quinta-feira, abril 30, 2009

Dia do Trabalhador


Operários, Tarsila do Amaral, 1933



1 de Maio, Pedro Martinelli, 1971



Tenho esta foto do Pedrão guardada há anos. E também tenho a certeza de que, naquela época, Pedrão não conhecia o quadro da Tarsila. A chaminé é da antiga Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, no Parque da Água Branca.
Abaixo, texto dele próprio no seu blog, linkado aí embaixo à direita.


"Esta fotografia foi feita no dia primeiro de maio de 1971 no jogo Palmeiras X Guarani no Parque Antártica, segundos depois que o juiz colocou a bola na marca branca do meio do campo. Eu estava com o visor grudado na cara esperando o quadro ficar limpo. As bandeiras da torcida serem baixadas e os sorveteiros sairem do enquadramento.

O momento mágico foi entre o juiz olhar no relógio e fazer com a mão o sinal de positivo para os dois lados do campo, e o apito, dando o início do jogo. O estádio parou silencioso.

Esta foto foi a vencedora do Concurso de Fotografia da Revista Realidade e o prêmio foi uma viagem para a Fotokina em Colônia, na Alemanha, onde conheci meus queridos amigos e mestres Thomaz Farkas e Sergio Jorge."



Meu amigo, o escritor e tradutor Liu Sai Yam, me deu a alegria de escrever um texto sobre o Dia do Trabalhador, para a Babel. Obrigada Liu.


Primeiro de Maio



Chicago - 1885
Aos finais de 1885, a AFL (Federação Americana de Trabalho), em consonância com a AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores), programa para 1º de Maio de 1886 uma paralisação geral dos trabalhadores de Chicago, como manifestação a favor da jornada diária de 8 horas, em lugar das costumeiras 13, e até 17 horas, impostas pelas indústrias e o comércio.

Chicago – Zona Quente
Chicago, capital do Estado de Illinois, era polo central da crescente industrialização norte-americana, zona quente que concentrava fábricas, lojas, bancos, jornais, os maiores sindicatos patronais e operários, centro nervoso do crime organizado, território livre da Máfia, organizações socialistas, comunistas e agitadores anarquistas.

Chicago – 1º de Maio de 1886
O movimento tem adesão maciça em conseqüência da intensa convocação pelas lideranças sindicais. A polícia está também com os nervos à flor da pele. A imprensa conservadora de um lado e a agitação anarquista de outro insuflam as tensões. As primeiras passeatas ocorrem de modo pacífico, com participação de mulheres e crianças.

Chicago – 3 de Maio de 1886
No terceiro dia de paralisações, ânimos se acirrados. Guerras ideológicas se travam entre órgãos de imprensa, oradores de rua, lideranças sindicais e políticas. A polícia investe contra uma concentração em frente à MacCormick. Atira para matar. Saldo de 6 mortos, mais de 50 feridos e centenas de prisões.

Chicago – 4 de Maio de 1886
Nervos em ponto de bala. Líderes sindicais, ativistas socialistas e anarquistas lutam pela continuação da greve. A polícia ataca os comícios, começa a haver reação. Disparos e explosões a bomba por toda a cidade. O pau come solto (com participação ativa do crime organizado, no ataque aos operários) dando oportunidade ao governo decretar Estado de Sítio e encarcerar ativistas e sindicalistas, inclusive os que tentavam acalmar a população.

7 prisões para quebrar a espinha do movimento
O Estado manda prender 7, tidos “cabeças” do movimento: August Spies e Michel Shwab, editores de jornais operários; Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Louis Lingg e Georg Engel, sindicalistas e ativistas de esquerda. Em 9 de outubro de 1886, Parsons, Fischer, Spies, Lingg e Engel são condenados à forca; Schwab e Fieldem à prisão perpétua; Neeb recebe 15 anos.

4 enforcamentos e 1 suicídio
Aos 11 de Novembro de 1886, Parsons, Fischer, Spies e Engel são executados. Lingg se antecipara, matando-se na prisão.

Sentenças anuladas
Em 1891, a Corte de Illinois, pressionada pelas fartas evidências de irregularidades, falsos testemunhos e intimidações havidos no julgamento de 1886, anula as penas dadas aos sete, reabilitando-os e libertando os sobreviventes.

Paris – 14 de Julho de 1889
No centenário da Revolução Francesa, ocorre em Paris gigantesca assembléia geral operária representando mais de 3 milhões de trabalhadores, o que daria início à 2ª Internacional Socialista, de 1890; e entre diversas resoluções cruciais ao futuro do movimento operário –
Marx, por exemplo, neutraliza de vez a figura polêmica de Bakunin, expurgando os anarquistas da cena política": errado, que os camaradas socialistas-libertários podem ter perdido a parada na 2ª Internacional, mas jamais na cena política.Fizeram e aconteceram em todos os momentos cruciais da história do Trabalho urbano e rural no século 20, proporcionando contrapontos ora autofágicos ora salutares nas lutas e polêmicas teóricas.
Resultados

1º de Maio de 1886 e Chicago foram adotados como símbolos, marcos de um longo processo de lutas dos trabalhadores contra condições desumanas, tratamentos crueis e ausência total de direitos. As conquistas foram lentas, extraídas a fórceps: a jornada de 8 horas, descanso remunerado, férias, assistência médica, previdência, tudo o que o trabalhador hoje considera normal e natural, foram duramente extraídos de encarniçados confrontos, debates políticos, polêmicas teóricas, prisões e sangue derramado.

Hoje em dia, as celebrações de 1º de Maio tomam forma de festivos convescotes, com sorteio de brindes ao som de axé, sambão e pagode; o que de resto se sucede com todas as celebrações clássicas, como Natal, Páscoa, Confraternização Universal...

Mas não custa lembrar o porquê de estarmos pulando ao som de Ivete Sangalo.

quarta-feira, abril 29, 2009

Itamar Assumpção




(Venha até São Paulo.Video de apresentação do seminário sobre Itamar Assumpção;História da MusicaIV.Centro de Estudos Musicais Tom Jobim)

Vai sair um livro com as letras dele, morador da Penha (SP) e apresentação do Mario Bortolotto. Imperdível, aqui uma das letras

Do alto dos quarenta e quatro

Do alto dos quarenta e quatro

miro meu retrato de anos atrás.

