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terça-feira, março 13, 2012
Ariel Palacios escreve no Estadão sobre a censura e cita Facebook
“O despertar da criada”, obra que gerou grande ziquezira em terras portenhas
Artigo do correspondete do Estadao na Argentina Ariel Palacis, 12/3/2012
http://blogs.estadao.com.br/ariel-palacios/o-despertar-da-criada-um-nu-cujo-pecado-era-nao-ser-mitologico-e-de-bonus-track-um-nu-kirchnerista/
“O despertar da criada”, ou, como foi conhecido por seu nome em francês, “Le lever de la bonne”, quadro de 1887, foi pintado pelo argentino Eduardo Sívori (1847-1918). A obra foi enviada o Salão de Paris daquele ano. Ali, na França da Belle Époque, onde a sensualidade começava a aflorar, deixando de lado os tempos vitorianos que imperavam na Europa, o quadro de Sívori – que mostrava uma criada nua acordando em sua prosaica cama no quarto de doméstica – não teve repercussão significativa.
Mas, ao voltar à Buenos Aires, o Despertar da criada provocou um ciclópeo escândalo. O motivo da polêmica não era o nu em si, já que a imagem de mulheres e homens nus era comum nos quadros da época.
O fato que incomodava de verdade a sociedade local era a imagem de uma mulher pobre, nua, morena. E não o nu de mulheres loiras, com as formas dos cânones de beleza da época, ambientado em um cenário de mitologia greco-romana ou alegorias. A outra alternativa para os pintores do século XIX era o de ambientar seus nus em um lugar exótico, por exemplo, o Império Otomano. Desta forma, Jean Auguste Dominique Ingres (1780-1867) fez “Le bain turc”, que mostra uma miríade de jovens totalmente nuas (bom, algumas tem uns colares) em uma sauna de um harém na distante Constantinopla.
No caso de Sívori e sua criada, o nu ocupa quase todo o quadro. Ela está sentada em uma cama, em um quarto simples, sem decoração. É apenas o relato pictórico de uma mulher – uma doméstica – que, dona de fartos seios, está a ponto de levantar da cama, mas antes disso, coloca suas meias nos pés com calos.
Sívori, ao voltar de Paris, mostrou seu quadro na Sociedade de Estímulo das Belas Artes. “Pornografia” foi o adjetivo mais disparado contra a obra.
O quadro causou tal celeuma que os organizadores da exibição tiveram que mostrar o Despertar da criada a portas fechadas. Sequer seu nome em francês – língua da moda na época – ajudou a amainar o impacto causado.
A obra – um dos principais quadros do Museu Nacional de Belas Artes em Buenos Aires – é atualmente vista com freqüência pelos estudantes das escolas primárias.
Por qual motivo falar sobre o “Despertar da criada” hoje? Há tempos queria contar a história deste quadro. Mas, aproveitei a ocasião de que esta segunda-feira é o Dia da Livre Expressão do Nu, movimento que surgiu no Facebook ( http://www.facebook.com/events/353069764… ). O movimento protesta contra a censura peculiar existente contra alguns nus, inclusive o de “Origem do mundo”, de Gustave Coubert (mais detalhes sobre esta obra, aqui ).
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