domingo, março 01, 2009

Por quem os sinos dobram?

Wesley Duke Lee
Egipciana
Óleo sobre fotografia de Otto Stupakoff, com aplicação de buril


Para Roberto Piva
e
Wesley Duke Lee

O poeta rebelde hoje esquenta ao sol das 11 horas

No Parque da Água Branca


O poeta da cidade - ácido, lírico, transverso


Livro numa mão, firme

A outra, trêmula



Mas ainda aprecia os rapazes

E acha que as moças, cada vez mais, estão parecidas com eles

Por isso, até começa a gostar delas


(Teu olhar maluco atravessa os relógios as fontes a tarde
de São Paulo como um desejo espetacular tão
dopado de coragem
marfim de teu sorriso nascosto fra orizzonti perduti
assim te quero: anjo ardente no abraço da Paisagem)


Seu amigo, o artista plástico do primeiro hapenning desta cidade

Não reconhece mais o mundo


Quando o visitei, anos atrás


Figura de brilhos e fulgores


Mostrou uma mesa cheia de coisas empoeiradas

Não permitia que a limpassem:

“Para marcar a passagem do tempo”


Mostrou também um mural repleto de fotos da sua vida:

“Para não me esquecer”


“Ele dói e brilha”, escrevi, emprestado verso de Veloso sobre o homem velho


Na parede a frase, quase no teto:


“Entusiasmo-Pleno de Deus”


Só hoje fui atrás da etmologia


Do Grego:entu: DEUS,

iasmo: Cheio


Pleno de entusiasmo, então, aquele velho homem belo


Uma enfermeira o acompanha, ele sorri


São Paulo, 28 de fevereiro, noite alta