Tenho ar preocupado, um riso forçado...

num branco sem paz.

Do alto dos quarenta e quatro

tiro meus sapatos, ando pelo cais.

Mais lúcido que alucinado,

aprendi um ditado: “Prendam Barrabás!”

Vivo entre verso e prosa, ataque e defesa.

Vivo muito mais.

terça-feira, abril 28, 2009

O administrador do prédio fugiu





Com a grana do predinho onde moro, e de mais outros dez predios, minha gente. Pode???
A doença do mundo




Mestre Liu Pai Lin aos 93 anos


Na Associação Tai Chi Pai Lin diz o professor: não é que apenas nos afastamos da natureza, nós não nos consideramos parte da natureza.
E diz a professora: como podemos querer consertar o mundo, se dentro de nós tudo está brigando?

O mundo sofre de síndrome de pânico, me diz um amigo. A cada dia, uma notícia aterradora: agora é a gripe suína. Outro dia foi a gripe aviária, e aqui entre nós a febre amarela, devidamente transformada em pânico pela midia, que chegou até a matar gente porque repetiu vacina que não precisava. Filas no Instituto Pasteur, me conta o amigo que mora lá perto, mesmo com chuva, ano passado, gente atrás da vacina, porque deu no jornal, deu na TV.

Michael Moore, em um de seus excelentes documentários, mostra como os Estados Unidos da América do Norte vive sob o domínio do medo, e faz seus cidadãos se armarem até os dentes. Isso na era Bush.
E o dominio do medo espalha-se. Em Alfenas, pequena cidade do sul de Minas Gerais, a maioria das casas tem muros altissimo. Não se vê mais a antiga varanda, o então jardim.

E quando passar a gripe suina outro sinal de alarme surgirá, além dos tsunamis, além dos terremotos,
além da indústria farmacêutica ( a maior criminosa do mundo, disse aquele Doutor da Alegria norte-americano em uma entrevista impar no Brasil) além dos planos de saúde, além da fome, além da míséria, além dos lucros dos bancos, além da falta de ética e de caráter, além da dor.

Quando teremos algum minuto de paz? Quando nos lembraremos de quem somos e do milagre que representa a vida, tão banalizada?

Quando voltaremos a nos considerar parte da natureza, a natureza humana?

segunda-feira, abril 27, 2009

Making of da Babel de Brueghel


domingo, abril 26, 2009

Casa de Assis - 2

Cotidiano nos anos de chumbo

Eu e Jaqueline, ex-Jurandir
Foto Narciso (Peixe)

Concurso de miss, concurso de esculturas na areia, etc. e tal era a tônica das pautas naqueles anos de chumbo. Faits divers , como este do ex-Jurandir, voz grossisima, um dos pioneiros do metier, eu acho.
Além disso tudo, tinha o que se chamava "matérias 500", as recomendadas, até hoje ninguém sabe de onde saíram os 500, imagina-se que de algum jabá histórico nessa quantia. Já vinha a pauta assinalada: 500.
Então dá-lhe almoço na Ordem dos Velhos Jornalistas, reunião disso e daquilo. Nada que tenha mudado muito hoje em dia, só não tem mais a explicitação, só que a coisa é bem pior.
E fora uma ou outra pauta que o Zé Eduardo, de sacanagem, passava. Imagine uma época em que você tinha tempo pra fazer pauta-trote.
Eu fiz uma dessas, inesquecível. Era pra entrevistar um inventor no Bom Retiro, o seu Natanael.
Inicialmente tudo bem, eu achando que era uma pauta normal, até que ele falou da grande invenção: o tanque de guerra lava- roupass!!!
Ficou horas falando e eu arrumando um jeito de ir embora, até que consegui. Mas ele me acompanhou por uns bons anos mandando cartas com as novas invenções, tenho todas aqui guardadas, um primor.
Quando cheguei na redação, furiosa, o Zé morreu de rir.
Algum jornalista hoje pode imaginar coisa igual?
Também ninguém imaginaria entrar na redação pra começar a trabalhar, lá pelas 2 da tarde, abrir a portinhola tipo far-west e deparar-se com o próprio: dois caras armados ensaiando um duelo. Que não aconteceu, claro, um mais tonto que o outro, acho que eram da turma da reportagem policial, só podiam ser.
(Mas na Casa de Assis, mesmo quem não era da reportagem policial andava armado.)
Voltando às pautas, o problema, claro, não era só dos Diários. Em plena ditadura, falar do que?
Quando fui para a a sucursal de O Globo, o mesmo karma me acompanhou: agora eram congressos de medicina. Um dia, fiquei revoltada e disse, em prantos, que não ia mais cobrir congresso de médico algum, daí se compadeceram e me livrei desse karma.
Fora o fato que, você sendo mulher, já limitava muito: éramos a jovem geração universitária que chegava. Na Casa de Assis, tinha jornalista que não me cumprimentava porque eu chegava alegremente vestida com a jaqueta de nylon da ECAUSP, direto da aula.
Pra que? Os velhos lobos do mar da imprensa farejavam perigo: mulheres, jornalistas, boa coisa não devem ser.
Daí que a ditadura achava a mesma coisa, e uma edição inteira do jornal Movimento sobre o trabalho da mulher, inclusive uma pesquisa nacional alentada, a primeira, sobre mulheres no jornalismo, para a qual eu e várias colegas colaboramos, foi inteirinha censurada.
Sim, porque a gente escrevia abóboras nos jornalões mas tinha a válvula de escape da imprensa alternativa, aí sim era coisa séria.

sexta-feira, abril 24, 2009

Histórias das Redações

A Casa de Assis, Sete de Abril, 230, segundo andar

Casa de Assis. Foi assim que batizamos a redação dos já decadentes e pra lá do fim de linha Diários Associados, ex -império do Assis Chateaubriand, nos anos 1970, onde arrumei meu primeiro emprego, ainda na faculdade, registrada como auxiliar de escritório, já que precisava do diploma pra exercer o ofício.
Nunca se viu redação igual.
Havia de tudo lá: direta, esquerda e nada. Polícia, bandido, e nós jornalistas.
O meu primeiro dia foi interessante: minha primeira visão foi o chefe de reportagem, Zé Eduardo, em sua mesa, cercado de belas moçoilas, soube depois que eram todas ex-namoradas dele e se davam muito bem.
Daí fiz amigos: o Zé entre eles, figura que merecerá um destaque especial mais pra frente, aliás, seria preciso uma Biblioteca de Babel pra falar do Zé.



