Iza é uma de minhas mais queridas amigas da vida inteira. Quantas barras enfrentamos juntas, ela foi hippie de verdade, cruzou a América Latina e a Bahia, naqueles tempos. Nunca vi pessoa mais generosa, e que grande escritora! Ao longo da vida trocamos muitas cartas, quando eram de papel, e tenho tantos e tantos textos dela, alguns livros nunca publicados.
Quem sabe agora, com a internet!
Filha de baiano jornalista, seu Isael, que se estabeleceu em Andradina, com o famoso e já extinto Jornal da Região. Ele também já se foi.
Mas Iza, alma frágil para esse mundo torpe, amiga dos tempos da USP, da ditadura braba, dos cabelos compridos e das idéias também longas, tanta estrada. Iza, sua mente se dividiu, esquizofrênica.
Memória impar, trajetória que retrata uma geração, sofre, atormentada por vozes acusadoras que saem de aparelhos.
Escrevi um conto sobre ela, sobre nós, uma vez onde transcrevia alguns trechos de suas belissimas cartas ...Meu Deus, tanta gente escrevendo, entupindo editoras, livrarias, blogs, internet, e eu com esta culpa de não mostrar a bela escritura de Iza.
Cartas de papel pelo correio, ela sempre me escreve nas grandes datas. Como esta que chegou pelo meu aniversário.
Eu, que estava no maior baixo-astral, fiquei com vergonha: quem sou eu perto da grande Dor de toda uma vida?
Iza nunca se esquece de mim, nós nunca nos esqueceremos. Estamos sempre juntas no coração, mesmo sem nos vermos. Quantos telefonemas, quantos fantasmas ela me conta: às vezes falamos de coisas corriqueiras, outras vezes esses seres se interpõem e eu tento desviar, e até conseguimos rir, porque minha amiga é muito bem humorada.
O que fizeram de Iza, cordeirinho,irmãzinha? Que culpas enormes pode ter esse cordeirinho de Deus?
Quem sabe da vida, quem somos nós para imaginar que temos algum controle?
E na essência de tudo-- loucura, pretensa sanidade, gerações empalidecidas frente a outras tão brilhantes e plenas-, a Amizade. Esse sentimento nada mais que o grande Amor pelo outro.
Esse que tanto nos faz falta, e pelo qual estava eu de baixo-astral, pensando nos que eu imaginava amigos e não são, e passei tantos anos me enganando e sendo enganada, e porque a vida é assim? E por acaso isso é só comigo? Não e não.
Mas é assim, e temos que apenas nos conformar com o que somos.
Ainda bem que o lado luminoso existe, afastando trevas. Iza é uma dessas luzes que me guiam pelo caminho da simplicidade, da ingenuidade, da força, da sobrevivência do humano.
E por que me queixar eu, que tantas dessas luzes encontrei e encontro pela vida? Marisa, a moça da faxina vem me dar um presente- e ela acabou de saber que era meu aniversário- e diz: "Nós temos é de agradecer por acordar e estar vivas por mais um dia, que a vida é bela".
Sendo assim, me recolho mais envergonhada. A vida continua me ensinando.Tia Judith, nos seus quase 96 anos me liga e diz que , como sempre, diariamente, reza por mim, pela minha saúde e felicidade, e pede proteção à minha mãe que lá de cima nos vela, e se preocupa com a gente que mora aqui em Sampa, com tantas saudades das nossas montanhas de Poços de Caldas:
"Que Deus te proteja de tudo e de bala perdida". O que posso mais querer?
Aos meus verdadeiros amigos, que já conheciam a Tida Judith daqui do blog , está apresentada Marisa, baiana como o pai de Iza. E aqui, um pouquinho de Iza, vou começar a tirar seus escritos do meu baú, sua carta ao mundo, como Emily Dickinson.
Em breve tem mais.
"Em 21 de agosto de 2009
Querida Beth!
Salbe 27 de agosto, tão seu! Essa datinha tão linda é o marco de renovadas descobertas e surpresas boas ou não. Afinal tudo isto é história e já nem sabemos quem vai ser generoso conosco e salvar nossa memória...
O carrossel faz o tempo se adiantar e aportar-nos em um presente tão inesperado, seu futuro nos anos-luz.
As dificuldades tomam espaço, a vida prática dá-nos visão de vivências e realidades outras sem o menor conformismo.
E choramos e gargalhamos sem cara de máscaras. É o novo que nos espera. Parabéns! Felicidades hoje e sempre! Saúde!
Beijão da
Iza"
Quem sabe agora, com a internet!
Filha de baiano jornalista, seu Isael, que se estabeleceu em Andradina, com o famoso e já extinto Jornal da Região. Ele também já se foi.
Mas Iza, alma frágil para esse mundo torpe, amiga dos tempos da USP, da ditadura braba, dos cabelos compridos e das idéias também longas, tanta estrada. Iza, sua mente se dividiu, esquizofrênica.
Memória impar, trajetória que retrata uma geração, sofre, atormentada por vozes acusadoras que saem de aparelhos.
