segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Histórias das redações 1 -- "Senta e escreve"

Foto Pedro Martinelli


Aí na foto a redação da sucursal paulista de O Globo, Av. Consolação, 257, 19. andar, anos 70.

Caminhando, altivo, o Fabinho, o Assis, Franciso de Assis Barbosa, caboclo potiguar, grande jornalista da área econômica, bravo que só, coração grande que só ele. Ao fundo, o repórter esportivo Cândido Garcia, também , na época da Rádio Jovem Pan.

Na frente do Assis, Etevaldo Dias.
A sucursal, que reunia uma das melhores equipes com as quais tive o prazer de trabalhar, e de ficar amiga, era chefiada pelo Cândido Cerqueira Silva, Candinho, o melhor chefe que já tive.
Estávamos todos felizes, fazendo matérias legais tanto quanto se podia - era a ditadura Médici- quando a direção geral mudou. Ou , acho que mandaram um pra preencher o cargo, já que a administração era de responsabilidade da dona Wanda e não havia ninguém acima.

Chegou do Rio um tipo baixinho, ligado ao IBC (Instituto Brasileiro do Café) egresso da turma do Filinto Muller, aquele chefe de polícia do Vargas. Logo foi apelidado de Cafezinho.

A primeira coisa que fez foi demitir o Candinho.

Nós , então, escrevemos uma carta de desagravo, que virou abaixo-assinado. Alguns souberam, por telefone, estavam viajando, e mandaram assinar.
Carlão, o Carlos Augusto Gouveia, pediu demissão.
E, um por um, todos fomos demitidos.
Desmantelou-se assim uma grande redação, o que não era a primeira vez, nem infelizmente foi a última.

Conversando com Pedro Martinelli, ele me contou- eu já não lembrava- que estava na Amazônia, com os Villas-Boas, quando chegou a mensagem por rádio do preposto do cafezinho, chamado Moura Reis: "Tá demitido"
Daí ele respondeu: "Então manda o Roberto Marinho vir aqui e pegar minhas máquinas, fotos e tralhas, que eu não vou levar".

Bom, como o trabalho do Pedrão era diretamente ligado à sede do jornal no Rio, foi desfeita a demissão.
Mas o que eu queria contar, também, era sobre o Assis.
Um dia, antes do desfecho com as demissões, chegou o tal Cafezinho, vigiando o Assis, olhando por cima dos ombros dele, que batucava na sua máquina de escrever.
(Não tem coisa pior , pelo menos eu sempre achei, pra um jornalista, que um neguinho vigiando o que você escreve, coisa típica de gente autoritária.)

"Não é assim que se escreve o abre dessa matéria", disse o pequenino.
E o Assis, vulcão em erupção:
"Então senta e escreve"
E se mandou.
Pois é, época de gente de brio.Em plena ditadura. Sinto saudades.
Especialmente do Assis, que já partiu há alguns anos.
Do Carlão e do Cândido Garcia, que também se foram.

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