E entre os novos amigos, a querida Tania Mendes, companheira de muita batalha daí em diante. Mineira de Belzonte, que diz que não lembra de mais nada, é dela o depoimento:


"Uma das minhas primeiras saídas com fotógrafo na Casa de Assis, não lembro o assunto da matéria, foi com o Mostrangá. Voltei, fiz o texto e o Zé mandou assinar texto e foto. Assinei Tânia Mendes e Mostrangá. Assim mesmo. Imagina o que me deram de gozação por pelo menos uma semana KKKKK e o outro queria vir tirar satisfação comigo, você lembra, era tosco e por isso o chamavam Mostrangá"


( nota da blogueira: eu lembro, tinha uma verruga na ponta do nariz e se metia em todas as nossas entrevistas, eu morria de vergonha, porque falava só abóbora. ninguém lembra o nome dele, o Zé diz que nem o próprio se lembrava, não era costume assinar matéria, só em casos muito especiais, remember? E ele diz que a sua estava muito boa.)

"Zé acalmou o bicho dizendo que eu era tonta e aquilo não mais aconteceria. Me chamou e comunicou que o nome do dito era ( não lembro, você lembra o verdadeiro nome da figura??).KKKKKK

E teve o dia que o Zé me mandou prá estação do Brás entrevistar nordestinos, eu foca e completamente desorientada em relação à cidade grande. Cheguei lá já eram mais de 7 da noite, nunca me esqueço, não conhecia nada de São Paulo. Não lembro qual fotógrafo foi comigo, mas lá tive a notícia de que o trem que deveria chegar a tal hora estava muito atrasado porque houve um desastre. Imediatamente voltei prá redação e disse que não tinha matéria.

O Zé me expulsou aos berros e me mandou prá casa, mas morrendo de rir! E há o fato de que fui presa pela OBAN ( Operação Bandeirantes) na redação vetusta dos Diários. Foi um tititi que durou dias! Uma adrenalinada naquele túmulo!".


Maria Tania brinca agora, mas ela sabe o que passou e nós também.
Pois é, um dia após meu ingresso, um fulano que fazia turfe, no café veio me dizer: "Ontem foi presa uma cumunista aqui, a Tania, sabia?"
Ai meu Senhor do Bonfim, onde é que eu fui amarrar minha égua, pensei, apavorada, olhando para a cara cheia de bigodes do sujeito xexelento.

Tania, não lembro quem ao fundo, Nivaldo Notoli e Rodney Melo.

Era bom, mas era uma merda, diria o Tom Jobim. Nos reuníamos muito no Paribar, delicioso bar na Praça Dom José Gaspar, mas sempre falávamos em voz baixa, cheio de espiões disfarçados rondando. Como na música do Gil.
Depois do Zé, que foi editar Internacional, veio para a chefia de reportagem um sujeito baixinho, gordinho e perigoso: dizia-se que era ele o relações públicas do Esquadrão da Morte, o temível Lírio Branco, que ligava para as redações dando os endereços de onde eram abatidos o que chamavam de "presuntos".
Pensam que era mole???
Volto em breve, com mais eletrizantes revelações históricas da inesquecível Casa de Assis.



quinta-feira, abril 23, 2009

Manifesto Anti-Dantas
por José de Almada Negreiros,
uma das figuras marcantes da geração modernista de "Orpheu".

São Tomé e Príncipe 1893/1970.

O Manifesto Anti-Dantas foi escrito em 1912, por Almada Negreiros.
O texto "maldiz uma das figuras da literatura portuguesa – Júlio Dantas - que, durante algumas décadas, representou a cultura académica e conformista, influenciando todo um conjunto de escritores, jornalistas, políticos e actores.”
Lá como cá, Dantas dessa estirpe há!
Belo resgate da minha amiga virtual Marcita, lá da terra do Senhor do Bonfim.

"Basta pum basta!!! Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração! Morra o Dantas, morra! Pim!"



Memórias de uma moça bem comportada- 1


Há tempos estou para começar esta série, tirando coisas do meu baú. Sim, eu tenho um precioso baú, e como diz o professor Antonio Candido, é bom ter um baú.
Um baú histórico, minha gente.
Tremei os que têm por que tremer! E resolvi começar por uma historinha daquelas nada exemplares.
Lembrei dela hoje ao responder a uma pergunta de um antigo colega, que trabalhou comigo na inesquecível sucursal paulista de O Globo, em tempos nos quais não havia ainda competição, rasteiras, individualismo exacerbado, etc. Essas coisas.
Ele me perguntou sobre a redação da revista Nova Escola, que ficava na Haddock Lobo, perto da Paulista, onde estávamos almoçando.
Eu trabalhei lá no fim da década de 1980. Uma revista da Fundação Victor Civita distribuída para as professorinhas de escolas públicas de todo o país. Já era um macete da Abril, o governo comprando as revistas, como é até hoje. Entretanto, naquela época, as matérias ao menos enalteciam boas experiências de professores, me disseram que hoje em dia não é assim...
Viajávamos bastante para resgatar experiências pedagógicas bem sucedidas.
Na redação trabalhavam não só colegas, mas alguns companheiros de militância, desde a luta pela redemocratização até a fundação do PT. A diretora de redação naturalmente não era dessa turma, mas acabou se dando bem com alguns deles, não comigo. Havia, não sei hoje, uma coisa esquisita naquelas pequenas redações abrilianas, que era uma obrigatoriedade velada de você se relacionar com os chefes, frequentar suas festas e sua vida particular. O que nunca foi meu caso.
Pagam para você ser uma profissional, não para amigos obrigatórios, não é?
Assim, como não participava dos convescotes, fui ficando afastada.
Até que um dia deu-se a historinha nada exemplar.
A Abril tinha o costume de contratar professores de português para eventuais conversas com a redação, o que era mesmo muito bom.
Um dia, foi marcada uma reunião dessas com o professor da PUC Samir Meserani, amigo da redatora chefe. Ele começa a analisar todas as matérias da recente edição cuja capa era minha, e falava sobre Arte-Educação no país, matéria relegada e levada à frente pela insistência de alguns abnegados professores.
A papa desse setor, professora Ana Mae Barbosa, havia me escrito uma carta elogiosa.
O professor em questão analisa a revista inteira e elogia todas as matérias. Deixa a minha para o final e esculacha: diz que era burocrática, mal escrita, apenas um boxe se salvava, e não deveria estar na capa.
Abismada, atônita, eu só consegui responder que a escolha da capa era feita pela redatora chefe, e não por nós editores. Básico.
Nem disso o professor de português entendia. Argumento furadíssimo.
Nenhum dos colegas e companheiros presentes disse nada.
Bem, olhem o desfecho: no dia seguinte, a redatora chefe faltou e deixou o trabalho sujo para seu assistente, um jornalista nissei daqueles meus companheiros -- para o qual eu, aliás, havia articulado a vaga, quando ele estava na pior-- e que subiu na vida lá dentro logo. Acho que era editor executivo.
Ele me chama para conversar num bar, me convence que realmente eu não era boa jornalista e me demite.
E o pior: como ele era uma das pessoas nas quais eu confiava, fiquei totalmente arrasada, achando que realmente era uma péssima jornalista.