Escrevi um conto sobre ela, sobre nós, uma vez onde transcrevia alguns trechos de suas belissimas cartas ...Meu Deus, tanta gente escrevendo, entupindo editoras, livrarias, blogs, internet, e eu com esta culpa de não mostrar a bela escritura de Iza.
Cartas de papel pelo correio, ela sempre me escreve nas grandes datas. Como esta que chegou pelo meu aniversário.
Eu, que estava no maior baixo-astral, fiquei com vergonha: quem sou eu perto da grande Dor de toda uma vida?
Iza nunca se esquece de mim, nós nunca nos esqueceremos. Estamos sempre juntas no coração, mesmo sem nos vermos. Quantos telefonemas, quantos fantasmas ela me conta: às vezes falamos de coisas corriqueiras, outras vezes esses seres se interpõem e eu tento desviar, e até conseguimos rir, porque minha amiga é muito bem humorada.
O que fizeram de Iza, cordeirinho,irmãzinha? Que culpas enormes pode ter esse cordeirinho de Deus?
Quem sabe da vida, quem somos nós para imaginar que temos algum controle?
E na essência de tudo-- loucura, pretensa sanidade, gerações empalidecidas frente a outras tão brilhantes e plenas-, a Amizade. Esse sentimento nada mais que o grande Amor pelo outro.
Esse que tanto nos faz falta, e pelo qual estava eu de baixo-astral, pensando nos que eu imaginava amigos e não são, e passei tantos anos me enganando e sendo enganada, e porque a vida é assim? E por acaso isso é só comigo? Não e não.
Mas é assim, e temos que apenas nos conformar com o que somos.
Ainda bem que o lado luminoso existe, afastando trevas. Iza é uma dessas luzes que me guiam pelo caminho da simplicidade, da ingenuidade, da força, da sobrevivência do humano.
E por que me queixar eu, que tantas dessas luzes encontrei e encontro pela vida? Marisa, a moça da faxina vem me dar um presente- e ela acabou de saber que era meu aniversário- e diz: "Nós temos é de agradecer por acordar e estar vivas por mais um dia, que a vida é bela".
Sendo assim, me recolho mais envergonhada. A vida continua me ensinando.Tia Judith, nos seus quase 96 anos me liga e diz que , como sempre, diariamente, reza por mim, pela minha saúde e felicidade, e pede proteção à minha mãe que lá de cima nos vela, e se preocupa com a gente que mora aqui em Sampa, com tantas saudades das nossas montanhas de Poços de Caldas:
"Que Deus te proteja de tudo e de bala perdida". O que posso mais querer?
Aos meus verdadeiros amigos, que já conheciam a Tida Judith daqui do blog , está apresentada Marisa, baiana como o pai de Iza. E aqui, um pouquinho de Iza, vou começar a tirar seus escritos do meu baú, sua carta ao mundo, como Emily Dickinson.
Em breve tem mais.
"Em 21 de agosto de 2009
Querida Beth!
Salbe 27 de agosto, tão seu! Essa datinha tão linda é o marco de renovadas descobertas e surpresas boas ou não. Afinal tudo isto é história e já nem sabemos quem vai ser generoso conosco e salvar nossa memória...
O carrossel faz o tempo se adiantar e aportar-nos em um presente tão inesperado, seu futuro nos anos-luz.
As dificuldades tomam espaço, a vida prática dá-nos visão de vivências e realidades outras sem o menor conformismo.
E choramos e gargalhamos sem cara de máscaras. É o novo que nos espera. Parabéns! Felicidades hoje e sempre! Saúde!
Beijão da
Iza"
7 comentários:
Como é bom ter amigos, que falam a mesma língua, ou babelicamente não, mas que nos entendam por sinais, signos, olhares, gestos, caligrafia aleatória, como nosso querido Tide!
Passei uma tarde mágica em seu atelier, na companhia de Fred, meu filho, Rogério e Bruno, seus assistentes, cercados de todas as mensagens que ele nos deixou.
que coisa boa hein Jô. e por essas e outras, esses amigos estarão sempre com a gente
Concordo, Beth!
Não sei o que aconteceu com o meu comentário, que apareceu duplicado.
Alô, Beth,
Que texto sincero, bonito e comovente! Você fez aniversário e nos brindou com um belo presente.
Parabéns - e viva a amizade.
Gregório Macedo.
Oi Gregório, obrigada, e viva!
Daquela época as ligações são duradouras. Mistério, ou nem tanto. Talvez memórias muito marcantes ou recusa em deixar de acreditar.
As maiores amizades são do tempo do ginásio, faculdade e andanças ao leu.
Depois disso, relacionamentos pontuais, interesseiros, fugazes. Permanecem um tempo e nunca mais.
Mas companheiros velhos, tudo regulando na mesma idade e cúmplices das mesmas maluquices, persistem telefonando, visitando por nada, tomando umas (muitas) juntos, jogando conversa fora, só pelo tesão do reencontro.
A boa marca de uma geração, hein, Beth?
Beijo e feliz desaniversário tambem.
Sim Liu, talvez a recusa em deixar de acreditar, bonito isso, boa marca de parte de uma geração
bjs
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