sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Os revisores : Histórias das redações- 5

Tide Hellmeister


Bons tempos em que os jornais tinham revisores. Jamais sairia uma chamada de capa de grande jornal escrita assim:

EXCESSÃO, como vi algumas vezes, e recentemente.

E tantas barbaridades, incontáveis, cotidianas.

Graciliano Ramos foi revisor do Correio da Manhã na década de 40.

Mas no fim do século passado, com a informatização e a economia, dançaram os revisores.

O amigo Gabriel Arcanjo, que começou e durante muito tempo exerceu a revisão em vários jornais e revistas, conta umas histórinhas exemplares:



“Uma vez saiu publicado, na lista de promovidos das Forças Armadas, na Folha, em corpinho pequeno, ´almirantes de esquerda´, em vez de esquadra. Os hómi queriam a cabeça de todo mundo...

---------

Numa matéria sobre novos limites de financiamento do BNH, um revisor anotou, de brincadeira, ao lado da prova: ´com isso aí não dá pra comprar nem um barraco´; o linotipista, muito sacana, colocou como emenda e saiu publicado... Parece que deu até demissão.

--------

Num anúncio fúnebre do Estadão, saiu ´é com prazer que notificamos a morte de...´, em vez de é com pesar.

--------

O Estadão tinha o maior cuidado com algumas páginas: a do Editorial e a dos turfes. No mínimo, eram feitas umas três revisões de prova, mais uma da página pronta. E vira e mexe aparecia, num dos páreos, o cavalo REVISOR. Comentário geral na sala: só pode ser animal dos Mesquita...

--------

O Ventura, portuga dos bons, era da elite de revisores do Estadão, e sempre que consultado, dava a opinião dele. Quando alguém contestava, dizendo que o dicionário registrava algo contrário ao que ele dizia, o portuga era categórico: ´pois o dicionário está errado; eles são vurros...´


------

O mesmo Ventura, depois que o Estadão foi pra Marginal, era da turma que saía de madrugada, quase dia clareando. Na volta, descia do ônibus ali na Consolação e batia ponto no Mutamba, pra uma bagaceira. Num dia, em vez de de continuar indo pra casa, ali perto, voltou pra Consolação, pegou o Samar( o ônibus que o jornal colocava pra transportar funcionários) que estava no ponto e voltou pro jornal. Passou pela portaria, pelos corredores, elevador... Estranhou que não tinha ninguém na Revisão e lá ficou... pegou no sono...até que alguém se lembrou de acordá-lo.

-----

Mas a melhor do portuga foi quando decidiu, de vez, parar com as bagaceiras de fim de expediente. Numa madrugada daquelas, passou firme e forte em frente ao Mutamba e não entrou... continuou mais uns passos e, já sobre o viaduto comentou consigo mesmo: ´és um forte; mereces uma comemoração... voltou pro Mutamba; e começou tudo de novo...

--------


Diário do Grande ABC, a meu ver, tem a legenda imbatível da Imprensa nacional. Era comum visitantes mais ou menos ilustres serem recebidos pela Diretoria e posarem pra fotos. Não me lembro os personagens, mas numa das salas vip tinha na parede a foto do governador. E calhou de sairem na foto um dos diretores do jornal, o visitante e, na parede, Quércia. Adivinha se a legenda não ficou: ´fulano’, Quércia e ´cicrano...´

---------

Numa outra legenda, atento e abnegado montador de fotolito deu aquela colaborada com a Revisão, que havia, segundo ele, deixado passar um pastel na legenda. Era época do ministro Euclides Quandt de Oiveira, mas o olhar atento do rapaz se fixou só naquela palavra estranha; não teve dúvida e emendou para Quando... e ainda correu pra avisar os colegas no dia seguinte: ´quebrei um galhão de vocês´...

Histórias das redações-4: Cascolac x João



Foto Cascolac, 19 de agosto de 1971


Na foto, perfeita, como se tivesse sido tirada ontem, João Gilberto e Tião Motorista nos estúdios da TV Tupi em 1971, quando os baianos voltaram do exilio.
Eles foram lá gravar um programa histórico, que infelizmente se perdeu nos desvãos e incêndios da TV Tupi. Soube por um amigo, que soube pelo Alvaro Moya, que existe o áudio desse programa na TV Cultura.

Imaginem a imprensa toda lá.

