O Amor
Maiakovski
(Adaptação de Caetano Veloso e Ney Costa Santos)
(...)
O século trinta vencerá
o coração destroçado já
pelas mesquinharias
agora vamos alcançar tudo o que não podemos amar na vida
com o estrelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
ainda que mais não seja
porque sou poeta
e ansiava o futuro
Ressuscita-me
lutando contra as misérias do quotidiano
ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
quero acabar de viver o que me cabe
minha vida para que não mais existam amores servis
Ressuscita-me
para que a partir de hoje a partir de hoje
a família se transforme e o pai
seja pelo menos o universo
e a mãe seja
No mínimo a terra
a terra
Da esquerda para a direita, Lilja e Ossip Brik, Roman Jakobson e Maiacóvski, foto de meados da década de 1920.
A geração que esbanjou seus poetas
Colaboração do jornalista Gutemberg Medeiros, doutorando, meu colega no grupo de pesquisas Textos da Cultura em Mídias Diferenciadas, coordenado pela querida professora Terezinha Tagé, no programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-USP.
"Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz".
Este verso do jovem Maiakovski de 1907 revela algo presente em vários momentos da cultura russa, uma atração pelo desconhecido trópico. Ainda bem que é rua de mão dupla.
Ótimo o vídeo e a letra que você postou hoje. O que me lembrou a foto que envio atachada com Lila e Ossip Brik, Jakobson e o poeta. Esta foto foi dada por Jakobson a Boris Schnaiderman quando veio ao Brasil, em 1968. Um ano antes, Boris e os irmãos Campos traduziram o poeta pela primeira vez do original no Brasil. Mas ótimo retrato de Maiakovski foi feito por sua cunhada (irmã de Lila) Elsa Triolet, como introdução à coletânea de poemas dele traduzidos por ela ao francês. Lá está a pessoa, não o mitificado. Neste texto, ele está ressuscitado, apesar de ser poeta.
É uma foto muito feliz e representativa de uma característica muito rara: o perfeito entrosamento entre os teóricos da linguagem e os artistas de vanguarda na Rússia dos anos 10 e 20. Ambos os lados interagiam e determinavam os respectivos rumos. Jakobson e Ossip eram do chamado grupo dos formalistas russos, amigos de Maiakovski e de outros artistas. Inclusive Einkhenbaum, Sklovski e Tinianov adentraram na literatura e foram roteiristas de cinema. Eisenstein intitula um de seus trabalhos mais importantes como A forma do filme não à toa. Maiakovski participava das reuniões teóricas dos formalistas russos. Uma época das mais ricas que ficou anos na geladeira e só a partir dos anos 50 começou a ser vislumbrada no Ocidente. Falta uma coletânea boa destes teóricos no Brasil traduzida do russo. Foi publicada uma pela Globo em 1971, mas tradução indireta com muitos problemas
Há um belo ensaio de Roman Jakobson A geração que esbanjou seus poetas (Cosac Naify, 2006) a partir da morte de Maiakovski e do destino adverso de outros na mesma época.
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Obrigada Gut! Vou aproveitar pra comentar outro assunto dessa gente maravilhosa e que fez o mundo melhor.
Estou com as Cartas de amor a Lilja Brik, de Maiakovski (1917-1930) (Hemus,1973). “Todas as cartas de amor são ridículas”, dizia o Fernando Pessoa, que também escreveu das suas. Eu adoro. Ainda mais desse trio fenomenal:Lila, Ossip, Maiakovski.
Têm apelidos, desenhinhos,milhões de beijinhos. São lindas. No prefácio, essa mulher extraordinária conta que viveu com ele durante 15 anos, desde 1915 até a sua morte.(Ah, Elsa Triolet, sua irmã, era casada com o poeta Louis Aragon)
“Em quase todas as cartas é lembrado O.M. Brik.
Ossip Maksimovic foi meu primeiro marido.Conheci-o quando tinha 13 anos.(..) Quando lhe disse que eu e Maiakovski nos havíamos enamorado um do outro, decidimos juntos que não havíamos de nos separar nunca.Naquele tempo Maiakovski e Brik eram já grandes amigos, unidos pelos mesmos interesses de ideais e pelo trabalho literário comum. Aconteceu assim que transcorremos a nossa vida espiritualmente e, em grande parte, materialmente, juntos.”
Isso é O Amor, traduzido na poesia postada aí em cima.
4 comentários:
Batendo ponto.
Tem uma gravação dessa coisinha aí em cima com Cida Moreira que é de furar o disco. Ih, começaram os palpites...
E informar que os livros seguem amanhã.
Zé da China tem um elefante na memória.
Grande abraço.
Ah, é mesmo???onde? n vou procurar, .
Obrigada pelas informações todas.
Bjs
Olá, Beth:
E eu nem me lembrava que essa poesia era do Maiakóvski. Valeu!
Beijos,
Z
Mas que segredo!
E quem será Z??
Talvez Zezé???
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