domingo, dezembro 16, 2007

Sidarta Gautama, o Buda

Estátua do Buda Amida, o Buda da Luz Imensurável

Não acrediteis numa coisa apenas por ouvir dizer.
Não acrediteis na fé das tradições só porque foram transmitidas por longas gerações.
Não acrediteis numa coisa só porque é dita e repetida por muita gente.
Não acrediteis numa coisa só pelo testemunho de um sábio antigo.
Não acrediteis numa coisa só porque as probabilidades a favorecem ou porque um longo hábito vos leva a tê-la por verdadeira.
Não acrediteis no que imaginastes, pensando que um ser superior a revelou.
Não acrediteis em coisa alguma apenas pela autoridade dos mais velhos ou dos vossos instrutores
Mas aquilo que por vós mesmos experimentastes, provastes e reconhecestes verdadeiro
Aquilo que corresponde ao vosso bem e ao bem dos outros –
Isso deveis aceitar, e por isso moldar a vossa conduta.


sábado, dezembro 15, 2007

Colagem Tide Hellmeister


Declaração


Abúlica, nevrálgica, efêmera

Helênica, epidérmica, esdrúxula

Itálica, inédita, neófita

Ínclito, másculo, cáustico

Seráfico, trópico, feérico

Amor às proparoxítonas

sábado, dezembro 08, 2007

Mar de gente


Quando o homem entender onde está inserido, entenderá que é eterno.


Ivaldo Bertazzo



quarta-feira, novembro 28, 2007

Suplemento Literário-Que falta ele faz! Artigo no Estadão

Páginas que revelam uma época

Autora discute legados do Suplemento Literário, editado nos anos 50 e 60

Luiz Zanin Oricchio e João Luiz Sampaio

Que Falta Ele Faz! É esse o significativo subtítulo do livro de Elizabeth Lorenzotti sobre o Suplemento Literário do Estado de S. Paulo, marco do jornalismo literário brasileiro que circulou de 6 de outubro de 1956 a 17 de dezembro de 1966, deixando um legado de textos até hoje atuais e saudades em leitores e colaboradores. O estudo de Elizabeth, porém, não se quer saudosista ou nostálgico. A pesquisadora entende que a compreensão daquele que foi um modelo de excelência no passado pode servir de inspiração para o presente, mesmo que seja neste mundo veloz de hoje.

Idealizado por Antonio Candido e dirigido por Décio de Almeida Prado, o Suplemento Literário mantinha em seu quadro de colaboradores fixos nomes como Wilson Martins, Paulo Emilio Salles Gomes, Ruy Coelho e Lívio Xavier, autores que se tornaram paradigmas em suas áreas de atuação específicas - a crítica literária, a cinematográfica, a antropologia, etc. Um dos segredos do SL foi fazer de suas páginas ponto de encontro dos maiores talentos de uma geração.

Suplemento Literário - Que Falta Ele Faz! (Imprensa Oficial, 208 págs., R$ 40) traz um histórico da publicação e das condições sociais e culturais na época da sua aparição. Inclui entrevista inédita com Antonio Candido e uma cópia do projeto inicial do suplemento apresentado a Julio de Mesquita Neto, então diretor do jornal. E, sim, a cereja no bolo - um conto do então candidato a escritor Francisco Buarque de Holanda. O autor de Estorvo, na época já famoso como cantor e compositor de A Banda, era um neófito como ficcionista. Estreou no Suplemento Literário, com um conto chamado Ulisses, na edição de 30 de julho de 1966. Abaixo, trechos da entrevista com Elizabeth Lorenzotti, que lança o livro na quarta-feira, a partir das 17h30 , no hall do Auditório Simon Bolívar, no Memorial da América Latina.

A sra. lembra que uma das características principais do Suplemento Literário era sua autodefinição como "suplemento artístico e não jornalístico". O que significava isso?