Imaginem Caetano, Gal Costa, João Gilberto jogando ping-pong a tarde toda, sem resolverem fazer o programa. Imaginem a imprensa toda esperando - e olhem que não havia esses prazos rígidos de fechamento que temos hoje.

Mas o que não se pode imaginar é que, pelos Diários Associados, estava o fotógrafo Cascolac. Nunca se soube seu nome verdadeiro, só o apelido. Diz o Zé Eduardo, então chefe de reportagem, que até o próprio Cascolac deve ter se esquecido do nome.

Negro alto, reluzente, Cascolac era setorista no Deic- Departamento de Investigações Criminais de São Paulo. (Na época havia jornalistas destacados para cobrir determinados setores - aeroporto, polícia, exército, etc. E não se esqueçam de que em 1971 o Brasil vivia sob o ditador militar Garrastazu Médici.)

Mas, por urgências da profissão, naquele 19 de agosto Cascolac foi destacado para cobrir artes & cultura. Desde a chegada dos baianos no aeroporto de Congonhas. Claro que ele, bom profissional das quebradas do mundaréu, como diria o Plínio Marcos, comportava-se frente à notícia como era seu hábito de repórter fotográfico da editoria de polícia.
Primeiro, posar para foto, todos juntos.

-Ô João Gilberto, quer por favor ficar aqui do lado do Caetano...

Que não gostaram nada, aliás.

E por acaso o Cascolac tinha alguma idéia de com quem estava falando? Vaga, quase nenhuma.

E lá vamos nós para o Alto do Sumaré, emissoras associadas do mesmo grupo dos Diários Associados, do falecido Chatô, o rei do Brasil. Empresas já iam caindo pelas tabelas, aliás.

Então, depois daquele nehem nhem nhem de jogo de ping-pong, finalmente a coisa vai começar.

João Gilberto, que já era chatésimo, começa o ensaio. Um pequeno auditório, chão de madeira.

Cascolac vem lá do fundo pisando com seus brilhantes sapatões pretos.

A diva da Bossa Nova fulmina e dispara alguma coisa como:

" Esse fotógrafo pode se por daqui pra fora. Eu não canto com barulho!!!!"

Frisson. Corações gélidos. Ranger de dentes. Eu, muito garota, fiquei morta de vergonha.

O grande Cascolac se retira, humilde.

A diva prossegue.

O programa foi editado pelo Hiroshi Fuji, então estudante da ECA USP. Ele me contou que ficou com o João Gilberto umas três horas ao lado, vendo o que cortava e não cortava.

O programa deve ter ficado bárbaro. Histórico. Mas dançou, como todos os arquivos dos extintos Diários e Emissoras Associados.

Como tanta coisa da memória deste Brasil.

O Cascolac também se foi.
Eu o encontrei muitas vezes em Perdizes, morávamos perto. Depois sumiu. E sempre brincava com ele: "Ficou rico, Cascolac?" Porque ele tinha ótima aparência e se vestia muito bem. Enquanto os fotógrafos dos Diários viviam sempre na pindaíba ( os pagamentos eternamente atrasados).

Sabe lá.

Incrivel é que eu soube, também recentemente, que o irmão do Cascolac era carcereiro do presídio Tiradentes, onde estavam os presos políticos e entre eles meu amigo, o jornalista Alipio Freire.
Que conhecia o Cascolac e um dia virou pro carcereiro e perguntou: "Você é irmão do Cascolac?"

Imaginem a cara do homem.

Mas o que eu quero dizer é, que se fosse hoje, eu viraria pro João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira e diria que, como ele, o Cascolac estava lá para trabalhar, e levava a sério seu trabalho. Que havia ficado horas esperando acabar o jogo de ping-pong baiano e agora precisava fotografar o programa para sair no jornal de amanhã, entende?

"Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?"

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Meu pai, Procópio Ferreira e o garoto Nassif


23/02/2009 - 17:33

O crooner do Quisisana

Do Portal Luís Nassif

Orquestra do Quisisana Hotel

* Adicionado por elizabeth

Anos 50, meu pai era o crooner da Orquestra do Quisisana, em Poços de Caldas, Oswaldo Lorenzotti, o magrinho no fundo, à direita. Infelizmente não sei identificar os músicos.Sentado, com as crianças, Procópio Ferreira.



Comentário

Gozado. Tem um moleque lá atrás magro como eu era, orelhudo como eu era, com o sorriso de santinho que eu tinha e a gravata borboleta que eu usava. Sei que gravata borboleta podia ser moda. Mas ser orelhudo, não. Pedi para a Elizabeth conferir a data.

