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sexta-feira, outubro 14, 2016
Quem pintaria as tragédias do século XXI?
Museu Reina Sofia, alguns anos atrás. Há uma preparação, uma sala com vários esboços, para afinal, se chegar na frente da enorme obra, pintada cerca de dois meses após uma das grandes ignomínias da espécie humana.
E quando chegamos a Guernica, o silêncio, um silêncio das pessoas como nunca vi em qualquer museu.
É monumental o respeito a esse grande momento da grande Arte reproduzindo a que ponto chegou, no fim da década de 1930, a espécie humana.
Ninguém comenta, ninguém cochicha, ninguém faz nada a não ser ver-- -isto para mim foi inédito.
Aquela obra que ficou décadas fora da Espanha, e só voltou depois, bem depois de acabado o franquismo, conforme vontade do autor.
Aliás, conta-se -- e acho que deve ser verdade -- aquela historia de um nazista ter perguntado a Picasso: “Foi você que fez?”.
E ele respondeu: “Não, foram vocês”.
Escrevo sobre a guerra civil espanhola e seus horrores- aliás, falar em horror de guerra é pleonasmo- por ter assistido a um documentário sobre o período. Há filmes sobre o bombardeio de Guernica- nazistas testando suas armas pré II GG e assassinando mais de 1.600 mulheres crianças, homens, velhos no pequeno povoado. E houve uma comoção mundial.
Hoje, cerca de 80 anos e inúmeros horrores mundiais depois não há mais grandes comoções. Ou, sim, há, mas passam rapidamente e são substituídas por outras.
E fiquei pensando em que novo Picasso seria capaz de reproduzir as tragédias do século XXI. Fotógrafo, pintor, grafiteiro?
Nestes tempos difíceis e sombrios que vive a humanidade, penso na Arte, ainda a Arte, mais uma vez a Arte. Ela pode não nos salvar, mas sem ela não estaríamos mais aqui.
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