segunda-feira, outubro 31, 2011
Drummond, 109
Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
segunda-feira, outubro 24, 2011
"A poesia é para comer", nesta quarta, no Rio
Portugueses amam a poesia. Esse texto abaixo fala sobre o lançamento de "A Poesia é para comer" organizada por Ana Vidal, de Sintra, que escolheu poemas de 80 poetas de língua portuguesa com alguma menção a comida para seu belo livro. Fico feliz por tambem ter sido selecionada.
Não conheço Ana, ela leu meu poema pela internet. É o que está mais do que acontecendo, finalmente: a internet democratiza, não precisamos mais de panelinhas literárias!
Nesta quarta, a partir das 19h30, no café do Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro.http://lulacerda.ig.com.br/a-poesia-e-pra-comer-chefs-brasileiros-e-portugueses/
Chefs brasileiros e portugueses reuniram receitas para a montagem de “A poesia é pra comer”, com poemas correspondentes a cada receita e, ainda, ilustrações de obras de artistas plásticos do Brasil e de Portugal. O livro será lançado nesta quarta-feira (26/10), às 19h, no Jardim Botânico, com pratos do Jojô Bistrô, da Joana Carvalho, uma das que sugeriram receitas. Luciana Fróes fez a seleção dos chefs nacionais. Nomes como Claude Troisgros, Roberta Ciasca, Renata Saboya, Alex Atala, e ilustrações de artistas como Vik Muniz e Portinari embelezam as páginas, compondo a união de comida, poesia e obras de arte.
domingo, outubro 23, 2011
sábado, outubro 22, 2011
Buenos Aires homenageia músico brasileiro morto pela ditadura argentina
Do blog http://giseleteixeira.wordpress.com/2011/10/22/francisco-tenorio-jr-para-lembrar-e-escutar/
Reproduzo no blog a coluna de Ruy Castro, publicada hoje na Folha de Sáo Paulo. A dica foi do Iberê.
No dia 18 de março de 1976, o pianista brasileiro Francisco Tenório Jr., 33, estava em Buenos Aires para uma temporada no Teatro Rex com seus patrícios Vinicius de Moraes e Toquinho. Naquela noite, saiu do hotel Normandie, onde estavam hospedados, e deixou um bilhete: “Vou comprar cigarros e um remédio. Volto já”. Não voltou -nunca mais.
Fora confundido com um militante procurado pela ditadura argentina e levado preso. Por falar bem espanhol e com sotaque portenho, não acreditaram que fosse brasileiro, músico e inocente. Passaram a torturá-lo, com a colaboração, a partir do quinto dia, de agentes brasileiros da Operação Condor, braço internacional das ditaduras argentina, brasileira, chilena e uruguaia.
Nove dias depois, seus algozes se convenceram de que tinham se enganado. Mas, já então, Tenório estava cruelmente machucado. Pior: vira o rosto deles. Não podiam devolvê-lo à rua. O jeito era matá-lo, o que fizeram com um tiro, no dia 27. Dali Tenório foi dado como “desaparecido”, e o Brasil nunca se empenhou em elucidar o fim de um de seus filhos mais talentosos -autor, em 1964, aos 21 anos, do grande disco instrumental “Embalo”.
Os detalhes gravíssimos sobre a morte de Tenório só começaram a aparecer dez anos depois, em 1986, e mesmo assim porque um membro da inteligência argentina resolveu contar. Pois, agora, os argentinos, que não estão varrendo a sua ditadura para debaixo do tapete, nos darão em breve nova lição.
No dia 16 de novembro, às 14 h, a cidade de Buenos Aires, por iniciativa do deputado portenho Raul Puy, homenageará Tenório com uma placa na fachada do hotel Normandie, na rua Rodríguez Peña, 320, de onde ele saiu para morrer. Ela dirá: “Aqui se hospedou este brilhante músico brasileiro, vítima da ditadura militar argentina”.
sexta-feira, outubro 21, 2011
A poesia é para comer
No sabado, 29, às 11 horas, na Casa Guilherme de Almeida, em SP, rua Macapá, 387.
Estou muito feliz por ter um poema meu nessa antologia.
Aquio, o texto da Ana Vidal de apresentação:
INTRODUÇÃO E AGRADECIMENTOS
Há muito tempo que versos e petiscos se cozinhavam na minha mente, em lume brando, como convém a uma receita que se quer apurada, insinuando no meu espírito aromas irresistíveis de cozinha de infância. Nasci numa família em que a gastronomia foi sempre – ao longo de gerações – um culto e um prazer, com honras de biblioteca e pesando, até, na escolha de itinerários de viagem. E o que pode haver de mais poético do que as memórias de um tempo em que tudo era assim, brando e promissor, sem pressas nem atropelos, apesar da sede imensa de uma vida inteira pela frente, por beber ainda?
