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sexta-feira, junho 14, 2013
Sonhos não envelhecem
“O cheiro de vinagre impregnava o ar. Descobri hoje, minutos antes de sair de casa, que os manifestantes brasileiros aprenderam dos espanhóis, egípcios, turcos etc. que o vinagre neutraliza a ação fulminante do gás lacrimogêneo.”
No meio de tanta informação, não sei mais onde li esta. Mas juntou-se ao quebracabeças que está quebrando a minha esses dias. Uma ótima noticia é essa, as redes que entrelaçam as pessoas pelo mundo.
Eu posso ser uma pessoa ingênua, como me dizia um grande amigo jornalista, meu primeiro chefe, o Zéduardo,que se suicidou no início deste ano. Ele vivia cercado de jovens, aos 70 anos. De onde vem o novo, se não for deles?
Não estava muito certa disso, pois as novas gerações, no meu quebracabeças, estavam se mostrando muito conservadoras. Com bravas e belas exceções, claro. Mesmo os mais inteligentes, sensíveis, estavam me parecendo desiludidos, conformados.
Um mundo velho e carcomido, opressor, controlador --e acabamos de saber o que já temíamos, o grande irmão do norte acompanha a vida virtual de todos nós, habitantes do planeta-- não é mesmo animador.
Um motivo aparentemente banal -- em Istambul a destruição de uma área verde, aqui aumento de passagens de ônibus-- virou a gota d’água a transbordar esse cálice tão amargo, há tanto tempo.
Isso é o que a esquerda não entende, apontando oportunistas de partidos radicais, “tentando desestabilizar um governo popular de esquerda eleito”.
O que a direita não entende, falando em “terrorismo”. O que vereadores paulistanos de um e de outro lado do espectro político jamais entenderão, taxando, juntos, os manifestantes de criminosos.
O que o velho mundo absolutamente não compreende é que o status quo , o arcabouço político, o sistema político partidário não dá mais conta do presente e não dará conta do futuro.
Há pelo menos duas décadas, em todo o mundo, começaram as marchas. Reportei o início, foi a Marcha Mundial de Mulheres, na década de 1990. Por vários países. Daí, a primeira grande mudança: manifestações em movimento. Pessoas caminhando para protestar.
Marchas de sem terra, de índios, de mulheres, de jovens.
Tantas.
Movimentos horizontais, tecidos em redes, com novas hierarquias, não necessariamente com líderes. Pelo mundo.
Aliás, leio em comentários de participantes do Movimento Passe Livre que :
--“não existe liderança. As bandeiras de partidos não fazem com que a causa perca valor. Causa que se estende agora muito além do transporte e virou questão democrática. Então soma na luta --- ela não tem dono”.
(Minha mente logo associou isto ao belíssimo livro de André Gide, “Os frutos da terra”, Les nourritures terrestres, que li na adolescência, onde Menalque, acho que alter-ego o autor, encerrava assim os conselhos ao jovem Menalque: “Não sacrifiques aos ídolos”.)
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Sempre que a desolação me abate, eu penso: neste mundo, aqui e ali, no vasto planeta , tem gente fazendo diferente, começando experiências, projetando um novo modo de ser, de viver.
Isso em todos os setores, da arte e cultura à política. (Nas nossas periferias, por exemplo, podemos ver como as pessoas constróem seus espetáculos, sua atuação, sem depender da grande mídia. Há correntes culturais, movimentos fora do eixo que inclusive fazem parte destas manifestações do MPL.)
E não há repressão que possa matar o que teimosamente se instalou lá dentro de corações e mentes, (o que será, que será?) de pessoas correndo de bombas e borrachadas em tantas praças, ruas e avenidas de tantos países desse mundão.
1968 provou que as rebeliões não se dão em um só país, espalham-se pelo mundo. O mesmo acontece com o oposto. O mesmo ocorreu a partir dos anos 1980, a década perdida, com a implantação, em todo o mundo ocidental, do neoliberalismo e suas consequências terríveis, hoje diretamente comprovadas com a enorme crise nos países do Norte. A mesma crise que provocou o florescimento de novos movimentos , estes de que falo.
É, a roda da Historia se move, sim. E mesmo sabendo que a velha humanidade sempre dá dois passos à frente e um atrás, como eu disse há pouco ao amigo Marcelo Mirisola --que como eu, também teimosamente tem esperança , mesmo sabendo que podemos quebrar a cara mais uma vez. Eu disse ao MM que nada está parado, até as moléculas deste banco de madeira onde estou sentada digitando. Por que não a História?
h
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