Alguém na blogosfera lançou um repto : que nenhum acadêmico brasileiro, de nenhuma área, dê entrevista para a Veja, ou colabore com a revista enquanto não houver um pedido de desculpas a Eduardo Viveiros de Castro, o antropólogo citado na matéria "A farra da antropologia oportunista", reproduzindo pretensas afirmações suas sem entrevistá-lo.
(De minha parte, entendo que intelectuais de respeito não deveriam dar entrevistas ou colaborar com tal publicação de qualquer forma, e não apenas em virtude desse caso absurdo).
Lembrei imediatamente de outro episódio envolvendo intelectuais: a lista de professores improdutivos, documento vazado da reitoria da USP, publicado pela Folha de S. Paulo. Dizia:
"A Universidade de São Paulo começa a fazer o levantamento de sua produção docente. Nos anos de 85e 86, um quarto de seus professores não produziu. Este é o resultado do levantamento preliminar feito pela reitoria. Ele contém incorreções, mas sua publicação é a possibilidade deiniciar o debate sobre a avaliação dos docentes nas universidades.
Os dados foram obtidos através de questionários enviados aos docentes pela reitoria. Eles deveriam informar sobre todos os trabalhos publicados nos anos de 85 e 86."
(Iniciava-se, então, o processo vigente mais do que nunca hoje em nossas universidades, em que "produtividade" se mede pela quantidade em quilos de artigos publicados, não pela sua qualidade, muito menos pela atuação do professor em sala de aula).
Criou-se imensa polêmica da comunidade uspiana contra a Folha e contra o então reitor José Goldemberg, que depois foi secretário e ministro de Collor.
O Jornal da USP, do qual eu era editora, tentava garantir a palavra e o mesmo espaço a todos os segmentos envolvidos.
Entretanto o reitor, mentalidade autocrática e imperial, considerando-se dono da Universidade-- porque todos os brasileiros conhecemos a eterna confusão entre o público e o privado --, mandou recolher a edição do jornal em que os professores falavam, pois queria ele mesmo ter mais e mais espaço do que todos.Censura em plena Universidade.
A editora pediu demissão e a própria Folha cobriu o episódio. O representante do reitor argumentou que o jornal não havia sido apreendido, mas simplesmente retido para inclusão de um encarte, desculpa absolutamente esfarrapada pois qualquer encarte teria de ser do conhecimento da editora.
Resumo da ópera: os intelectuais uspianos, revoltadissimos, prometiam não mais colaborar com a FSP. Promessa que não durou mais de uma ou duas semanas: voltaram todos.
Por isso, e sem colocar todos no mesmo saco, é fácil entender as razões pelas quais um repto desses não teria qualquer eco na academia. Mesmo porque, quem vive sem mídia, não é mesmo?
Tudo o que digo aqui tem provas, guardadas nos baús , de tão guardadas são difíceis de achar no momento, e só me socorro da memória. Não é mesmo mais uma historinha exemplar?
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