O professor de português fez um relatório por escrito, que infelizmente rasguei: imagino hoje como seria interessante retirá-lo do baú e mostrá-lo aqui. Depois de um prefácio do professor Antonio Candido para o meu livro, por exemplo.

Passei longos meses convalescendo desse episódio torpe. Um professor universitário se prestar, por uns trocados, a servir de fundamento para uma demissão que tinha motivos pessoais.
A redação se desmantelou com o tempo. O professor morreu, que descanse em paz, os outros se desentenderam. Há uns dois anos encontrei o jornalista nissei num lançamento de livro de amigo comum, ele veio me cumprimentar alegremente.
Aliás, lançamentos de livros são sempre interessantes: no do meu, apareceu do nada o chefete que desmantelou, cumprindo ordens fascistas, toda a nossa preciosa redação da sucursal paulista de O Globo, no século passado, porque fomos solidários ao querido chefe Candido Cerqueira, que havia sido demitido.

Não é só no jornalismo que isso ocorre, sabemos todos.
E eu repito a pergunta da minha amiga virtual Luzete: de que é feita a alma humana?
Também dessas histórias nada exemplares, que eu precisava exorcizar.
Manifesto a favor do ministro Joaquim Barbosa

Se você concorda com o ministro Joaquim Barbosa e acha que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, está "destruindo a credibilidade do Judiciário" e que ele deveria "sair às ruas" para julgar de acordo com as necessidades do povo brasileiro e não em favor das elites, assine este manifesto de apoio.


http://www.ipetitions.com/petition/credibilidade_judiciario?e



quarta-feira, abril 22, 2009

Saverio Fittipaldi, fundador da Editora João do Rio,
por sua neta Lucile




Foto álbum de família


Atualizado em 25 de abril, pela Lucile


(perdão leitores, falha nossa ao telefone

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk)


Li o Blog e gostei muito. Mas há uns reparos na história do meu avô:
Minha avó não era Carmela, era Rosa Puppio Fittipaldi - a Dona Rosinha, que a Silvanete conheceu muito bem. Aliás, de onde você tirou essa Carmela?Porque na minha família há inúmeras Carmelas (inclusive a filha mais velha de meu avô, falecida logo depois que minha avó chegou ao Brasil).
O Savério Fittipaldi Sobrinho não é irmão de meu avô, mas sobrinho (como está no nome). É filho do irmão mais novo de meu avô, Vicente (ou Vincenzo, no original) Fittipaldi, casado com Carolina, com quem teve 5 filhos, o mais velho deles o Saverio Sobrinho.
Os dois irmãos - Saverio e Vincenzo - dedicaram-se aos livros, mas por caminhos diferentes. Os ascendentes eram jornaleiros. Os descendentes diretos de Vincenzo ainda estão no ramo, os de Saverio não. Mas quem gostava, realmente de livros era o Saverio.
Capitão Marvel e Principe Valente (é valente, não feliz - principe feliz é o conto do Oscar Wilde) também são coisas do passado - aliás, estive com meu primo Helio há pouco tempo e ele me disse que não guardou um único exemplar (PODE???). A Editora Saber continua, mas não sei o que publica agora.
O meu irmão Mário é sócio de uma editora, mas só publicou um livro, aliás muito bonito, sobre Mercados Brasileiros (me esqueço o nome do fotógrafo), pela dificuldade de obter patrocínio
.


Porque o mundo é pequeno, depois de ler o post de 15 de abril sobre João do Rio e Lima Barreto (leia abaixo) que mencionava o fundador da Editora João do Rio, o imigrante italiano Saverio Fittipaldi, minha amiga Silvanete me telefonou dizendo que é amiga de infância da neta do Saverio, a Lucile.

Foi Lucile, juíza do trabalho hoje aposentada, quem acrescentou dados sobre a história desse avô interessantissimo, e também me mandou a foto.

Saverio veio para o Brasil mandado pelo pai, de Potenza, região da Basilicata, aos 6 anos, para viver com os tios, que eram vendedores de jornais no cais do porto do Rio de janeiro, em 1913.

Mas o garoto não gostou, e fugiu na barca para Niterói. Chegando lá, disse à policia que estava perdido. Os policiais o levaram para a delegacia, compraram um enxoval para o menino, com duas peças de cada roupa, e o mandaram de volta para a Itália. Que tempos mais amenos, hein?

Lá, ele voltou a tomar conta das cabras do pai. Um dia, contou o Saverio, levou um pontapé: o pai estava atrás dele com cartas do Brasil, os tios escreviam aflitos porque o menino tinha fugido.

Voltou à América Latina adolescente, passou por toda a costa, foi até Buenos Aires, morou em fazenda.

Mais tarde, no Rio, já casado com a dona Carmela, também italiana, acabou ficando rico com a editora João do Rio. Parece que foi a primeira no país a publicar livros ilustrados.

