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quarta-feira, novembro 04, 2015
Poemas inéditos de Orides Fontela
Do Estadão:
Em 2009, a poeta Orides Fontela (1940-1998) apareceu no sonho de Gustavo de Castro intimando-o a encontrar seus poemas perdidos. Ele obedeceu. Voltou ao apartamento de Gerda Schoeder, com quem Orides viveu no fim da vida, e encontrou alguns textos inéditos. A pesquisa continuou em outras gavetas e em outras conversas, e o resultado virá a público entre meados de novembro e o início de dezembro em duas obras. O Enigma de Orides, escrito por Castro com o apoio do Projeto Rumos, do Itaú Cultural, é uma espécie de romance-reportagem-biografia sobre um dos principais nomes da Geração 60, com depoimentos de, entre outros, Antonio Candido e Davi Arrigucci Jr. O outro é um volume com toda sua poesia, incluindo as 23 garimpadas agora. A edição é da Hedra.
segunda-feira, julho 27, 2015
Vito Gianotti,ciao
Vito Gianotti conheci no movimento sindical de SP nos anos 70/80. Era da Oposição Sindical Metalurgica, italiano e ex-padre se não me engano. Dedicou-se à comunicação dos trabalhadores, a ensiná-los a escrever e fazer seus jornais, a tentar furar o cerco midiático o que sempre fez no Rio, no Nucleo Piratininga de Comunicação.
Muito triste com este post do amigo e companheiro Jesus Carlos que vejo de cara ao acessar. Sim, compartilhamos de sua amizade, confiança, e desfrutamos de sua alegria de viver.
Pessoas como Vito Giannotti são insubstituíveis.
Este quadro era a marca registrada do Vito e seu nucleo Piratinginga de Comunicação, que assim contou sua historia:
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"Il Quarto Stato" é uma grande tela de 293 cm X 545, do pintor italiano Pelizza da Volpedo, que foi exposta pela primeira vez em 1902, na Mostra Quadrienal de Turim (Itália). Pelizza iniciou a pintura deste quadro dez anos antes, entre 1890 e 1892, na pequena cidade rural de Volpedo, região de Piemonte, norte da Itália, cuja capital é Turim.
O quadro foi preparado para estar pronto para uma exposição em Paris, em 1900, ou em Veneza, em 1901. Mas não deu. Também foi frustrada sua expectativa de que esse quadro fosse premiado. Na exposição de Turim não teve maiores sucessos.
O quadro reflete as posições políticas do autor. Este, nascido em 1868, de uma família de pequenos agricultores, desde adolescente se dedicou à arte da pintura. Aos 22 anos, Pelizza se aproximou das idéias socialistas muito difusas entre os trabalhadores da cidade e do campo da Itália daquela época e sua visão de mundo se expressa neste quadro síntese da sua vida político-artística.
Nos tempos de preparação da tela, o autor a chamou de “O Caminho dos trabalhadores”. Finalmente, quando esta foi enviada para a exposição de Turim, foi batizada de “Quarto Stato”. O nome se referia à história européia e especificamente à Revolução Francesa. Nesta revolução vitoriosa, a burguesia derrubou o domínio do Primeiro e do Segundo Estado, respectivamente a nobreza e o clero, e instaurou o domínio da nova classe ascendente, a burguesia, o Terceiro Estado.
O nome de “O Quarto Estado” significava uma tremenda mudança, uma revolução social. O século XX que começava seria o século da nova classe vitoriosa, o proletariado. O Quarto Estado.
A vida de Pelizza terminou poucos anos depois da exposição da sua maior obra, de forma trágica, em 1907. Aos 39 anos viu seu filho recém-nascido morrer e logo depois sua mulher, enfraquecida e abalada, veio a morrer também. Pelizza, sozinho, com duas filhas pequenas, se enforcou no seu ateliê.
quinta-feira, junho 25, 2015
sexta-feira, maio 22, 2015
sábado, fevereiro 07, 2015
No Escritablog, minha crônica: Pepe Velo, um cavalheiro da utopia.
Pepe Velo, um cavalheiro da utopia
Elizabeth Lorenzotti
No sábado 31 de janeiro, na Casa do Concelho, cidade de Celanova, foi criada a Asociación Cultural Xosé Velo.
Não, o parágrafo acima não tem erros de português. Está escrito em galego, e refere-se a uma cidade da Galicia onde nasceu o “intelectual celanovés, ibérico e universal” Xosé Velo Mosquera, como assinala o convite que recebi pela rede social.
Mas quem é este homem cujo centenário vai se comemorar em 2016? Eu contei sua historia num conto/reportagem/memória publicado aqui nesta Escritablog (e digo que vale a pena conhecer este homem):
(http://escritablog.blogspot.com.br/2013/11/un-e-nengum-conto-e-reportagem-memoria_29.html)
Este homem que tive a sorte de conhecer na minha adolescência, em São Paulo, foi a figura principal do sequestro do navio Santa Maria, com outros companheiros portugueses e espanhóis, para protestar contra as ditaduras de Franco e Salazar, em 1961.
