Recebi do jornalista Gutemberg Medeiros, que foi amigo de Hilda, a bela.
"Prezada,boa tarde. Segue poema de Drummond para Hilda e foto dela da época, para ter ideia de para quem ele escrevia. Ela foi muito fotografada nos anos 50 e começo dos 60, por ser uma das figuras mais destacadas da alta sociedade paulistana. Como era comum, fez muitas fotos posadas em estúdio para colunas sociais dos jornais paulistanos, como Folha da Manhã. Com seus vestidos de griffe (das grandes maisons francesas) e jóias.
Em outro extremo, fotos super cleans explorando a sua beleza, como esta. Depois, menos como escritora. Mas, ainda sim, com boa fortuna iconográfica. Como você sabe, beleza põe mesa em revistas e jornais. Este poema foi enviado pelo poeta para a poeta em carta datada de 31/12/1952. Ele com 50 anos e ela com 22. Em 1991, ela achou em seus baús este material e o disponibilizou ao Alcino Leite, que o publicou no então caderno "Letras" da Folha. Quando ela ia ao Rio de janeiro, ambos papeavam pelo calçadão da praia em Ipanema. Grande abraço,Gutemberg
Abro a "Folha da Manhã"
Por entre espécies grãfinas,
emerge de musselinas
Hilda, estrela Aldebarã.
Tanto vestido assinado
cobre e recobre de vez
sua preclara nudez.
Me sinto mui pertubado
Hilda girando em boates
Hilda fazendo chacrinha,
Hilda dos outros, não minha...
(Coração que tanto bates!)
Mas chega o Natal e chama
à ordem Hilda: não vês?
que nesses teus giroflês?
esqueces quem tanto te ama?
Então Hilda, que é sabi(I)da
usa sua arma secreta:
um beijo em Morse ao poeta
Mas não me tapeias, Hilda
Esclareçamos o assunto:
Nada de beijo postal.
No Distrito Federal,
o beijo é na boca - e junto.
Carlos Drummond de Andrade - 1952
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