“Fui com meus educandos de Paraisópolis na exposição do Tide na Caixa Cultural, no dia que a Marlui Miranda se apresentou lá. E daí vi seus textos, a exposição é linda, muito boa. Eles gostaram mais do que a do Borges, que remete à cultura e à origem deles né! Apesar que hoje em dia a cultura deles foi tão abafada, sufocada, que praticamente inexiste. De qualquer forma, achei bem bacana que eles gostaram e daí lembrei dos velhos tempos da redação, das nossas conversas”, me escreve Carla Prates, que há anos se divide entre o jornalismo e a educação dos meninos da favela. Fiquei muito feliz por eles terem gostado da lúdica expo do Tide, criançada adora mesmo.
E aproveito para reproduzir texto da Carla, A Ditadura do Medo, no seu blog Catarse
Desde o início do ano, a imprensa investe no que eu chamaria de A Ditadura do Medo. Não que o sensacionalismo não fosse seu principal recurso de audiência há tempos, mas agora a coisa se intensifica e as tragédias naturais são o alvo-mor. Nada melhor do que investir nas catástrofes, que tanto amedrontam e assolam a humanidade desde os primórdios, para estabelecer uma cultura do medo. Se temos medo nos tornamos passivos e nos protegemos, é uma sensação que provoca defesa e não ataque. E será que não é isso que se quer? Instituir a passividade? Educandos me disseram que seus pais, influenciados pelas más notícias da TV, já a apontam como um dos motivos de não deixar os filhos sairem de casa. A violência e agora as catástrofes, como deixar os filhos sairem de casa em um mundo como este? E isso é tão irracional que, mesmo diante de especialistas dizendo que não há evidência de hoje ter mais tragédias do que antigamente, muitos ainda acreditam no fim próximo. Melhor mesmo ficar em casa, protegido, assistindo mais e mais televisão... mas e se um terremoto ou tsunami invadir pela nossa porta adentro? Quem poderá nos salvar em tempos tão instáveis?
Só mesmo tomando uma cerveja Devassa e comemorando a falta de criatividade dos nossos publicitários, que teimam em explorar o corpo da mulher e associar esse prazer ao da cerveja, e que seja feito um brinde também à ditatura do medo e da violência.
Lembrei de Brecht:
"Nós vos pedimos com insistência: Nunca digam - Isso é natural - diante dos acontecimentos de cada dia, numa época em que é derramado
sangue inocente, em que o arbitrário tem força de lei, em que a
Humanidade se desumaniza, não digam nunca - Isso é natural - a fim de que nada passe por imutável."
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