Texto do meu amigo Victor Passos
Uma amiga minha, paulista, concorda que o Rio continua lindo, mas pergunta o que fazem (os governantes) com a cidade . Não fazem. E por nada fazer, acabam fazendo muito mal a ela e ao seu povo. E há muito tempo. Para ser preciso, desde 1960, quando Juscelino transferiu a capital para Brasília e o Rio perdeu o status de Distrito Federal.
Durante 197 anos, quase dois séculos, a "mui leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro" foi a capital da Colônia, do Império e da República. Serviu às sucessivas administrações como sede do poder central. Mas depois da transferência para o Planalto, os governos federais deram uma banana para o Rio. "Agora, virem-se".
Seguiu-se um grande período de esvaziamento econômico. A cidade sobreviveu 15 anos como Estado da Guanabara, até que fundiu-se à força com o Estado do Rio de Janeiro pelas mãos da ditadura militar. Até hoje, os seus governantes (salvo pouquíssimas exceções) têm uma única coisa em comum: não amam a cidade.
Todo esse "nariz-de-cera"* é pra falar da dengue, essa epidemia que assola, mais uma vez, essa mal amada. Leio as cartas dos jornais e todas culpam os governos federal, estadual e municipal. Estes ficam num jogo de empurra, discutindo publicamente se o mosquito é federal, estadual ou municipal, quando não responsabilizam a população pela peste.
Todos têm culpa no cartório, a população (principalmente a classe média) e os governos federal, estadual e municipal. Quanto à população, os pobres tomam seus cuidados porque estão com medo e são as principais vítimas, pois dependem da péssima rede de saúde pública. Os ricos, bem, os ricos sempre têm como se proteger. Já a classe média...
A classe média tem plano de saúde, mas fica numa histeria, mandando carta para jornal culpando o descaso e a inação dos governos. Esquecem o fato de que contribuem muito para hospedar o Aedes aegypti com os seus vacilos (piscinas com água estagnada, caixas d'água mal tampadas, pneus velhos e vasinhos de planta acumulando água de chuva, além das bromélias nos jardins dos condomínios, etc).
O negócio, no entanto, é falar mal, meter o pau no Lula, no Cabral e no Maia. Ora, é claro que o governo federal tem sua parcela de responsabilidade, assim como o estadual. Mas, convenhamos, a culpa maior é do prefeito. A Cesar (Maia) o que é de Cesar. É o principal responsável. Afinal, o mosquito sentou praça foi aqui no Rio. E quem tem obrigação de cuidar da cidade é ele.
E o que faz essa nefasta criatura que atende pelo nome de Cesar Epitácio Maia? Nada além de (des)governar a cidade escondido atrás do seu blog, dando pitaco em todos os assuntos, menos nos que dizem respeito a ele; de desperdiçar verbas e equipamentos federais destinados ao combate do mosquito; de não investir um centavo na desaparelhada e caótica a rede municipal de saúde pública, mas alardear, através da imprensa, que vai deixar mais de R$ 1 bilhão em caixa para o seu sucessor. E o povo que se vire com a doença. E sofra. E morra.
Esse é o estilo Cesar de administrar. Administrar? Não está nem aí. Quer um exemplo? Durante o carnaval, festa que é marca registrada da alegria do carioca, mas que traz também os subprodutos da desordem urbana e do desrespeito ao direito de ir e vir, onde estava o famigerado alcaide? Resposta, na Avenida.
Algum incauto perguntaria, na Marquês de Sapucaí? Não, na Champs Elysée. Isso mesmo. O prefeito, que tem que tomar conta da cidade, passou o carnaval em Paris. E a gente que se dane, sem poder sair ou voltar pra casa porque os blocos bloqueiam o caminho. Os foliões, depois de umas e tantas outras, viram mijões e saem "regando" tudo que é muro, calçada, poste na maior sem-cerimônia. E tome de lixo e sujeira pra tudo quanto é lado.
Eu, que já gostei muito do carnaval carioca, hoje ergo as mãos para o céu quando emudece o último tamborim. E o prefeito em Paris. E quem o colocou no poder em 92, elegeu o candidato dele em 96, o trouxe de volta em 2000 e o reelegeu em 2004? A mesma classe merdia, que hoje reclama das ruas esburacadas, da falta de segurança, da indústria de multas que ele criou, da cidade que ele abandonou. Além da dengue é claro.
A última do prefeito, então, é um verdadeiro deboche. Na Bahia, onde foi apoiar a candidatura do neto do ACM (argh!), quando devia estar aqui, teve a desfaçatez de pedir ao Senhor do Bonfim que leve o mosquito para o mar!!! Ele que nega a existência de epidemia no Rio!!!
Pois nem assim acerta esse cínico, que já renunciou ao cargo mas não avisou a gente. O mosquito não vai para o mar pois é sabido que o mar é o único ambiente isento de insetos. Com efeito, ó Maia, pede pra sair!
* Na linguagem dos jornalistas, "nariz-de-cera" é uma expressão que identifica um parágrafo inicial ou abertura de matéria sem acrescentar informação relevante, em vez de ir diretamente ao assunto da notícia.
-