A Ruivona, que andou conferindo todos os álbuns de família confirmou: com aquelas orelhas de abano, só pode ser eu.

Enviado por: luisnassif - Categoria(s): Fotografia Tags relacionadas: , ,


Este post foi pulicado no Blog do Nassif na segunda de carnaval.
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/02/23/o-crooner-do-quisisana/


Eu faço parte da interessante comunidade do Portal do Nassif.

A foto, eu levei pra lá porque é bonita, porque me lembra a batalha- infelizmente perdida- de meu pai pela carreira musical, lembra Poços, a querida cidade da minha infância. E ainda por cima tem lá o grande ator, referência do teatro neste país, o Procópio.

Nassif é de Poços de Caldas, e eu estava interessada em saber se ele conhecia os músicos da orquestra.
Porque só sei de um, o Querosene, mas não sei identificá-lo.

Eu já falei sobre minha familia musical, a respeito desta mesma foto, em 2006

http://vivababel.blogspot.com/2006/09/orquestra-do-quisisana-hotel.html

Mas, pela sintonia fina do mundo da fotografia, e da internet, esta que estava guardada no álbum de família há tanto, revelou mais um personagem, até agora insuspeitado: o futuro jornalista econômico, também músico, descoberto nesta segunda-feira de carnaval em Sampa, ali, sentadinho atrás do grande Procópio Ferreira, com um sorriso maroto.







terça-feira, fevereiro 24, 2009

Histórias das redações- 3

Foto Pedro Martinelli

Onde estariam Carlos Augusto Gouveia, o Carlão (em São Paulo), ou Carlinhos, ( no Rio) e o Migué, o motorista de chapéu.

E o que teria acontecido, olhando tão desolados para a perua da sucursal paulista de O Globo?

Pedrão também não se lembra.
Mas certamente em mais uma das reportagens investigativas que o Carlão era mestre.
Já os carros de O Globo, parece que houve época em que não tinham letreiro: seria pra não levar pedrada, ou para despistar nas reportagens investigativas?




segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Histórias das redações- 2


Foto Pedro Martinelli


De pé com os braços cruzados, Migué Bedé Bedé, nosso motorista da perua Rural Willys da sucursal paulista de O Globo.

Conta o Victor Passos, nosso companheiro de redação:

"Uma vez eu e Migué fomos a Assis fazer um suite sobre um reduto da Máfia do Tomaso Buschetta (que o Cid Moreira insistia em pronunciar Busqueta) desbaratado pela polícia.

Muito bem. À noite, na cidade, eu não tinha o que fazer, mas o Migué tinha e me arrastou pra zona. Eu fiquei só no bar, mas o Migué logo sumiu num quarto com uma marafa do local. Quando voltou, após afogar o ganso, exibia um sorriso feliz.

Antes de sair tive o cuidado de pedir uma notinha da despesa.

A cafetina prontamente me deu uma em papel timbrado da Pensão da Dona Antonieta
(razão social do estabelecimento) constando duas refeições.

Fazia sentido.

Migué gostou e o Dr. Roberto pagou."

Histórias das redações 1 -- "Senta e escreve"

Foto Pedro Martinelli


Aí na foto a redação da sucursal paulista de O Globo, Av. Consolação, 257, 19. andar, anos 70.

Caminhando, altivo, o Fabinho, o Assis, Franciso de Assis Barbosa, caboclo potiguar, grande jornalista da área econômica, bravo que só, coração grande que só ele. Ao fundo, o repórter esportivo Cândido Garcia, também , na época da Rádio Jovem Pan.

Na frente do Assis, Etevaldo Dias.
A sucursal, que reunia uma das melhores equipes com as quais tive o prazer de trabalhar, e de ficar amiga, era chefiada pelo Cândido Cerqueira Silva, Candinho, o melhor chefe que já tive.
Estávamos todos felizes, fazendo matérias legais tanto quanto se podia - era a ditadura Médici- quando a direção geral mudou. Ou , acho que mandaram um pra preencher o cargo, já que a administração era de responsabilidade da dona Wanda e não havia ninguém acima.

Chegou do Rio um tipo baixinho, ligado ao IBC (Instituto Brasileiro do Café) egresso da turma do Filinto Muller, aquele chefe de polícia do Vargas. Logo foi apelidado de Cafezinho.

A primeira coisa que fez foi demitir o Candinho.

