domingo, dezembro 24, 2006

Fervendo os miolos

Do blog U Nonnu, que achei por acaso, me parece que é de um siciliano que entrou aqui no meu .A interessante experiência, que pode ser lida facilmente, eu acho, aqui por nós, tantos oriundi, prova que falando mais de 25 minutos no telefone celular a coisa começa a esquentar. Imaginem as cabecinhas dos adolescentes e executivos pela Babel.Alias, na Inglaterra é proibido pra menor de 14. O sábio cineasta Ugo Giorgetti semrpe diz que nunca viu nada de importantissimo e urgente falado ao celular...








Necessitiamo: 1 uovo fresco 2 cellulari; 65 minuti per chiamare da un telefono all’altro (meglio se con un contratto che permetta le chiamate gratis tipo You and Me). Montiamo tutti gli elementi come nell’immagine sottostante (foto n° 1): Iniziamo la chiamata tra i due cellulari e laportiamo avanti per circa 65 minuti... I primi 15 minuti non succede nulla...... a 25 minuti l’uovo comincia a scaldarsi.... a 45 minuti è molto caldo..... e a 65 minuti è cotto! (foto n° 2)

Conclusioni: le radiazioni emesse per i cellulari sono capaci di modificare le proteine dell’uovo... immaginate quello che può accadere alle proteine del nostro cervello quando abusiamo del cellulare e non cambiamo orecchio ogni 5 minuti.

Alegria

"Quem sabe o canto da gente,
seguindo na frente,
prepare o dia da alegria!


De um musica antiga(Geraldo Vandré, "João e Maria")

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Receita de ano novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem
sentido)
para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Assim caminha a humanidade, etc, etc

Uma amiga jornalista, solidária, costuma passar pedidos de colegas jornalistas que precisam fazer matérias sobre tal e qual assunto, e entrevistar um chamado "personagem", que é no que se transformaram, hoje, os entrevistados. Isto é: matéria sobre crianças alérgicas, caçar uma, até fácil essa. Ou sobre caçadores de arcas perdidas, ou executivos que amam golfe, ou pessoas de bem com a vida, na faixa dos 18 a 25 anos, etc.

Coisas assim fáceis ou impossiveis. Então, ela passa o tal email enviado por algum colega nessa dificil situação pra sua lista e olhem só o que aconteceu:

"Cada dia percebo como existem pessoas que adoram
prejudicar os outros e como é dificil ajudar as
pessoas. Por isso tomei uma decisão: a partir de hoje
não divulgo mais pedidos de personagens ou ajuda para
matérias.

Quando é passado um email pedindo um personagem x ou y
nao é para simplesmente contar para o concorrente da
pessoa a pauta x ou y e aí o editor dessa pessoa ficar
sabendo e prejudicá-la.

Uma amiga me ligou hoje, contou que isso aconteceu com
um anúncio da semana passada e por isso a partir de hoje
não divulgo mais.

Minha intenção é ajudar, mas nem todos pensam assim.
Achei o cúmulo alguém pegar uma informação passada por
mim pra ajudar uma pessoa a completar sua matéria e
transformá-la em arma contra a pessoa, que ficou mal
com sua chefe

pelo amor de Deus"

quinta-feira, novembro 23, 2006

Raulzito dixit

"Cachorro Urubu": "E todo jornal que eu leio/ me diz que a gente já era,/ que já não é mais primavera./ Oh, baby, a gente ainda nem começou."

quinta-feira, novembro 16, 2006

Tortura nunca mais?

TV Globo -- nunca se sabe por que e com que intenção --passou um programa sobre a tortura e suicidio de Frei Tito de Alencar Lima, enlouquecido por Fleury no século 20, em São Paulo, suicidou-se na França em 1972.
Anos terríveis. Retratos do mal em si.
O único animal que tortura o semelhante- somos nós. E a tortura continua, aqui, lá no Iraque, em Guantánamo, acolá...Até quando?

quinta-feira, novembro 02, 2006

Como nasce uma notícia

Adorável piada que tem tudo a ver com a "isenção" e "objetividade" da chamada grande imprensa.


Dois menininhos estavam saindo do Morumbi quando um deles foi atacado por
um Rottweiler feroz. O outro menino imediatamente pegou um pedaço de pau e
deu na cabeça do cachorro, fazendo com que o cão caísse morto e o amiguinho
ficasse apenas com alguns arranhões.
Ao ver a cena, um repórter que passava correu para ser o primeiro a cobrir
a fantástica história.
Pensou em voz alta: Já estou até vendo a manchete: "Jovem são paulino salva
amigo de animal feroz."
- Mas eu não sou são paulino - disse o menino.
- Me desculpe, apenas presumi que fosse, já que estamos na saída do
Morumbi...
- Então vou escrever: "Bravo pequeno palmeirense evita tragédia com amigo".
- Mas eu também não sou palmeirense - disse novamente o menino.
- Ok, então: "Pequenino santista vira herói"
- Não sou santista moço.
- Mas afinal, pra que time você torce?
- Sou curintiano.

E o repórter escreve em seu caderninho:


"Delinqüente curintiano assassina brutalmente adorável animal doméstico."

terça-feira, outubro 24, 2006

Él y Yo

Recebi de meu grande amigo Alipio Freire, que anda em périplo pela Argentina:


"Nos encontramos todas las mañanas. Él va en su bicicleta y yo en mis
sapatillas. No sé si él se llama Juan o Felipe, y él no sabe si yo me llamo
Luís o Pancho. Haga frío o calor, llueva o caigan piedras, siempre nos
encontamos.

_ Chau.
_ Chau.


Algún día no nos encontraremos. Ni nos encontraremos al día siguiente, no al
otro. Desde ese momento, yo sabré que él ha muerto. O él sabrá que yo hé
muerto. Que triste estará el mundo, entonces, para qel que se quede vivo."


(De Dardo Sebastián Dorronzoro, nascido em 14 de julho de 1913, e
seqüestrado e desaparecido em 25 de junho de 1976, em seu livro de
publicacao póstuma, "Viernes 25")

sábado, outubro 14, 2006

Jantar no Filé do Moraes




Tide Hellmeister e Jô Fevereiro (de costas)






Eu sempre admirei quem sabe desenhar. Por isso, sempre me cerquei deles, os artistas.Gráficos, especialmente, por causa da minha profissão. E entre os tantos e queridos amigos, o maravilhoso mestre da colagem e da tipografia, Tide Hellmeister.
Ele fez o primeiro projeto gráfico do Jornal da Tarde, na época de Mino Carta, que o criou. Um diagramador de mão cheia, da Ultima Hora, da Gazeta Mercantil, da Editora Abril, de tantos livros de poesia do outro mestre Massao Ono, de tantos livros, de tantas ilustrações, de dezenas de milhares, sim, pois ele produz muito.
Fica lá, ouvindo a rádio Cultura FM, cortando, colando, pintando.
Acabei de jantar com ele e com outro velho e querido amigo jornalista, Vasco Nunes, no Filé do Moraes, na Praça Julio Mesquita, perto da Folha.
É pra onde ele se mudou, e do seu apê dá pra ouvir, todo dia às 18 horas, uma sirene : a Folha apitando? Mas por que? eu perguntei e o Vasco, a história da imprensa recente em pessoa, contou que isso vem da época do Cásper Líbero, da Gazeta...
Vejam só, a gente mora nesta Sampa a vida inteira e não sabe nem de um terço dela...
Quantas histórias se lembraram, velhos companheiros da Última Hora dos anos 60: com Antonio Contente, o chargista Otavio, Plinio Marcos, quanta gente interessante. E que clima cordial, quente e amigo naquela redação...
Tide , excelente cozinheiro, tem saudades de alguns pratos de antigamente nos restaurantes, sumidos completamente: arroz de Braga, dobradinha!
E vai contando: o velho dono da Editora Martins o convidou, século passado, pra fazer as capas de três livros do Jorge Amado.Passou semana, passou mês, passou um ano, Tide volta lá com as três capas. O seu Martins diz: "Mas que coincidência, sabe quem está aqui? O Jorde Amado".
Claro que já tinham saído os livros, com as eternas capas do Carybé. Tide ganhou um, com dedicatória do grande escritor: "Ao Tide, com admiração, do Jorge Amado".
Você tem o livro, Tide? pergunto, porque sei da enormidade de coisas que ele guarda na casa, no escritório. "Tenho sim, lá no sítio". Já eu duvido...
Aristides Hellmeister. Que felicidade juntar amigos assim, ele, Vasco, e eu.
As mesmas pessoas,passados tantos anos. Os amigos são o sal da Terra.
Outro dia conto mais história dos bastidores das redações que esses amigos queridos lembraram, lá nos tão ricos e dourados anos 60.
É do Tide o projeto gráfico do meu livro que sai breve, ao qual ele próprio deu o nome, bom tituleiro que é: "Suplemento Literário-Que falta ele faz!"

terça-feira, outubro 10, 2006

Revista Piauí

Ainda não li, mas soube que foi lançada um nova revista de cultura no país, pelo João Moreira Salles e Editora Abril Chama-se "Piauí", ninguém sabe explicar por que, acharam um nome legal, sofisticado, talvez, chic, coisa assim. A tiragem é de 20 mil exemplares.
Disse o diretor de redação, ou editor, que será um misto de New Yorker com reportagens. E poderá colaborar gente de qualquer ideologia,"desde Stalin ao pessoal da propriedade". Desde que escreva bem e seja divertido, legalzinho, entende?

By the way, como diz essa gente, freqüento sempre o blog do grande Mario Bortolotto e dia desses havia um recadinho lá, de uma moça Mônica. Houve uma grande discussão em cima do texto do Mirisola, que fora censurado na Zero Hora, e era sobre a tal Flip de Paraty. O cara acabou com tudo e todos, inclusive com o patrocínio do Unibanco e parece que essa foi a causa de sua desgraça, eu creio. Censuraram. O Bortolotto publicou, o Uol abriu e encheu de gente de fora, que não costuma freqüentar o blog. Essa mocinha, então, disse que o Bortolotto deveria conhecer o Moreira Salles, gente finissima, e que para a revista dele , a tal "Piaui, a gente trabalha até de graça... "
Bortolotto respondeu, citando Rô Rô, que não quer conhecer ninguém, já conhece gente demais.....
Bom, vai daí que eu não posso ver gente falando que trabalha de graça pra qualquer órgão de imprensa, especialmente para revista de filho bem intencionado de banqueiro, e entrei dizendo que ao que consta, a direção da revista, composta por dois jornalistas famosos, não o faz de graça, essas pessoas não fazem caridade. Por que o resto, menos cotado, teria de fazer?
Soube também que na tal feira de Paraty a futura " Piaui" fez um workshop com a meninada jornalista, e escolheu 6 para um estágio de dois meses lá. Eu, que sou jornalista há pelo menos 30 anos e conheço as manhas todas, pergunto:
1- Por que contratar estagiários? Hoje o mercado faz isso para aviltar os salários dos profissionais e explorar esses estudantes. Tanto que vão rodiziar, o contrato foi por dois meses...Estagiários, sabemos, ganham cerca de 300,00 por mês, em geral.
2- Por que estagiários se há muitos excelentes jornalistas profissionais no mercado?
Dirão que é porque não querem gente viciada, eu conheço essa e nem me dou ao trabalho de argumentar, tá na cara o que eles querem.
O Brasil precisa de publicações culturais, claro. Mas com essas tendências iniciais, não sei não.
Não estou confiando que algo bom possa sair de uma direção de redação que diz que vale só o escrever bem.
Gostaria de saber se eles publicarão um lindo e bem escrito texto a favor da eugenia, ou da utilização de negros africanos pobres para as experiências das multinacionais farmacêuticas. De nada duvido. Se for estético...
Só sei que quando o Antonio Candido lançou o Suplemento Literário, ele enviou um projeto aos donos do Estadão propondo pagamentos tres vezes maiores que os dos mercado para os colaboradores. Mas existe um abismo entre o Suplemento Literário e a Piauí. Vou tentar ler.
De qualquer forma, recomendo uma ótima revista de artes que existe no mercado há um ano, a Bien'art, da Fundação Bienal de São Paulo. Fala de artes plásticas, arquietura, design, cinema, teatro, etc. É séria e bela.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Que falta ele faz!