Nos anos 20, a dona Carmela era uma das poucas pessoas que andavam de carro no Rio. Mas Saverio se meteu em uns investimentos imobiliários e perdeu tudo.

A família ficou pobre.

Em São Paulo, a editora das Américas foi criada por ele em 1948. Ia bem até os anos 70, dirigida pelo pai de Lucile, o Mário, que se orgulhou de ter conseguido fechar sem a bancarrota, em parceria com o livreiro da Martins, outro baluarte do ramo.

Mário criou a Bienal do Livro de SP, foi presidente da Câmara Brasileira do Livro, e mesmo depois de ter fechado a editora. Uma família de gente ligada aos livros, jornais e revistas.

Helio Fittipaldi, filho de Saverio Filho Sobrinho, irmão dele, dirige a Editora Saber, que publica Capitão Marvel, Príncipe Feliz, clássicos dos quadrinhos.

Lucile contou que a família sempre pensou em se reunir um dia para resgatar a história de Saverio, mas o tempo vai passando, e tal, e também não tinham idéia da importância do avô. Mas essa tarefa a professora Jerusa Pires já tomou para si, a família adorou saber, e acho que a professora vai gostar dessas histórias que a Lucile contou.



terça-feira, abril 21, 2009

A Biblioteca de Babel entra hoje no ar

Unesco lança Biblioteca Digital Mundial
www.wdl.org

Congada dos Pretos em Morro Velho (MG)
Foto Augusto Riedel, circa 1868-1869
Publicada em Nova Lima

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lança hoje a Biblioteca Digital Mundial, que permitirá consultar gratuitamente pela internet o acervo de grandes bibliotecas e instituições culturais de inúmeros países, entre eles o Brasil.
Dezenas de milhares de livros, imagens, manuscritos, mapas, filmes e gravações de bibliotecas em todo o mundo foram digitalizados e traduzidos em diversas línguas para a abertura do site da Biblioteca Digital da Unesco

A nova biblioteca virtual terá sistemas de navegação e busca de documentos em sete línguas, entre elas o português, e oferece obras em várias outras línguas.
Até o momento, o documento mais antigo da Biblioteca Digital da Unesco é uma pintura de oito mil anos com imagens de antílopes ensanguentados, que se encontra na África do Sul.

Biblioteca Nacional do Brasil

A Biblioteca Nacional do Brasil é uma das instituições que contribuíram com auxílio técnico e fornecimento de conteúdo ao novo site da Unesco. O projeto contou com a colaboração de 32 instituições, de países como China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, México, Rússia, Arábia Saudita, Egito, Uganda, Israel e Japão.
O lançamento do site será acompanhado de uma campanha para conseguir aumentar o número de países com instituições parceiras para 60 até o final do ano.
"As instituições continuam proprietárias de seu conteúdo cultural. O fato de ele estar no site da Unesco não impede que seja proposto também a outras bibliotecas", explicou Abdelaziz Abid, coordenador do projeto.

Segundo o diretor da BN, Muniz Sodré, "esta parceria representa muito para o nosso país.Internautas de todo o planeta terão acesso a uma grande massa de documentação e estaremos colaborando para esta troca de informações. O fato de eles poderem viajar no fantástico mundo cultural em formato multilíngüe é mais uma prova de que a intenção da World Digital Library é ir mais longe do que se imagina. Uma maravilhosa celebração da existência de todos os povos e etnias. Da diversidade com inclusão e, conseqüentemente, do próprio ser humano".

A Fundação Biblioteca Nacional,considerada uma das dez maiores do mundo, e também a maior biblioteca da América Latina, é herdeira da Biblioteca Real, ainda do tempo da monarquia portuguesa no Brasil.

(com informações da BBC Brasil)




Exaltação a Tiradentes






Samba-enredo da Império Serrano, campeã de 1949. Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado.


"Toda vez que um justo grita,
um carrasco vem calar
Quem não presta fica vivo
quem é bom, mandam matar.”
O Justo, Cancioneiro da Inconfidência, Cecília Meireles.

No dia 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado no Largo do Lampadário, no Rio de Janeiro.Seu corpo foi esquartejado e pedaços espalhados pela estrada para a então Vila Rica, hoje Ouro Preto.

Se você for a Ouro Preto (MG), verá os túmulos dos Inconfidentes na Casa da Câmara (prefeitura).
Em frente a este prédio há um obelisco que marca o local aonde foi fincada a cabeça de Tiradentes, após seu corpo ter sido esquartejado e espalhado pelo caminho entre o Rio de Janeiro e Ouro Preto.
O chão da casa de Tiradentes foi salgado pelas autoridades e ele declarado “morto para sempre” pela Devassa, o processo de condenação dos Inconfidentes.
Poetas da Inconfidência Mineira: Tomás Antonio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e Alvarenga Peixoto.
O vice-rei do Brasil, Dom José Luis de Castro, ameaçou com severas punições quem não acendesse luminárias na frente de casa, como apoio ao enforcamento de Tiradentes.
No mesmo ano de 1792, Dona Maria, A Louca, que condenou Tiradentes à morte, foi declarada incapaz mentalmente.

domingo, abril 19, 2009

Babel de visual novo

A autora do novo layout é minha amiga virtual Nadia Stabile, (oriunda anche) sensibilissima pessoa amante das Artes e mulher de fibra. Obrigada Nadia, ficou lindo! Só falta agora nos conhecermos pessoalmente, e essa internet não é mesmo uma maravilha?

A Torre de Babel é uma pintura a óleo de Pieter Brueghel o Velho. Está exposta no Museu Kunsthistorisches, em Viena.

Pieter Brueghel, "O Velho" (Breda, 1525/1530 — Bruxelas, 9 de setembro de 1569) foi um pintor Flandres, célebre por seus quadros retratando paisagens e cenas do campo.

Suposto auto-retrato (ca. 1565)

Era conhecido como "O Velho" para distinguí-lo de seu filho mais velho, foi o primeiro de uma família de pintores flamengos. Assinou como Brueghel até 1559, depois seus filhos retiraram o "h" do sobrenome. Os outros pintores da família, e que família:

* Pieter Brueghel o jovem (1564-1638)
* Jan Brueghel o velho (1568-1625)
* Jan Brueghel o jovem (1601-1678)


"O Velho", considerado um dos melhores pintores Flandres do século XVI, é o membro mais importante da família. Provavelmente nasceu em Breda, nos Países Baixos, a bela Holanda.