Enquanto tudo se espera, tudo pode acontecer…
A ideia de reunir num mesmo livro duas das minhas paixões – a poesia e a gastronomia (na sua vertente culinária) – foi tomando forma naturalmente, deixando-me água na boca e na imaginação. Impunha-se encontrar uma fórmula original, que glorificasse igualmente as duas artes e as casasse harmoniosamente, prevenindo o risco de divórcio. Ambas são de personalidade forte e muita sensibilidade: nubentes difíceis, portanto. Mas possíveis, porque iluminadas pela mesma chama. Agostinho da Silva afirma-o, como ninguém, num dos seus pequenos e magníficos poemas:
A quem faz pão ou poema
só se muda o jeito à mão
e não o tema.
Também Carlos Drummond de Andrade reconhece esta similaridade entre o alimento do corpo e o do espírito:
Deixaste-nos mais famintos,
poesia, comida estranha,
se nenhum pão te equivale…
Ou Aníbal Beça, que vai mais longe e “saboreia” palavras como frutos, de tal modo que nos deixa quase a salivar também:
O fruto palavra
de doce mascavo
repuxa viscoso
no tacho da boca
mel caramelado
Inspirei-me ainda na ancestralidade desse misterioso, complexo e tantas vezes incompreendido universo feminino, a que naturalmente pertenço, expresso com golpe de asa e mestria neste verso de Ana Luísa Amaral:
E descascar ervilhas ao ritmo de um verso:
A prosódia da mão, a ervilha dançando
em redondilha.
ou nesta concisa e tão expressiva análise sensorial de Regine Limaverde:
Tentei o doce de tua boca
mas provei o salgado de meus olhos.
Enfim, descoberta a fórmula – uma antologia de poesia lusófona, em que cada texto contivesse pelo menos uma referência culinária e esta pudesse dar origem a uma receita, lancei-me à saborosa tarefa da pesquisa de poemas. Encontrei, naturalmente, muitos mais do que os que constam neste livro, mas seria impossível apresentar aqui essa recolha exaustiva. Houve que fazer uma selecção, cujo critério é da minha inteira responsabilidade.
Não posso deixar de agradecer, em primeiro lugar, a todos os poetas de Portugal, Brasil e demais países lusófonos, a verve e o rasgo poético. Sem eles, verdadeiros autores deste livro, ele não existiria ou seria apenas uma compilação de cardápios, mais ou menos inspirados. É justo que sublinhe os poetas brasileiros vivos aqui representados, pelo extraordinário carinho e entusiasmo com que aderiram a este projecto. A escolha dos poetas presentes nesta antologia não cedeu a quaisquer critérios ideológicos (políticos, religiosos ou outros). O único denominador comum que aqui se poderá deparar, além do tema, é a PALAVRA – e, por maioria de razão, a palavra poética – livre por natureza. Privilegiou-se, isso sim, uma representação tão abrangente quanto possível, no tempo, no espaço geográfico e no estilo. Por isso se encontrarão clássicos e desconhecidos, dispostos nestas páginas de forma propositadamente aleatória.
A qualidade dos poetas e dos poemas exigia igual rigor na escolha das receitas culinárias, razão pela qual elas foram entregues a alguns dos maiores magos da actual cozinha lusófona. Com as asas próprias dos artistas – e eles são-no, de pleno direito – inspiraram-se nos poemas que receberam como desafio, deixando-se contagiar pelo espírito e ambiente das palavras, e, acrescentando-lhes rasgo e técnica, enriqueceram este livro com as suas extraordinárias criações. Para todos eles vai o meu segundo agradecimento, bem como a minha deleitada admiração. Um justíssimo destaque para José Avillez, primus inter pares, que desde a primeira hora abraçou esta ideia e lhe deu o seu valioso apoio.
O meu terceiro agradecimento dirige-se a todos os artistas plásticos que, com as suas obras de arte, adicionaram forma e cor a esta aventura sensorial e assim a engrandeceram excepcionalmente. O universo de selecção foi o mesmo que para poetas e cozinheiros: os países de língua portuguesa como nacionalidade dos artistas. Dos clássicos e tradicionais bodégons à expressão livre do abstraccionismo contemporâneo, da pintura à escultura, passando pela cerâmica, estas obras são o perfeito contraponto para poemas e receitas.
Aos prefaciadores Astrid Cabral e Nuno Júdice, a minha gratidão pelo privilégio que representam para este livro as suas palavras, tão belas quanto generosas. Devo também um agradecimento muito especial a José Bento dos Santos, profundo conhecedor dos segredos e história da gastronomia, e, na sua pessoa, à Academia Portuguesa de Gastronomia, pela atribuição de um prémio à forma inicial deste livro. Foi uma honra que muito me tocou. Agradeço igualmente à Casa Fernando Pessoa e ao Instituto Camões, pelas honrosas chancelas.
Last but never the least, o meu comovido “obrigada” à incansável, divertida e talentosa equipa feminina com quem embarquei nesta aventura de editar um livro no Brasil: Renata Lima, fada-madrinha deste projecto transatlântico, cuja varinha mágica tudo consegue e tudo resolve. Sem o seu precioso contributo, nada disto teria sido possível. Fernanda Carvalho, responsável pela pesquisa iconográfica, cuja sensibilidade e bom gosto juntaram o luxo das imagens ao meu casamento de poemas e receitas, conferindo ao conjunto, além de uma beleza adicional, o toque picante de um triângulo amoroso. Heloísa Faria, que com mestria e originalidade coreografou os bailados nupciais de letras, paladares e imagens, assinando um projecto gráfico que tão bem exprime o espírito que presidiu a este livro. Luciana Froes, sábia viajante pelo olimpo alquímico dos sabores e aromas do mundo – imagino-a facilmente como uma discípula de Brillat-Savarin, embrenhada nas suas Méditations de Gastronomie Transcendante – que foi a nossa preciosa ponte com a nata dos chefs do Brasil.