"Suplemento Literário- Que falta ele faz!" é o título do meu livro que será lançado até o fim do ano em co-edição pela Imprensa Oficial e Intercom. É a história da vida e da morte do Suplemento Literário do Estadão, marco do jornalismo cultural, projetado por Antonio Candido e dirigido por Décio de Almeida Prado, de 1956 a 1967. Lá escreviam de Drummond e Bandeira a Amado e Ligya, ilustravam de Lizzarraga a Di Cavalcanti e os leitores eram brindados com grandes críticas de literatura, numa publicação artística e literária, autônoma e independente.
Foi minha tese de mestrado defendida em 2002 na ECA-USP, orientada pelo querido professor, amigo e companheiro de tantas lutas sindicais- que não pode comparecer à banca- Jair Borin, de saudosa memória.
Terá projeto gráfico do grande artista gráfico e mestre da colagem, outro amigo querido, Tide Hellmeister, e prefácio do professor Antonio Candido.
Ontem dia 8, domingo, o Estadão fez um suplemento especial, o Cultural, comemorando os 50 anos do primeiro número. Uma edição muito linda! Fiquei muito feliz e recomendo: a edição e o meu futuro livro.Vai ficar lindo, acreditem!

sábado, setembro 30, 2006

John, Janis e Jimmy











No dia 9 de outubro John Lennon faria 66 anos. É mais um desta geração que fez da sua vida a sua arte.
Ele, como Hendrix e Joplin, para só citar dois, agiram de acordo com o que pensaram: eram coerentes.E íntegros, isto é, inteiros, não fragmentados.



O mundo quebra gente assim, e os dizimou. Dois por overdose, um por asassinato.



Eles perderam muitas batalhas, mas ganharam a grande guerra:tornaram-se eternos!







segunda-feira, setembro 25, 2006

Vincent vive!







Viandeiro vindicante
Violeta vindimada
Vidente visceral

Vincent vive

domingo, setembro 24, 2006

A corte do pavão misterioso












Foto Luiz Carlos

No parque da Água Branca, num fim de semana em Sampa, o rapaz que tirou a foto e mais meia dúzia de nós assistímos ao grandioso espetáculo da natureza: a corte do pavão, e as pavoas,observem no canto direito, ciscando, fazendo de conta que nem notavam. Pedi a foto, achei que o anônimo fotógrafo nem se lembraria. Mas hoje chegou.
Que presente esse, no centro de Sampa, quem imaginaria?

sábado, setembro 23, 2006

O que amas de verdade

O artigo abaixo eu escrevi para os meninos do século 21, no site do Cedom, Colégio Estadual Doutor Octávio Mendes, onde estudei no século 20.
http://www.cedom.net/.


Brilho nos olhos. Sabe como? Quando você quer muito algo, quando você conquista isso, quando você sente o coração batendo de felicidade, pura felicidade.
E por que muitas vezes os nossos olhos brilham, mas aquilo está muito longe, distante, impossível mesmo? E a gente pensa: não dá! A gente acha que não dá, porque tudo que está em volta parece que existe pra dizer que não dá.
Pois eu li uma vez um lindo livro de um grande professor de mitologia chamado Joseph Campbell. Ele participou da criação do roteiro de “Guerra nas Estrelas”, que todos nós conhecemos e adoramos, dirigido por George Lucas, e o ajudou na trilha do mito do herói. Lembra de Luke Skywalker, do mestre Jedi, em luta contra o lado da sombra, o Darth Vader?
Pois então, é ele, Joseph Campbell, também autor do livro “O Poder do Mito”, que conta a seguinte historinha:
“Antes de me casar, eu costumava sair para comer em restaurantes da cidade, tanto no almoço como no jantar. Quinta-feira à noite era folga das empregadas em Bronville, de modo que muitas famílias saíam para comer fora. Uma bela noite, eu estava em meu restaurante favorito e, na mesa ao lado havia um pai, uma mãe e um menino magrinho de uns 12 anos de idade. O pai disse ao menino:” Tome o seu suco de tomate”. E o menino respondeu: “Não quero”. O pai insistiu, com voz mais alta: “Tome o seu suco de tomate”. A mãe interveio: “Não o obrigue a fazer o que ele não quer”. O pai olhou para a mulher e disse: “Ele não pode levar a vida fazendo o que quer... eu nunca fiz nada do que quis, em toda a minha vida”. Esse é o homem que nunca perseguiu a sua bem-aventurança.(...) Eu sempre recomendo aos meus alunos: vão aonde o seu corpo e a sua alma desejam. Quando você sentir que é por aí, mantenha-se firme no caminho, e não deixe ninguém desviá-lo dele”.
Esse livro e essa história, entre as muitas que há no livro, foram muito importantes na minha vida. Pois eu sempre acreditei e acredito que nós nascemos para a felicidade, e para conquistá-la, devemos proceder de maneira a fazer o que é bom não apenas para nós, mas para a nossa comunidade. Não nascemos para consumir coisas, não nascemos para seguir uma profissão que nos torne ricos e/ou famosos, não estamos estudando apenas e tão somente para fazer um vestibular. Estudamos para conhecer coisas novas e importantes para a nossa vida, para o nosso dia-a-dia, para as coisas pequenas do cotidiano, muito mais especiais que as grandes, pois delas é feita a nossa vida.
E a vida é muito maior do que consumo, celebridade, televisão, embora tudo isso faça parte dela, e a gente precisa ter conhecimento e discernimento para poder escolher. Embora, é claro, principalmente precisamos sobreviver, os tempos estão muito difíceis, não temos idéia de qual será nosso futuro. Tantas interrogações...
Mas o que fazer, então? Negar a felicidade em prol da sobrevivência, e transformar-se naquele pai da historinha acima, que nunca fez o que queria na vida? Ou fazer só o que você quer, sem ligar para os outros, para o próximo?
Não é assim, existe uma saída.Você não pode sair do sistema da sociedade em que vive, tem de seguir uma profissão com a qual possa se sustentar, e à sua futura família. Mas por isso vai negar os seus desejos mais íntimos?Aquela voz que, se você apurar bem o ouvido, vai ouvir lá dentro, dizendo qual é a sua vocação, para que é que você está neste mundo?
É esta, como diz o professor Campbell, a sua bem-aventurança, o caminho que você deve seguir para tornar-se o que verdadeiramente você é.
Então, quando conseguir o silêncio suficiente para ouvir a sua própria voz interior, você saberá. Não o seu professor, não seus pais, amigos, irmãos, namorados (as), não a TV, não a internet, nem eu! Só você.
Eu digo porque já comprovei isso. Desde os 12, 13 anos de idade queria ser jornalista. Vinda de família pobre, a universidade era um sonho meio distante, e a profissão parecia ser algo inalcançável para uma menina da periferia da zona norte de São Paulo. Meu pai queria que eu fosse secretária, ele trabalhava em um escritório e me levou lá, certa vez, para fazer um estágio, eu já tinha uns 17 anos. Foi a pior semana da minha vida até então, na maquininha de cálculos, dentro de uma sala. Acho que meu pai começou a entender.
Eu não desisti, e graças ao excelente ensino que tive no Cedom, entrei na USP em dois cursos: Jornalismo e História.Fui a primeira universitária da família. Comecei logo a fazer estágio em jornais, e tive de largar o segundo curso. Não foi nada fácil, porque naquela época jornalismo era uma profissão masculina. Então, uma mulher tinha de provar que era uma excelente profissional, e a gente passava mesmo por provas de fogo: aos 19 anos trabalhei na reportagem policial, via gente morta, tinha de entrevistar as famílias, a polícia etc. Uma barra pesada, com se dizia na época! Mas consegui, e fui passando para outras áreas da reportagem: educação, saúde, cidades, etc.
Fui aprovada em um teste no jornal “O Estado de S. Paulo”, mas o editor veio me dizer que, infelizmente, ainda não admitiam mulheres. Era 1972 e começavam a sair das universidades as primeiras turmas de jornalistas. Alguns meses depois - eu já trabalhava no jornal O Globo- o editor me chamou, dizendo que agora sim, já se admitiam mulheres na redação do maior jornal do país. Mas eu preferi ficar onde estava.
Durante minha carreira, ainda algumas vezes enfrentei, eu e outras profissionais, esse preconceito. Hoje, na classe de pós-graduação em jornalismo da PUC na qual dou aulas, dos 40 alunos, 38 são mulheres...
Não posso imaginar outra profissão para mim a não ser esta, de escrever, de contar histórias, de ouvir o outro. De, às vezes, contribuir para melhorar a sociedade em que vivo.
Não foi fácil e continua não sendo fácil: o mercado na imprensa escrita, na TV, no rádio, se estreita cada vez mais. Entretanto, há outras mídias, como por exemplo, e cito apenas uma, os blogs. Nos Estados Unidos vários jornalistas independentes foram contratados por grandes jornais a partir de sua performance nos blogs. Uma outra comunicação é possível, e a imprensa comunitária também está aí para provar.
Bem, mas sobre jornalismo eu escreveria uma enciclopédia. Eu vim mesmo aqui só para dizer que é verdade essa história de perseguir sua bem-aventurança. E ter valores, projetos, objetivos que não são medidos por dinheiro, por posse de coisas, por celebridade, pelo poder. Tudo isso é passageiro. Só fica a sua verdade, aquela de dentro de você. Aliás, diz o poeta Ezra Pound – e a poesia serve, e muito, para a nossa vida : “O que amas de verdade permanece, o resto é escória
O que amas de verdade não te será arrancado”.
Então, persiga a sua bem-aventurança e não tenha medo porque, como diz Joseph Campbell, e como estou aqui para comprovar, “as portas se abrirão, lá onde você não sabia que havia portas”.
Boa sorte!

quarta-feira, setembro 20, 2006

Bodegon

Foto Carlos Bertomeu

sábado, setembro 16, 2006

Namastê!

Foto Carlos Bertomeu ( foz do rio Camaquã)

Encontrei na internet um belo link de um músico indiano, Ananda Jyoti, que mora no Brasil há uns sete anos e já produziu um belo trabalho que mistura as sonoridades indiana e brasileira em lindos mantras. Tem cuica, tem viola caipira, misturados à tabla indiana, à sítara.
Mantras, você não precisa nem entender o significado das palavras, são ancestrais e servem para liberar nossas mentes de tanta bobagem que vivemos a pensar, a pensar, a pensar.
Um refresco, um rio calmo como este acima...
Om é o som primordial
Om!

segunda-feira, setembro 11, 2006

A última partida



Texto e fotos do repórter fotográfico Jesus Carlos, da Imagem Latina, velho companheiro de cobertura da imprensa sindical e social. Beleza Pura!
(Desculpem a inabilidade tecnológica da editora, na verdade as fotos devem ser vistas da última para a primeira, claro, do inicio proo fim do jogo, mas...)


