sexta-feira, outubro 01, 2010

Da maior importância

Os surrealistas e a noção do comércio



Trechos do texto O âmago de desejo, de Jorge Coli, In: J. Guinsburg; Sheila Leirner. (Org.). O Surrealismo. 1 ed. São Paulo: Perspectiva, 2008, v. 1, p. 751-758.
O professor da Unicamp era colunista da Folha, mas, naturalmente, dançou, me dizem.


"Quase todos os suportes materiais eram condenados: o trabalho era desprezado e as atividades jornalísticas ou para-jornalísticas eram assimiladas à traição"(A. Thirion. Revolutionnaires sans révolution).
Max Ernst e Miró são insultados ( por Bréton, nda) por causa de uma encomenda que aceitaram para cenários de balé, feita por Diaghilev. E no Segundo Manifesto, manifesto de anátemas, encontramos entre outros exemplos, o de Artaud: "ele fazia a montagem de O Sonho, de Strindberg, tendo ouvido fizer que a embaixada da Suécia pagaria (o sr. Artaud sabe que eu posso provar), e ele estava consciente que isso determinava o valor moral de seu projeto".

Os exemplos poderiam se multiplicar, mas o importante é que a noção de comércio ou venda, ligada à desonestidade ou à desonra, alarga e ultrapassa o quadro inicial do "ascetismo burguês".

Na realidade, trata-se de uma oposição à burguesia, à sociedade, por uma exigência extrema de honestidade para consigo mesmo, traduzida pela recusa a toda sedução que esteja contida neste mundo. Trata-se de conservar incólume a pureza primordial, para reencontrar a liberdade,esmagada pelo mundo exterior. Trata-se de se dispor, como homem e como artista, fora de qualquer submissão a tudo que possa exalar cheiro de lucro ou de rentabilidade monetária.
Salvador Dali assumiu e encarnou o anjo caído do surrealismo: objeto dos mais violentos anátemas de André Bréton - que o chamava pelo anagrama de Avida Dollars - não cessará jamais de provocar a ortodoxia bretoniana".