A excelência do contributo de cada uma destas parceiras de elite acrescentou a estas páginas um inestimável valor. A comunicação entre nós foi tão fácil que, logo desde o início, esqueci a distância de um oceano entre nós. Foi um verdadeiro prazer trabalhar convosco, amigas!
Quanto ao título, surgiu-me com a maior das naturalidades: a proclamação apaixonada de Natália Correia, na sua “Defesa do Poeta”, não poderia ser mais apropriada e consentânea com o espírito deste livro. Faço minhas as suas palavras: a poesia é para comer, sim. É alimento vital, calórico e energético, que nos deixa lambuzados os dedos da alma, e a chorar por mais. É um alimento tão precioso e essencial como o que damos ao corpo. E, tal como esse, igualmente perigoso: se mal usado, pode matar-nos de fartura enquanto nos promete a vida eterna.
Finalmente, permito-me convocar, como lema para este livro, o espírito de harmonia universal desenhado pelo poeta Thiago de Mello, querido amigo de além-mar, nos seus memoráveis Estatutos do Homem:
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura das palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Ana Vidal
Nota importante: Esta antologia viu pela primeira vez a luz do dia em 2007, naquilo que posso considerar um esboço do que eu queria que ela fosse (cumprido, finalmente, nesta edição), com uma modestíssima tiragem e sem qualquer divulgação mediática. Ainda assim, tive o prazer e a honra de vê-lo duplamente premiado: logo nesse ano ganhou um Gourmand Cookbook Award, na qualidade de “Best Food Literature Book 2007 (Portugal)” e, dois anos depois, o de “Melhor livro de Literatura Gastronómica”, atribuído pela Academia Portuguesa de Gastronomia.
quinta-feira, outubro 20, 2011
quarta-feira, outubro 19, 2011
Vinícius de Moraes, 98,
A Ponte de Van Gogh
O lugar não importa: pode ser o Japão, a Holanda, a campina inglesa.
Mas é absolutamente preciso que seja domingo.
O azul do céu ecoa na esmeralda do rio
E o rio reflete docemente as margens de relva verde-laranja
Dir-se-ia que da mansão da esquerda voou o lençol virginal de miss
Para ser no céu sem mancha a única nuvem.
A calma é velha, de uma velhice sem pátina
As cores são simples, ingênuas
A estação é feliz: o guarda da ponte chegou a pintar
De listas vermelhas o teto de sua casinhola.
E, meu Deus, se não fossem esses diabinhos de pinheiros a fazer caretas
E a pressa com que o homem da charrete vai:
- A pressa de quem atravessou um vago perigo
Tudo estivesse perfeito, e não me viesse esse medo tolo de a pequena ponte levadiça
Desabe e se molhe o vestido preto de Cristina Georgina Rosseti
Que vai de umbrela especialmente para ouvir a prédica do novo pastor da vila.
Itatiaia, 1937.
terça-feira, outubro 18, 2011
A luta por ‘Democracia Real’ no coração de “Occupy Wall Street”
11/10/2011, Michael Hardt e Antonio Negri, Foreign Affairs e Uninomad
http://www.foreignaffairs.com/articles/136399/michael-hardt-and-antonio-negri/the-fight-for-real-democracy-at-the-heart-of-occupy-wall-street e http://uninomade.org/
As manifestações sob a bandeira de Occupy Wall Street ressoam em tantas pessoas, não só porque dão voz a uma sensação de injustiça econômica, mas também, e talvez mais importante, porque manifestam sofrimentos e aspirações políticas. Ao espalharem-se da parte sul de Manhattan para cidades grandes e pequenas por todo o país, mostraram que a indignação contra a ganância das grandes corporações e a desigualdade econômica é real e profunda. Mas, no mínimo tão importante quanto isso, é o protesto contra a falta – ou o fracasso – da representação política. Não é tanto a questão de se um ou outro político, esse ou aquele partido, nada faz ou é corrupto (embora isso, também, seja verdade), mas de se o sistema político representativo é, em termos gerais, inadequado. Esse movimento de protesto pode, e talvez consiga, converter-se processo democrático constituinte genuíno.
A face política dos protestos de Occupy Wall Street aparece quando o pomos ao lado de outros “acampamentos” do ano em curso. Juntos, formam um ciclo emergente de lutas. Em muitos casos, as linhas de influência são claras. Occupy Wall Streetinspirou-se nos acampamentos das praças centrais na Espanha, que começaram dia 15 de maio, depois da ocupação da Praça Tahrir, no Cairo, no início da primavera. A essa sucessão de manifestações, é preciso acrescentar vários outros protestos, como as longas manifestações na Assembleia Estadual em Wisconsin, a ocupação da Praça Syntagma em Atenas, os acampamentos de israelenses por justiça econômica. O contexto desses vários protestos são muito diferentes, claro; e não são simplesmente repetição do que acontecera noutros lugares. Mas cada um desses movimentos conseguiu traduzir para a própria situação alguns elementos comuns.