Nós , então, escrevemos uma carta de desagravo, que virou abaixo-assinado. Alguns souberam, por telefone, estavam viajando, e mandaram assinar.
Carlão, o Carlos Augusto Gouveia, pediu demissão.
E, um por um, todos fomos demitidos.
Desmantelou-se assim uma grande redação, o que não era a primeira vez, nem infelizmente foi a última.

Conversando com Pedro Martinelli, ele me contou- eu já não lembrava- que estava na Amazônia, com os Villas-Boas, quando chegou a mensagem por rádio do preposto do cafezinho, chamado Moura Reis: "Tá demitido"
Daí ele respondeu: "Então manda o Roberto Marinho vir aqui e pegar minhas máquinas, fotos e tralhas, que eu não vou levar".

Bom, como o trabalho do Pedrão era diretamente ligado à sede do jornal no Rio, foi desfeita a demissão.
Mas o que eu queria contar, também, era sobre o Assis.
Um dia, antes do desfecho com as demissões, chegou o tal Cafezinho, vigiando o Assis, olhando por cima dos ombros dele, que batucava na sua máquina de escrever.
(Não tem coisa pior , pelo menos eu sempre achei, pra um jornalista, que um neguinho vigiando o que você escreve, coisa típica de gente autoritária.)

"Não é assim que se escreve o abre dessa matéria", disse o pequenino.
E o Assis, vulcão em erupção:
"Então senta e escreve"
E se mandou.
Pois é, época de gente de brio.Em plena ditadura. Sinto saudades.
Especialmente do Assis, que já partiu há alguns anos.
Do Carlão e do Cândido Garcia, que também se foram.

Pedro Martinelli, fotógrafo brasileiro



Foto Pedro Martinelli

Do mais recente presente que a net nos dá, o blog do grande Pedrão, fotógrafo das entranhas deste país há muito
http://www.pedromartinelli.com.br/blog/


Verde e Rosa


Tres dos cinco anos que trabalhei no jornal O Globo eu passei na Amazônia, acompanhando a expedição de contato dos índios Kranhacãrore chefiada pelos irmãos Villas Boas. Na volta, meu sonho era cobrir o carnaval do Rio de Janeiro. O meu e o dos outros quarenta fotógrafos do jornal. Dos eventos com data marcada o carnaval era tão disputado pelos fotógrafos quanto um jogo de final de campeonato, um Fla-Flu no Maracanã. O jornal abria fotos imensas na primeira página e os cadernos recheados de fotos.

Fotógrafo novo faz o que o chefe manda e não dá um pio. Toda noite eu era escalado para cobrir os ensaios das escolas, nas últimas semanas que antecediam o carnaval.

Eu adorava. Na entrada da quadra da Mangueira mulheres vendiam camarões salgados em pequenos tabuleiros. Passava a noite a base de camarão e biscoito Globo, sempre próximo da bateria com o coração batendo no mesmo compasso do surdo.

Na hora de ir para a Avenida eu não era escalado ou estava fazendo algum trabalho fora do Rio.

Meu ano chegou e eu fui credenciado para a cobertura. Eu não via a hora de ver o Mestre André fazer a paradinha na bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel ao vivo na avenida.

O desfile era na Av. Rio Branco e o meu carro estava escalado para sair do jornal ao meio-dia. Cheguei as 11,00 e ao invés de ir para a Avenida fui para o aeroporto Santos Dumond pegar uma Ponte-Aérea para São Paulo e de lá seguir para Assuncão no Paraguai. Meu chefe me mandou cobrir uma reunião da Itaipu Binacional, que estava sendo contruída na época , no gabinete do presidente Stroessner. “Paulista, tu não entende nada de samba, voce vai para o Paraguai agora mesmo, pelo menos lá a temperatura é parecida com a do Rio”.

Tres anos depois, pela revista Veja, finalmente eu cobri o carnaval do Rio de Janeiro em tempo de ver mestre André parar a bateria da Mocidade.


domingo, fevereiro 22, 2009

Lira da Vila: sassaricando no carnaval em Sampa

Márcio Périgo

Ainda é um homem bonito, daqueles que não se sabe a idade. Negro de barba, tocando pandeiro e puxando samba, afinado, boa voz, na mesa do bar no carnaval da Vila Buarque, em São Paulo. Vai sair o bloco Lira da Vila.

É um sem-teto, me dizem.

“Vai-Vai entra na avenida às 5 da manhâ, êta! Alô bateriaaaa!”, ele grita.

