À coluna "Mônica Bergamo", do jornal A Folha de S.Paulo
Prezados senhores,
foi uma surpresa das mais desagradáveis ler hoje em "curto circuito" a chamada para o lançamento do livro do torturador e assassino Carlos Alberto Brilhante Ustra (também grafado Ulstra), responsável pela morte de Alexandre Vanucchi Leme, entre outros.
Fosse o Brasil um país mais consequente em relação à sua memória histórica, este e outros torturadores já estariam no banco dos réus ou, no mpinimo, expostos à execração pública, como é o caso na Argentina.
Como sou otimista e militante dos Direitos Humanos, tenho firme esperança de que os arquivos da ditaduta virão a público e que os torturadores serão julgados.
Que a Folha publique artigos assinados por militares e políticos ligados à repressão e tortura é parte do jogo democrático, que estra colune endosse como "evento" um lançamento desta natureza, sem dar ao público a chance de saber de qual autor se trata, é abusar do exercício da desinformação.
Tortura é crime hediondo e imprescritível, convém não esquecer. E se hoje São Paulo sofre com o crime organizado e com uma polícia truculenta, talvez seja útil procurar as raízes não na guerrilha, como afirmou o Sr Romeu Tuma, mas na formação dos grupos para-militares de repressão política (dos quais o Doi-Codi fez parte), na "ascenção" da polícia militar, na institucionalização da tortura, nos esquadrões da morte, no massacre do carandiru (a mando do capuitão Ubiratan, que na época da ditadura agia sob comando de Ustra/Ulstra); enfim, na ausência do estado de direito implementada pela Ditadura Militar.
Marta Nehring
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