quinta-feira, setembro 02, 2010

Paranóias

O menino Roberto Piva, na Fazenda Santa Terezinha, em Analândia, interior de São Paulo - (1950/1951)

Em Paranóia, de 1963, reeditado pelo IMS, o poeta Roberto Piva andarilha por São Paulo. A fotografia é do grande artista plástico Wesley Duke Lee.
"Ninguém ampara o cavaleiro do mundo delirante", é o verso de Murilo Mendes que Piva colocou como epígrafe ao Poema de ninar para mim e Brueghel (aliás, pintor da Torre de Babel, reproduzida no cabeçalho deste blog)."Eu abro os braços para as cinzentas alamedas de São Paulo".
"Na rua São Luis, meu coração mastiga um trecho da minha vida", diz em Visão de São Paulo à noite-Poema antropófago sob narcótico.
Depois de Mário de Andrade, Piva refaz os roteiros da cidade, outra cidade, novas lisergias.
Na década de 1960 já era outra a metrópole, muito diferente dos tempos de Mário meditando sobre o Tietê.
No ano 2010, então... Nesta tarde, ecoam os versos- porradas de Piva dentro de mim, que leio Paranóia, e ando pela cidade.
Na avenida Paulista dos ex-barões do café, hoje do capital financeiro,resta o muro da casa do Matarazzo, que virou estacionamento há décadas. Se me lembro, detonaram a casa da noite para o dia quando a então prefeita Luiza Erundina mencionou um possível tombamento. Não entendi por que ainda não virou prédio, e fiquei pensando que o estacionamento naquele ponto estratégico talvez renda mais.

No Belas Artes, assisti a Cinco vezes favela, uma reedição do clássico do Cinema Novo, desta vez com o olhar dos proprios favelados. Alguma coisa mudá para melhor, às vezes.
Já o cinema, desde 1952 na cidade, cenário de tantas gerações fazendo História ou não, pede socorro, desde que o banqueiro retirou o patrocínio. Banqueiro quer lucro em tudo, e não pensa na imagem que um patrocínio cultural desses pode possibilitar.
Cinemas vão fechando as portas, e tomara que as campanhas pelo Belas Artes tenham sucesso.
Nós, seus assiduos cinéfilos, temos o dever de ajudar.
Assim como algum ex-frequentador rico do mais que tradicional Riviera, o bar em frente, onde todo mundo ia discutir o filme e etc, poderia resgatá-lo. Está pra alugar ou vender. Ninguém, a não ser as tantas gerações que iam lá, sabe o que era esse bar, onde Angeli criou a Rê-Bordosa e o garçon virou personagem.
A cidade não tem memória.
Paranóia, paranóias. Quem vai amparar tantos cavaleiros e amazonas delirantes? Que cidade? Que metrópole esta onde nossos corações mastigam tantos trechos de nossas vidas?