segunda-feira, maio 04, 2009

A saga de Eton, o cartunista-carteiro


Meu querido amigo Edson Dias, o Eton, que trabalhou comigo no Departamento de Imprensa do Sindicato dos Bancários e tem um curriculo ponteado de grandes colaborações como ilustrador da imprensa sindical é um ex-preso politico- foi torturado na mesma cela de Vladimir Herzog, algum tempo depois de seu assasinato. E está muito revoltado, e com razão, com sua luta pela indenização.
Ele era carteiro, liderou uma greve de carteiros em 1975, quando nem havia Sindicato, e era ligado à Frente Nacional do Trabalho. Sequestrado na Praça da Sé, ficou 15 dias sob tortura no DOI-CODI e 15 dias no Deops, de onde foi resgatado por Dom Paulo Evaristo Arns , por sua mãe e pelo coronel que entao dirigia os Correios em SP, e nem ele sabia onde tinha ido parar o carteiro com toda a correspondência a ser entregue.

Depois de muitos anos-- nós nunca soubemos dessa história --, só recentemetne ele me contou, numa madrugada aqui em casa, os horrores pelos quais passou e um dia eu contarei. Coisa inacreditável!

Eton é pessoa de poucas posses- tanto que voltou a trabalhar nos Correios, após ser anistiado, e com mais de 50 anos de idade entrega cartas pelas ruas do centro.

Um militante de coragem impar, que continua até hoje acreditando no seu ideal e coerente com ele, é também um cartunista importante e está na história da imprensa sindical.

Aqui ele conta que o confundiram com um homônimo, leiam só que história incrivel. E está revoltado, porque enquanto Ziraldos recebem seu milhão , pessoas humildes e lutadoras como ele encontram grandes dificudlades, mesmo para serem entendidos e para provar o que passaram.

Boa sorte Eton, é o mínimo que psoso desejar.

O texto que ele me enviou:


"Bom dia! Estou enviando o texto abaixo para amigos meu da imprensa e no exterior . Estaremos em Brasília nesta terça- feira, 5 de maio, uma caravana, com talvez uns 20 onibus de "injustiçados pelo Ministério da Justiça!" e por esta "Comissão", que ao contrário do que acreditávamos, depois da "Temática", não mudou um milimetro das injustiça, que pratica com os anistiados!
Primeiro, dá tratamento diferenciado aos militares, idenizações milionárias e continuadas e eles. Segundo, que começaram pagando salário mínimo para aqueles que são considerados "zé ninguém". Agora não dão idenização, salários mínimos, nem nada. Agora estão dando só diploma! Sei que à imprensa não interessam nossas injustiças, muito pelo contrário, ela acha que os "anistiados em geral, são todos iguais", coisa absurda!
Tão absurdo quanto as excrescências encontradas nos nossos processos! Estive a semana passada analisando-os, embora tendo sido tratados com tanto desleixo, como da outra vez, que estive em Brasília.
As crianças que nos atenderam, e as que compõem o escritório da anistia são despreparadas! Deviam ter pelo menos mais idade e conhecimentos para lidar com o tema, tão complexo. Desconhecem História, e suas especificidades.
Tiveram a audácia de colocar no meu processo, uma ordem de captura do Exército, para a minha pessoa, por ter fugido do quartel em 1947, com a farda e o armamento! Só faltava essa!Só faltava o exército pedir mesmo que eu devolvesse as armas! Eu nasci em 1953, tive passagem pelo exercito em 1973, servi sem nada que desabonasse, minha pessoa, fui cozinheiro, muito querido na terceira companhia do segundo batalhão de guardas no Cambuci, em São Paulo.
O fato de ser militante de esquerda não nos torna soldados, desertores nem ladrões. Isso é resultado de um preconceito (propaganda), construído ao longo do tempo, por nossos inimigos! Se tiver dúvida, é só analisar a vida de Luiz Carlos Prestes! mas... perdão, com certeza nunca ouviram o nome deste senhor.
Até porque os jovens que vão ler esta carta, talvez sejam são como os outros que me atenderam, decerto se tiverem o segundo grau, é muito. Como iriam conhecer o Prestes? Eu sabia dos descalabros aí de Brasília, mas nem pensei que chegassem a este ponto! Sem dúvida das crônicas e livros sobre Hhistória, vão constar estas palhaçada!
Meus amigos são todos escritores e jornalistas, como eu. Com certeza não deixaremos passar despercebido, isto é uma pérola para os humoristas! Pois não nos interessa a grande imprensa tripudiar sobre a anistia que vocês estão transformando em uma palhaçada! Estou mandando mais material impresso, e depoimentos de amigos da imprensa sobre minha pessoa, até porque tem gente mesmo gente que só conhece o Ziraldo, pois lê muito pouco, meus amigos jornalistas acharam que eu estava exagerando em mandar tanto material para vocês. já que quem for estudar imprensa sindical, vai ter que ler sobre minha pessoa.
Mas quando se trata de "analfabetos políticos", é preciso exagerar nas apresentações! Se quiserem podem perguntar para Angeli, Laerte, Fausto, Glauco, sobre minha pessoa, já que só lhe interessa a grande imprensa e as figurinhas carimbadas!Até terça feira dia 5 de maio! Estaremos todos os anistiados na frente do Ministério da Justiça e das comunicações tomando um cafezinho com vocês!