Já existia no jornal uma seção, Letras e Artes, dedicada basicamente ao noticiário jornalístico. O Suplemento, desde o projeto de Antonio Candido identificado como Suplemento Literário e Artístico d?O Estado de S. Paulo, pretendia ser uma pequena revista semanal de cultura. Mas já no plano inicial, Candido frisava que se devia evitar dois extremos, "o tom excessivamente jornalístico e o tom excessivamente erudito". O primeiro, porque não pesaria na opinião, não contribuiria para criar hábitos intelectuais, não colocaria o leitor em contato com o pensamento literário; o segundo, porque seria de leitura penosa. Considerava que quase não havia revistas literárias no Brasil, e os suplementos de jornais funcionavam como sucedâneos delas. O texto de apresentação do primeiro número frisava: "O Suplemento não será jornalístico, nem no alto nem no baixo sentido do termo." E continuava Décio de Almeida Prado: "O jornal, por definição, por decorrência, poder-se-ia dizer, da própria etimologia da palavra, vive dos assuntos do dia (...) A perspectiva do Suplemento tinha, pois, de ser outra, mais desapegada da atualidade, mais próxima da revista que, visando sobretudo a permanência, pode dar-se ao luxo de considerar mais vital a crônica dos amores de um rapaz de 18 e uma menina de 15 anos na Verona pré-renascentista, do que qualquer fato de última hora, pelo motivo de que as crises, as guerras, até os impérios, passam com bem maior rapidez que os mitos literários, muitos dos quais vêm acompanhando e nutrindo a civilização ocidental há pelo menos 30 séculos." Essa concepção não é de fácil assimilação para nós hoje, o que já acontecia na época, aliás. O próprio Décio, em entrevista de 1997, afirmava que existiam reclamações , "dizia-se que não era jornalístico, que falava de coisas que não interessavam ao leitor comum". Mas na verdade interessaram muito a quem estava de alguma forma ligado às letras, às artes plásticas, à música, ao cinema, ao teatro, à dança. Encontrei e encontro pessoas que mantêm coleções do Suplemento em casa, que estudaram nele e o utilizaram para dar aulas.

Qual acha que foi o papel do Suplemento Literário na efervescência da vida cultural da época? Ele a influenciou ou foi apenas reflexo de uma época também bastante rica? Qual o papel do SL ao lado de outros suplementos, como o do Jornal do Brasil, por exemplo?

Creio que o Suplemento Literário foi uma via de duas mãos: influenciou e refletiu essa época rica de desenvolvimento em todos os setores da vida do País. Com seu projeto (equilibrado, como diz Antonio Candido, entre a tradição e a inovação) refletindo a discrição e a sobriedade de seus idealizadores, conseguiu dar uma idéia do panorama nos Estados, sem descuidar-se do foco internacional. Aliás, acompanhar o que acontecia nas artes e nas letras do exterior foi uma das grandes contribuições do Suplemento, numa época em que a tecnologia das comunicações ainda engatinhava. O Suplemento Dominical do Jornal do Brasil teve igual importância. Entretanto, era uma publicação de combate, de movimentos. O SL realizou uma fórmula paulista, com um tom universitário. Como diz Antonio Candido, acolheu a vanguarda, mas esteve sempre ligado a uma espécie de linha média das concepções literárias.

Em que medida seria possível pensar a vida cultural de São Paulo tomando como ponto de partida e de referência a criação e o desenvolvimento do projeto do SL?

