quinta-feira, março 05, 2009

Histórias das redações 6
Reveillon 2000 no Estadão
e o bug do milênio







Alguém pode imaginar a delícia de passar o reveillon num plantão de redação? Especialmente aquele reveillon, ímpar, o da passagem do milênio, que na verdade seria em 2001, mas foi mundialmente acordado para 2000.
Então, imaginem a alegria da redação do Estadão, comandada por nada menos que o futuro assassino da namorada, (meses mais tarde), o elemento Pimenta Neves. Buñuel teria prato cheio, Fellini então...Mas as chanchadas da Atlândida seriam ideais.
A redação estava toda convocada- e mesmo os que fizeram plantão no Natal ficariam de sobreaviso, para qualqer tragédia, porque pintaria o tal bug do milênio, que segundo as previsões mais catastróficas, iria desregular todos os computadores do mundo.
Caos planetário!
Nosso karma foi bem pesado. Primeiro, tivemos de participar de um jantar, lá no restaurante do prédio da Marginal, ao lado do próprio elemento Pimenta. Não só os jornalistas, mas também os trabalhadores da gráfica foram convidados para o restaurante classe A.
Disse o elemento: “Eu que convidei. Sou um déspota esclarecido!”
Depois dessa indigestão, seguiu-se, mais tarde, na redação, um malfadado sorteio. A redação, munida de copos de plástico, se me lembro, preenchidos por um duvidosíssimo champanhe, teve de formar um círculo em torno do elemento para aguardar o sorteio de umas passagens, acho que para Paris.E só eram sorteados fotógrafos.
O elemento diretor ficava cada vez mais fulo, naturalmente porque não considerava fotógrafos como jornalistas.
“Não paro enquanto não sortear um jornalista”, bradava. “E se não sair, pago do meu bolso”.
Até que saiu, e nos livramos daquela segunda cena dantesca. Daí o jornal ia fechando, o bug não houve, mas o plantão ainda não havia se encerrado, tem mais.
Na editoria de Geral, uma repórter bonitinha acabava seu plantão e se arrumou toda para - sortuda- ir pro reveillon dela. Postados numa linha diagonal,o elemento diretor, o subeditor de Geral, Antonio Gaspar, e a garota. O elemento de frente para o Gaspar, e este de costas para a menina, todos de pé.
Quando o elemento viu a repórter, seus olhos brilharam, cúpidos - como diria a literatura pornô-erótica bem adequada ao seu nível. Ele abriu os braços e foi de encontro a ela, mas o Gaspar estava no meio, e achou, não entendendo nada, que a confraternização era com ele. Abraçaram-se, e a menina foi embora, na boa.
Alguns minutos depois que o elemento saiu de cena, a editoria toda gargalhou sem parar.

Assim se encerrou o milênio no Estadão.

Jamais imaginaríamos o que o próximo nos reservava.

A manchete feita pelo elemento era bem ruim, tinhas umas três linhas das quais não me lembro e se encerrava assim: “E bug foi um fiasco”.

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