Na Praça Tahrir, a natureza política do acampamento e o fato de que os manifestantes não eram nem jamais seriam representados, em nenhum sentido, pelo atual regime, eram visíveis. A exigência “Mubarak tem de sair” mostrou-se suficientemente potente para envolver todas as demais questões. Depois, nos acampamentos da Porta do Sol em Madri e da Praça Catalunha em Barcelona, a crítica da representação política foi mais complexa. O protesto espanhol reuniu vasto conjunto de demandas sociais e econômicas – sobre o déficit público, moradia e educação, dentre outras –, mas sua “indignação”, que a imprensa espanhola rapidamente apontou como a emoção que os definia, foi claramente dirigida contra um sistema político incapaz de tratar daquelas questões. Contra o arremedo de democracia que o atual sistema representativo oferece, os manifestantes dirigiram um dos seus principais slogans: “Democracia real ya,” ou “Democracia real, já”.
Occupy Wall Street deve ser entendido, então, como mais um desenvolvimento ou permutação dessas exigências políticas. Mensagem alta e clara dos protestos, é claro, é que os banqueiros e as indústrias da finança de modo algum nos representam: O que é bom para Wall Street com certeza não é bom para o país (ou para o mundo). E parte mais significativa do fracasso da representação, portanto, deve ser atribuída aos políticos e aos partidos políticos aos quais compete representar os interesses do povo, mas que, de fato, só representam, mais claramente, os bancos e os agentes que emprestam dinheiro. Esse reconhecimento leva a uma questão aparentemente simplória, básica: a democracia não deveria ser o governo do povo sobre a pólis – quer dizer, sobre toda a vida social e econômica? Em vez disso, o que se vê é que a política tornou-se subserviente aos interesses econômicos e financeiros.
Ao insistir na natureza política dos protestos de Occupy Wall Street, não estamos dizendo que todas as questões políticas possam ser equacionadas em termos das disputas entre Republicanos ou Democratas, ou os resultados do governo Obama. Se o movimento continuar a crescer, é claro, talvez force a Casa Branca ou o Congresso a tomar novos rumos de ação, e pode vir a ser, mesmo, significativo ponto de contenção durante o próximo ciclo eleitoral presidencial.
Mas tanto o governo Obama quanto o governo George W. Bush são autores de “resgates” de bancos e banqueiros. A falta de representação, que os protestos evidenciaram, aplica-se aos dois partidos. Nessas circunstâncias, o clamor dos espanhóis por “democracia real, já” soa ao mesmo tempo, urgente e desafiador.
Se, observados em conjunto, esses diferentes acampamentos de protesto – do Cairo a Atenas, Madison, Telavive, Madrid e, agora, New York – manifestam uma insatisfação com as estruturas da representação política, então, oferecem o que, como alternativa? O que é a “democracia real” que tantos propõem?
As pistas mais claras estão na própria organização interna dos movimentos – especificamente, no modo como os acampamentos oferecem novas práticas democráticas. Esses movimentos desenvolveram-se segundo o que designamos como “uma forma multitudinária” e são caracterizados por frequentes assembleias e estruturas participativas para construir e tomar decisões. (E vale a pena observar que, quanto a isso, Occupy Wall Street e várias das demais manifestações também têm raízes nos movimentos de protesto antiglobalização que se estenderam, no mínimo, de Seattle em 1999 a Gênova em 2001.)
Muito se tem dito sobre mídias sociais como Facebook e Twitter, sempre usados nos acampamentos. Esses instrumentos de rede, evidentemente, não criam os movimentos, mas são ferramentas úteis, porque, em vários sentidos, correspondem à estrutura dos experimentos horizontais e democráticos dos próprios movimentos. Em outras palavras, o Twitter é útil, não porque divulga eventos, mas porque reúne as ideias de uma grande assembleia, para uma específica decisão, em tempo real.
Não espere que os acampamentos, então, desenvolvam líderes ou representantes políticos. Nenhum Martin Luther King, Jr. vai emergir das ocupações de Wall Street e outras. Para melhor ou para o pior - e certamente estamos entre aqueles que consideram OccupyWallStreet um assunto promissor - este ciclo emergente de movimentos vai se expressar através de estruturas de participação horizontal, sem representantes específicos. Tais experiências de organização democrática em pequena escala teria que se desenvolver muito mais, é claro, antes de se poder elaborar modelos eficazes para uma alternativa social, mas os ocupantes expressam poderosamente sua aspiração por uma “democracia real”.
Enfrentando a crise (financeira do capitalismo) e vendo claramente a forma como ela está sendo gerenciada pelo sistema político atual, os jovens que participam dos vários acampamentos fazem, e com inesperada maturidade, a desafiadora pergunta: “Se a democracia – ou seja, a democracia que temos hoje – está atônita sob os golpes da crise econômica e é impotente para fazer valer a vontade e os interesses da multidão, não seria a hora , talvez, de considerar que esta forma de democracia seja obsoleta?”.
