Egipciana
Óleo sobre fotografia de Otto Stupakoff, com aplicação de buril
O poeta rebelde hoje esquenta ao sol das 11 horas
No Parque da Água Branca
O poeta da cidade - ácido, lírico, transverso
Livro numa mão, firme
A outra, trêmula
Mas ainda aprecia os rapazes
E acha que as moças, cada vez mais, estão parecidas com eles
Por isso, até começa a gostar delas
(Teu olhar maluco atravessa os relógios as fontes a tarde
de São Paulo como um desejo espetacular tão
dopado de coragem
marfim de teu sorriso nascosto fra orizzonti perduti
assim te quero: anjo ardente no abraço da Paisagem)
Seu amigo, o artista plástico do primeiro hapenning desta cidade
Não reconhece mais o mundo
Quando o visitei, anos atrás
Figura de brilhos e fulgores
Mostrou uma mesa cheia de coisas empoeiradas
Não permitia que a limpassem:
“Para marcar a passagem do tempo”
Mostrou também um mural repleto de fotos da sua vida:
“Para não me esquecer”
“Ele dói e brilha”, escrevi, emprestado verso de Veloso sobre o homem velho
Na parede a frase, quase no teto:
“Entusiasmo-Pleno de Deus”
Só hoje fui atrás da etmologia
Pleno de entusiasmo, então, aquele velho homem belo
Uma enfermeira o acompanha, ele sorri
São Paulo, 28 de fevereiro, noite alta