"O primeiro jogo do Brasil no mundial, foi com a Croácia. No dia seguinte, encontrando com os amigos, perguntaram: Jesus, você não foi fotografar a torcida lá no Anhangabaú? Tava bem legal. Bem divertida. NÃO! Só irei fotografar na última partida. Dias depois, o Brasil volta a jogar com a Austrália. e no dia seguinte, encontro de novo os amigos e a pergunta, os comentários foram feitos de novo. Você não foi fotografar a torcida lá no Anhangabaú? Você ta perdendo. O pessoal vai todo fantasiado de verde e amarelo. Estás perdendo boas imagens. Veio o jogo com o Japão e encontro no dia seguinte com os amigos que de novo fizeram a mesma pergunta: você não fotografou a torcida no Vale do Anhangabaú? Não! Só irei fotografar na última partida. Aí o Brasil joga com as estrelas negras de Gana e no dia seguinte, veio de novo a pergunta: Jesus você não foi fotografar a torcida no Anhangabaú? Você precisa ver cara. Tem alguns que não perdem um só jogo e sempre estão lá na frente, bem perto do telão. Eles sabem que tá todo mundo da imprensa e querem sair nas primeiras páginas dos jornais, na televisão. É bem divertido e tá dando boas imagens. Você está perdendo um bom material fotográfico.
É sábado, são duas horas da tarde e penso: vou fotografar a torcida no Vale do Anhangabaú. Hoje é Brasil e França. Tenho que ir fotografar a torcida, as pessoas fantasiadas de verde e amarelo, o pessoal torcendo pelo Brasil. Não podia perder.
Era A Última Partida. "
Jesus Carlos

Foto Jesus Carlos

Foto Jesus Carlos

A última partida


Foto Jesus Carlos

quarta-feira, setembro 06, 2006

Orquestra do Quisisana Hotel


Orquestra do Quisisana Hotel, anos 50.
Meu pai é o careca magrinho, ao fundo, à direita. Sentado com as crianças, o grande ator Procópio Ferreira.


Meu pai e seus irmãos nasceram com a veia artística, herdada da italianada e da aculturação com o Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro. Oswaldo Lorenzotti, meu pai, tocava violão, compunha e cantava lindamente na rádio Cultura de Poços de Caldas (MG) e como crooner da Orquestra do Quisisana Hotel nos anos 50. Meu tio Emilio, em Varginha, na mocidade, tinha uma padaria e.....uma orquestra de padeiros. Eu os imagino todo santo dia encerrando o expediente e partindo pra música! Que lindo isso devia ser.
Zé Alberto, meu primo, também nasceu tocando : sanfona, violão, e era um ás da Jovem Guarda no interior de Minas.
Outro primo, Juemil, era professor,formou gerações em Poços de Caldas, e todo santo domingo colocava a partitura e tocava na sanfona tudo o que podíamos suportar ...
Filhos, primos, tias, tios, cantarolamos sempre pela vida. Estou falando dessa minha família musical depois de rever, banhada em lágrimas, o documentário de Win Wenders sobre o Buena Vista Social Club. A pesquisa do grande guitarrista Ry Cooder, que conseguiu reunir a velha guarda, a Vieja Trueba cubana, lançá-los ao mundo das celebrities depois de 70, 80, 90 anos de idade- além , é claro, do belo filme de Win Wenders- e ao menos desfrutarem do sucesso merecidissimo:Compay Segundo já tinha 90 e viveu mais 5: Ibrahim Ferrer tinhas 70 e poucos. Estão vivos Omara Portuondo e Eliade Ochoa.
Os velhos músicos maravilhosos cubanos estavam no desvio há anos. Ferrer conta que, desiludido, pensava em desistir. Até que foi encontrado por Coder, que viu nele uma espécie de Nat King Cole cubano.Mais ou menos o que aconteceu aqui com o Tomzé, que também foi redescoberto por um americano.
Tudo o que não aconteceu com meu pai, com meu primo Zé Alberto,que tiveram de desistir da música pra sobreviver. Não tem coisa mais triste que ver talentos assim podados. Meu pai virou funcionário de escritório, e durante muitos anos tocava violão e cantava sozinho, nas manhãs de domingo, em casa.Às vezes eu o acompanhava ocando...maracas.
Zé Alberto, que mora em Alfenas (MG) tem um pequeno comércio com a mulher e acaba de gravar um CD caseiro com as músicas preferidas pelo pessoal que freqüenta churrascarias...Seus olhos brilham quando fala nos seus tempos, nas suas canções e hoje, talvez, quem sabe, na possibilidade de cantar em algum lugar bom....
Lembrei muito deles em Havana, e ao rever este filme. Artistas populares, gente que aprendeu a tocar sozinha, de ouvido, e que amava isso. Povos musicais, temos isso em comum. Esse brilho nos olhos é o mesmo que vi no Ferrer, no Compay, na Omara, no baterista, no trompetista maravilhoso.
E nos olhos do Ry Cooder e de seu filho Joachim, jovem percussionista encantado com seus mestres cubanos.
Uns anônimos, outros por sorte, içados ao estrelato.Cooder diz que faz discos há mais de 35 anos e nunca sabe do que o público vai gostar. Sorte, talento, oportunidade, tudo isso junto e mais alguma coisa?


segunda-feira, setembro 04, 2006

As idéias



Foto Bea Faleiros

Muro do estacionamento ao lado do hotel no bairro Vedado

sexta-feira, setembro 01, 2006

Compay, Compay

Foto do filme Buena Vista Social Club

Compay Segundo, ou Francisco Repilado, beijado por Omara Portuondo. Compay quer dizer cumpadre, e segundo porque ele fazia segunda voz, com o outro Compay , eram o duo Los Compadres, criado em 1942 e durante 14 anos.
Essa lindissima figura, que há alguns anos partiu, aos 95, fumava "puros" desde os 5. Pois a avó pedia pra ele acender...Trabalhador do tabaco, amante das mulheres e das coisas boas da vida (e aqui não se fala de consumo, mas de bens essenciais.
É dele o Chan Chan, que abre o disco belissimo produzido pelo não menos maravilhoso guitarrista norte-americano Ry Coder. Disse numa entrevista: "Além das comidas típicas dos trovadores que já lhe disse, como provenho da costa, adoro os mariscos. Vou te revelar um segredo: use o caldo de cabeça de bode, isso lhe dará vitalidade. Quanto aos prazeres, é preciso ter medida. O bom não se deve experimentar muito, que sempre fique o desejo, que lhe anime a experimentar de novo e não o aborreça. Bebo um pouco e fumo desde menino, pois minha avó me ensinou. Aliás, esse foi um dos meus ofícios, na fábrica de Montecristo e H. Upman. Meu charuto preferido: H. Upman n.o 4."
Chan Chan tem apenas dois acordes: "Imagine que na França quando vão fazer um brinde, em lugar de tin tin, agora dizem chan chan, pois minha canção agradou demais. As pessoas até choram. Você sabe que as canções possuem seu mistério, seu encantamento, seu feitiço. Isso não é assunto de catedráticos, mas de magia. Você já pensou que a juventude de Cuba e da Europa, que já se esquecera da música tradicional, que somente gostava de rock, agora voltou à música de seus avós? Isso é um fenômeno."
E sobre o sucesso: "Passamos das montanhas à fama. Percorremos metade do mundo, apresentamo-nos nos palcos mais exigentes e fomos convidados por príncipes para suas festas faustosas. Mas eu continuo sendo simples, como se estivesse começando. Precisamente, prezam-nos por essa simplicidade e naturalidade. Eu continuo cantando para os cubanos, como faço por toda Cuba, desde quando jovem."
Contiuará cantando pra sempre, Compay.

terça-feira, agosto 29, 2006

Como é bom tocar um instrumento

Foto Bea Faleiros
Como será que se chama essa espécie de....pianola? A moça e seus companheiros se apresentavam num restaurante de La Habana.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Sob o céu que nos protege

Ilha impossível que enrola sua língua de fogo em nossos corpos
Línguas que engolem letras, como desvendar?
E de que forma não temer o que será?
Asas abertas de anjos negros, de yalorixás, devem proteger
Não pensar, só sentir, ouvir, ver
Esquecer os tempos sombrios
Melhor desfrutar esse hiato, essa memória em todos os cantos que nos conforta
(A vida segue eterna enquanto alguém se lembrar)

Retratos de antigos sonhos, molduras do nosso mundo
devastado e tão belo, tão belo!
Ilhas cercadas por atiradores de elite
enquanto mulatos y mulatas y negros y blancos y amarillos dançam a vida
Lá e cá
Somos nós!
Changô, Ochun, Yemanya y tantos que são um só
Clareai!

São Paulo, sol de verão na tarde de fim de inverno

Havana Vieja



Foto Beatriz Faleiros

terça-feira, agosto 22, 2006

Foto Beatriz Faleiros

Lugar de criança

É na escola, é no parque infantil...Lê-se num cartaz, não lembro direito o número: "esta noite, 200 milhões de crianças do mundo vão dormir na rua. Nenhuma é cubana".
Esta escolinha, Hans Christian Andersen, é um parque ecológico na Havana Vieja.As crianças estavam em férias e o porteiro nos mostrou, uma por uma, as plantinhas, as árvores, entre elas a palmeira, porque lá é o lugar, como diz a Guantanamera, onde crescem las palmas.
Se a revolução só tivesse sido feita por isso, nenhuma criança na rua, eu acho que já bastaria. Mas tem o ensino universal, público e gratuito, a saúde idem e tanta coisa boa mais.
Essa visita me emocionou muito, e ver como são tratados crianças, jovens...
A vida é difícil, mas se eles soubessem que no nosso país quem pode paga mais de R$ 1.000 por uma mensalidade de escola primária, não acreditariam.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Saltimbancos na praça da Catedral
Foto Beatriz Faleiros

domingo, agosto 20, 2006


Foto da Béa pras meninas

Terroristas



O fulano à direita é Possada Carriles, que detonou um avião cubano nos anos 70 matando todos os 73 passageiros. Está solto e continua fazendo atentados. Recentemente o governo do Panamá lhe recusou asilo.

sábado, agosto 19, 2006

Criatividade versus arrogância

Foto Beatriz Faleiros



Numa esquina do Malecon, o murinho à beira-mar, de sete quilômetros de extensão, existe o escritório de interesses dos EUA, desde o governo Jimmy Carter. Próxima ao local, a Tribuna Antiimperialista Jose Marti é sede de atos políticos e shows.Ali também fica o "Monte das Bandeiras": 138 bandeiras negras com a estrela branca içadas pelos cubanos em janeiro, em resposta a um letreiro luminoso gigantesco instalada no último andar do prédio,com mensagens de "liberdade" em que os norte-americanos atacam Cuba.
Agora , nem de perto e nem ao longe se pode ver as mensagens de Bush, que pena, mas que pena! Ali, na noite de 12 de agosto e madrugada de 13 --as bandeiras negras foram trocadas pelas bandeiras nacionais --assistimos a uma imensa Cantata pela Pátria, em homenagem ao aniversário de Fidel. Mais de cem artistas- cantores, musicos, atores- desfilaram para uma vasta platéia essencialmente jovem, entre 17 e 20 e poucos anos- esparramada pelo Malecón. Garotada com modelitos parecidos aos nossos, que certamente eles mesmo fazem- como também constróem eles mesmos as peças de reposição de seus fantásticos carrinhos e carrões dos anos 50 -- mas com caras tão mais tranqüilas, sem droga, com pouquíssima bebida e por incrível que pareça, quase ninguém fumando cigarro ou charuto, curtindo o rap, o rock, as canções da terra, as revolucionárias, e até um Roberto Carlos, quem diria "Você , meu amigo de fé, meu irmão, camarada"- que o autor nunca pensou onde, e para que aniversariante, seria entoada, num dia do século 21, no distante Caribe, na caliente Cuba.
Ficamos horas lá, misturadas com essa moçada que pedia desculpas quando esbarrava e pedia licença ao passar. Não é mesmo uma coisa rara para nosotros habitantes de urbes tresloucadas? Mais rara ainda: sem incidentes policiais, sem briga, sem assalto. Estaríamos nós em outro mundo?
Outro mundo seria possível?
Não percam os próximos capítulos!