Se as forças políticas geradas pelo poder da riqueza e das finanças passaram a defende interesses supostamente democráticos das atuais Constituições, incluindo a dos EUA, não é possível e mesmo necessário, hoje, propor e construir novos valores Constitucionais que possam abrir avenidas e retomar o processo de busca coletiva da felicidade? Tal raciocínio e tais demandas, já vivamente explicitados nos movimentos idênticos que acontecem na Europa e na África Mediterrânea que se implantaram pelos EUA a partir de Wall Street, mostram a necessidade de um novo processo Constituinte e democrático.
domingo, outubro 16, 2011
Profecias
Narrado pela "mãe dos poetas mexicanos", que faz umas profecias assim.
"Maiakóvski voltará a ficar na moda lá pelo ano 2150.James Joyce reencarnará num menino chinês no ano de 2124. Thomas Mann se converterá num farmacêutico equatoriano no ano de 2101."
Jorge Luis Borges será lido nos túneis no ano de 2045. Paul Éluard será um poeta de massas no ano de 2045.Franz Kafka voltará a ser lido em todos os túneis da América latina no ano de 2101.Max Jacob deixará de ser lido, isto é, seu último oleitor morrerá no ano de 2059.
Metempsicose. A poesia não desaparecerá. Seu não-poder se fará visível de outra maneira"
terça-feira, outubro 11, 2011
"Rafinha" dançou por mexer com gente rica
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5244
(..) Rafinha está em boa companhia. Deve se sentir incentivado para exercer seu rosário de preconceitos. Provavelmente pensa estar “quebrando paradigmas”, investindo contra o estabelecido e externando uma rebeldia adolescente, que lhe granjeia grande popularidade e bons cachês.
(...)Ridicularizar e humilhar quem tem poucas chances de se defender, em uma sociedade com desigualdades abissais como a brasileira, é um grande negócio. Prova isso a lista de clientes dos shows do moço, que constam de sua página na internet. São elas Votorantim, Bosch, Agroceres, LG, HP, Ernst & Young, IBM, Banco Real, Vivo, Springer Carrier, Cargil, Unilever, Motorola, Chevrolet, Sherwin Williams, Valor Econômico, Bunge, GNT (Globosat), Jornal O Estado de S. Paulo, Coca-Cola, Bradesco, ESPM etc. Segundo a Veja, ele foi visto em mais de 730 comerciais somente neste ano.
Rafinha faz parte de uma tendência do humor televisivo, que se abriu após a chegada dos humoristas do Casseta e Planeta ao vídeo. A linhagem envolve também o programa Panico (da Rede TV!) e outros imitadores, além do Zorra Total, da Globo. Todos se dizem distantes da política, independentes e praticantes de um humor anárquico e sem freios. Nem mesmo a participação de Marcelo Tas como palestrante em um encontro da juventude do DEM ,em novembro de 2008, ou de Marcelo Madureira nas palestras hidrófobas do Instituto Millenium, os comprometem, segundo eles, com idéias que não as próprias.
(...)
sábado, outubro 08, 2011
"O Crepúsculo das Letras" já está no ar
sexta-feira, outubro 07, 2011
Naomi Klein fala em Occupy Wall Street
Naomi Klein http://www.naomiklein.org/main é uma grande jornalista militante, escreveu entre outros o fabuloso No Logo, sobre os crimes das corporações. Ela esteve lá
Occupy Wall Street: o movimento mais importante do mundo hoje
7/10/2011, Naomi Klein, Commondreams
http://www.commondreams.org/view/2011/10/07-0
Foi uma honra, para mim, ter sido convidada a falar em Occupy Wall Street na 5ª-feira à noite. Dado que os amplificadores estão (infelizmente) proibidos, e o que eu disser terá de ser repetido por centenas de pessoas, para que outros possam ouvir (o chamado “microfone humano”), o que vou dizer na Praça Liberty Plaza terá de ser bem curto. Sabendo disso, distribuo aqui a versão completa, mais longa, sem cortes, da minha fala.
Occupy Wall Street é a coisa mais importante do mundo hoje[1]
Eu amo vocês.
E eu não digo isso só para que centenas de pessoas gritem de volta “eu também te amo”, apesar de que isso é, obviamente, um bônus do microfone humano. Diga aos outros o que você gostaria que eles dissessem a você, só que bem mais alto.
Ontem, um dos oradores na manifestação dos trabalhadores disse: “Nós nos encontramos uns aos outros”. Esse sentimento captura a beleza do que está sendo criado aqui. Um espaço aberto (e uma ideia tão grande que não pode ser contida por espaço nenhum) para que todas as pessoas que querem um mundo melhor se encontrem umas às outras. Sentimos muita gratidão.
Se há uma coisa que sei, é que o 1% adora uma crise. Quando as pessoas estão desesperadas e em pânico, e ninguém parece saber o que fazer: eis aí o momento ideal para nos empurrar goela abaixo a lista de políticas pró-corporações: privatizar a educação e a seguridade social, cortar os serviços públicos, livrar-se dos últimos controles sobre o poder corporativo. Com a crise econômica, isso está acontecendo no mundo todo.