Era da Vai-Vai, sabe lá o que aconteceu com ele.

E canta a linda música de Geraldo Filme o inesquecível sambista paulistano, um dos fundadores da escola:

“Siêncio no Bixiga:

Silêncio, o sambista está dormindo

Ele foi, mas foi sorrindo

A notícia chegou quando anoiteceu

Escola, eu peço o silêncio de um minuto

O Bixiga está de luto

O apito de Pato N'água emudeceu

Partiu não tem placa de bronze não fica na História

Sambista de rua morre sem glória

Depois de tanta alegria que ele nos deu

E assim

O fato se repete de novo

Sambista de rua, artista do povo

E foi mais que foi sem dizer adeus”

E Adoniran, Cartola e tanta música boa.Conta o Jorge: "Uma vez alguém disse pro Cartola que ele tinha inventado uma rima errada, não me lembro qual. E ele respondeu: "Mas como se essa palavra eu tirei do padre?" Sabe quem era o padre? O Antonio Vieira".

E dá-lhe samba e também as tradicionais do carnaval "Eu mato, eu mato, quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato".

Do lado aparece uma requebrante figura magra, branco-neve, de colar de havaiana e não sai mais. De onde surgiu esse?

Pelo segundo ano sai o bloco Lira da Vila, camiseta branca com uma lira azul no meio e a letra do enredo nas costas.

Todo mundo é do bairro? Não, tem gente de Pinheiros, do centro, de vários lugares. Na sexta, juntou famílias com carrinhos de bebês e doidos das mais variadas tribos, cantando marchinha, acompanhando um carrinho puxado manualmente, e pra quê mais?

Aqui não tem axé nem pagode ruim, dizem orgulhosos. E enquanto no sábado, o bloco não sai, será que sai, ora garoa, ora faz sol, vai chegando gente com a camiseta, um fantasiado de cigano, outro, um finlandês de terno preto e chapéu idem, com dois copos de bebida diferente em cada mão. Um japonês, outro pernambucano, Marciano, dono da livraria Metido a Sebo, que além de toda hora pacientemente abrir o estabelecimento pras moças fazerem xixi, traz de lá sua garrafinha de cachaça das boas e serve a todos.

Passa o caminhão de lixo, o batuque tá animado, os garis executam sua ágil coreografia e não deixam de sambar um pouquinho, tão rápida passagem.

Dos prédios, na sexta, me contam, jogavam confete e aplaudiam, “ e a gente pensava que os vizinhos iam reclamar do barulho”.

Estão lá, felizes, o dono do boteco da esquina da Dr.Vila Nova com General Jardim se abasteceu dessa vez, na sexta faltou cerveja.

Ali do lado, a Biblioteca Monteiro Lobato, que reúne sempre o pessoal da Sosaci, a associação em defesa do saci. A programação musical de lá ainda se mistura um pouco com o batuque do bar, e o temível jornalista José Ramos Tinhorão reclama: “nem no carnaval esse pessoal toca música brasileira!”

Tinhorão, jornalista polêmico do Jornal do Brasil dos anos 70 é um freqüentador assíduo do pedaço, pesquisador emérito brasileiro de cultura urbana, com 26 livros publicados. Acompanhou o bloco na sexta até as 23 horas, com seus 81 anos, e o pessoal continuou depois, até as 5 da matina.

Do antigo prédio do Estadão, na Major Quedinho, partiu ouro bloco, contam. E na Vila Madalena, tem uma pá deles.

Inclusive a Associação Etílico Musical da Vila, cuja eu conheci outro dia.

É assim, o que é bom não morre, é resgatado mais cedo ou mais tarde.

“Misto de exibicionismo e de chamariz para o turismo sexual, Carnaval não é. A música. Samba não é”, diz Janio de Freitas no jornal de domingo, procurando um nome para a antiga e desaparecida festividade. E tem razão.

Mas fora esta,montada para o comércio e para a mídia, a outra sobrevive, na Bahia, em Pernambuco, Minas Gerais, norte, sul e centro –oeste, nos interiores, nas cidadezinhas, e até em alguns bairros de Sampa.

Porque

Sa –sa –sa-ricando, todo mundo leva a vida no arame.

Sa-sa–saricando, o brotinho, a viúva e a madame

Sentaram no ovo de Colombo

Foi um assombro sassaricando

Quem não tem seu sassarico
Sassarica mesmo só
Porque sem sassaricar
Essa vida é um nó...

