Luis Nassif reproduz hoje artigo sobre biografia do capitão Galvão, no Estadão. Como o episódio do navio Santa Maria faz parte da minha vida, por vias transversas, escrevi um comentário. O nome deste blog se deve ao seu Junqueira, digo lá, e digo aqui em cima, um dos mentores do episódio de denúncia das ditaduras da península ibérica em 1961.
Outros tempos em que ainda havia a Utopia e homens dispostos a ela.
Luis Nassif online
26/06/2009 - 08:53
Lembranças do capitão Galvão
Em 1961, o capitão Henrique Carlos Malta Galvão entusiasmou o mundo ao apresar o navio Santa Maria, em protesto contra a ditadura de Salazar em Portugal.
Uma bela resenha de sua biografia, recentemente lançada, no Estadão de hoje.
Clique aqui.
1 comentário para "Lembranças do capitão Galvão"
26/06/2009 - 10:58 Enviado por: elizabeth lorenzotti
Aos 18 anos tive a sorte de conhecer um grande homem, o galego Jose Velo Mosquera, que conhecemos como seu Junqueira, um de seus outros nomes. Ele havia se exilado no Brasil , com seus companheiros, após o episodio do navio Santa Maria. Foi o mentor intelectual, ao lado de Galvão, da ação de apresamento do navio turistico em protesto contra as ditaduras de Salazar e de Franco.
Não eram piratas, como a imprensa internacional os taxou, mas revolucionarios e de sua ação, em um navio com acho que 600 passageiros, não houve feridos.Aventura singular, que mobilizou até o governo dos EUA, Kennedy no poder, foi na minha opinião o primeiro lance politico do que hoje se chama marketing: chamar a atenção do mundo para as ditaduras ibéricas.E conseguiu. Mas acabaram aportando no Brasil, porto de Recife, onde Janio lhes deu abrigo.
Seu Junqueira era professor e poeta, o primeiro editor da poeta Rosalia de Castro no Brasil. Ainda colegial, eu e uma amiga faziamos para ele um jornaliznho semanal no bairro do Paraiso. E ouviamos, encantadas, suas historias e suas análises iconoclastas sobre a aventura humana e a política.“Quem se militariza não se humaniza”, ele dizia.“A direita nunca nos desencanta, a esquerda sim”
Entre tantas frases que bebiamos literalmente às tardes, na editora Nós, ali perto da Cubatão.
Há muitos livros sobre o Santa Maria, entre eles um romance ótimo do jornalista espanhol, que acaba de se aposentar do El Pais, Miguel Bayon, e que se chama Santa Liberdade. Há o documentário de mesmo nome, uma produção brasileiro-galaica, editada por uma professra de Jornalismo da Universidade de Santiago de Compostela, Margarita Ledo.
Na tomada do navio, por coincidência Junqueira estava ao alto falante e era passageiro um de seus alunos, que surpreso, reconheceu a voz do professor. Ele tinha uma filmadora, e há preciosos registros da época no documentário.
Na Galicia, o nome de Pepe Velo é hoje lembrado nas escolas.O capitão Galvão é o nome histórico do episodio , mas Pepe Velo era a grande figura intelectual e mediadora da questão. Avesso a falar de si, ficou em segundo plano nessa aventura que depois rendeu tanta historia.Camilo Mortagua, citado no artigo do Estado como autor da biografia de Galvão era um dos jovens participantes do episódio. Seu livro deve ser bem interessante.Como interessante foi o apoio que o Estadão deu aos exilados politicos portugueses naquela época. Outros tempos, mesmo.
Maa a figura do seu Junqueira, ou Pepe Velo, foi tão marcante que sua lembrança nunca me abandonou. O nome do meu blog, Viva Babel,, é uma homenagem a ele. Tenho um conto que tem por titulo uma linda frase sua: “Un é nengum”.
Seu filho, guardião zeloso da Historia, Victor Velo, ele também um jovem participante do episódio, na época, prepara a antologia poética do pai, e a tradução do livro que deixou “Muera España! Viva Hespaña! Prólogo para la inauguracion de Ibéria”.Ninguém ficou rico: Galvão foi enterrado no Imirim acompanhado por seis pessoas. Junqueira morreu infelizmente num hospital, e não com os sapatos calçados, na luta, como ele queria.
Figuras como estas não são possíveis de se imaginar hoje: gente que vivia pela Utopia.
Graças a homens como estes o mundo caminhava .
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