Email mandado, para os blog dos cartunistas e jornalistas em São Paulo

Bira! Estarei viajando pra Brasilia, em protesto! Com mais uns 300 companheiros anistiados, faremos um tumulto frente ao Ministério da Justiça!Vim de Brasilia quinta feira! Fui no congresso, fazer lobby para a decisão do governo de julgar os vetos, (projetos vetados, pelo FHC), coincidência ou não, os mesmos vetos de Fernando Henrique serão endossados pelo Lula. O que deixa transparecer a semelhança nas prioridades de quem governa, como se diz: farinha do mesmo saco!
Fui até a Comissão de Anistia que julga os processos, examinar o meu, qual o meu espanto! Apareceram uns homens de verde oliva dizendo: "Devolva as armas!"
Eu disse: que armas! não tenho arma nenhuma! O que quer dizer isso? Tão me confundindo! Você não é o Edson Dias? Eu disse: Sou! Responderam: "Pois é, tem uma ordem de captura para Edson Dias, e você tem que devolver as armas que levou em 1947 do quartel. Aliás saiu fardado e desertou levando tudo!"

Pois é Bira! de fato, lendo o meu processo, descobri que tinha mesmo esta ordem de captura, tudo no meu nome, mas esqueceram de ler a data do meu nascimento, e do outro Edson Dias! Quando tudo se acalmou eu disse: pelo menos alguém deveria olhar na data do meu nacimento, pois como eu poderia ter roubado um quartel e desertado se eu não tinha nascido?Pois é assim na Comissão de Anistia, eles não lêm nada, vão levando as coisas assim na barriga, e é esse povo que deu um milhão e meio de idenização para o Ziraldo, só porque ele é conhecido, e para mostrar serviço! E eu, Edson Dias que fui militante jonalista, preso e torturado, confundem com um zé mané com o mesmo nome que eu em 1947, e ainda querem que eu devolva, ou fuzis, roubados!
Tô vendo um dia que eles vão cobrar uns trocos nossos, por termos sido demitidos e torturados na época da ditadura!"

Como a ditadura asfixiou a imprensa alternativa

Do Blog do Nassif

Belíssimo levantamento do Estadão, mostrando como a “ditabranda” asfixiou a imprensa alternativa da época, em pleno governo Geisel e com a concordância do Ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen, valendo-se da Receita Federal (clique aqui).

"Uma operação secreta de uso da Receita Federal para exterminar a imprensa alternativa foi desencadeada entre 1976 e 1978 pelo governo Ernesto Geisel (1974-1979), mostram documentos sigilosos da extinta Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça (DSI-MJ) obtidos pelo Estado.

Embora notabilizado pela suspensão da censura a jornais, pelo fim da tortura de presos políticos e pela distensão “lenta, segura e gradual”, o general, penúltimo ditador do ciclo militar de 1964, autorizou a ofensiva contra os pequenos veículos em despachos com o então ministro da Justiça, Armando Falcão. O ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, concordou com a ação, proposta pelo II Exército - hoje Comando Militar do Sudeste, de São Paulo.

A autorização de Geisel para um ataque fiscal ao jornal Versus está documentada em ofício de 1º de setembro de 1978. Nele, o chefe de gabinete do Ministério da Justiça, Walter Costa Porto, transmite pedido da Polícia Federal para liberar a ação. A resposta vem manuscrita. “Confidencial. Conversei, no despacho de hoje, com o Exmo. Sr Presidente da República, que aprovou a medida”, escreve Falcão. “Prepare-se, assim, o competente expediente ao Sr. Ministro de Estado da Fazenda. Em 11.9.1978. A. Falcão.” Uma lista com Versus e outras 41 publicações que deveriam sofrer o mesmo processo da Receita, entre elas O Pasquim e Movimento, integra o dossiê."