A São Paulo de fins dos anos 50 era uma cidade que ainda não se descentralizara. Até a segunda metade dos anos 1960, no grande quadrilátero formado pelas avenidas Angélica, Brigadeiro Luiz Antônio, Paulista e São João, concentravam-se não apenas comércio e serviços, como sobretudo os principais equipamentos culturais da cidade: universidades, bibliotecas, teatros, cinemas, livrarias, redações e sucursais de jornais, etc. Intelectuais, artistas, jornalistas encontravam-se no barzinho do MAM, na Rua Sete de Abril, instalado no mesmo endereço do Masp, fundado um pouco antes, em 1947, por Assis Chateaubriand e Pietro Maria Bardi. Desde a década de 50, a redação do Estadão ficava na Rua Major Quedinho; na Alameda Barão de Limeira, o grupo Folha; na Rua João Adolfo, a Editora Abril; mais tarde, na Avenida São Luís, as sucursais de O Globo e Jornal do Brasil. Ainda no centro velho, as agências internacionais; na Nestor Pestana, o auditório da TV Excelsior. E, claro, as livrarias, nas imediações da Biblioteca Mário de Andrade. Subindo um pouco a Consolação, a Filosofia da USP, na Rua Maria Antônia. Esse ambiente cultural - que vinha da Semana de Arte Moderna de 1922, dos anos 30, com a criação do Departamento de Cultura; do TBC, da Vera Cruz, nos anos 40, da revista Clima - do mesmo grupo de estudantes da USP que se tornariam os colaboradores do SL; dos museus, das bienais - alcançou a década de 60 ampliado, transformado, evoluído, assim como a cidade que crescia, não era mais uma província. A redação do SL era um centro animado de discussões. E o Suplemento, um veículo transmissor de idéias, um intermediário, um mediador cultural que teve seu importante papel na reflexão e na difusão da crítica cultural da cidade e do País.

Se o livro se preocupa em mostrar que o Suplemento Literário é fruto de uma época, de um momento específico, será que cabe a nostalgia que perpassa o texto, desde o título (Que Falta Ele Faz!), e a tentativa de julgar os cadernos culturais atuais tendo o SL como referência?

O título foi sugerido pelo artista Tide Hellmeister, que fez a capa do livro, ele mesmo um ex-colaborador do Suplemento. Tide traduziu o sentimento da maioria das pessoas com as quais falei. Na verdade, esta é uma preocupação minha com a recepção do livro: pensarem que se trata de algo nostálgico, um carro com os faróis voltados para trás, que de nada vale para jogar luz na nossa acidentada estrada do século 21. Não! Resgatar a história serve e servirá sempre para iluminarmos o presente e o futuro. E, sempre à luz do espírito crítico, clarear, recuperar experiências boas ou más, peneirar, transformá-las. Não é verdade que o leitor de hoje não gosta e/ou não tem tempo de ler textos mais reflexivos, densos e, portanto, maiores. Vivemos um tempo em que as pessoas estão ávidas por saídas, e saída só se encontra pensando e lendo o que pensa o outro. Arte e cultura não são separadas da vida, não constituem só uma indústria. São legados imemoriais. A mídia, que tanta responsabilidade carrega, tem o dever de rever sua história e abrir mentes e corações para novas experiências que ajudem o homem a se tornar mais humano.

O SL poderia ter-se adaptado à nova época ou seu fim era inexorável? Quais seriam as possibilidade, hoje, de um caderno cultural de mesmo nível, adaptado à realidade do presente? Ou, mudando o enfoque da questão: a sra. acha que o SL pode servir como inspiração para o jornalismo cultural de hoje, sem que se caia na nostalgia, sempre paralisante, dos "bons tempos" e de uma época de ouro que já passou e não volta mais?

O Suplemento cumpriu o seu papel na sua época. Poderia, sim, ter se adaptado aos novos tempos, se as mudanças não tivessem se imposto, no jornalismo, na tecnologia, na economia, na política, na chamada indústria cultural, no País, no mundo enfim, de forma tão abrupta. Não tenho dúvida de que essa experiência pode ser retomada. Não tenho dúvida de que grupos de pessoas podem transformar radicalmente as coisas em qualquer setor da vida humana. E para melhor. Algo se perderia em moeda? Talvez sim, talvez não. Mas certamente muito se conquistaria em reflexão, pensamento crítico, maior compreensão e contribuição para a cultura que, no fim, significa maior contribuição ao esclarecimento e à ampliação de horizontes de leitores que, sim, agradeceriam. A internet é um veículo que conquista, cada vez mais, possibilidades para várias experiências. Setores representativos do pensamento de várias correntes da sociedade e de seus múltiplos movimentos culturais também abrem seus caminhos em publicações próprias, mostrando aspectos que quase nunca chegam à chamada grande imprensa. Mais cedo ou mais tarde os jornais trilharão o caminho, já apontado por especialistas há algum tempo, da análise, da opinião, da crítica, enquanto a notícia ficará por conta de veículos mais ágeis. E que papel importante esse, o da reflexão e do reconhecimento da pluralidade. É quando uma experiência como a do Suplemento Literário poderá ser resgatada, em papel, que é muito melhor de se ler, reunindo os novos críticos e pensadores da literatura, do cinema, do teatro, das artes e os que já trilharam várias estradas, para repassarem sua experiência
.