sexta-feira, agosto 18, 2006

Havana


Vista a partir do Museu da Revolução
Foto Beatriz Faleiros

quarta-feira, agosto 16, 2006

A tortura e a exclusão

Minha querida amiga Irene Incáo me mandou este excelente artigo. Irene foi música, cantora de banda punk da periferia, da Freguesia do Ó. Aquela música do Gil, a gente acha que ele fez pra essa banda, que um dia foi visitá-lo..
"Esgotados os poderes da Ciência, esgotada nossa santa paciência, eis que essa cidade é um esgoto só..."
Hoje é jornalista, das mais corretas e sérias profissionais da arte de lidar com as palavras, com essa língua nossa tão difícil. Eu sempre me aconselhei com ela, mais nova que eu, mais ponderada...Ela fazia parte da redação feliz da Editora Abril nos anos 80.
Que bom ter amigos assim! É sempre uma nova esperança que a gente alimenta de sobreviver, como diz o belo samba.Segue o artigo:
"Parece para mim que a tortura deveria ser banida, porque somos todos humanos, não?
Desculpem pela obviedade. É que a tortura nunca pára. Como diz Frank Zappa numa canção meio cínica. Eu poderia relacionar centenas de cenas sinistras que estão ao nosso redor neste momento. Mas vou poupar a todos nós.
Não vi o filme de Sérgio Rezende ainda, mas acredito que mereça mesmo tantos elogios. Tenho lido em muitos comentários um foco intenso na dor de Zuzu, na sua força, coragem e criatividade para levar em frente sua luta.
E, a despeito de não me compreenderem, isso me levou a questões que refletem o presente mais recente. A dolorosa herança do povo brasileiro, mantido em ignorância, impossibilitado de se desenvolver intelectualmente o mínimo e mantido assim no silêncio necessário à perpetuação da “ordem” .
Mais do que força e coração e gênio, Zuzu tinha recursos (foram vãos?) para confrontar a violência daquele Estado: fazia parte da pequena parcela de brasileiros que tiveram direito à educação. Por favor, não chamem a isso de escolaridade (em boa parte do mundo essas coisas não são sinônimos, embora a conveniência do poder sempre nos queira confundir acerca do assunto...)
A história de Zuzu me remete à história da urbanidade pobre construída mais intensamente desde os anos 70 ,da minha infância e adolescência. É uma história de maioria, porque o cenário é um bairro pobre da Zona Norte de São Paulo. Na época operário, cosmopolita, talvez. Globalizado, não. Comíamos macarrão húngaro no almoço e, dali a pouco, doce de feijão na quitanda com a “bachan”, de chinelinhos de pano e vestido quase aos pés. Tão exótica... e tão nossa.
Nessa urbanidade, a violência já chegava às ruas e aos bares à noite, em forma de polícia. A palavra mais próxima de violência, muito usada pelos estudantes do noturno (do antigo colegial das escolas públicas) e pelos jogadores de sinuca de fim de semana, era camburão. Nos relatos dos primos mais velhos, dos vizinhos, a violência e perversão da polícia sempre são aconchegadas no invólucro da aceitação, do conformismo diante da força absoluta do invencível e imutável. É patrimônio do pobre deseducado e ignorante – mesmo do mais sábio e sensível – o silêncio diante da presença ostensiva da polícia, da “autoridade”. Do tapa na cara, do xingamento, da humilhação.
Eu tomei conhecimento da tortura muito antes entender o papel do Estado de Direito, quando vi um jogador de dominó, freqüentador do boteco onde comprávamos pão, mostrar as marcas da tortura de uma detenção. O motivo? Jogo do bicho. Agressões e torturas em suspeitos(?) eram rotina da polícia na comunidade ao redor. Alguns morreram. Morreram porque bateram a cabeça. Porque se mataram. Outro, porque foi morto pelo colega de cela... Negros e bichas, bem mais (preciso dizer que porque eram pobres?). Porque não suportaram as torturas. As mães???? A essas mães, restaram sempre o silêncio, a incompreensão, ou a aceitação “da vontade de Deus”. Restou o silêncio. A herança dessa impotência – que a ignorância, a deseducação, a falta de recursos essenciais para interferir nessa realidade têm impingido à grande maioria dos brasileiros – está no noticiário de ontem, de hoje e, tão cedo, não será um passado histórico. Parece que o povo ainda não fez história. A triste história do golpe e da monstruosidade da tortura a presos políticos, em sua maioria estudantes bem preparados – muitos bem educados e idealistas –, não é a história da tortura de todos os dias. E, para esse grande Brasil, é só mais uma história de tortura e morte... entre tantas.
Ainda que isso possa ferir, quando deve findar a tortura que a exclusão tem condenado a tantos, por tantos anos?

sexta-feira, julho 28, 2006

Que Deus guarde Leonildes,Guarnieri e Florestan


Foto Carlos Bertomeu

Acabo de ler no blog do Mario Bortolotto, ator e dramaturgo, um texto emocionado sobre Guarnieri. Ele diz que o grande ator estava na fila para um transplante de rim que podia ter salvo sua vida. Mas recusou-se a furar a fila.
Que estava esperando há muito tempo...Justo o que acontece à maioria do povo brasileiro. Eu não teria feito o mesmo, meu Deus, não teria essa coragem, essa integridade. De que tamanho você fica quando sabe uma história dessas?
Eu me lembro agora do grande professor Florestan Fernandes, que morreu de erro médico num transplante de fígado. Vi num vídeo o filho contando que, certa noite, o pai já doente, ele chega em casa e a mãe conta que Florestan havia ido pro Hospital do Servidor Público Estadual.Assim sozinho, vestindo um roupão. O filho o encontra de noite, na fila...Não queria usar de nenhuma prerrogativa...
Que o FHC sugeriu, ofereceu tratamento nos EUA, mas ele não quis.
Dois homens: o que mudou a dramaturgia, sim - e quem não se lembra do Arena, e quem não se lembra de Eles não usam Black Tie?
Ator, compositor, dramaturgo:Arena conta Zumbi.
O outro homem, que mudou a sociologia, filho de empregada doméstica, escolheu o lado da mãe pra defender.Eu fui à casa dele um dia, mas essa lembrança é daquelas que você não sabe se é sonho ou é verdade...Qaul era mesmo o assunto? Premio Herzog de Anistia e Direitos Humanos? Histórias de Cuba? O que era, meu Deus?
Mas da emoção da inauguração da Escola Florestan Fernandes, em Guararema(SP), ano passado, pelo MST, sim, eu me lembro bem. Ele deixou sementes, deixou frutos.
Dois homens que tinham o mesmo sonho, o mesmo sonho meu, sonho meu, sonho de parte de minha geração:justiça e liberdade para todos.
Como não me lembrar também de minha mãe, mulher simples, que teria se emocionado com essas duas histórias? Porque era compassiva, e sofria na carne a história do outro. Minha mãe que também morreu num hospital do SUS, a parte pobre do Incor glamuroso, oonde se tratam presidentes e CEOs. E eu, eu não pude fazer nada. Até hoje, quase três anos depois, corre um processo no Ministério Público Estadual, mas quem sou eu para lutar sozinha contra a corporação da máfia de branco?
Que Deus guarde a todos, minha mãe que acreditava nEle, os dois homens que talvez não.
Que essas lembranças de gente dessa estirpe perdure eternamente nos corações.
Não são apenas essas três pessoas, há muitos outros grandes, conhecidos como eles, anônimos como minha mãe.
São eles que nos dão forças para acreditar na nossa espécie combalida.
Nesses tempos quase sempre de trevas que vivemos sobre a Terra, eles são a luz.

terça-feira, julho 25, 2006

Horrores da guerra

21/07/2006 - 10h04
Médicos libaneses dizem que vítimas têm ferimentos "nunca vistos"
da Agência Efe, em Beirute

Vários médicos que trabalham em hospitais do sul do Líbano explicaram que as vítimas das áreas bombardeadas por Israel apresentam ferimentos que nunca tinham sido visto antes, apesar de sua experiência em outros conflitos."Há poucos dias, recebemos nove cadáveres da entrada norte de Sidon e todos apresentavam lesões muito estranhas", disse Mayed Ozeiran, médico na cidade sulina de Sidon."Embora não estivessem queimados, tinham a pele completamente negra. Havia um espaço vazio entre a pele e o restante do corpo e não sangravam, embora tenham chegado meia hora depois do ataque. Jamais tínhamos visto uma coisa assim", afirmou.Ozeiran, que trabalha no mesmo centro médico desde 1982, ano da segunda invasão israelense do Líbano, acrescentou que os ferimentos das vítimas "não são de armamento convencional", embora não possa dar uma explicação sobre que produto pode ter causado tais lesões.A mesma opinião foi expressa pelo médico Ahmad Umrua, diretor do hospital de Yabl Amel, na região de Tiro, uma das áreas mais castigadas desde o início dos ataques da aviação israelense, em 12 de julho."Recebemos feridos que parecem queimados, mas cuja situação é muito rara e que exalam um cheiro muito estranho", comentou antes de explicar que a "carência dos recursos mais básicos" faz com que seja impossível solicitar as análises pertinentes para determinar o que causou os ferimentos.No último dia 16, os meios de comunicação libaneses denunciaram que Israel estava utilizando bombas de fósforo branco --proibido na legislação internacional-- em seus ataques ao sul do país, e em particular na área das fazendas de Chebaa.O fósforo branco é uma substância amarelada que queima quando exposta ao oxigênio em temperaturas superiores a 30 graus centígrados. O incêndio que causa pode ser difícil de ser apagado e deixa uma espessa fumaça. As partículas incandescentes dessa substância podem causar queimaduras químicas profundas e muito dolorosas.Umrua denunciou, além disso, que o Exército israelense está atacando as estradas da região e deixando "ilhas de população incomunicável, as quais é impossível atender".O médico, que cifrou em 236 os feridos recebidos por seu hospital --"todos civis"--, acrescentou que a artilharia israelense está disparando contra as "ambulâncias e os carros civis que tentam levar os feridos ao centro médico, já que os aviões atacam os veículos que se aproximam e os que transferem as vítimas a outros lugares"."Também não temos meios para poder tirar as pessoas dos edifícios destruídos. Recebemos duas meninas e sua avó, que passaram 76 horas sob as ruínas de sua casa", contou.O médico, que pediu ao mundo que "detenha esta guerra e ajude o Líbano", explicou que a ausência de recursos causou um novo problema "com os cadáveres em decomposição que ficam entre os escombros", devido aos riscos