Estudou em Antuérpia com um mestre, mas logo criou um estilo próprio caracterizado pela abundância de colorido. Seus quadros, de costumes na sua maioria, refletem a vida quotidiana da sua época e, ao mesmo tempo, pretendem interpretar a realidade mundial.

Suas obras estão repletas de pequenos pormenores reais e oníricos. O conjunto da sua produção reflete, de modo inevitável, as atribulações de uma época de confusão e de mudanças marcada pelas guerras de religião. Alguma semelhança com a nossa, cinco séculos depois?

É considerado o iniciador da escola flamenga que domina o mundo da pintura européia durante parte do século XVI e no XVII. Entre as suas obras mais importantes, O Triunfo da Morte, A Parábola dos Cegos e A Torre de Babel.

Mário Quintana


E se Deus é canhoto? Isso explica, talvez, as coisas deste mundo!

sábado, abril 18, 2009




Aprendi a gostar dele desde criança, com os discos de meu pai. Hoje faz 11 anos da sua morte.
Mas esses artistas não morrem, ficam encantados, como disse Rosa.


Janis- Summertime- stocolmo 1969

sexta-feira, abril 17, 2009

Melô e as crianças da Rocinha




Cruel (Sérgio Sampaio)

Tudo cruel, tudo sistema

Torre Babel, falso dilema

É uma dor que não esconde o seu papel

São Carlos, morro, Borel


Eu subo e nunca estou no céu
Marianne cheia de fé


Texto que escrevi em 4 de agosto de 2005, carta a alguns amigos

Me deu vontade de escrever – e há tanto tempo não escrevo coisas de que gosto --depois de assistir pela segunda vez, num canal a cabo, a um documentário sobre Marianne Faithfull. Não sei se vocês se lembram, eu tinha uma vaga lembrança.
Era uma linda cantora dos sixties, roqueira que fugiu com o Mick Jaegger. Inglesa também. Ela hoje tem uma voz grave, parecida com a de La Dietrich. Peguei o documentário na hora em que ela dizia: “Mudei para a Irlanda porque a Inglaterra não me merece!”.
“England doesn't deserve me!”, coisa assim.
Porque o establishment caiu em cima dela, “e eu que nunca fiz nada de errado”, dizia.
Claro que nós imaginamos o que ela fez de errado para a velha Albion. Não é? Aquela mesma na qual o jovem príncipe herdeiro vai a uma festa fantasiado de nazi, e dizem que aquela bela história de amor entre o príncipe Edward e a plebéia no século passado era para encobrir coisas menos nobres.
Então, depois de uma vida cheia de glamour- acho que ela foi a inspiração para aquela linda “Angie”, dos Stones – Marianne cheia de fé caiu na sarjeta, anoréxica, drogada, acabada. Depois dos sixties vieram os seventies brabos.
Mas Marianne levantou a cabeça loira da lama. E o que eu vi hoje foi uma mulher creio que na sexta década, mas que, mesmo sem plástica, não parece. Pois tem o mesmo jeito dos sixties.
“Não gosto muito de gente, não sou sociável, gosto de minha casa, que é meu reino”. Fez uma linda música pra dois que já se foram, Warhol e uma francesa, Nico, não sei quem é, mas alguma cantora vítima de alguma injustica.
E diz Marianne: “Não gosto de injustiças. Embora nunca tenha feito nada publicamente contra isso. “

A câmera segue Marianne na cozinha, na sala, no quarto, ela com músicos jovens irlandeses, e eles falando o tanto que a admiram. Patrice Chereau, aquele belo diretor de cinema, também fala sobre ela.
E uma câmera acompanha Marianne no ensaio de um show. Canta, com a voz gravíssima, uma bela canção. Fumando que nem louca.
“Claro que não vou continuar me arrastando pelos palcos aos 70 anos”, ela confessa. “Mas eu adoro o stage. Enfim, terei coisas para fazer: acho que sou uma boa jardineira e nunca me testei nisso”.
Termina assim, ela deitada, de botas, na cama com colcha de pele, cantando junto com o CD, uma música que fala do reino doméstico.Belíssima canção, a song, daquelas que Tinhorão vaticinou -- seguido por Chico Buarque , sem dizer o nome da fonte-- não terão mais lugar no século 21, pois foram uma manifestação do século 20.
Não sei, mas acho que vocês entenderam o espírito da coisa. Né?

quarta-feira, abril 15, 2009




João do Rio e Lima Barreto: almas encantadoras das ruas cariocas






Meu amigo e colega jornalista Gutemberg Medeiros defendeu ontem, 14 de abril, na ECA-USP sua excelente tese de doutorado “Urbanidade e metajornalismo nas matrizes da Modernidade: memória textual nas produções de Lima Barreto e João do Rio no início do século XX". Durou mais de 4 horas, com intervenções preciosas dos professores da banca. O trabalho foi orientado pela professora Terezinha Tagé, de cujo grupo de pesquisa fazemos parte, e já falei aqui: Textos da Cultura em Mídias Diferenciadas, na pós-graduação em Ciências da Comunicação.

Como cheguei atrasada, peguei a discussão interesantissima, já pelo meio. E o alentado trabalho do Gutemberg abre as considerações finais com o verso do Paulinho da Viola "A vida não cabe num samba curto".

Trata de dois mulatos cariocas: Lima Barreto, o do Memórias do Escrivão Isaias Caminha, roman à clef sobre o Correio da Manhã, pelo qual foi expurgado do jornal até depois da morte - e quem descobriu que seu nome era impublicável foi o jornalista Sergio Augusto, que trabalhou lá no suplemento de cultura nos anos 1960.

E João do Rio, o daquela Alma Encantadora das Ruas, que, esperto, resolveu sair da exclusão via um acordo com a influente colônia portuguesa no Rio: criou a revista Atlântica, patrocinada pelo DIP de Vargas e pela ditadura de Salazar.

Mas, lembra Gutemberg, tinha maravilhosos artigos de gente como Graciliano Ramos e que tais.

Quando ele morreu, os portugas, donos das frotas de táxi, abriram seus carros gratuitamente para o povo, e muitos cariocas andaram de táxi pela primeira vez.