Equilíbrio entre tradição e inovação

Para Antonio Candido, que elaborou o projeto, eis a fórmula que explica o sucesso do trabalho no jornalismo cultural do País

Ubiratan Brasil

Autor do planejamento que resultou no Suplemento Literário, o crítico Antonio Candido foi um dos responsáveis pela criação de um espaço privilegiado para debate de idéias,surgimento de novos autores e revisão dos consagrados. Aos 88 anos, ele lembra que o SL, como era carinhosamente conhecido o suplemento, tinha uma posição de equilíbrio entre tradição e inovação.

'Naquela época, São Paulo não tinha a densidade cultural do Rio', comenta ele, em entrevista ao Estado. 'O SL foi uma tentativa de fundir o tom de jornal com o de revista.'

Como foi seu trabalho de estruturação do Suplemento Literário, ou seja, a definição das áreas, seções e escolha dos principais colaboradores? A divisão se seções foi inspirada em Clima?

Não pensei em Clima, embora alguns dos encarregados de suas seções tenham vindo para o SL. A escolha das seções é diferente. A de Clima segue os setores habituais: Livros, Teatro, Cinema, Música, Artes Plásticas, Economia e Direito. A do SL compreende quase todos eles mas privilegia a literatura referida ao lugar de origem, tanto exterior quanto interior: Letras Alemãs, Francesas, Anglo-Americanas; Letras de Pernambuco, de Minas etc. Foi uma inovação que deu abrangência à matéria.

Já em sua diretriz estava claro que o Suplemento não se confundiria com o jornalismo diário. Qual era propriamente o seu objetivo?

A diretriz que norteou o plano foi a seguinte: São Paulo naquele tempo não tinha a densidade cultural do Rio, onde se concentrava o mais vivo da literatura e das artes. Não valeria a pena, portanto, pensar uma fórmula 'de movimento', como a que caracterizava, por exemplo, o famoso suplemento do Jornal do Brasil. A maior contribuição de São Paulo era a cultura universitária, mas não havia aqui revistas culturais importantes, nem na USP nem fora dela. Sendo assim, era recomendável tentar uma espécie de equilíbrio entre o movimento vivo da literatura e das artes e a tonalidade mais estável dos estudos universitários. O SL foi uma tentativa de associar as duas dimensões de maneira criativa e acessível, fundindo o tom de jornal com o tom de revista.

Que tipo de orientação recebiam os colaboradores quanto à escolha do assunto e à forma de escrever?

Os colaboradores eram livres para escrever sobre o que quisessem, da maneira que quisessem. Havia apenas o pedido de clareza e, na seção de resenhas, normas de apresentação da matéria e dos dados bibliográficos.

Não existe obra sem consciência da linguagem ou das linguagens que utilizará. Como o Suplemento evitou o rebaixamento do discurso que, de tempos em tempos, ameaça a integridade do pensamento?

Por isso mesmo a seleção dos colaboradores foi cuidadosa. Foram convidados sempre autores de boa qualidade, que mantiveram o nível característico do SL. Na escolha para as seções, por exemplo, consultei diversos amigos. Lembro que Egon Schaden, professor de Antropologia da USP, sugeriu para Letras Alemãs Anatol Rosenfeld, então praticamente desconhecido, que foi um dos principais colaboradores e ganhou fama por meio do SL. O escritor Antonio Olavo Pereira sugeriu alguns nomes, entre os quais Brito Broca para Letras Francesas e Willy Levin para Letras Anglo-Americanas. Para Letras de Minas, o historiador Francisco Iglesias indicou Afonso Ávila, e assim por diante. Como vê, a preparação foi cuidadosa e eu procurei reunir pontos de vista consensuais. Por isso erramos pouco, o nível se manteve e o SL acolheu colaboradores de várias partes do Brasil.

