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domingo, janeiro 04, 2015
Minha cronica na Escrita blog
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O silêncio, os sinos, a esperança
Elizabeth Lorenzotti
A escritora Anaïs Nin disse uma vez que queria ler livros que lhe trouxessem esperança. Acho que, então, já era uma mulher madura. Afinal, a vida de Anais não combinava muito com esse sentimento – a literatura sim, muito dela – mas a de seus amigos e a do amante Henry Miller não mesmo.
Penso em Anaïs, sempre penso em Anaïs porque gosto do que ela escreveu – escrever, para ela, era tão vital quanto respirar – e de como viveu. E também penso que todos nós, mergulhados em tempos sombrios, por mais durões/descrentes/rebeldes com e sem causa, queremos a esperança. Queremos a luz.
A convenção do tempo condensado em 365 dias, a convenção do ano novo remete a parar e refletir. O que só o silêncio pode proporcionar. Silêncio num mundo de máquinas e sons incontroláveis, impossível. Silêncio no mundo exterior? Arthur Schopenhauer já reclamava, veemente, contra o ruído...no século XIX. (em Parerga und Paralipomena, Schopenhauer, 1851).
No caso dele, eram as chicotadas nos cavalos das carruagens. Nomeava vários escritores que se pronunciaram sobre o tema, inclusive Kant e Goethe, e, se não todos, “teria sido por falta de oportunidade.”
“Que o estalar de chicotes seja permitido parece-me mostrar da forma mais clara como insensata e impensada é a natureza da humanidade”, dizia, e daqui o vejo, o filósofo pessimista, arrancando os cabelos e xingando os condutores de carruagens.
Leio que Schopenhauer introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafisica alemã. Interessante, porque ia mesmo falar sobre alguma coisa de budismo – estudei durante três anos esta filosofia. Naquele templo da cultura japonesa na Avenida do Cursino, em São Paulo, estava escrito:
“Vamos buscar o significado de ter nascido e a alegria de viver." Aprendi muito por lá. Reparei que os monges budistas de várias tradições, de várias partes do planeta, sempre são sorridentes. E nem sempre em situações felizes.
Antes já havia conhecido algo do monge zen vietnamita Thich Nhât Hanh, traduzido pela inesquecível Odete Lara, com seus pequenos livrinhos de meditação, de ensinamento sobre a atenção ao que se faz aqui e agora – desde lavar pratos a caminhar. Ele ensinava assistentes sociais durante a guerra do Vietnã e continuou nessa lida depois, pelo mundo.
Não, não estou falando de religião, mesmo porque não tenho. Falo sobre conhecimento de nossa mente, e acho que o budismo foi pioneiro na psicologia.
E, porque é um novo ano, eu resolvi falar sobre algo do budismo, da esperança e da linda cerimônia no 31 de dezembro, que consiste em tocar o Grande Sino ( bonshô). A partir das 22 horas, cada um uma badalada. Chama-se a Cerimônia das 108 badaladas, quando se renovam as esperanças para o ano novo, tomando-se consciência das 108 ilusões que podem dar sentido próprio ou impróprio à vida.
Tantas ilusões e mais o fato inexorável de que estamos pautados pela impermanência, mas também pela interdependência de todos os seres e fenômenos. O budismo nos ensina que nunca podemos ser felizes isoladamente, sem levar em conta a felicidade do outro, de todos.
Num barco perdido em meio a temerosas borrascas, se uma pessoa mantiver a consciência poderá ajudar os outros a se salvar do perigo, diz Thich Nhât Hanh no início de seu livrinho O milagre da mente alerta, referindo-se a histórias verdadeiras.
Num mundo onde a vida se banaliza, perde o valor, é de grande utilidade repetir: cada pessoa é muito importante.
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