Falar hoje em sequestros é associar acontecimentos sanguinários, violentos. Não foi absolutamente o que se deu com o Santa Maria, onde – além de não haver violência, os passageiros de segunda classe tiveram acesso à primeira e o grupo de sequestradores, que se tornou foco de atenção internacional – lavou toda a louça ao desembarcar no porto de Recife, após um acordo com o então presidente do Brasil Janio Quadros, que os asilou.
Pois este homem, poeta, professor, revolucionário romântico, que fez da sua vida a sua arte e sua política, coerentíssimo, já morreu há muitos anos, em 1972. E faria 100 anos no próximo 2016. Sua brilhante historia está sendo resgatada pela recém-criada Asociación Cultural Xosé Velo, pois mesmo em sua própria terra foi sendo esquecida, apagada, eclipsada.
Leio o texto abaixo num ótimo artigo do galego Xosé Gonzáles Martínez que tem como titulo “O 3 de febreiro cúmprense 54 anos do remate do secuestro do trasatlántico Santa María.” (Sim, neste mês de fevereiro o sequestro completa 54 anos.)
“Penso que houbo una maquinaria de ocultamento da súa figura, do seu papel no secuestro. Primeiro no Franquismo, pero veu a democracia e seguimos na mesma", subrayaba Paco Macías, uno de los impulsores de la asociación, conjuntamente con el celanovés Aser Álvarez, que reiteró que el colectivo abierto a todos los vecinos es "recuperar a súa figura e a súa extensa obra, a maior parte inédita", matizó en referencia a las más de 30 carpetas con cientos de poemas, ensayos, cartas y discursos que conserva su hijo, Víctor Velo.”
Mas fico pensando, aqui e agora, que sentido há em falar sobre um revolucionario e suas utopias em um mundo sem utopias e à beira de catástrofes cotidianas e gerais?
Quando o medo, a depressão e a impotência nos cercam, monstros ameaçadores. Se o século XXI é absolutamente incompatível com aqueles anos 1960, quando nem o mais competente profeta imaginaria o cenário atual.
Vejam: quando o navio foi entregue às autoridades brasileiras, no porto de Recife, Pepe Velo colocou nos altofalantes a Ouverture 1812, de Tchaikovsky, como podemos saber continuando a ler o texto do jornalista galego:
“O mesmo acto de entrega da nave ás autoridades brasileiras foi dunha estética pouco común, pero que Pepe Velo soubo materializar en todos os extremos. Antes de guindar a áncora, escoitouse polos altofalantes, a todo volúme, a Obertura 1812 de Txaikovsxki, nos momentos finais, canda o repíque das campás, as descargas de fusilería e as salvas de artillería se mesturaban cos berros do pobo pola victoria. Arriouse a bandeira republicana cos membros do DRIL formados, mentres moita xente cantaba a “Marsellesa”.”
Nosso cavalheiro morou em São Paulo até morrer, em 1972, onde o conheci, na livraria Nós, editora Galicia Ceibe, bairro do Paraiso – onde publicou a grande poeta galega Rosalia de Castro e pretendia publicar sua própria obra: poemas, livros infantis, análises políticas. Tudo de melhor. .
Uma mente brilhante, um coração corajoso e terno, uma grande potência da palavra. Houve vários motins a bordo e, segundo contou o jornalista português Miguel Urbano Rodrigues, que fez parte do comando, ele “enfrentou sem armas o gentio enfurecido e dominou-o com palavras. Mas de uma maneira rara, sem demagogia, sem ameaças, com estranho calor humano. Os tripulantes ficaram envergonhados, as mulheres choraram”.
Conta-nos o jornalista galego Xosé Gonzáles Martínez que “esa oratoria que caracterizaba a Pepe Velo foi a mesma que levantou o entusiasmo e o aplauso de máis longa duración dos asistentes ao 1º Congreso da Emigración Galega celebrado en Buenos Aires en 1956”.
E por que falar de um cavalheiro da utopia em tempos tão sombrios? Volto a me perguntar. É quando leio o poema que a Associacion postou na sua pagina no Facebook. Pepe Velo o escreveu pouco antes de sua morte (tinha câncer nos pulmões) e se chama Esperança.
É a utopia que nos faz caminhar. Espero que caminhemos, tateando para escapar das trevas e fazer, de novo, tempos em que cavalheiros e damas da utopia sejamos todos nós.
(O poema começa assim, na minha tradução)
“De onde me vem o fôlego para cantar tanta esperança?”)
ESPRANZA
“Malia o dente que come a semente” (dito popular)
(malia pode ser traduzido por apesar)
De donde me ven o folgo
para cantar tanta espranza...