De que forma o Suplemento exibia, como o senhor lembrou em algumas oportunidades, a marca pessoal de Decio de Almeida Prado?

O SL nasceu de uma conversa que tive com o saudoso José Vieira de Carvalho Mesquita, que trabalhava no departamento financeiro e era um rapaz encantador. Eu censurei o jornal por não ter um suplemento literário, que me parecia indispensável devido à sua responsabilidade no terreno da cultura. Daí veio tempos depois o convite para planejá-lo e dirigi-lo, num exemplo de como os Mesquita souberam transformar a crítica bem intencionada em fator de aperfeiçoamento. Aceitei a primeira parte, não a segunda, e lembrei o nome de Décio de Almeida Prado, aceito calorosamente. Ele foi competentíssimo, criando uma atmosfera de dignidade com a sua abertura de espírito, a sua acuidade crítica, o seu raro equilíbrio e a força da sua personalidade harmoniosa. Na verdade, o êxito do SL foi devido a ele.

A diagramação era inovadora e austera ao mesmo tempo. Como foi a definição do projeto gráfico?

Eu estava meio perplexo com relação a este aspecto, alheio ao meu conhecimento, quando minha mulher, Gilda de Mello e Souza, lembrou o nome de Italo Bianchi, que assumiu a tarefa e foi responsável pela fórmula que a sua pergunta caracteriza bem e correspondia ao espírito do plano. Foi obra dele.

O senhor acredita que o Suplemento Literário continua sendo a vanguarda do jornalismo cultural brasileiro?

Não digo vanguarda, porque o SL tinha uma posição de equilíbrio entre tradição e inovação. Foi assim que acolheu os poetas do Concretismo, mas esteve sempre ligado ao que se pode chamar de linha média das concepções literárias. Esta fórmula compreensiva talvez tenha sido um dos motivos que fizeram dele o melhor suplemento do jornalismo brasileiro do seu tempo, graças, repito, à orientação firme de Décio de Almeida Prado. E é preciso dizer que também contribuíram os padrões de remuneração, elevados para o tempo, que permitiram interessar colaboradores de qualidade.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Canto 81-Ezra Pound


Edith Piaf, 1946




(Fragmento)

O que amas de verdade permanece,
o resto é escória.
O que amas de verdade não te será arrancado
O que amas de verdade é tua herança verdadeira



segunda-feira, novembro 05, 2007

Que falta ele faz!



O meu livro "Suplemento Literário: que falta ele faz!”, resgata a história do Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, publicação que se tornou um modelo de jornalismo cultural no país. Editado pela Imprensa Oficial, será lançado no próximo dia 14 de novembro, a partir das 17h30, logo após a abertura do Salão do Jornalista Escritor, no Auditório Simon Bolívar do Memorial da América Latina.
Projetado pelo professor Antonio Candido de Mello e Souza, e dirigido durante dez anos por Décio de Almeida Prado (1956-1966), o Suplemento Literário, que existiu até 1974, representou uma ponte entre tradição e inovação.
O projeto esteve perdido durante anos e, recuperado, foi cedido por Antonio Candido à autora, fonte primária fundamental para sua dissertação de mestrado em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP em 2002.
A oportunidade da publicação de um livro baseado nesta dissertação deveu-se à comemoração, em 2006, do cinqüentenário do lançamento do Suplemento Literário e Artístico de O Estado de S. Paulo.
PROJETO
Os jornalistas e pesquisadores sabem que é raro se conservar projetos originais de jornais, e tão detalhados como este, desde a pesquisa de preços até a seleção de colaboradores. Os maiores escritores, poetas, artistas plásticos do país passaram pelas páginas do Suplemento, e segundo o próprio Antonio Candido, pela primeira vez o trabalho intelectual na imprensa teve remuneração condigna.
O trabalho fala também sobre a revista “Clima” – onde, ainda estudantes, começaram a atuar na crítica cultural Antonio Candido, Décio, Paulo Emilio, Lourival Gomes Machado, Ruy Coelho, entre outros, que depois se tornariam colaboradores do Suplemento Literário e de outros jornais.
Ao longo de sua existência o Suplemento esteve sempre atento aos movimentos culturais de importância. Nos seus primeiros dez anos, entre 1956 e 1966, editou 28 números especiais. O livro destaca alguns deles, num recorte que marca a gestão de Décio de Almeida Prado. Há fotos e reproduções de páginas do Suplemento como, por exemplo, o primeiro conto do jovem Francisco Buarque de Holanda, então com 22 anos, “Ulisses”.
Um capítulo especial do livro é dedicado à participação de artistas plásticos – já consagrados e/ou então iniciantes -- como ilustradores, outro diferencial do Suplemento Literário, que com sua concepção avançada se constituiu em vanguarda nas artes visuais do jornalismo impresso da época.
O livro analisa as transformações sofridas pelo jornalismo cultural a partir dos anos 50, quando a cultura de massas se impõe e, aos poucos, o espaço de veiculação da crítica é ocupado pela divulgação de produtos da indústria cultural.
Além de tentar contribuir para sistematizar uma experiência e acentuar uma fase importante do jornalismo no País, o trabalho resgata algumas histórias e pincela perfis de personagens envolvidos naquela fase de ouro do jornalismo cultural brasileiro.


