sumindo
Subindo

Eu vi, sem medo
A flor que se faz licor
Ou pelo cheiro, ou pelo gosto
O composto de água, treva e riso
Aniquila em teu peito
O sentimento vulgar
Sugado no floripôndio (*)
Em cachos presos aos galhos

Flor da noite

Dama só

Olho caído

No bar.

(*) Floripôndio, árvore de flores brancas e estranhas que encantou Iza no Peru.