quarta-feira, julho 19, 2006

Deu no Estadão-Entidades denunciam tortura contra presos à ONU

"Grave exposição a tortura e submissão a tratamento cruel, desumano e degradante" sofrida pelos presos da penitenciária de Araraquara
José Maria Tomazela
SOROCABA - Entidades defensoras dos direitos humanos denunciaram à Organização das Nações Unidades (ONU) a "grave exposição a tortura e submissão a tratamento cruel, desumano e degradante" sofrida pelos presos da penitenciária de Araraquara, no interior de São Paulo.
O documento, assinado por oito organizações, entre elas a Pastoral Carcerária, ligada à igreja, e as ongs Tortura Nunca Mais de São Paulo e Justiça Global, foi enviado ao Comitê da ONU contra a Tortura e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também denunciou a situação da penitenciária de Araraquara e de outros presídios paulistas à Organização dos Estados Americanos (OEA).
O objetivo é gerar pressão dos organismos internacionais para que o caos no sistema carcerário de São Paulo seja solucionado. No documento são relatadas as precárias condições de aproximadamente 1.500 presos, que ficaram 14 dias isolados numa área de 600 m2, com capacidade para abrigar 160 pessoas, nove vezes acima da capacidade do local. O relato destaca que as portas foram soldadas e "o único acesso aos presos é pelo teto".
Faz, ainda, menção às rebeliões ocorridas em maio e que levaram à superlotação da ala do Anexo de Detenção Provisória (ADP), para onde os detentos foram transferidos. Ressalva que, antes dos motins, esses pavilhões já estavam superlotados. Mesmo fazendo referência às providências já tomadas pela Secretaria de Administração Penitenciária, que abriu mais dois pátios para os detentos, o texto denuncia a "situação de extrema gravidade, pois os presos correm risco de vida, seja pela condição desumana do isolamento em que se encontram, seja pela reunião de presos saudáveis e presos muito doentes".
Também assinaram a denúncia o Movimento Nacional de Direitos Humanos, Regional São Paulo, a Ação dos Cristãos para Abolição da Tortura (ACAT/Brasil), o Instituto Terra Trabalho e Cidadania (ITTC), e o Centro de Direitos Humanos de Sapopemba/SP. A SAP informou que os presos de Araraquara estão sendo transferidos para outras unidades, conforme a determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo. Desde segunda-feira, foram transferidos 35 detentos. Até o final de semana, devem deixar o presídio outros 65, perfazendo a média acertada, de 100 detentos por semana.

sábado, julho 15, 2006

Deu na London Review of Books

Zizek contra Bill Gates

O ensaísta esloveno Slavoj Zizek os chama de "liberal comunistas" - incluindo na mesma categoria também a George Soros, aos executivos de Google, da IBM, de Intel, entre outros - que têm no editorialista do New York Times, Thomas Friedman, um dos seus escribas de plantão. A palavra chave desses tipos é smart. "Ser smart, é ser dinâmico e nômade, inimigo da burocracia centralizada; acreditar no diálogo e na cooperação contra a autoridade central; apostar na flexibilidade contra a rotina; na cultura e no saber contra a produção industrial; privilegiar as trocas espontâneas e a autopoïese (a capacidade de um sistema de se auto-engendrar) contra as hierarquias rígidas."Bil Gates é a melhor imagem do que ele chama de "capitalismo sem fricções" ou da sociedade pós-industrial, com o "fim do trabalho", etc., etc. Ele busca projetar a imagem de um "marginal subversivo", um antigo hacker que tomou o poder e se disfarçou de executivo respeitável para seguir fazendo a mesma coisa de sempre.No entanto sua doutrina é uma versão pós-moderna da "mão invisível" de Adam Smith, em que o mercado e a "responsabilidade social" não se contradizem, podem ser conciliados para o interesse de todos. Nas palavras de Friedman, não é mais preciso hoje ser um canalha para fazer negócios: a colaboração com os assalariados, o diálogo com os consumidores e o respeito pelo meio ambiente são as chaves do sucesso.Olivier Malnuit fez uma lista dos dez mandamentos dos libreais-comunistas na revista francesa Technikart, que consistem no seguinte:1. Você concederá tudo (internet com acesso livre, fim dos direitos de autor); você só cobrará os serviços adicionais, o que basta para te tornar rico.2. Você mudará o mundo, em lugar de se contentar em vender coisas.3. Você será super simpático: você terá o sentido do compartilhamento e da responsabilidade social.4. Você será criativo: privilegiará o design, as novas tecnologias, as ciências.5. Você dirá tudo: não terá segredos, se sacrificarás ao culto da transparência e da livre circulação da informação; toda a humanidade deve colaborar e dialogar.6. Você não trabalhará nunca: os empregos fixos de 9 a 17 horas não são para você, você se dedicará à comunicação smart, dinâmica, flexível.7. Você voltará à escola: praticará a formação permanente.8. Você será uma enzima: não contente de trabalhar para o mercado, você criará novas formas de colaboração social.9. Você acabará pobre: você redistribuirá suas riquezas aos que têm necessidade, pois você não poderia jamais gastar.10. Você será o Estado: as empresas devem trabalhar como parceiras do Estado.Os liberais-comunistas são pragmáticos que detestam a ideologia. Não há mais classe operária explorada, há apenas problemas concretos a resolver: a fome na África, o destinos das mulheres muçulmanas, a violência fundamentalista. O que mais adoram os liberais-comunistas são as "crises humanitárias", em que eles podem dar o melhor de si mesmos. Ao invés de diagnosticar a exploração colonial e imperialista nas crises da África, busca-se a melhor maneira de resolver concretamente cada problema: colocar os indivíduos, os governos e as empresas a serviço do interesse geral, fazer com que as coisas aconteçam ao invés de ficar esperando tudo dos Estados, abordar a crise de uma forma criativa e original.Eles se consideram os verdadeiros "cidadãos do mundo", que vivem o tempo todo preocupados com o destino do planeta. Se inquietam com o populismo, o fundamentalismo, o terrorismo. As raízes profundas dos problemas do mundo estão na pobreza e no desespero que produzem o terrorismo fundamentalista. Eles não estão a fim de ganhar dinheiro, mas de mudar o mundo - e de passagem, se enriquecer ainda mais. Bill Gates transformou-se - ou foi transformado - no maior benfeitor a história da humanidade. Ele demonstra todos os dias seu amor pelo próximo consagrando centenas de milhões de dólares à educação, à luta contra a fome e a pobreza.Mas, para distribuir riquezas, é preciso ganhá-las - ou, como diriam os liberais-comunistas: tê-las criado. Essa é a questão de fundo. Para conseguir esses fundos, a empresa privada é de longe a forma mais eficiente diante dos métodos ineficientes dos Estados centralizados e coletivistas. Taxando as empresas, regulando suas atividades, o Estado se choca com sua própria razão de ser: tornar a vida melhor para o maior número de pessoas, ajudar os que necessitam. Isso daria sentido à sua vida, eles não querem ser máquinas de produzir lucros. Por isso também eles são adeptos da espiritualidade, da meditação não-confessional. Eles fazem da responsabilidade social e da gratidão seu credo: são os primeiros a reconhecer que a sociedade os favoreceu incrivelmente, o que lhes permitiu juntar grandes fortunas, daí sua obrigação de promover um retorno para a sociedade, ajudando as pessoas a terem oportunidades de seguir um caminho similar. Eles dão com uma mão o que ganharam com a outra. Soros, por exemplo, usa a metade do seu tempo em especular, a outra em atividades "humanitárias", que buscam compensar, em parte, os efeitos negativos da sua especulação. Bill Gates também tem duas caras: de um lado, um homem impiedoso, que esmaga ou compra seus concorrentes para criar um quase-monopólio. Por outro, o grande filantropo, que recorda: "De que adiante ter computadores, se as pessoas não têm o que comer?"Na oposição entre essas duas caras - smart e non smart -, a idéia mestra é a de deslocalizar, exportando a face escondida (e indispensável) da produção para os paises da periferia - non smart -, com a super-exploração e a degradação do meio ambiente.Assim Zizek se opõe a Bill Bates e os seus "liberais-comunistas".

segunda-feira, julho 10, 2006

Che cosa muove tanta passione?

Bonito artigo do L'Unità

La festa di mezzomondo tricolore
Oreste Pivetta
Batte Grosso, di sinistro in alto a destra. La festa è finita, la festa comincia. Chiudono i mondiali e siamo «campioni del mondo», come l´altra volta, quando in tribuna sedeva Pertini. Questa volta sedeva Napolitano, compassato. Centoventi mi- nuti e i rigori. Boom, che botto. Boom, che esplosione in piazza, qualcosa che rimbalza dentro il cuore. L´emozione non si misura. A questo punto non dovrebbe finire mai o dovrebbe ricominciare da capo, visto come è andata. Quanti rigori sarebbe bello vedere e rivedere in fila, dal momento che il risultato è questo. Fino a tarda notte, mentre suonano i clacson e s´allungano i cortei.In piazza del Duomo la vittoria è plurima, multinazionale, globalizzante, multietnica, multiculturale: delle badanti moldave, dei pony express peruviani, dei venditori senegalesi, dei muratori maghrebini, delle colf filippine. Nella bolgia delle bandiere tricolori e delle trombette, non si chiedono i certificati dell´anagrafe e neppure i permessi di soggiorno. La neonata cingalese con la minimaglietta azzurra o le ragazzine scollacciate e l´ombelico in mostra vestite della festa con il chador tessuto di perline o il ragazzone nero avvolto dalla testa ai piedi di tricolore tifano Italia e sono l´Italia che verrà o l´Italia già fatta. Dagli universi della vita difficile e dura si ritrovano davanti a una maxischermo, che è poi un piccolo schermo (ma non esistono maxischermi in proporzione alla giornata?) sul quale giocatori e campo appaiono quadrettati e annebbiati, insieme con i ragazzi e le famiglie della periferia, in cerca più di tutto di una ragione d´orgoglio e di una identità, di una festa in ogni caso e di comunità. Una casa insieme, una "patria" se non mi suonasse sempre un po´ retorico. Un´appartenenza, in una città della fatica che non ti regala niente. Non sarà la conquista delle piazze e del centro che si raccontò tanti anni fa in occasione di un altro mondiale, quello di Spagna, vinto. Le piazze sono di tutti ormai, degradate, impoverite, ingrigite, basta uscire dalla Stazione Centrale, dove i giardinetti fioriti di lavanda sono diventati dormitori a cielo aperto e luoghi di merende. Sono gratis, gli unici posti dove non ti fanno pagare. Ieri il piazzale della stazione era deserto. Anche quelli dei giardinetti sono andati in piazza del Duomo.Molti hanno resistito per ore al caldo torrido, asfissiante, ai riflessi del pavimento di marmorino, molti si sono ritrovati di ora in ora nella folla sempre più spessa, cercando varchi, cercando vuoti attraverso i quali far la mira al piccolo maxischermo. Ovviamente si suona, si sparano fumi multicolori. Si beve: una infinità di birra e una infinità di acqua minerale. Anche in questo caso commercio ambulante che si improvvisa: secchioni di ghiaccio nei quali si raffreddano lattine e bottiglietti. Secondo la sveltezza e la flessibilità dell´improvvisazione e del bisogno.Ovviamente non è solo piazza del Duomo. I maxischermi sono anche a Lampugnano, all´Idroscalo, all´Arena... Centomila duecentomila gli spettatori, poi quelle delle macchine che hanno cominciato caroselli poco scaramantici fino dal mattino: finestrino abbassato e bandiera che sventola. La vittoria sulla Germania ha incoraggiato. A sperare c´erano anche i tedeschi: vincendo l´Italia, sarebbero stati moralmente i secondi. Ma il vero tifo è di Ahmed che mi grida in faccia «Fprza Italia», mi viene da ridere e ride anche lui. Tutti italiani.Centomila o duecentomila sono tanti per una partita di calcio, più quelli che sono rimasti a casa, più i tramvieri della metropolitana che la partita proprio non l´hanno vista. Che cosa muove tanta passione. Certo televisioni e giornali ce l´hanno messa tutta, a ingigantire l´evento, che è gigante per conto suo davanti alla miseria o addirittura alla tragedia dei tempi, mentre s´ascoltano le notizie dei morti di Bagdad. La passione di tanta gente in piazza si capisce anche con la voglia di un giorno di rivincita o di rimozione: tutti protagonisti prima di tornare alla pazienza di ogni giorno.La piazza è passione anche se si vede male. È un dramma quando Zidane fa il rigore per colpa di Materazzi. La palla che rimbalza sulla linea e non si capisce che fine davvero abbia fatto: dentro o fuori. Poi si legge il risultato: la Francia in vantaggio. È impazzire di trombe quando Materazzi pareggia per sè e per l´Italia. Si vedono ancora Zidane e la testata di Zidane, i colpi di Henry, la forza di Cannavaro, la rabbia di Gattuso. Totti che esce, Del Piero che gioca. Lo striscione sopra l´Arengario: «Vinciamo oggi, dimentichiamo Moggi». Sì, c´è anche lo scandalo alle spalle. Roba da farci ridere dietro o da infilarci tutti nel partito dei mafiosi. Zero a zero, ancora. Lo spettacolo lo dobbiamo soffrire tutto.Pirlo e gli altri, Wiltord e gli altri. Alla pari. Sofferenza pura. Materazzi, Trezeguet, viene da chiudere gli occhi. Trezeguet l´italiano, fuori. Grosso chiude. Finchè il sipario cala. La festa e la festa. L´importante è partecipare. Una volta tanto, per un pomeriggio, la festa è stata di mezzomondo in piazza, che ha pure vinto. Come diceva quel film, domani è un altro giorno. Si vedrà. Speriamo. Nessuno ci può togliere dalla testa che Berlino sia un augurio. Un giorno per illudersi. In piazza giunge ancora la voce di un commentatore televisivo: «È stata la vittoria della classe operaia». Illudiamoci.
Pubblicato il 10.07.06

