quarta-feira, setembro 26, 2007

Desta vez vai voar pena

EDITORIAL
Brasil de Fato
S.Paulo, 25.09.2007


Em meados dos anos 1970, o ator alemão Helmut Berger foi aplaudido em todo o mundo e em cada festival de cinema, por sua atuação em Os deuses malditos, do diretor italiano Lucchino Visconti. Um dos motivos do sucesso residia na cena onde Berger, travestido, mimetizava a atriz (também alemã) Marlene Dietricht, em sua performance cantando e dançando no filme O Anjo Azul que marcara época algumas décadas antes.
O jovem Berger deu muitas entrevistas e declarações até que, um belo dia, recebeu uma foto da cena original enviada por Dietricht, agora já uma senhora, com a seguinte anotação enquanto dedicatória:
Qual de nós é a mais bela?
A resposta era óbvia há perguntas que só são feitas quando se tem certeza da resposta.
Ao que tudo indica, até a próxima semana, a política institucional brasileira deverá nos brindar com episódio semelhante (farsa ou tragédia?). Comenta-se que o senador, ex-presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e ex-governador de Minas Eduardo Azeredo já está com sua foto sobrescrita com dedicatória semelhante à da Dietricht, para enviar para alguns ex-dirigentes petistas: até o dia 30 de setembro, o procurador Geral da República Antonio Fernando de Souza deverá enviar denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o escândalo do mensalão tucano, encabeçado pelo senador Azeredo. O senador capitaneia uma lista de 36 nomes com diferentes níveis de compromisso com seu partido e seu governo. Entre estes, estariam dirigentes das estatais Companhia de Saneamento de Minas Gerais – Copasa, Companhia Mineradora de Minas Gerais – Comig (atual Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – Codemig), Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), e do Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge), privatizado durante o governo do senador Azeredo. A denúncia tem como base investigações da Polícia Federal e envolve falcatruas que somam R$ 100 milhões, dos quais R$ 110 mil teriam sido enviados para a campanha do então candidato a deputado Aécio Neves, hoje governador de Minas.
A origem da especulação em torno da foto e da dedicatória que o senador peessedebista já teria prontas para enviar para os ex-dirigentes petistas, fundamenta-se na chamada arrogância tucana. De acordo com os observadores e analistas políticos, os tucanos jamais aceitam ser superados. São os melhores em tudo. São os maiores em tudo. Aliás, nesse assunto de mensalões, não temos a menor dúvida: seria covardia comparar qualquer prócer (ou ex-prócer) do atual Governo, com o ex-ministro tucano Sérgio Motta para ficarmos apenas com um exemplo, e na esfera do Executivo Federal. Isto porque, de acordo com a informação publicada em 25 de setembro na página eletrônica Congresso em Foco ( com base em dados do STF, dos 13 representantes do PSDB no Senado (entre os quais o senador Eduardo Azeredo), nove estão sendo processados por desvio de verbas, improbidade, peculato, compra de votos e outras atividades criminosas – ou seja, 70% da bancada tucana. Nessa mesma Casa, o Partido dos Trabalhadores (PT), conta com 13 senadores. De acordo com Congresso em Foco/STF, nenhum dos petistas está sendo investigado ou processado. Nenhum elogio. Não fazem mais que a obrigação. O que nos interessa aqui é o nefasto papel que vem sendo exercido pelo Partido da Mídia ( PM), que tendo acesso a essas informações, insiste em ocultá-las.

Carta do leitor
Quando fechávamos este editorial, recebemos do nosso leitor JB, de Niterói (RJ), a seguinte mensagem:
Cortina de fumaça:
enquanto a gente discute esta porra de corrupção, que não leva nem 10 milhões de reais por dia dos cofres públicos, Lula paga 750 milhões por dia aos banqueiros.
JB

Resposta da redação
Prezado leitor,
concordamos que o senhor se sinta indignado com o que tem sido pago com o nosso dinheiro dinheiro do povo brasileiro aos banqueiros. Nós também nos sentimos insultados com essa sangria.
Aliás, se você tem acompanhado o nosso jornal, vimos há anos tentando chamar a atenção do presidente Luiz Inácio para o assunto.
No entanto, desconfiamos que ele e sua equipe econômica não estão muito interessados em nos ouvir.
Alguns movimentos populares também têm insistido no tema, ocupando ruas, avenidas e praças, aos gritos, mas com igual insucesso.
Apesar disso, amigo leitor, continuaremos tentando. Mesmo acreditando que o atual momento não é muito propício: não sei se você está informado, o nosso presidente acaba de ser ungido por seu colega estadunidense, senhor George Bush, da missão de Apóstolo do Etanol. E você sabe o quão empenhado, dedicado e obsessivo costuma ser um apóstolo.
BF