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sábado, fevereiro 04, 2012
Sobre o fim da canção e etc
“Se a canção vive mesmo uma crise e não tem a mesma relevância na transformação cultural do nosso país, é porque vivemos um tempo diferente, o que envolve questões que vão muito além do modo como nos relacionamos com ela. A pergunta pertinente, agora, é se ainda precisamos de canções”.
Rômulo Froes, cantor e compositor, no ótimo artigo aqui lincado.http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,chico-e-caetano-ao-mesmo-tempo,831109,0.htm
Em 2004 o sociólogo da cultura urbana José Ramos Tinhorão deu uma entrevista a jornal paulista falando sobre o fim da canção. Não que ele na goste da canção, como tantos de nós gostamos, não que estivesse lá pra decretar seu fim, quem pode fazer isso? Mas é um pesquisador que completa esses dias 84 anos, e há pelo menos 60 transita pela sociologia da cultura.
O que ele disse e continua dizendo, e está no meu livro “Tinhorão, o legendário”, é mais ou menos isto: assim como a ópera foi um fenômeno do século 19 e não tem mais apelo popular como naquele século-- apenas em espetáculos restritos e locais que reúnem apreciadores, a canção foi um fenômeno do século 20. Quando as pessoas saiam de casa para desfrutar do som de um sujeito (a) cantando com uma orquestra, um violão e/ou um cantinho. E ficará restrita, da mesma forma.
E eu concordo e vou misturando o que ele pensa, o que eu penso.
Hoje os shows são realizados no mínimo em estádios e os meios de comunicação produzem/ reproduzem processos culturais da mais baixa extração, nivelando por baixo.
Extensas populações jamais saberão o que é música erudita e/ ou mesmo uma bela canção, porque só têm acesso ao que é ditado pela estrutura comercial e ponto. Uma cidade como Poços de Caldas, onde eu moro, berço de talentos musicais por muito tempo, não transmite em suas estações de rádio senão o pior trash breganejo. Assim vai o resto do país. A mais poderosa emissora de televisão povoa de ivetes sangalos e duplas qualquer programa musical. Não existem só esses cantores num pais tão cheio de talentos, sabemos. Haveria lugar para todos eles/elas.
No artigo, Froes analisa a grande produção de Chico Buarque e Caetano Veloso, e especialmente a intersecção deste com os novos. Bom para todos nós, que somos seus fãs, mas que público novo eles conquistaram? E como conquistar, frente a essa barreira marquetológico-emburrescente nacional (e mundial)? Que está inserida no que Pasolini, nos anos 70, classificou de “fascismo da alma”, a sociedade de consumo. E que Hannah Arendt pontificou: ”a sociedade de massas arruína tudo o que toca”.
Conversando com Tania Mendes, amiga jornalista, ficamos nos perguntando dia desses pela falta de repercussão. Como, por exemplo, Milton Nascimento e seu clube saíram dos confins do sul de Minas, em fins da década de 60, e se projetaram nacional e internacionalmente. E Veloso, que veio de Santo Amaro da Purificação, interior da Bahia.
Porque havia condições para isso. Mas hoje, os grandes talentos dos confins, para onde irão? É claro, como diz outra jornalista amiga, Ana Lagoa, que em comunidades várias pelo país se desenrolam as produções culturais, sem precisar de mídia.
Ainda bem, mas são exceções perto da grande massa. Alguma pesquisa nova, na área popular ou erudita, não terá condições de alcançar e influir na vasta população do país, refém do poder dos que impõem os padrões culturais.
E este panorama se estende a outras áreas da cultura.
Ainda precisamos de canções, pergunta Froes? Eu sei que preciso, mas não sei se o mundo como está, tem essa precisão. Só se ama o que se conhece.
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