sábado, janeiro 05, 2013

Amigos

Eu me sinto bem por ter amigos queridos , sensíveis, com alma poética, sendo ou não sendo. Amigos que vão vivendo nas quebradas do mundaréu, como dizia o Plinio Marcos, nadando contra a maré, caindo e levantando. Sou mesmo privilegiada pelos amigos que tenho. Um deles me mandou pelo correio um livro, como ele diz, que precisava ser escrito. Um balanço existencial. Disse : "esqueça o valor literário, julgue apenas como o coração". Esse amigo maravilhoso, da vida inteira, é difícil descrever em palavras: um personagem. As passagens importantes de sua vida sempre foram marcadas por belos textos.Ator, publicitário, jornalista, tantas coisas. Uma vez, descobriu crianças que moravam dentro de um buraco na parede (!!!) no Anhangabaú. Fotografou e fez um texto inesquecivel , guardado comigo sempre. Fala de seu pai, incrível sedutor cheio de mumunhas "que me ensinou que ter sonhos é muito mais importante do que ter dinheiro". De sua mãe, que eu conheci, mulher de fibra aquela. De sua avó analfabeta "que me ensinou quase tudo na vida, menos andar de bicicleta".Quinze viagens que precisa fazer antes de morrer. As celebridades que adora- especialmente Alain Delon. O dialogo visual com uma lagartixa...Reclama, lembrando Pessoa, que todos os seus amigos são gente tão normal, só ele leva porrada? ( ah, se soubesse, meu amigo). Fala dos amigos mortos, e de sua prisão, por ter roubado remédio para sua mãe e...um livro. Teve a cabeça raspada, foi algemado e conviveu com companheiros de cela com quem riu e chorou e conheceu uma solidariedade difícil aqui fora. Um deles não conseguiu entender por que meu amigo tinha roubado um livro: "Prá vender?" Não, respondeu meu amigo, pra eu ler. "Nossa, é mesmo???? Ah, eu nunca consegui ler um inteiro", respondeu. Conta o Edson: "Fui preso porque não tinha dinheiro, por isso acabei roubando.Brecht tem uma peça que diz que o capitalismo perdoa todos os crimes menos o de não ter dinheiro". E lembrou Jean Valjan, de "Os miseráveis", destruído por ter roubado um pedaço de pão" Ri e chorei como balanço existencial do querido amigo.Porque a vida é assim, imita um filme de quinta categoria segundo Woody Allen, e eu concordo. Aqui, um dos poemas do Edson. A compaixão me lembrou o Kerouac. "Fodidos, sim.Mas privilegiados Os que têm cáries mesmo sem ter dentes Os doentes da cabeça aos pés Os zés manés Os apenas zés Os que amam e não são amados Os ferrados no emprego e nas filas do supermercado Os pobres coitados Os sem-tênis Os sem-pênis Os sempre sós Os , enfim,que apesar de todos os nós e os ohs! são os que o mundo tem de melhor Porque são aquilo que nós nós que temos tudo nunca saberemos ser ou ter"

Um comentário:

Tania Mendes disse...

Depois de muito tempo , nest era pós-FB, vim ao Babel e mais uma vez me delicia a forma como vc narra as coisas belas e importantes. Eu esqueci do livro do Edson, mas correrei atrás. Tentarei ligar prá ele qualquer dia/noite em que eu não esteja exausta dessa jornada de dois periodos trabajando si. Pois é, sempre pensei tbém que todos os meus amigos eram pcinipes, e vem o Edson e vc me lembrando isso. Conserta logo esta droga de telefone , precisamos retoomar nossos papos, deixei recado rápido no Face.