Ai o ámbito propicio
Ai a axeitada labranza
Ai a semente no sulco
endexamais devorada
e as oportunas regas
e a graza da poupanza
Ai a terra, eterna virxe
milenios a deflorala.
Ai a colleita pra todos
a matar toda-las fames...
E os soños sen pesadelo
Ai ! o soñar acordado!
Inercia de quen vai indo
Graza eterna de ir chegando
Malia quen endexamais algo dera
Malia quen sen consolar chorara
Malia quen para chegar espera
Malia quen para viver matara
Pois que perguntas, xa sabes
de donde me ven o folgo
para cantar miña espranza :
Da vison do futuro
anque sempre se chega,
endexamais se alcanza..
O coletivo cultural criado agora em homenagem a Pepe Velo pretende editar alguns de seus melhores trabalhos, criar uma pagina na web com todo tipo de material sobre sua figura e possivelmente um audiovisual biográfico. Também existe a ideia de fazer um monumento em sua cidade natal, através de um crowdfunding.
domingo, janeiro 04, 2015
Minha cronica na Escrita blog
http://escritablog.blogspot.com.br/2015/01/o-silencio-os-sinos-esperanca-elizabeth.html
O silêncio, os sinos, a esperança
Elizabeth Lorenzotti
A escritora Anaïs Nin disse uma vez que queria ler livros que lhe trouxessem esperança. Acho que, então, já era uma mulher madura. Afinal, a vida de Anais não combinava muito com esse sentimento – a literatura sim, muito dela – mas a de seus amigos e a do amante Henry Miller não mesmo.
Penso em Anaïs, sempre penso em Anaïs porque gosto do que ela escreveu – escrever, para ela, era tão vital quanto respirar – e de como viveu. E também penso que todos nós, mergulhados em tempos sombrios, por mais durões/descrentes/rebeldes com e sem causa, queremos a esperança. Queremos a luz.
A convenção do tempo condensado em 365 dias, a convenção do ano novo remete a parar e refletir. O que só o silêncio pode proporcionar. Silêncio num mundo de máquinas e sons incontroláveis, impossível. Silêncio no mundo exterior? Arthur Schopenhauer já reclamava, veemente, contra o ruído...no século XIX. (em Parerga und Paralipomena, Schopenhauer, 1851).
No caso dele, eram as chicotadas nos cavalos das carruagens. Nomeava vários escritores que se pronunciaram sobre o tema, inclusive Kant e Goethe, e, se não todos, “teria sido por falta de oportunidade.”
“Que o estalar de chicotes seja permitido parece-me mostrar da forma mais clara como insensata e impensada é a natureza da humanidade”, dizia, e daqui o vejo, o filósofo pessimista, arrancando os cabelos e xingando os condutores de carruagens.
Leio que Schopenhauer introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafisica alemã. Interessante, porque ia mesmo falar sobre alguma coisa de budismo – estudei durante três anos esta filosofia. Naquele templo da cultura japonesa na Avenida do Cursino, em São Paulo, estava escrito:
“Vamos buscar o significado de ter nascido e a alegria de viver." Aprendi muito por lá. Reparei que os monges budistas de várias tradições, de várias partes do planeta, sempre são sorridentes. E nem sempre em situações felizes.
Antes já havia conhecido algo do monge zen vietnamita Thich Nhât Hanh, traduzido pela inesquecível Odete Lara, com seus pequenos livrinhos de meditação, de ensinamento sobre a atenção ao que se faz aqui e agora – desde lavar pratos a caminhar. Ele ensinava assistentes sociais durante a guerra do Vietnã e continuou nessa lida depois, pelo mundo.
Não, não estou falando de religião, mesmo porque não tenho. Falo sobre conhecimento de nossa mente, e acho que o budismo foi pioneiro na psicologia.
E, porque é um novo ano, eu resolvi falar sobre algo do budismo, da esperança e da linda cerimônia no 31 de dezembro, que consiste em tocar o Grande Sino ( bonshô). A partir das 22 horas, cada um uma badalada. Chama-se a Cerimônia das 108 badaladas, quando se renovam as esperanças para o ano novo, tomando-se consciência das 108 ilusões que podem dar sentido próprio ou impróprio à vida.
Tantas ilusões e mais o fato inexorável de que estamos pautados pela impermanência, mas também pela interdependência de todos os seres e fenômenos. O budismo nos ensina que nunca podemos ser felizes isoladamente, sem levar em conta a felicidade do outro, de todos.
Num barco perdido em meio a temerosas borrascas, se uma pessoa mantiver a consciência poderá ajudar os outros a se salvar do perigo, diz Thich Nhât Hanh no início de seu livrinho O milagre da mente alerta, referindo-se a histórias verdadeiras.
Num mundo onde a vida se banaliza, perde o valor, é de grande utilidade repetir: cada pessoa é muito importante.
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