A verdadeira história da Greve dos Jornalistas de 1979
Perseu Abramo discursa na assembléia do Tuca, 22 de maio de 1979, que decretou a greve. À sua direta, em pé, de camisa escura, David de Moraes, presidente do Sindicato, e ao seu lado, Francisco Wianey Pinheiro, da diretoria.
A verdade emerge", disse o então editor do Washington Post na época do escândalo de Watergate. Trinta anos depois da greve dos jornalistas de maio de 1979, o mundo mudou, mudou a profissão, mudou a tecnologia.
Mas a História permanece e deve ser contada. Vivemos tempos em que alguns se sentem no direito de reescrever a História ao seu modo, para contemplar interesses escusos.
Foi o que ocorreu com uma edição especial do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, inexplicavelmente lançada em março, durante a eleição que, por 653 votos a 515, deu vitória ao presidente da chapa de situação.
Um universo de votantes de 1.168 jornalistas em todo o Estado dá bem a dimensão de a quantas anda o sindicalismo: a assembléia que decretou a greve, em 22 de maio de 1979, no Tuca, teve a participação de 1.692 jornalistas...
A edição especial do Unidade não entrevistou o então presidente David de Moraes, nem sua diretoria. David foi contatado por telefone por uma pessoa que não entendia o que ele dizia, ele indicou que o repórter consultasse suas declarações ao longo dos anos no próprio Unidade. O que não foi feito.
Mas conseguiram entrevistar os donos de jornais - Folha e Estado, inaugurando no Sindicato dos Jornalistas uma era da modernidade líquida, em que patrões são ouvidos sobre movimentos paredistas, mas não a diretoria eleita pelos trabalhadores.
Entretanto, aqui vamos contar a verdadeira história daquela greve, na gestão da diretoria de um sindicato de contribuição fundamental no processo de redemocratização do país. Não é a "nossa" História, são as nossas concepções sobre o que vimos e vivemos na greve.
Lembrem-se: estávamos numa ditadura. O general Figueiredo - aquele do princípio gentil do “prendo e arrebento” - substituíra o general Geisel em 15 de março de 1979.
A diretoria da gestão David de Moraes havia sido eleita depois de passarmos pelo terror dos assassinatos de Herzog, a 25 de outubro de 1975, e do operário Manoel Fiel Filho em 17 de janeiro de 1976, ambos torturados e mortos em celas do Doi-Codi e , segundo o regime, suicidas.
No mesmo ano da greve, em outubro de 1979, o líder da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, Santo Dias da Silva foi assassinado por um policial militar durante um piquete em Santo Amaro, zona sul de São Paulo.
Além de um movimento trabalhista, tratava-se de uma greve política, em meio a greves de metalúrgicos, bancários, enfim, das categorias mais organizadas do movimento sindical de então.
Eu fiz parte da mesa das assembléias da greve, como secretária do presidente Quartim de Moraes, ao lado do vice-presidente Augusto Nunes e da secretaria Lucila Camargo.
Também participei dos piquetes, da rádio ZYCCRR (Conselho Consultivo de Representantes de Redação), que com megafones informava e divertia os piqueteiros, vivi as dores e agruras daqueles dias agitados. Mas cheios de vibração, de vida, de ideais.
Não consigo me lembrar de muita coisa agora, prefiro louvar meus bravos companheiros, especialmente David de Moraes, que pagou um preço muito alto por sua integridade e retidão e se tornou um exemplo para todos nós.
Mas por tudo se paga um preço, a vida tem me ensinado: pela coragem ou pela covardia, pela espinha ereta ou pela genuflexão, pela ética ou a falta dela, pela omissão ou a participação, por sua alma vendida ou por não ter preço.
É preferível pagar o alto preço da integridade e dormir em paz.
É em homenagem ao querido David, e a todos os bravos companheiros que enfrentaram aquela barra tão pesada de 1979, e a razzia que se seguiu – muitos ficaram anos sem conseguir emprego, outros nunca mais puderam voltar às grandes redações - que será contada aqui a história daqueles dias de maio.
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