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domingo, maio 23, 2010
Uma reflexão sobre a beleza eterna, interrompida pela visão do efêmero
A harmonia que, para os clássicos, exprimia a relação
das partes com o todo, atravessou os milênios sem alterar
o equilíbrio do homem no centro da sua esfera.Esse
homem, com a sua representação simétrica,define-se
a partir de um universo que tem limite
na compreensão divina da matéria
e do espírito.E poderia continuar assim, se
não ouvisse um copo a partir-se no fundo
da casa – alguém que se distraiu, e que rompeu,
de súbito, o meu raciocínio. Ao mesmo tempo,
porém, descobri que nada do que eu pensava
era original; e só ao apanhar do chão os vidros
partidos, um brilho breve no seu contacto com
a luz me fez pensar que, afinal, a harmonia
também nasce da destruição, e o centro da esfera
desloca-se para o fragmento que seguro com
os dedos, antes de o deitar para o lixo.
Nuno Júdice, poeta português contemporâneo
enviado por Leonel
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