domingo, julho 09, 2006

Coração torto




O meu nome não é brasileiro
e o desespero tão profundo
sequer transparece na face
A minha raça é estrangeira
e o que me comove pode ser
mais forte do que o que me move
Eu reverencio a estranheza


Alguma poesia minha está em

http://www.secrel.com.br/jpoesia/elorenzotti1.html












domingo, julho 02, 2006

Cortázar

"Carta ao Observer

Prezado senhor
Já terá algum de seus leitores assinalado a escassez de mariposas este ano? Nesta região, habitualmente prolífica, quase não as vi, com exceção de alguns enxames de borboletas. Desde março, apenas observei, até agora, um Cigeno, nenhuma Etérea, muito poucas Teclas, uma Quelônia, nenhum Olho de Pavão Real, nenhuma Catocala e nem sequer um Almirante Vermelho no meu jardim, que no ano passado esteve sempre cheio de mariposas.
Pertundo-me se esta escassez é geral e, em caso afirmativo, a que se deve isso.
M.Washbourn
Pitchcombe, Glos

De Jogo da Amarelinha.

Ruídos


Fico louca com barulho. O do caminhão de gás, o do vendedor de pamonha de Piracicaba, de morango de Atibaia, todos com seus caminhoes caindo aos pedaços, mas o alto-falante é mil! Andar no parque, então, também não dá mais. Aos domingos vai no parque em frente à MTV um sujeito que estuda sax! Ele vai treinar lá! Certo que ele fica bem nas janelas do prédio da Opus Dei,- e eles merecem esse flagelo, além dos chicotinho que usam- mas eu não mereço!

sábado, junho 10, 2006

Poesia no fim de semana

Orides Fontela, poeta paulista, falecida há alguns anos, na miséria. Um dia vi a noticia- “poeta despejada”. Combina com ela o verso de Maiacóvski abaixo. Bibliotecária de escola estadual, solitária, agora que foi publicada sua obra completa saiu uma matéria na TV Cultura, uma entrevista com ela, num apê no Minhocão.
Dizia: "O trabalho não deu certo, o amor não deu certo..." Mas a poesia sim, grande poeta.
Escolhi três poemas de Orides do livro Trevo, Editora Claro Enigma.

Iniciação

Orides Fontela

Se vens a uma terra estranha
Curva-te
Se este lugar é esquisito
Curva-te
Se o dia é todo estranheza
Submete-te
-és infinitamente mais estranho

Meio-Dia

Orides Fontela

Ao meio-dia a vida
é impossível
A luz destrói os segredos:
A luz é crua contra os olhos
Ácida para o espírito.

A luz é demais para os homens.
(Porém como o saberias
quando vieste à luz
de ti mesmo?)
Meio-dia!Meio-dia!
A vida é lúcida e impossível.

Torres

Orides Fontela

Construir torres abstratas
porém a luta é real. Sobre a luta
Nossa visão se constrói.O real
Nos doerá para sempre

segunda-feira, junho 05, 2006

Maiakovski

"Os versos para mim não deram rublos
nem mobílias de madeiras caras.
Uma camisa lavada e clara, e basta-
para mim é tudo"

quinta-feira, junho 01, 2006

Viveremos!

Sueli Carneiro
Doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra
“A mulher que cuida das crianças pede ao menino de cinco anos que explique o que acontece. Ele diz: ‘A polícia entrou aqui, mandou todas as crianças encostarem na parede desse jeito e falou que levaria todos nós para a Febem se a gente não contasse onde estavam escondidas armas e drogas’. O garoto se juntou à menininha, mãos na parede. Mais sete crianças repetiram o ato.” (Folha de S.Paulo, 21/5/06)

A reportagem da qual retirei essa epígrafe estende-se na descrição das incursões policiais na favela dos Pilões (zona sul de São Paulo). Numa das visitas, três mortos: jovens com menos de 30 anos, todos trabalhadores, um deles epiléptico. O patrão de dois deles custeou os funerais e ofertou aos corpos urnas de madeira nobre talvez num gesto simbólico de resgate da dignidade daqueles jovens e expressão da consciência da injustiça cometida. É apenas um dos casos das dezenas que estão vindo a público pela pressão de órgãos de imprensa, do Ministério Público Estadual de São Paulo e do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), pela divulgação da relação e acesso aos laudos periciais dos suspeitos mortos pela polícia em represália ao assassinato de policias civis e militares e agentes penitenciários nos ataques perpetrados pelo PCC. Previsível, mas sempre chocante.
Os líderes das associações de policiais civis e militares foram unânimes em responsabilizar as autoridades públicas pelos atos daquela organização criminosa e sobretudo pela morte dos policias e agentes penitenciários insuficientemente equipados para exercerem a função de proteger os cidadãos e defender a própria vida. E, sobretudo, por não estarem informados, segundo alguns relataram, das ameaças que pesavam sobre a vida deles. Sentiram-se traídos.Para o governador de São Paulo, a culpa é da elite brasileira, segundo ele “uma minoria branca muito perversa”. Quem somos nós para discordar de quem conhece, como ninguém, a natureza profunda dos seus. De minha parte entendo que todos estão certos em sua avaliação. Tanto os líderes das associações de policiais quanto o governador. No entanto, nem as autoridades responsáveis pela segurança pública ou pelo sistema prisional, nem a elite perversa são o alvo da represália dos policiais ou do governador. A ira de ambos se abate sobre os de sempre, da parte dos policiais por ação e do governador por omissão ou conivência diante da matança indiscriminada dos que são alvo (embora majoritariamente negros) da perversidade da tal minoria branca. Em 16 de maio, informava-se que, no IML do bairro de Pinheiros em São Paulo, havia fotografia de 15 corpos. A maioria era de jovens, negros e apresentava buracos de bala na cabeça. Desde então os números não pararam de aumentar. Não quero, como sempre, chorar mais esses mortos em praça pública. Clamar contra esse genocídio como tantas vezes já o fiz aqui. Talvez porque, dessa vez, as coisas foram tão longe, atingiram um ponto insustentável, em que é preciso conter a consciência, em sua capacidade de vislumbrar e analisar o horror em toda a sua plenitude, para não desistir. É preciso esquecer por instantes os números de vítimas chacinadas e celebrar a vida e a luta pela emancipação que se trava a cada dia que tanto faz recrudescer a violência e o ódio racial quanto aumenta em cada um de nós a consciência do porquê morremos. É preciso ir ao encontro da vida para buscar forças para resistir. Vou para as ruas, o palco dos sacrifícios e redenções. Respiro o ar poluído desta São Paulo estranha, admiro a paisagem cinzenta deste outono invernal. Nas voltas por alguns quarteirões, vejo crianças negras como as encontradas na favela dos Pilões: meninas de “olhos negros, grandes e redondos penteado maria-chiquinha.” Mas elas estão voltando da escola, mochilas pesadas às costas, trancinhas balançantes. Tagarelam alegremente. Uma alegria que sopra em minha mente um eco que diz: “Viveremos!” Atravesso uma praça e um grupo de adolescentes negros joga carteado. Minha mente viciada na paranóia da violência não deixa de imaginar: se passar um carro de polícia por aqui agora, eles estarão em apuros e pode até acontecer o pior. Parece que jogavam buraco e uma dupla vence festejando com alegre algazarra. Rejeito a armadilha da mente paranóica e deixo a algazarra alegre penetrar dentro de mim e ela também me anuncia: “Viveremos!” Qualquer um de nós pode ser a próxima vítima, mas neste momento ainda estamos aqui, vivos, em testemunho de resistência, contrariando as estatísticas, os prognósticos e os desejos da minoria citada pelo governador ou de seus braços armados, os exterminadores do futuro. Mas, em cada um desses rostos negros que encontro em minha caminhada, pulsa uma esperança de vida que desafia a violência do racismo. Viveremos! Os intelectuais racistas do final do século 19 e começo do 20 estimavam que em torno de 2015 o Brasil estaria livre da “mancha negra”. Sobrevivemos à escravidão, temos sobrevivido à exclusão, sobreviveremos aos periódicosgenocídios. Somos “uma petralhada inextingüível” como disse, em desespero, Monteiro Lobato. Viveremos!

sábado, maio 27, 2006

Grande Einstein

Além da sua maravilhosa ciência, nos deixou frases igualmetne maravilhosas:

"Somente duas coisas são infinitas. O Universo e a estupidez humana. E eu não estou certo sobre o primeiro."