Só existe uma coisa que pode bloquear essa tática e, felizmente, é algo bastante grande: os 99%. Esses 99% estão tomando as ruas, de Madison a Madri, para dizer: “Não. Nós não vamos pagar pela sua crise”.
Esse slogan começou na Itália em 2008. Ricocheteou para Grécia, França, Irlanda e finalmente chegou a esta milha quadrada onde a crise começou.
“Por que eles estão protestando?”, perguntam-se os confusos comentaristas da TV. Enquanto isso, o mundo pergunta: “por que vocês demoraram tanto? A gente estava querendo saber quando vocês iam aparecer.” E, acima de tudo, o mundo diz: “bem-vindos”.
Muitos já estabeleceram paralelos entre o Ocupar Wall Street e os assim chamados protestos anti-globalização que conquistaram a atenção do mundo em Seattle, em 1999. Foi a última vez que um movimento descentralizado, global e juvenil fez mira direta no poder das corporações. Tenho orgulho de ter sido parte do que chamamos “o movimento dos movimentos”.
Mas também há diferenças importantes. Por exemplo, nós escolhemos as cúpulas como alvos: a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o G-8. As cúpulas são transitórias por natureza, só duram uma semana. Isso fazia com que nós fôssemos transitórios também. Aparecíamos, éramos manchete no mundo todo, depois desaparecíamos. E na histeria hiper-patriótica e nacionalista que se seguiu aos ataques de 11 de setembro, foi fácil nos varrer completamente, pelo menos na América do Norte.
O Ocupar Wall Street, por outro lado, escolheu um alvo fixo. E vocês não estabeleceram nenhuma data final para sua presença aqui. Isso é sábio. Só quando permanecemos podemos assentar raízes. Isso é fundamental. É um fato da era da informação que muitos movimentos surgem como lindas flores e morrem rapidamente. E isso ocorre porque eles não têm raízes. Não têm planos de longo prazo para se sustentar. Quando vem a tempestade, eles são alagados.
Ser horizontal e democrático é maravilhoso. Mas esses princípios são compatíveis com o trabalho duro de construir e instituições que sejam sólidas o suficiente para aguentar as tempestades que virão. Tenho muita fé que isso acontecerá.
Há outra coisa que este movimento está fazendo certo. Vocês se comprometeram com a não-violência. Vocês se recusaram a entregar à mídia as imagens de vitrines quebradas e brigas de rua que ela, mídia, tão desesperadamente deseja. E essa tremenda disciplina significou, uma e outra vez, que a história foi a brutalidade desgraçada e gratuita da polícia, da qual vimos mais exemplos na noite passada. Enquanto isso, o apoio a este movimento só cresce. Mais sabedoria.
Mas a grande diferença que uma década faz é que, em 1999, encarávamos o capitalismo no cume de um boom econômico alucinado. O desemprego era baixo, as ações subiam. A mídia estava bêbada com o dinheiro fácil. Naquela época, tudo era empreendimento, não fechamento.
Nós apontávamos que a desregulamentação por trás da loucura cobraria um preço. Que ela danificava os padrões laborais. Que ela danificava os padrões ambientais. Que as corporações eram mais fortes que os governos e que isso danificava nossas democracias. Mas, para ser honesta com vocês, enquanto os bons tempos estavam rolando, a luta contra um sistema econômico baseado na ganância era algo difícil de se vender, pelo menos nos países ricos.
Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo.
A questão é que hoje todos são capazes de ver que o sistema é profundamente injusto e está cada vez mais fora de controle. A cobiça sem limites detona a economia global. E está detonando o mundo natural também. Estamos sobrepescando nos nossos oceanos, poluindo nossas águas com fraturas hidráulicas e perfuração profunda, adotando as formas mais sujas de energia do planeta, como as areias betuminosas de Alberta. A atmosfera não dá conta de absorver a quantidade de carbono que lançamos nela, o que cria um aquecimento perigoso. A nova normalidade são os desastres em série: econômicos e ecológicos.
Estes são os fatos da realidade. Eles são tão nítidos, tão óbvios, que é muito mais fácil conectar-se com o público agora do que era em 1999, e daí construir o movimento rapidamente.
Sabemos, ou pelo menos pressentimos, que o mundo está de cabeça para baixo: nós nos comportamos como se o finito – os combustíveis fósseis e o espaço atmosférico que absorve suas emissões – não tivesse fim. E nos comportamos como se existissem limites inamovíveis e estritos para o que é, na realidade, abundante – os recursos financeiros para construir o tipo de sociedade de que precisamos.
A tarefa de nosso tempo é dar a volta nesse parafuso: apresentar o desafio à falsa tese da escassez. Insistir que temos como construir uma sociedade decente, inclusiva – e ao mesmo tempo respeitar os limites do que a Terra consegue aguentar.
A mudança climática significa que temos um prazo para fazer isso. Desta vez nosso movimento não pode se distrair, se dividir, se queimar ou ser levado pelos acontecimentos. Desta vez temos que dar certo. E não estou falando de regular os bancos e taxar os ricos, embora isso seja importante.