Claro que a tese do Gutemberg é muito mais que isso, aqui dei apenas um gostinho. E quando for publicada eu aviso que não é coisa chata de ler, as teses desse grupo são preciosos aportes à comunicação e sua visão de mundo é ampla.


“O mundo é uma ilha de edição”


Disse a professora Jerusa de Carvalho Pires Ferreira, na banca, citando seu conterrâneo baiano, o poeta Wally Sailormoon, ou Salomão, sugerindo a publicação da tese, claro, com uma boa edição.

Ensaísta e professora de Literatura e Comunicação Social, Jerusa é um dos grandes nomes dessa área, atualmente na PUCSP, onde coordena há mais de 10 anos o Centro de Estudos da Oralidade e onde organizou mais de dez colóquios e seminários internacionais. Lembrou também que Odorico Mendes, tradutor maranhense de Homero, disse uma vez: “Só Deus é original”.

E lembrou de seu trabalho, uma pesquisa no que chamamos de periferia, a Cultura das Bordas, que levou mais de 20 anos-e foi publicada na França, mas aqui ainda não-, e entre elas aquela sobre os editores Fittipaldi, sim, do mesmo ramo dos automobilistas. Saverio Fittipaldi chegou ao Rio em 1913, depois voltou para a Itália na guerra, depois retornou ao Rio e foi ser vendedor de jornais. Adorava o jornal O Pais e as crônicas de João do Rio. Certo dia, aparece o próprio na sua frente. Ele o descreve vestido como “um centurião romano”- era um dândi o João. E o jornalista e escritor diz: “Há muitos anos eu precisava de um vendedor de jornais capacitado como você”. Naquele momento criou-se a Editora João do Rio (1921-1937).

Mais tarde, em São Paulo, Saverio criou a Editora das Américas, que publicou clássicos como Dante, Virgilio, Tolstoi, Victor Hugo.

A grande matriz de Saverio e de João, entretanto, era a imprensa. Uma das histórias que pessoas sérias e entusiasmadas da academia, como Jerusa, descobrem para nós.


segunda-feira, abril 13, 2009

Brasil Nação discute abusos da mídia



Trechos de recente mesa redonda do excelente programa Brasil Nação, da TV Educativa do Paraná, com os jornalistas Beto Almeida, mediador; Luiz Carlos Azenha, do Vi o Mundo e da TV Record; Leandro Fortes, da Carta Capital; e o meu queridíssimo amigo Alípio Freire, do jornal Brasil de Fato e da editora Expressão Popular, poeta, escritor e companheiro de tantas batalhas.
Dá-lhe!

(Achei tudo interessante demais, especialmente o senador mencionado ( por exclusão entre dois de São Paulo, Aloisio Mercadante), que disse não poder denunciar coisas da imprensa porque ficaria sem mídia....que xuxuzinho (aliás, é também muito chegado aos GMO, ou seja, organismos geneticamente modificados). Ainda bem que nunca votei nesse senhor, nem votarei, e recomendo o mesmo aos amigos deste blog, seus amigos e familiares.)






Colaboração da Beth Sigoli

Cesare Pavese

No fundo, a sabedoria do destino é a nossa própria. Porque nós o seguimos tendo consciência daquilo que no fundo nos é permitido realizar. Por mais tentações que tenhamos, nunca erramos nisso. Sempre agimos de acordo com o destino. As duas coisas são uma só.Quem erra é quem não compreende ainda seu destino. Ou seja, não compreende qual é a resultante de todo o seu passado – que indica o seu futuro. Mas, compreenda-o ou não, indica-o do mesmo modo. Toda vida é exatamente aquilo que devia ser".

31 de março de 1946


domingo, abril 12, 2009

A Valsa- Camile Claudel

A Valsa- Camile Claudel



Elizabeth Lorenzotti



Valsa para Bernardo



Uma rua de paralelepípedos. Um homem magro, óculos de aros finos e aspecto melancólico. Um café, onde é freguês habitual e tem sua mesa cativa. Um mapa astral guardado no bolso traça o perfil de seu país. Os tons velados do crepúsculo. Alguém bate uma fotografia do homem caminhando pela rua e esta será uma das poucas imagens que conseguem roubar dele. Detesta fotografia, talvez como certos povos que acreditam ficar sem alma se sua imagem for capturada num instantâneo flash.

Este o ajudante de guarda-livros do escritório da Rua dos Douradores, Bernardo Soares. O escritório da Rua dos Douradores é a vida inteira.

“E, se o escritório da Rua dos Douradores representa para mim a vida, este meu segundo andar, onde moro, na mesma Rua dos Douradores, representa para mim a Arte.

Sim, a Arte, que mora na mesma rua que a Vida, porém num lugar diferente, a Arte que alivia da vida sem aliviar de viver, que é tão monótona como a mesma vida, mas só em lugar diferente. Sim, esta Rua dos Douradores compreende para mim todo o sentido das coisas, a solução de todos os enigmas, salvo o existirem enigmas, que é o que não pode ter solução”.

É como se ele me guiasse agora, indicando suas escrituras que melhor podem exprimir este momento em que caminha pela Rua dos Douradores, o lugar da vida e da arte, vizinhas de porta.

Ah, Bernardo, eu não te conheci de carne e ossos, apenas destes papéis escritos. Eu te amo porque não te conheço. E se me conhecesses, me amarias? Eu te pergunto nestes papéis escritos que não são a vida. Eu, que te amo por esses papéis escritos.

Neste momento em que Bernardo caminha de volta para o segundo andar do prédio onde mora , homem tão frágil e indefeso, não pode impedir quem o recria, mesmo que seja com amor. Olvido é uma bela palavra em espanhol, mas é a lembrança que nos mantém vivos em português.

Sobe os degraus -- e é um homem jovem, mas carrega fardos invisíveis, e seus passos são arrastados.

Mal posso imaginar Bernardo dançando alguma vez em sua vida.

Mas sei que ele gostaria de poder se dar esse prazer.

Por isso eu o convido, agora, logo que gira a chave da porta antiga.