Carta à Folha de S. Paulo-3

À coluna "Mônica Bergamo", do jornal A Folha de S.Paulo

Prezados senhores,
foi uma surpresa das mais desagradáveis ler hoje em "curto circuito" a chamada para o lançamento do livro do torturador e assassino Carlos Alberto Brilhante Ustra (também grafado Ulstra), responsável pela morte de Alexandre Vanucchi Leme, entre outros.
Fosse o Brasil um país mais consequente em relação à sua memória histórica, este e outros torturadores já estariam no banco dos réus ou, no mpinimo, expostos à execração pública, como é o caso na Argentina.
Como sou otimista e militante dos Direitos Humanos, tenho firme esperança de que os arquivos da ditaduta virão a público e que os torturadores serão julgados.
Que a Folha publique artigos assinados por militares e políticos ligados à repressão e tortura é parte do jogo democrático, que estra colune endosse como "evento" um lançamento desta natureza, sem dar ao público a chance de saber de qual autor se trata, é abusar do exercício da desinformação.
Tortura é crime hediondo e imprescritível, convém não esquecer. E se hoje São Paulo sofre com o crime organizado e com uma polícia truculenta, talvez seja útil procurar as raízes não na guerrilha, como afirmou o Sr Romeu Tuma, mas na formação dos grupos para-militares de repressão política (dos quais o Doi-Codi fez parte), na "ascenção" da polícia militar, na institucionalização da tortura, nos esquadrões da morte, no massacre do carandiru (a mando do capuitão Ubiratan, que na época da ditadura agia sob comando de Ustra/Ulstra); enfim, na ausência do estado de direito implementada pela Ditadura Militar.
Marta Nehring

Carta à Folha de São Paulo-2

Cara Mônica Bergamo
Conheço-te, desde sempre, em suas escritas passagens por nosso cotidiano das quais não sou muito assíduo, devo confessar. Mas ao ler sua coluna sobre o torturador Ustra (24/05/06), passo a vê-la com outros olhos. Digo isto, é claro, por interesse pessoal no que escreveu e, especialmente, pela coragem de escrever palavras que somente ecoam o silêncio da memória comemorativa brasileira, que tudo lembra desde que não passe de festa ou feriado. Fui preso, aos 4 anos de idade, em minha casa. Assistia ao Vila Sésamo, programa infantil de qualidade rara se comparado aos dias atuais. Fui interrompido pelos agentes do Sr. Ustra, diga-se do Doi-Codi, que à nossa casa invadiram com suas metralhadoras e palavras ofensivas. Estávamos eu, minha irmã de 5 anos e minha tia, grávida de 8 meses. Colocaram-nos no camburão e nos levaram ao "escritório" deste cidadão que hoje tem endereço, salário do Estado e dá-se ao ato provocativo de escrever livros versando sobre parte das mais horríveis na história do Brasil. Lembro-me, ainda no camburão, de ter brincado com uma daquelas armas que, por pura incompetência, haviam deixado ao meu lado e eles "caindo em cima" para tentar arrancá-la de mim, como se eu fosse O Terrorista. Nas dependências deste então órgão público/estatal pude ver minha mãe e meu pai em tortura. Após ser assim recebido pelo Ustra (ele em pessoa, não é uma entidade, uma alucinação, é este homem que hoje se diz vítima), fui levado a um lugar onde, através de uma janelinha, a voz materna, que meus ouvidos estavam acostumados a escutar, me chamava. Porém, quando eu olhava, não podia reconhecer aquele rosto verde/arroxeado/ensangüentado pelas torturas que o oficial do Exército brasileiro, Carlos Alberto Brilhante Ustra, havia infligido à minha mãe. Era ela, mas eu não a reconhecia. Esta cena eu não esqueço, não porque arquiteto uma vingança imaginária contra o Ustra. Ela não é uma informação da qual disponho, mas uma marca que talvez só por meio da terapia de meu depoimento público possa acalmar, deslocar para espaços periféricos de minha memória. Reitero meu desejo de vê-lo, o torturador Ustra, no banco dos réus respondendo por seus crimes. Se assim for permitido, serei a primeira testemunha de acusação. abraço Edson Teles

sexta-feira, maio 26, 2006

Carta à Folha de São Paulo

Reproduzo carta do amigo Alípio Freire à Folha de S. Paulo contra o cinismo.

Campinas, 25 de maio de 2006
À coluna "Mônica Bergamo",do jornal A Folha de S.Paulo
Prezados senhores
Venho, por meio desta, me somar a quantos já escreveram manifestando protesto sobre o modo como foi noticiado, na coluna "Curto Circuito", pela jornalista Mônica Bergamo, o lançamento do livro do senhor Carlos Alberto Brilhante Ustra (também dito Ulstra).É intolerável (por, no mínimo, irresponsável) que tal informação seja veiculada sem o esclarecimento sobre o histórico do autor. Não apenas o senhor Ustra foi um dos mais cruéis torturadores do período da ditadura civil-militar implantada com o golpe de 1964, e responsável direto por sevícias e assassinato de diversos opositores daquele regime, como este é um fato público e conhecido por todos os cidadãos minimamente informados. Não faltam depoimentos e outros documentos que o comprovem.Omitir esses fatos implica conivência com a tortura.Noticiar e promover trabalhos de torturadores do modo como foi feito em "Curto Circuito", tem como resultado a "naturalização" da prática da tortura, significando, portanto, apostar na impunidade dos seus autores, o que é um modo de acumpliciar-se com os sicários.A não responsabilização e punição legal dos torturadores do período do regime civil-militar, garantidas pela Lei de Anistia (a anistia recíproca) de agosto de 1969, implicou a institucionalização do método. A não revisão até o momento dessa legislação e o silêncio a este respeito, significa a perpetuação da execrável prática.À impunidade garantida pelo Estado, que até o presente se alicerça no estatuto da "anistia recíproca" em que se fundou a Lei de Anistia de agosto de 1979, não deve corresponder o cinismo da sociedade civil.
Alipio Freire- jornalista

sábado, maio 20, 2006

Canto 81- Ezra Pound

Canto 81
(Fragmento)
O que amas de verdade permanece,
o resto é escória.
O que amas de verdade não te será arrancado
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
Mundo de quem,meu ou deles
Ou não é de ninguém?
Veio o visível primeiro, depois o palpável
Elísio, ainda que fosse nas câmaras do inferno,
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
O que amas de verdade não te será arrancado

A formiga é um centauro em seu mundo de dragões.
Abaixo tua vaidade, nem coragem
Nem ordem, nem graça são obras do homem,
Abaixo tua vaidade, eu digo abaixo.
Aprende com o mundo verde o teu lugar
Na escala da invenção ou arte verdadeira,
Abaixo tua vaidade,
Paquim, abaixo!

O elmo verde superou tua elegância.
“Domina-te e os outros te suportarão”
Abaixo tua vaidade
Tu és um cão surrado e largado ao granizo,
Uma pega inchada sob um sol instável,
Metade branca, metade negra
E confundes a asa com a cauda
Abaixo tua vaidade
Que mesquinhos os teus ódios
Nutridos na mentira,
Abaixo tua vaidade
Ávido em destruir, avaro em caridade,
Abaixo tua vaidade,
Eu digo abaixo.

Mas ter feito em lugar de não fazer
isto não é vaidade
Ter, com decência, batido
Para que um Blunt abrisse
ter colhido no ar a tradição mais viva
Ou num belo olho antigo a flama inconquistada
Isto não é vaidade.
Aqui o erro todo consiste em não ter feito.
Todo:na timidez que vacilou.

sexta-feira, maio 19, 2006

Será que vai estourar nas paradas?

Classe Média
Max Gonzaga
Ouvir no link
http://www.youtube.com/watch?v=KfTovA3qGCs

Sou classe média

Papagaio de todo telejornal

Eu acredito na imparcialidade da revista semanal

Sou classe média

Compro roupa e gasolina no cartão

Odeio coletivos e vou de carro que comprei à prestação

Só pago impostos

Estou sempre no limite do meu cheque especial

Eu viajo pouco, no máximo um pacote CVC tri-anual
Mas eu “to nem aí”

Se o traficante é quem manda na favela

Eu não “to nem aqui”

Se morre gente ou tem enchente em Itaquera

Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com o Estado quando sou incomodado

Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão

O pára-brisa ensaboado

É camelô, biju com bala

E as peripécias do artista

Malabarista do farol
Mas se o assalto é em Moema

O assassinato é no Jardins
E a filha do executivo é estuprada até o fim

Aí a mídia manifesta a sua opinião regressa

De implantar pena de morte ou reduzir a idade penal

E eu que sou bem informado

Concordo e faço passeata

Enquanto aumenta a audiência

E a tiragem do jornal
Porque eu não “to nem aí”

Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aí”

Se morre gente ou tem enchente em Itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda

Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta

Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida
Sou classe média

terça-feira, maio 16, 2006

PCC,Estado e emergências fascistas


Leoonardo Wen/Folha Imagem


Boletim eletrônico mensal
do Nu-Sol - Núcleo de Sociabilidade Libertária
do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP
no. extra, maio de 2006
www.nu-sol.org

