sexta-feira, setembro 07, 2007

MIlton Santos e a esperança





"Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva provirá de um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os países subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os opulentos e outras classes obesas; o indivíduo liberado partícipe das novas massas e não o homem acorrentado; o pensamento livre e não o discurso único. Os pobres não se entregam e descobrem a cada dia formas inéditas de trabalho e de luta; a semente do entendimento já está plantada e o passo seguinte é o seu florescimento em atitudes de inconformidade e, talvez, rebeldia."


Milton Santos-"Por Uma Outra Globalização - Do Pensamento Único à Consciência Universal"
Algúem contou que o cartunista Jaguar entrou numa livraria atrás de um livro de Milton Santos. O rapaz do balcão disse: "Não é Milton, é Nilton Santos", claro, o craque do futebol. Não, disse o Jaguar, com a foto do professor Milton nas mãos: é esse aqui". Ah, devolveu o balconista, esse aí é o Djalma Santos".
É pena que o Brasil não tenha acesso aos seus grandes pensadores, especialmente este que foi um raro intelectual combativo. Tive a sorte de conhecê-lo em vida, numa entrevista na Geografia da USP, para a revista Sem Terra. Vou ver se acho e posto aqui.
Negro, negro, negro, com o maior sorriso e um límpido pensamento radical. Gosto de gente assim. Uma espécie de Nobel da Geografia, escritor de 40 livros, referência contra o neoliberalismo.
Rastreando a internet ontem encontrei um artigo de outro querido professor e amigo, Jair Borin, que também já se foi, sobre Milton. Contando que, sempre que havia um problema daqueles de sempre lá no câmpus da USP, o professor estava solidário com o lado justo.Mesmo doente.
Está passando em Sampa, apenas no Cine Bombril e no Unibanco Arteplex, às 18 horas, um precioso documentário "Encontro com Milton Santos ou: O Mundo Global Visto do Lado de Cá", dirigido por Silvio Tendler.
Milton Santos, que se intitula um “intelectual outsider”, por não responder por partidos nem grupos acadêmicos, explica que a informação é o coração da globalização. É por meio dos sistemas de comunicação que as grandes empresas estabelecem atualmente seus domínios.
Diz também que o atual totalitarismo, como o nazismo, o fascismo, é o consumo. Aliás, um outro pensador, o grande cineasta Pier Paolo Pasolini, já nos anos 70 afirmava que o consumo é o fascismo da alma.
O filme se inicia com uma frase de Sartre, de 1961, falando dos horrores do mundo de então, e da esperança.
Milton Santos também era assim, cheio de esperança.
Tanto que, depois de uma hora e meia de imagens do perverso processo de globalização, que está levantando sua mais recente bandeira, a privatização da água (!!!! com fosse mercadoria e não um bem), a entrevista, a última audiovisual que o professor deu --, morreu meses depois, em junho de 2001 --, termina com uma mensagem de esperança na humanidade: "Afinal, agora que existe a humanidade em si, temos de crer nela"
Rastreando a internet, o que encontro? Em meio a várias pérolas, um crítico de cinema descendo o cacete...no público. Diz que as pessoas se regozijavam e aplaudiam,e que o filme não tem impacto!
Aplaudir no cinema é coisa rara hoje em dia, como raros são os pensadores da estatura e da seriedade de Milton Santos, neto de escravos, intelectual outsider, independente. Viva!

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