Eu perguntei ao professor o que recomendaria para despertar o gosto pela leitura em um adolescente de hoje, não muito interessado pelas letras. Ele respondeu:
“No meu tempo eu saberia indicar, hoje eles gostam de Harry Potter, que nem sei o que é, e tenho medo de parecer bobo”.
Mas não parecerá bobo jamais quem recomenda clássicos universais para os jovens.
Na época da Segunda Guerra, Candido foi professor de um colégio alemão que se desnasificava. “Eu conquistei os alunos com As Minas do Rei Salomão, do inglês, Henry Rider Haggard, traduzido por Eça de Queiroz. (Livros Horizonte, Lisboa, 2000) Eles resistiam à leitura e adoraram. Tudo depende da forma como se apresenta o livro”, afirma.
Sim, e como lembra a ex-aluna Telê Ancona Lopez, Candido ensinava a importância fundamental do texto, valorizando a imaginação crítica, a cultura. “Quando se estuda a literatura brasileira, se vê ao mesmo tempo as correlações com as artes, a música. A literatura não se isola”. Esta é uma grande forma de despertar nas pessoas o prazer de ler.
Livros de aventuras despertam o prazer da leitura, diz o professor que, quando moço adorava a coleção Terra, Mar e Ar, com Kipling, Mark Twain, as aventuras de Tarzan, de Tom Sawyer, A Volta ao mundo em 80 dias, e tantas outras.
Ele indica todos os livros de Alexandre Dumas, de Os três mosqueteiros e O Conde de Monte Cristo, a Vinte anos depois.
E lembra-se do método que o pai usava para aproximar os filhos da leitura: “Por exemplo: um belo dia, quando eu tinha mais ou menos nove anos, meu irmão do meio, sete, e o caçula, seis, ele nos deu os dois volumes alentados do Larousse universal, dizendo: "brinquem com isto". E nós começamos a brincar, a ver as pranchas coloridas com mapas, uniformes, mamíferos, répteis, borboletas, peixes etc. Depois de passar um ano colorindo perucas de personagens históricos, pondo bigodes em imperadores romanos, cavanhaque em Luís XIV e coisas assim, tínhamos adquirido bastante familiaridade com muitos verbetes e aprendido um pouco de francês, reforçado pelas lições de minha mãe com o método Berlitz”.
Antonio Candido não é pessimista em relação à moderna cultura do audiovisual. Acentua que na nossa maior fonte cultural, a civilização grega, as obras eram feitas para serem ditas ou cantadas, o registro escrito vinha depois. Talvez a imagem e a oralidade possam imperar nesta terceira revolução industrial, mas ele não consegue imaginar.
Entretanto, afirma que uma coisa é certa: “Não é possível haver sociedade humana sem arte e sem literatura, pois o homem tem necessidade quotidiana, imperiosa e inadiável de satisfazer a fantasia, desde as formas mais modestas, como a anedota e os grafitos, até as mais altas, como o poema organizado e a estátua. Mas em nosso tempo de crise das normas, a mistura de tudo parece ter gerado a dissolução dos parâmetros, de modo que numa exposição de arte, por exemplo, ficamos sem saber se um trator em cima de um monte de jornais pode ser avaliado como se avalia um quadro de Picasso ou uma estátua de Moore”.
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