Estou falando de mudar os valores que governam nossa sociedade. Essa mudança é difícil de encaixar numa única reivindicação digerível para a mídia, e é difícil descobrir como realizá-la. Mas ela não é menos urgente por ser difícil.
É isso o que vejo acontecendo nesta praça. Na forma em que vocês se alimentam uns aos outros, se aquecem uns aos outros, compartilham informação livremente e fornecem assistência médica, aulas de meditação e treinamento na militância. O meu cartaz favorito aqui é o que diz “eu me importo com você”. Numa cultura que treina as pessoas para que evitem o olhar das outras, para dizer “deixe que morram”, esse cartaz é uma afirmação profundamente radical.
Algumas ideias finais. Nesta grande luta, eis aqui algumas coisas que não importam:
Nossas roupas.
Se apertamos as mãos ou fazemos sinais de paz.
Se podemos encaixar nossos sonhos de um mundo melhor numa manchete da mídia.
E eis aqui algumas coisas que, sim, importam:
Nossa coragem.
Nossa bússola moral.
Como tratamos uns aos outros.
Estamos encarando uma luta contra as forças econômicas e políticas mais poderosas do planeta. Isso é assustador. E na medida em que este movimento crescer, de força em força, ficará mais assustador. Estejam sempre conscientes de que haverá a tentação de adotar alvos menores – como, digamos, a pessoa sentada ao seu lado nesta reunião. Afinal de contas, essa será uma batalha mais fácil de ser vencida.
Não cedam a essa tentação. Não estou dizendo que vocês não devam apontar quando o outro fizer algo errado. Mas, desta vez, vamos nos tratar uns aos outros como pessoas que planejam trabalhar lado a lado durante muitos anos. Porque a tarefa que se apresenta para nós exige nada menos que isso.
Tratemos este momento lindo como a coisa mais importante do mundo. Porque ela é. De verdade, ela é. Mesmo.
[1] Discurso originalmente publicado no The Nation, em http://www.thenation.com/article/163844/occupy-wall-street-most-important-thing-world-now. Tradução para o português do Brasil, de Idelber Alvelar, da Revista Fórum, em http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9518/a-coisa-mais-importante-do-mundo-.
quinta-feira, outubro 06, 2011
Microfones humanos: Michael Moore
Occupy Wall Street
Fala de Michael Moore ontem, as pessoas repetindo as frases dele- porque a policia proibiu altofalantes. Assim como ocorria no ABC paulista, no século passado, com as manifestações sindicais.
quarta-feira, outubro 05, 2011
Bernardo Soares- O livro do desassossego
Uma rajada baça de sol turvo queimou nos meus olhos a sensação física de olhar. Um amarelo de calor estagnou no verde preto das árvores. O torpor [...]
terça-feira, outubro 04, 2011
Occupy Wall Street: um belo manifesto
O pessoal do Ocupe Wall Street me lembra a utopia hippie, a utopia anarquista, várias utopias. Mas, quem vive sem utopias? Como diz o professor Antonio Candido, aos 93 anos ( disse isso aos 90, em 2008):
"Mas o que importa não é que os alvos ideais sejam ou não atingíveis concretamente na sua sonhada integridade. O essencial é que nos disponhamos a agir como se pudéssemos alcançá-los, porque isso pode impedir ou ao menos atenuar o afloramento do que há de pior em nós e em nossa sociedade. E é o que favorece a introdução, mesmo parcial, mesmo insatisfatória, de medidas humanizadoras em meio a recuos e malogros. Do contrário, poderíamos cair nas concepções negativistas, segundo as quais a existência é uma agitação aleatória em meio a trevas sem alvorada."
http://www.commondreams.org/view/2011/09/30-0
Já não há desculpas. Ou você se une à revolta que cresce contra Wall Street e nos distritos financeiros de outras cidades nos EUA, ou você está do lado errado da história.
Ou você obstrui, pela única via que nos resta – a via da desobediência civil – o saque de que são agentes os criminosos reunidos em Wall Street, a classe que acelerou a destruição do ecossistema que sustenta nossa espécie humana, ou você será fator passivo que faz crescer um mal monstruoso.
Ou você saboreia, fareja, sente, conhece a embriaguês da liberdade e da revolta, ou você afunda no pântano do desespero e da apatia. Ou você é rebelde ou é escravo.
Ser declarado inocente nos EUA, onde a lei já nada significa, onde já somos vítimas do golpe das grandes empresas, onde os pobres e os trabalhadores, homens e mulheres, já estão reduzidos à miséria e à fome, onde a guerra, a especulação financeira e o estado policial são as únicas reais atividades do Estado, onde já não existe nem o habeas corpus, onde você, como cidadão ou cidadã, já nada é além de produto de compra e venda para o sistema das empresas no poder, coisa que se usa e se descarta, é ser cúmplice nesse absoluto mal feito.
Manter-se à parte e declarar “sou inocente” é exibir a marca de Caim; é nada fazer para tentar salvar-se e ajudar os mais fracos, os oprimidos e os que sofrem. Ser inocente, nos tempos que se vivem nos EUA é exatamente igual a ser criminoso. Perguntem a Tim DeChristopher.
