“Devemos encorajar uma nova cultura de responsabilidade, do contrário não seremos levados a sério quando trouxermos questões relativas à liberdade de expressão” (Carl Bernstein)
Do HSLiberal
Desde 1976, quando foi lançado por Hollywood, o bom filme do diretor Alan J. Pakula é recomendado aos estudantes de Jornalismo em todas as universidades do mundo. Dustin Hoffman e Robert Redford nos papéis de Carl Bernstein e Bob Woodward, jovens repórteres do Washington Post que deflagraram a investigação jornalística que culminou com a renúncia do poderoso presidente Richard Nixon. Hoje, o mundo todo conhece os verdadeiros atores, heróis do emblemático caso de corrupção política dos EUA. Eles já percorreram por mais de uma vez milhares de auditórios a falar sobre o famoso “Caso Watergate”.
Na semana passada, fomos encontrar o veterano repórter Carl Bernstein frente a outro veterano jornalista brasileiro, Renato Machado, do “Bom dia, Brasil”, da TV Globo. Uma grande decepção para Renato: ele não ouviu uma só frase daquelas que nossa mídia esperava ouvir de Carl. Renato apostava que a manipulação temática dos organizadores de um seminário realizado no Rio, sobre Liberdade de Expressão, tivesse sensibilizado o repórter estadunidense a falar apenas de conflitos entre mídia e governos autoritários. Carl enfatizava muito mais a questão da responsabilidade profissional com a verdade. Um grande puxão de orelha no nosso jornalismo.
Carl Bernstein entende que a função fundamental do jornalista é dar aos seus leitores, ouvintes e espectadores a versão mais verdadeira possível de se obter. Ele percebe, no entanto, que atualmente estamos perdendo esse ideal de vista, substituído por uma cultura jornalística cada vez mais distante do real, da verdade. “A mídia dilapida seu único patrimônio”, costuma dizer. São preocupações que não as têm os donos da mídia e, por omissão, oportunismo ou submissão, grande parte dos jornalistas brasileiros. Daí a pouca repercussão da presença de Carl Bernstein entre nós. De grande nome de um seminário a ator coadjuvante.
Sobre a liberdade de expressão, tema do seminário para o qual foi convidado especial, o repórter do Washington Post diz temer a banalização do seu conceito. Ele diz que se não soubermos usar essa liberdade, poderemos servir aos interesses da ignorância e da tirania. Como pudemos verificar em matéria do “Bom Dia, Brasil” , o seminário representa mais uma manifestação dos donos de jornais que não querem ver a mínima menção a regulamentação do exercício da atividade jornalística. Quer-se esconder que a regulamentação, em qualquer ramo de serviços, é um processo adotado nos mais importantes países democráticos do mundo, em respeito aos interesses da sociedade.
Os donos da nossa imprensa preferem ouvir lugares comuns repetitivos, de conteúdo vazio, como a fala do ministro Ayres Britto, do STM, para quem “a liberdade de imprensa tem precedência sobre os demais direitos”. Tentam argumentar com virulentas distorções da imprensa golpista venezuelana, convenientemente convidada. Ou seja, preferem surfar nas ondas globais da nova cultura jornalística que, como diz nosso herói do “Caso Watergate”, prioriza o culto à celebridade (do veículo ou do repórter) pela fofoca, pelo sensacionalismo, pela negação da verdade, pela injúria. Em lugar do rigor da apuração, a base fundamental da atividade jornalística.
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