quarta-feira, março 11, 2009

Um minuto para as

Sociais do ato contra a “ditabranda”

Ou


Repórter fotográfico sofre


Atualizada em 17 de março


O bravo e belo Pictura Pixel, lá de Barcelona, também republicou hoje

Profissão perigo ou profissão em extinção?




A vida do repórter fotográfico não está mole não, conta o amigo Jesus Carlos, de larga estrada no fotojornalismo.

Jesus Carlos é um grande e persistente retratista das manifestações, embates, movimentos sociais desde a década de 1970, e do povo invisível, os excluídos deste nosso país.

Pois o Jesus estava fotografando o ato na frente da Folha no sábado, e pensou em vender seu trabalho para o jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, onde tanto militamos, durante tantos anos.

Afinal, o Jesus vive disso.

Do outro lado da linha responderam:

“Não, dois diretores nossos já fotografaram, então a gente não precisa”.

As fotos foram feitas pelos diretores Martim Vieira, da diretoria regional de Piracicaba, e André Freire, da diretoria regional do Vale do Paraíba.

Mesmo que eles sejam fotógrafos, o que não se sabe, não poderiam tirar o lugar remunerado de um fotógrafo profissional em um jornal do próprio Sindicato, que deveria existir - como já aconteceu, há muitos anos atrás, mas esta é uma longínqua lembrança, infelizmente - para defender o exercício da profissão, a dignidade profissional.

Se o próprio jornal do Sindicato dos Jornalistas age assim, imaginem o que rola por aí.


Reproduzo aqui o que o Jesus Carlos escreveu dia desses no seu blog


http://jesuscarlos-fotografias.blogspot.com


“Com os baixos salários, desemprego, a existência da pessoa jurídica nos departamentos de fotografia e a total banalização no uso da imagem na imprensa (até mesmo na imprensa sindical), só nos restar fazer fotos de risco de vida para garantir o dia-a-dia. Fotografar assalto a banco, subir o morro na hora do tiroteio e por aí vai. Só assim teremos a certeza que não haverá perigo de ter alguém com uma câmara digital qualquer ou com um celular fazendo fotos, porque aí o bicho pega. É tiro para todos os lados.

Ontem estava dando uma espiada no blog PicturaPixel, olha a informação que encontrei: CRISE GANHA FOTO DO ANO - Anthony Suau, vencedor do prêmio de Melhor Fotografia na 52ª edição do World Press Photo com um trabalho publicado ne revista Time, em março, está "há dois meses sem trabalho", revelou em declaração ao DN o fotógrafo norte-americano.”

Histórias das redações- 8


Manda esta história o querido Mouzar Benedito, mineiro, jornalista, geógrafo e escritor, o melhor contador de causos que já conheci e ainda por cima, fundador da Sosaci, a associação em defesa do Saci Pererê – brava entidade que aliás tem uma campanha para torná-lo o mascote da próxima Copa do Mundo de 2014, que será no Brasil.


Mamprim e Bete


Uma das figuras gloriosas do fotojornalismo brasileiro é (ou foi, “não está mais entre nós”, como diz o eufemismo para “morreu”) o italiano Luigi Mamprim. Na juventude, foi guerrilheiro, partisan, na Itália, lutando contra o fascismo durante a Segunda Guerra. Acho que lá pelo início da década de 1950 veio para o Brasil.

Trabalhou em várias revistas, entre elas a Realidade. Eu o conheci na redação do Guia Rural Abril, uma bela experiência que por fim foi derrotada por alguns jornalistas que resolveram fazer do Guia uma revista para grandes fazendeiros. Grande fazendeiro tem agrônomo e veterinário próprio, não precisa comprar revista sobre esses assuntos. E se precisassem, são poucos, não sustentariam uma edição de mais de cem mil exemplares.

Bom, lá estava o Mamprim, além de grande fotógrafo, grande companheiro, comunista histórico. Uns quatro ou cinco de nós almoçávamos sempre juntos num restaurante com cara de popular numa praça perto da avenida Luís Carlos Berrini. O Mamprim sempre comia um filezão quase cru, escorrendo sangue.

Mas quando viajava, o Mamprim mudava. Virava italiano de novo, principalmente quando estava em regiões nada italianas, como o Nordeste. Aí, queria comer macarrão ao pesto com pão italiano. E era uma encrenca.

Eis que veio a Bete Costa trabalhar no Guia Rural também. Uma ótima repórter. Com um detalhe: vegetariana total. Só comia vegetais e preferia uns que quase só existiam em São Paulo, como a rúcula, por exemplo.

Um dia foi mandada uma dupla fazer uma matéria na região de Irecê, oeste da Bahia, grande produtora de feijão. Hoje, Irecê produz muitas verduras, mas na época era daqueles lugares em que, se você pedia num restaurante alguma coisa com verdura, a tal coisa vinha acompanhada de tomate e batata, nada verde. Verdura lá era isso. A dupla era formada pelo Mamprim e pela Bete.

Fiquei imaginando que bicho ia dar essa viagem, a convivência entre um fotógrafo querendo comer macarrão ao pesto com pão italiano e no fim – dada a inexistência disso por lá – fazendo concessão a um filé sangrando, e uma repórter que comia rúcula e outras coisas exóticas (para a região), sem querer fazer concessões. E era uma viagem de mais de uma semana!

Esperávamos quase ansiosos a volta dos dois, para saber como se viraram. No dia do reinício do trabalho deles na redação, o Mamprim chegou primeiro. Estava sentado a uma mesa, de costas para a porta, antes de contar sobre a viagem, quando entrou a Bete bufando. Foi direto a uma mesa, pegou uma máquina de escrever e caminhou com ela erguida para largá-la na cabeça do Mamprim. Foi segurada a tempo. Mas até hoje não sei detalhes da viagem. Não contaram. Só sei que trouxeram matérias e fotos muito boas.