Escolha. Mas escolha depressa. O estado e as forças empresariais estão decididos a nos atropelar. Não esperarão, não lhe darão tempo para safar-se. Estão aterrorizados, em pânico, com medo de que a coisa se espalhe. Eles têm suas falanges de motocicletas, suas fileiras de soldados que caçam você pelas ruas com redes de plástico alaranjado e sprays de pimenta. Eles têm suas barricadas de escudos de metal montadas em cada rua que leve ao distrito financeiro em New York, onde os mandarins, em ternos caríssimos usam o dinheiro que roubaram de você, para jogar e especular e fartarem-se, ao mesmo tempo em que uma em cada quatro crianças do outro lado dos escudos de metal depende de bônus distribuídos pelo estado, para comer.
No século 17, a especulação era crime. Agiotas e especuladores eram enforcados. Hoje, governam países, controlam estados e os mercados financeiros. Disseminam mentiras que poluem a imprensa, os jornais, a internet.
Eles sabem, melhor que você, a extensão da corrupção. Sabem que todos roubam. Sabem que o jogo do sistema é jogado contra você.
Sabem que as empresas já implantaram no poder uma magra classe oligárquica e um quadro servil de políticos, jornalistas e juízes que vivem em seu pequeno Versailles blindado, enquanto seis milhões de norte-americanos são despejados da casa onde moram – em pouco tempo, haverá 10 milhões de despejados nos EUA – , um milhão de norte-americanos param de poder pagar as contas da subsistência e de médicos e remédios, e 45 mil norte-americanos morrem por ano por falta de tratamento adequado para suas doenças, quando o desemprego real já está acima de 20%, onde os cidadãos, inclusive os estudantes, consomem a vida tentando pagar financiamentos impagáveis, trabalhando em subempregos, quando conseguem algum emprego! Em mundo no qual já não há esperança. Num mundo de senhores e escravos.
A única palavra que essas empresas conhecem é ‘mais’. Estão destripando todos os últimos programas de assistência que ainda são financiados pelos impostos dos cidadãos dos EUA, de educação pública à segurança social, porque querem para eles o dinheiro de todos. Os doentes? Que morram. Os pobres? Que passem fome. As famílias? Que durmam ao relento. Os desempregados? Que se danem. As crianças, nas grandes cidades e no interior do país? Que nada aprendam, que vivam ou morram, tanto faz, na miséria e no medo. Que os jovens adultos saiam das universidades para um mundo que não lhes oferece nem chance nem trabalho nem esperança de trabalho. Que as prisões – os EUA têm o maior sistema prisional do planeta! – inchem, para poderem engolir todos os dissidentes e revoltados em potencial. Tortura? Que torturem! Que professores, policiais, bombeiros, empregados do serviço postal e trabalhadores sociais reúnam-se, mas só nas listas de desempregados. Que estradas, pontes, barragens, usinas, estradas de ferro, metrôs, transporte urbano, escolas e bibliotecas caiam, em ruínas, ou fechem. Que a temperatura do planeta suba, que os furacões, as inundações, os tornados matem aos milhares. A calota polar, que derreta, a água que continue a ser envenenada, que o ar seja cada vez mais poluído, até que a espécie humana se torne inviável.
Quem, diabos, dá bola p’rá isso? Se as ações da ExxonMobil ou da indústria do carvão ou do banco Goldman Sachs estão em alta, a vida é bela. Lucro. Lucro. Lucro. Só conhecem essa palavra, a mesma que cantam por trás da barricada dos escudos de metal da polícia. Estão com os dentes cravados fundo na sua jugular. Se você não os arrancar daí, eles acabarão com você. E acabarão com o planeta, condenando também os seus filhos e netos. Eles são cegos, estúpidos demais para ver que morrerão também, como os mais pobres já estão morrendo.
Por tudo isso, se você não se mexer e começar a lutar para derrotá-los, se você não fizer tudo o que possa para desmantelar o estado-empresa, para criar um mundo de sanidade, um mundo no qual já não sejamos obrigados a nos ajoelhar ante a ideia absurda de que os mercados financeiros poderiam governar a vida humana, todos continuaremos, como até aqui, a ser empurrados para o matadouro.
domingo, outubro 02, 2011
sábado, outubro 01, 2011
Minha crônica no Escrita Blog
http://escritablog.blogspot.com/2011/10/cronica.html
Elizabeth Lorenzotti é escritora e ex-jornalista, profissão que abandonou recentemente após anos de murros em ponta de faca, como confessa. A decisão veio junto com a conclusão de que não ama mais São Paulo. Considera-se muito feliz com seus dois livros, “Suplemento Literário, Que falta ele faz!” (Imprensa Oficial, 2007) e a biografia “Tinhorão, o Legendário” ( idem, 2010). No mundo, pela Amazon.com, deverá estar seu primeiro livro de poemas, "As Dez Mil Coisas", que será lançado dia 4 de novembro, em São Paulo. Pretende se dedicar agora a livros que a fazem feliz em Poços de Caldas (MG), para onde se mudou.