Uma valsa talvez? Bernardo, se dançares tua alma ficará alegre, porque teu corpo se alegrará. Assim: um, dois, três, um, dois três, um, dois, três. Melhor sem os sapatos, pisar o chão de pés nus. Sim, era só o que te faltava, pois. Uma mulher te tirar para dançar.

Mas por que queres que este ajudante de guarda-livros dance contigo?

Porque tudo vale a pena, Bernardo, se a alma não é pequena, e bem sabes.


Ele coloca o chapéu de homem de bem na cadeira de palhinha, acende um abat-jour, tira os sapatos, meio trêmulo a princípio, as mãos transpiram quando pegam nas minhas. Deixe-me vê-las, eu peço, observo as palmas e sua linha da vida é curta, a da cabeça cheia de acidentes e a do coração muito fina, quase invisível. Dá corda ao gramofone, em meio aos livros e discos de modinhas e de valsas espalhados.

Me encanta ouvir, mas dançar é reservado apenas aos deuses, ele argumenta.

Se dançássemos a vida, como nossos mais remotos ancestrais, eu te digo, Bernardo.

Se dançássemos até o que não tem solução, talvez, quem sabe, nos tornássemos mais fortes e mais sábios.

Talvez nos tornássemos mais belos, diz Bernardo.

A noite cai sobre Lisboa. A luz da lua entra pela janela do pequeno quarto alugado do guarda-livros da Rua dos Douradores, que começa a aprender a dançar.

Amanhã, quando o despertador tocar, às seis e meia, ele repetirá o ritual cotidiano de jogar água da ânfora na bacia de louça, (um, dois, três) lavar o rosto, bochechar com um líquido violeta, colocar os óculos de aros finos, escolher entre os poucos ternos e camisas e gravatas (um, dois, três), as meias de algodão, os sapatos de couro marrom.

Sairá de casa, um, dois, três, um, dois, três e no bar da esquina tomará um pingado com pão e manteiga, um, dois, três. Acenderá um cigarro e irá para o escritório, um, dois, três, um, dois, três, atravessando sua rua de paralelepípedos e casas com azulejos azuis e brancos, um, dois, três, um dois três, um, dois, três, um.


sábado, abril 11, 2009

O Boddhisatva da Compaixão

(e quanto estamos precisados desse sentimento, que tanto pregou também o Cristo, especialmente na sua Paixão: perdoai-os, eles não sabem....)

No Budismo os chamados Boddhisattvas são aqueles que estão a um passo de se tornarem Budas. Dentro da linha do budismo tibetano, o Boddhisattva Avalokitesvara é
conhecido como o Boddhisattva da compaixão.
Conta-se que Avalokitesvara prometeu a si mesmo que ficaria reencarnando na Terra enquanto nela houvesse sofrimento e pessoas necessitando de ajuda.
Com o passar do tempo, ele percebeu que sua missão era impossível de ser completada, pois quanto mais pessoas ajudava, mais apareciam necessitadas de auxílio. O Buda Amitabha (da Luz Imensurável) sugeriu a ele que criasse um mantra e continuasse sua caminhada evolutiva.
Dessa forma quem precisasse de sua ajuda deveria pensar firmemente nesse mantra que acabaria por se conectar com ele.
Assim nasceu o mantra budista tibetano: OM MANI PADME HUM (salve a jóia no lótus).
Não importa que soe estranho na nossa língua, são palavras imemoriais e ressoam bem no fundo da nossa ancestralidade.

A Biblioteca de Babel, no ar dia 21 de abril


A Biblioteca de Babel, no ar dia 21 de abril


Acabo de receber na lista de uma comunidade virtual de literatura da qual participo:


La Biblioteca Mundial Digital estará disponible en Internet a partir del 21 de abril. Siglos de historia y cultura reunidos a un click de distancia y con acceso gratuito. De eso se trata la World Digital Library, que va a contener la versión digitalizada de cientos de miles documentos, mapas, ilustraciones, manuscritos y grabados de las principales bibliotecas nacionales del mundo.
Bibliotecas y archivos del todo el mundo estarán reunidas en un proyecto conjunto para compartir online sus colecciones de incunables, mapas, ilustraciones, manuscritos y grabados, a través de acceso gratuito.
Después de casi cuatro años de preparación, la World Digital Library

www.worlddigitallibrary.org/project/english/

Biblioteca Mundial Digital) "abrirá sus puertas" a partir del próximo 21 de abril. En esta primera etapa estará disponible en siete idiomas -español, inglés, francés, portugués, árabe, chino y ruso-, además de contenidos adicionales en otros idiomas.
Un prototipo de sus contenidos ofrece la voz grabada del nieto de 101 años de un esclavo norteamericano, un planisferio del siglo XII, y fotografías brasileñas del siglo XIX.
A partir de la idea de James Billington, de la Biblioteca del Congreso de los Estados Unidos (www.loc.gov/index.html), el proyecto ha sido desarrollado por esa entidad y la Unesco, además de otros 32 organismos de todo el mundo, incluidas las bibliotecas nacionales de Irak, Egipto, Rusia, Brasil, Israel, Arabia Saudita y Uganda.

Además de documentos y grabaciones, el archivo digital también dispondrá de videos realizados por expertos en los que se explica la importancia de cada archivo y su relevancia histórica y cultural. Los usuarios podrán realizar búsquedas por lugar, época o tópico, y cada material tendrá a su vez enlaces a artículos y documentos relacionados que incluyen música, grabados, fotografías, bocetos arquitectónicos y otros archivos de relevancia cultural.

La Biblioteca Mundial Digital tiene como objetivo promover el entendimiento internacional, ampliar en Internet los contenidos en otros idiomas que no sean los occidentales, así como contribuir a la investigación y la educación. Cuando Billington propuso la idea en junio de 2005, dijo que este proyecto ofrecería "la promesa de acercar a la gente celebrando, precisamente, la individualidad y profundidad de culturas diferentes en un único emprendimiento global".

El año pasado la Unión Europea lanzó el prototipo de Europeana, un sitio en Internet que albergará los archivos digitalizados de más de mil bibliotecas, museos e instituciones de ese continente. El sitio puso a prueba su popularidad cuando fue lanzado en noviembre del año pasado, con diez millones de usuarios en su primera hora, lo que provocó un colapso que obligó a cerrar termporariamente el sitio, que aún se encuentra en fase de prueba.