terça-feira, março 17, 2009




Notícias do jornalismo carioca:

O DIA vira tablóide


Há alguns dias meu amigo do Rio, Victor Passos, mandou este texto, preocupado com seus colegas que lá trabalham e com nova retração no mercado.A mudança seria neste domingo, 15. Assim como aconteceu com o Jornal do Brasil, pífia lembrança do que foi.
Não sei se O DIA já virou tablóide, mas a história é esta:


No dia 15, O DIA, onde trabalhei sete anos e quatro meses, vai virar tablóide. É uma pena ver o jornal se descaracterizar outra vez. Sim, porque a última reformulação gráfica ali realizada não funcionou e o jornal ainda abriu mão de uma logomarca forte, aquele O DIA em letras negras sobre fundo amarelo.

É verdade que à época do projeto, Ary Carvalho, o dono, já não estava mais entre nós. Se vivo fosse, talvez não permitisse tal mudança. Afinal, o velho jornalista empresário tinha a amarga experiência de anos atrás, quando tentando levantar a Última Hora carioca, contratou uma redação de respeito e de uma hora pra outra mudou tudo no jornal, inclusive o azul do logotipo. Resultado: o jornal despencou de vez.

Mas com O DIA, anos depois, o "Dr Ary", como era conhecido entre os funcionários. agiu diferente. Comprou jornal em 1984 e durante dois anos e tanto não fez qualquer alteração no produto. Dedicou-se a sanear a empresa e suas finanças. Só em 1987, ele arregimentou novamente uma redação de peso que reformulou todo o projeto editorial, abandonando o sensacionalismo do "espreme e sai sangue", sem deixar de ser um jornal popular. O DIA não perdeu os leitores antigos e ainda conquistou novos.

Em 1992, o "Dr Ary" acertou de novo, investiu US$ 40 milhões para construir um moderno parque gráfico e, em seguida o jornal passou a ser impresso em cores. Aumentou a circulação e chegou a vender num domingo um milhão de exemplares. Mas quando tudo parecia ouro sobre azul o "Dr Ary" resolveu mudar e começou a errar.

O dono de O DIA sempre sonhou em ter um jornal mais classudo, tipo o que fora o JB. Consta que já tinha até um esboço de projeto nesse sentido. Contratou uma consultoria que alertou para os riscos do mercado naquela ocasião, a saber: o possível desaparecimento do Jornal do Brasil e o fato de O Globo já ter um projeto de jornal popular engatilhado.

Não sei qual foi a leitura que o "Dr Ary" fez da consultoria, mas o fato é que ele decidiu que O DIA passaria a disputar leitores com O Globo e começou a mudar o jornal. Trocou o comando da redação, que dois anos mais tarde ia fustigá-lo, chefiando a concorrência.

O poder de fogo do império global, como era de se esperar, era maior e agiu mais rápido. Em 1998 criou o EXTRA, que absorveu vários profissionais de O DIA e, em pouco tempo tomou-lhe a dianteira. O "Dr Ary" morreu sem realizar seu sonho de jornal classe A/B e vendo a sua "galinha dos ovos de ouro" definhar a cada dia na circulação.

Após a sua morte, sua filha Gigi, no comando da empresa, mudou o projeto gráfico do jornal (que não funcionou) e lançou o Meia Hora com o objetivo de concorrer com o EXTRA. O Meia Hora realmente emplacou, é um dos jornais que mais vendem no Brasil, mas foi um tiro no pé, pois "canibalizou" os leitores de O DIA.

Agora vem o tablóide, nova mudança para diminuir os custos de papel, enfrentar a crise e deter as quedas de circulação e de receita publicitária. Sei não, temo pelo emprego dos meus colegas que lá estão e por nova retração no mercado de trabalho. Torço para estar errado.