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Demônios nazistas

domingo, fevereiro 15, 2009

Resenha - (26/01/2009)
Para pensar Cultura

Por Heitor Ferraz, professor de Jornalismo Cultural

http://www.facasper.com.br/jo/notas.php?id_nota=898



*Publicado originalmente na revista Communicare, publicação do Centro Interdisciplinar de pesquisa da Faculdade Cáper Líbero.



A crítica cultural no âmbito do Jornalismo

Nas páginas do Suplemento Literário, encartados aos domingos em O Estado de S. Paulo, podia se encontrar o mais seleto time de críticos literários do país.

Além disso, também havia, na última página, um espaço dedicado à criação literária. Em seus anos de vida, grandes nomes da literatura brasileira publicaram ali seus poemas e contos ainda inéditos.

No miolo do Suplemento, a vida cultural do país pulsava em críticas sempre criteriosas, que não abriam mão de um rigor intelectual, mas numa linguagem acessível ao leitor do jornal. Elizabeth Lorenzotti, em Suplemento Literário, que falta ele faz! remonta a história deste que foi um dos mais importantes espaços de reflexão da cultura no Brasil principalmente entre os anos de 1956, quando circulou o primeiro número, a 1974, quando sofreu sua primeira mudança, até tornar-se Suplemento Cultural, depois Suplemento Cultura e sumir abrindo espaço para o Caderno 2, a partir de 1986.

Em sua criação, estava a dupla da influente revista Clima, ou seja, Antonio Candido e Décio de Almeida Prado (que foi o editor efetivo de 1956 a 1966). A partir de 1966, ele passou a ser editado pelo jornalista Nilo Scalzo. Recuperar esta história, os propósitos do Suplemento, sua concepção e o seu desejo de intervenção na vida cultural do país, nos faz pensar nos caminhos da crítica de cultura no país até os nossos dias, quando esses espaços começam a desaparecer para se tornar, cada vez mais, uma vitrine dos lançamentos culturais, com pouca mobilidade crítica.

Além de traçar a história do Suplemento Literário do Estadão, Lorenzotti também inclui entrevistas com Antonio Candido, Italo Bianchi (que foi o responsável pelo projeto gráfico inicial) e Nilo Scalzo. Como lembra Candido, no prefácio da obra, “o livro de Elizabeth Lorenzotti é uma contribuição que vai além do mero valor monográfico, pois constitui uma análise pertinente das relações entre jornalismo e cultura, à luz de um caso que soube estudar com rigor e competência”.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Fascismo não é mito

Reproduzo o depoimento de um professor que encontrei na internet, onde se debatia a respeito do caso da brasileira que sofreu um ataque neonazista na Suiça.
Que ainda está nebuloso, e desperta paixões exacerbadas e tem gente dizendo que o neonazismo é um mito:

"Fascismo não é rótulo ou algum tipo de clube apenas para iniciados. Fascismo é uma mistura de nacionalismo exagerado, intolerância e gosto pela agressão.
É inegável que idéias e práticas de intolerância estejam em evidência. Assim como idéias e práticas que as condenam, como imagino que ocorra entre a maioria dos que aqui participam.
Sou professor de uma grande rede de ensino privado em SP. Lido com alunos de classes sociais muito privilegiadas. Com frequência tenho que alertar os alunos sobre suas manifestações de ódio racial, regional e social. Ou seja, palavras explícitas de ódio contra negros, nordestinos e pobres.
Ano retrasado um aluno de nossa escola se manifestou com idéias neo-nazistas numa aula de história. O professor o alertou diversas vezes. O garoto continuou. O professor pediu que se retirasse da sala de aula e relatou o caso à diretoria. Deixou claro que não se tratava d euma divergência de idéias, mas de um ato imoral e inclusive ilegal, contra judeus.
A escola não levou o caso adiante. Minimizou o fato.
Duas semanas depois o aluno foi agredido por um grupo de punks que já o conheciam. Esses punks já tinham apanhado de uma turma de neonazistas que acompanhava esse garoto em outra ocasião. Espancaram o aluno e quebraram seu maxilar na porrada.
A escola fingiu que não tinha nada haver com isso. O referido professor lamentou profundamente o caso.
Onde ocorreu a agressão? Próximo a Av. Tiradentes, em SP.
A imprensa noticia esses fatos de forma isolada e raramente identifica o fenômeno como algum sintoma de problema social, latente.
Seria errado imaginar que isso ocorre em maior escala na Europa? "