Não foi somente mais uma rebelião nos presídios. Há algum tempo já não se trata mais disso. No dia 11 de maio, quinta-feira, três dias antes do dias das mães, começou uma rebelião em favor de benesses à elite do PCC (Primeiro Comando da Capital ou Partido do Crime), e acertos de contas com o governo paulista e sua polícia, terminando na segunda-feira, 15 de maio, após mortes, incêndios, paralisações forçadas de escolas a empresas, boatos e mais boatos, e negociações concluídas com ordem passada pelo PCC a todas as prisões rebeladas para voltarem à normalidade.
Tudo começou em São Paulo e rapidamente se espalhou para outros estados (Mato Grosso, Espírito Santo, Paraná). Desta vez a rebelião não se restringiu às prisões de adultos na capital ou no interior. Ela vazou. Atingiu a Febem-SP e atravessou as cidades realizando execuções de policiais, incendiando ônibus, demonstrando força amedrontadora aos cidadãos apavorados.
A metrópole parou na tarde de 15 de maio. As pessoas corriam para suas casas e punham-se diante dos televisores ouvindo representantes governamentais, intelectuais, coordenadores de ONGs, anchor-men esbaforidos, todos querendo mais punições, mais reformas penais e medidas enérgicas contra o crime organizado. Eles quase pediram pena de morte quando exigiram prisão perpétua para encarcerar bandidos perigosos para sempre.
Com tamanho autoritarismo, muitas vezes travestido de defesa do bom cidadão, eles fortalecem a emergente configuração atual em que presos organizam-se numa estrutura análoga à do Estado, mas ilegalmente. Como velhos ressentidos estes paladinos da justiça não se cansam, também, de acusar os defensores dos direitos humanos como responsáveis pelo atual estado de ilegalismos, confundindo, propositalmente, a atuação destas organizações que combatem pocilgas com proteção ilegal a criminosos.
Aproveitam-se da situação para apavorarem mais ainda os espectadores e os navegadores de internet, identificando uma força a ser abatida, e pretendendo limpar o terreno para a continuidade dos fascismos. Eles pedem que o totalitarismo do PCC seja enfrentado pelo fascismo de Estado. Entretanto, no meio disso tudo aparecem as vozes equilibradas, os perfis democráticos, os planejadores de uma novo sistema em nome da justiça e da democracia. Reabre-se, então, o banquete de ONGs e institutos que vivem das desgraças da prisão propondo novidades por meio de propostas justas, na justa medida em que consagram o controle unificado, a coordenação institucional ou a fiscalização mútua.
Noutras ocasiões o PCC fazia rebeliões para afirmar seu poder diante dos prisioneiros buscando acabar com a luta pela hegemonia entre as diversas facções organizadas. Mostrava força internamente numa guerra objetiva, ao mesmo tempo em que iniciava tentativas de gestões diplomáticas com o Estado. Agora, controlando as prisões  a grande massa encarcerada cuja maioria se encontra em São Paulo , já estabelecido na Febem e articulado com os cidadãos livres (ex-prisioneiros, parentes de encarcerados, novos militantes) ele quer mais. O PCC busca legitimidade deflagrando uma iminente guerra e a suspendendo mediante negociações. Ele diz, à sua maneira, quantas organizações legais precisam de seu ilegalismos para continuar lucrando.
O PCC não pratica terrorismo. Ele procura uma via institucional para estruturar a representação ou o comando militar sobre a população encarcerada (seja ela composta exclusivamente de prisioneiros ou ampliada, com funcionários e técnicos, pois não há prisão em que prisioneiros e seus controladores não estabeleçam relações ilegais com ou sem telefones celulares). Não há crime sem legalidade e empregos úteis, sabemos há muito tempo! Mas a quem interessa a revelação dos legalistas que atuam neste fluxo de ilegalismos?
No início da noite de segunda-feira, depois de encerradas as negociações, as autoridades governamentais diziam que tudo estava sob controle. As autoridades intelectuais, pela televisão e imprensa, falavam de mais reformas no sistema penal, sobre a necessidade de ações enérgicas, como foram usadas as comunicações para propagar boatos, e mais uma outra vez de tolerância zero. O PCC avisou que faria uma ação em mais de um estado da federação e fez. Exigiu negociações com governos e as obteve. Comprometeu-se a encerrar as rebeliões e cumpriu. E ainda chamam o PCC de integrante do crime organizado? E ainda acham que é em nome do combate ao PCC que se deve investir mais em segurança?
O PCC mostrou que já é um Estado que governa sua população em diversos territórios de aprisionamentos chamados prisões, febems, favelas e periferias, nos bairros, cidades e estados, independentemente de continuidades fronteiriças. O PCC está organizado de maneira centralizada como um partido único e governa determinando ações descentralizadas visando a garantia de sua elite governamental e de seus súditos encarcerados. O PCC funciona por meio de pagamento de impostos, recrutamento de homens-bomba (não similares aos terroristas mas devedores que saldam dívidas atuando como sicários), articulação de milícias, tráfico de drogas, incluindo suas imediatas conexões legalizadas, retemperando as ilegalidades e escravizando seus devedores.
O Estado totalitário PCC assenta-se em dispositivos estratégicos bélico-diplomáticos, estruturados em um discurso familiar cujo ápice de sua consecução e execução está nas cabeças cortadas exibidas como troféus. Este é o expediente reservado aos traidores do partido. As degolas escancaram definitivamente a rigidez hierárquica combinada com afetuosas familiaridades que agregam irmãos e primos, circunscrevendo a obediência diante da autoridade superior para obter proteção e propagar assujeitamentos.
O PCC como Estado, que já pacificou as prisões com muita guerra, com seu estatuto e estrutura militarizada, exige paz no exterior, mostrando sua força com atos de violência que ensaiam uma guerra. O Estado legal e legítimo só têm uma maneira de lidar com este Estado totalitário: fazer negociações circunstanciais ou simplesmente dizimá-lo. A guerra e os novos tratados de paz já ultrapassaram os muros das prisões, avançaram sobre as periferias das grandes cidades e encontraram fluxos ilegais em ramos respeitosos da economia.
Não se acaba com o tráfico com mais repressão. Já constatamos isso nos últimos 20 anos, desde que se tentou justificar a ação internacional contra o narcoterrorismo e o narcotráfico na América Latina, Ásia e Oriente Médio. Muito menos com tolerância zero ou penas alternativas. Estas somente propiciaram o crescimento estatístico dos indivíduos penalizados, das ações criminalizáveis e da burocracia penal. Hoje em dia, quando nem o Exército controla o seu monopólio legal de armas, a indústria do controle do crime cresce e com ela os lavadores de dinheiro, as conexões ilegais, idem. Idem, idem, idem.
O fluxo moralista-repressor aumenta de velocidade e de densidade. Não se fala mais em liberar as drogas, este golpe mortal nos ilegalismos atuais que passam pelas prisões para adultos e jovens definitivamente conectadas, pelos vínculos ilegais reconhecidos como inevitáveis e pelas propostas fascistas constatadas no cotidiano das mídias. No horizonte só mais guerras em cujos percursos encontraremos emboscadas, ciladas, silenciosos extermínios e prováveis reaparições de esquadrões da morte.
Na era da globalização transita quem manda e pode, como sempre foi no capitalismo, sob o Estado-nação ou o vigente consórcio de Estados. As mães continuarão chorando lado a lado, num soturno velório. Uma sobre o esquife do filho policial; a outra sobre o do seu filho bandido. Ambos vindos do mesmo lugar: um tido como sangue bom; outro como sangue ruim. A dor aumenta, o sangue quente escorre, encharca nossos pés. Isto não se sente pela televisão ou rádio. É a vida nos campos de concentração que precisa continuar para que os ilegalismos dos bacanas não cessem. Nunca houve capitalismo sem ilegalismos e o PCC é somente um parceiro ilegal no capitalismo no Brasil. Será que só no Brasil?

sexta-feira, maio 12, 2006

Finisterra



Blog português sobre navegação, muito lindo. O link está ao lado, coluna da esquerda.

segunda-feira, maio 08, 2006

Sabedoria do grafite

Inesquecivel, que, parece, existia na Avenida Rebouças
"20 trilhões de moscas não podem estar erradas: merda é bom!"

domingo, maio 07, 2006

Estrela Solitária



O astro de cinema decadente larga a filmagem e sai pelo árido interior norte-americano.Volta para casa, encontra a mãe, que não vê há 30 anos. Vai em busca de um possivel filho, que deve ter a mesma idade e nunca conheceu.
É coisa de Wim Wenders e de Sam Shepard, coisa fina. De chorar, de pensar.
"Nada mudou", diz um empoado agente de seguros, que parte em busca do ator decadente e que precisa voltar às filmagens, proque empenharam muita grana nele e romper contrato lá é coisa séria. Algema o ator e na viagem comenta: "guerra do Peloponeso, Inquisição, conquista do México....." desfia uma série de merdas em que a raça humana tem se metido ao longo dos séculos para concluir isso: somos a mesma coisa, não aprendemos, não mudamos.
Anos atrás li uma noticia de jornal com o titulo do mais recente filme de Wenders "Der Himmel über Berlin". Escrevi na hora um poema com o mesmo título, sem saber do que se tratava, um poema que ninguém gosta, só eu, uma especie de soneto que nunca havia feito (http://www.secrel.com.br/jpoesia/elorenzotti.html)
Quando a obra de arte bate com a gente, parece que temos almas semelhantes, o criador e nós, espectadores. É esse o caso.Os alemães são incriveis, me diz uma amiga, eles foram os primeiros a traduzir a filosofia oriental( veja-se o I Ching com prefácio de Jung e tradução de Richard Wilhelm).
Asas do Desejo, o céu de Berlim, é sobre dois anjos que ficam escutando nosso pensamentos, sabendo de nossas tragédias e alegrias, mas nada podem fazer. Um deles quer ser humano e acaba concretizando o desejo. Quer sentir. A segunda parte é Tão longe, tão perto. Outro anjo cai na Terra.
De anjos e de homens, de estrelas solitárias, road moveis pelo árido, somos nós ali.
Na Estrela, uma menina joga as cinzas da mãe morta sobre a cidade em meio ao deserto. A imagem é linda e comovente. No fim, todos vamos procurar a origem, não é?
Nosso criador, nossos criadores. A família, para uns imprescindível, para outros não.
Um belo filme.

quinta-feira, abril 27, 2006

Por que as pessoas escrevem?

Trecho de matéria publicada no Caderno 2 de OESP dia 29 de março de 1999
O País dos escritores do cotidiano
Elizabeth Lorenzotti

Por que as pessoas escrevem? "Elas escrevem para criar um mundo no qual possam viver", disse Anais Nin (1903-1977). Para a escritora francesa, trata-se de uma atividade absolutamente vital. "Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades - é a isso que eu chamo respirar."
E que necessidade é essa, que se impõe não apenas aos (oficialmente) eleitos pelas musas, mas a tantas pessoas comuns? Por que, em um País considerado iletrado, onde a tradição oral é maior que a escrita - e esta tem barreiras muitas vezes intransponíveis -, as pessoas tanto escrevem? Não a escritura obrigatória do trabalho, do estudo, mas aquela que quer voar, transcender. E quer seja boa ou má literatura, é uma viva expressão da individualidade. E quer seja pretensão, exorcismo, orgulho vão ou pura arte deseja chegar ao outro.
Tanta necessidade de criar por meio da palavra escrita resultou em concursos promovidos pelos mais variados setores, em editoras especializadas no autor que não tem espaço no restrito cânone da literatura oficial, em oficinas de literatura e até mesmo em escola de escritores.
Na Bienal Nestlé de Literatura, em seis concursos, de 1981 até 1997, inscreveram-se 49.342 mil pessoas. O volume de obras era de tal forma inadministrável que os organizadores, a partir do penúltimo evento, em 1994 (com 15 mil inscrições), mudaram o regulamento e o nome do evento para Prêmio Nestlé de Literatura, limitando as inscrições a obras já editadas. Em 1997, foram julgados 800 livros.
De cada concurso da Casa do Novo Autor, estabelecida há 11 anos no eixo Rio-São Paulo, participam cerca de 2 mil pessoas (e já foram realizados 110, que publicam cerca de 200 autores por edição). E há tantos outros concursos espalhados pelo País. Herança do grave e fundo sentimento português pelo ato de escrever?
"Também escrevemos para aprofundar o nosso conhecimento da vida", dizia Anais Nin, consagrada especialmente pela exploração do mundo interior feminino em seus sete volumes de diários. "Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem no labirinto; para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados."
Escrita cotidiana - Abandonado, Raimundo Arruda Sobrinho, de 60 anos, mora no canteiro central da Rua Pedroso de Morais, esquina com a Praça Hernâni Braga, no Alto de Pinheiros, em São Paulo. Sentado em um banco, Raimundo fica ali, escrevendo, a maior parte do dia, todos os dias, há seis anos. Escravizado psiquicamente, como se define, diz que escreve o que precisa. "Não quero ser lido nem quero ler ninguém", proclama, fechando rapidamente a capa que cobre seus escritos.
Para quem escreve? "Escrevo para mim." E o que faz com a produção de todos esses anos? "Não interessa", rebate, ríspido. Quer saber por que tantas perguntas, é informado que se trata de uma pesquisa com pessoas que, como ele, gostam de escrever. " Vou processar todos, então tem gente me imitando?", esbraveja.
Quando se acalma, classifica a escrita em três tipos: a vulgar ( aquela do dia-a-dia), a profissional (de jornalistas, tabeliães, etc.) e a artística (dos poetas, dos escritores). "A minha é a escrita vulgar", diz Raimundo. Vai abrindo a capa que cobre os escritos - sim, ele quer que alguém leia - e surge uma minúscula brochura artesanal, sob o título O Condicionado. O texto, em boa caligrafia, bem construído, é o início de um ensaio sobre quanto as pessoas desconhecem a mente.
"Tudo conspira contra mim", queixa-se Raimundo. "Para escrever, tenho de enfrentar a sonolência, a caneta que falha e a chuva."