Ninguém merece. Primeiro, escolhemos um filme que a Folha assim resumia: um frágil menino sueco solitário, frequentemente provocado por seus colegas e que nunca se defende, conhece uma garota que só sai de casa à noite.
Alguém imaginaria, com tal resumo, que se tratava de um filme de vampiro? Ainda por cima sueco, no meio daquele eterno gelo e sempre à noite?? Quando apareceu um homem matando outro, pendurando-o de ponta cabeça, esfaqueando e deixando o sangue correr dentro de um recipiente plástico, para dar de comer à filhinha, tivemos certeza; mais uma vez caimos no conto da Folha de S. Paulo. Azar nosso que ainda confiamos nas indicações do jornal, com QUATRO estrelas, e sem classificação como "terror".
Tenham dó, um cinema que já nos deu Bergman, no século 21 entrar na onda de filme de vampiro? Que aliás está na maior moda, a sala estava cheia, mas todo o mundo gargalhou com a cena final, cuja o diretor deve ter idealizado como um total terror... Mas aqui nos trópicos, a gente sabe, o buraco é mais embaixo, inda bem.
Após um excelente café turco- na rua Augusta tem um ótimo restaurante e café turco- caímos em outra: bom, mas esta eu já estava preparada, maior curiosidade era ver como a Marilia Gabriela levantaria a bola para ninguém menos que seu colega William Bonner, no GNT, canal da Globosat, tudo em famiglia.
No primeiro intervalo, pediu que ele imitasse Clodovil. Ele disse que não, e imitou o presidente Lula. (Lembro vagamente que houve algum episódio homofóbico com o apresentador imitando Clô).
Ele contou que começou muito jovem, que mudou o nome paterno de Bonnemer para Bonner para que o pai médico não tivesse que tirar o nome da lista telefônica (????) , que é de ascendência árabe (sempre pensei que fosse alemão) , que é rigoroso e justo segundo sua mulher, que nao estaciona o carro em cima da calçada nem consome drogas porque é um homem de TV ( se não fosse, então, faria tudo isso?), que é sério e rigoroso, que tem uma grande admiração intelectual por seu chefe Ali Kamel ( aquele que diz não existir racismo no Brasil), que o polêmico debate Collor x Lula na Globo já foi esmiuçado num dos livros históricos da Globo e que até hoje nao se provou nada ( procurem na busca da internet o tema e encontrarão as repostas),
E a Gabriela só levantando a bola, não argumentou nada.
"E o seu livro, soube que você nao ganha nada com ele?"
Não, doei os direitos para a ECAUSP, onde estudei". Explica que o pai não tinha condições de mandá-lo para uma escola particular.
Diz ainda que a queda do diploma de jornalista não interfere em nada, as grandes mídias continuarao contratanto jornalistas formados. Não sem antes aproveitar para acusar as universidades públicas de usarem apenas enfoques esquerdistas na sua pedagogia, quando na verdade deveriam apresentar todos e o aluno escolheria o seu. (Não me consta, aliás, que a USP forme contingentes de jornalistas de esquerda e o exemplo de Bonner já desmente essa teoria- dos-tempos-da-guerra-fria0.
Blonner teme apenas isto: a qualidade dos jornalistas que virão , por causa da ideologia...
A Gabriela, nada. Poderia perguntar , só de leve, por exemplo, e nas particulares?
Não, apenas entremeava com perguntas sobre a vida do casal, suas brigas? Não brigamos, só no trabalho, sou justo e rigoroso.
"Mas você é sério demais, Bonner!"
Até que ele diz que gosta do twitter porque a coisa não é séria, ele colocou em capítulos uma receita de brigadeiro e ficou se perguntando se esta atividade faria parte da função social do jornalista...
Gabi Gabriela: " Ah, não acredito, imagine gente, um homem sério desses vem e diz que gosta do twitter porque não é sério???"
Aproveita para perguntar sobre um episódio em Barcelona, no momento mais grave do programa leve--em que o apresentador teria se embebedado e saído em desabalada carreira de carro, que ele, sério e justo, desmente peremptoriamente.
Mas não ficou por aí:
"Você canta, Bonner?"
"Ah, só no karaokê"
"Ah canta alguma coisa pra encerrar esse bloco".
Eu tinha certeza que o tipo ia emplacar um Sinatra com My Way, afinal, ele se fez por si mesmo.
Mas errei por pouco: Cantou "New York, New York".
Sobre ele ter classificado os espectadores do JN como Hommers, tal como denunciou o professor de jornalismo que assistiu a tal declaração -- sobre seu sentido pranto na morte do companheiro Roberto Marinho, ao vivo e em cores, y otras cositas, nada.
Ele ainda mencionou ter estado em NY -- onde esbarrou com Paul McCartney na rua-- e onde foi participar do Premio Emy. Ficamos sem saber que a Globo esteve lá concorrendo com aquela abominável cobertura do caso da menina Eloá, onde a televisão extravasou e nenhum canal, que eu saiba, se salvou. Não soubemos que eles voltaram de mãos abanando, e tal, porque Gabi nada perguntou.
Só soubemos que ele é rigoroso e justo, sério, bom marido, bom pai e bom chefe, que lindo, que entrevista esclarecedora, em blons tempos isso se chamava matéria 500, aquelas recomendadas, onde o cara fala o que quiser e só ouve gracinhas de volta.
Vampiros mirins suecos, bonners e gabrielas numa descontraída entrevista à noite, querem mais? O ministro Gilmar Mendes, aquele que soltou Daniel Dantas, o que acabou com o diploma de jornalista e não pôs nada no lugar, vislumbro na TV, outra entrevista. É mole?
Parece que o esquema de levantar a bola foi mais ou menos parecido, e o Instituto que o presidente do STF mantém em Brasilia não foi refutado: Mendes disse que é um professor importante e não há problema algum. O repórter não comentou sobre os contratos de tal instituto com o governo.
No que o repórter chama de pinga fogo (!!!), o ministro falou bem de JK, FHC, Lula e etc. Ainda no pinga fogo(???) qual seu filme preferido? Cinema Paradiso. Ator? Atriz? Diretor? Nennum especial. Cantor? Chico, Caetano. Cantora? Simone.
Música? Sim, finalmente,
My Way!!!!
Só faltou pedir pro ministro cantar, para encerrar.
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