Iconografia: reproduções de páginas do Suplemento Literário, ilustrações e fotos de arquivo do Estadão, acervos da Cinemateca Brasileira, do Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Instituto Moreira Salles.
Ficha técnica
Editora: Imprensa oficial
Capa: Tide Hellmeister
Prefácio: Antonio Candido
Páginas 208
Preço: R$40,00

domingo, outubro 14, 2007

Cosmic blues



Viagens, ácidos, fumo, cavernas, sexo
geral:
utopias sem muros
humanidade a ferver no caldeirão quase mágico:
peregrinos nas praias, nos himalaias, em Katmandu
Paris, Berlim, Praga, São Paulo e Salvador
som imaginário, clube da esquina, pink
pedras a rolar

e metralhadoras apontadas para a tua cabeça

sonhos inacabados, pesadelos intermitentes

não quero mais tanta lembrança
só História

sábado, outubro 13, 2007

Tantas vidas









"Teatro é a arte do ator. Cinema é a arte do diretor e TV, a arte do anunciante. Não há dinheiro que me convença a fazer novela outra vez"








"Recebo quatro propostas por semana para estrelar comerciais", afirma. Mas, como dificilmente topam pagar o que ele pede, cerca de 50.000 reais, é raro vê-lo na telinha. Aliás, Autran quer distância da televisão. Em todos os sentidos. Não dá a menor bola para o aparelho de 29 polegadas que mantém em casa ("Nem me lembro da última vez em que liguei a tevê") e garante que não há dinheiro que o convença a voltar a trabalhar em novelas. "Só fiz papéis de débeis mentais".

"A verdadeira crença do Paulo era no ser humano e na arte", disse Karin Rodrigues, sua mulher.



Paulo Autran, Acima em "Terra em Transe", Glauber Rocha, 1967.Na outra foto, de Mário Rodrigues, em 2003.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Cúmplice de tortura presta concurso de professor titular de Medicina

Abaixo denúncia do Comitê contra a Tortura. Já enviei minha carta de protesto.
Que medicina e que ética um tipo desses poderá ensinar??????

A interpretação que prevalece no Brasil sobre a Lei da Anistia (Lei 6.683/1970) é a de que foram anistiados os presos, torturados, perseguidos e condenados durante a ditadura militar, bem como seus algozes, os que prenderam, torturaram e perseguiram, mas que nunca foram julgados e condenados.

Mas além de "anistiados", temos vistos estes personagens, aproveitando-se da falta de memória e de história do período militar, galgarem postos importantes no aparelho do Estado. É o que pode vir a acontecer em breve.

O médico Arildo de Toledo Viana, que assinou o laudo falso de suicídio do jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura no DOI-CODI em 25/10/1975, juntamente com Harry Shibata e Armando Canger Rodrigues, está para prestar concurso para Professor Titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Sua participação nesta ignominiosa farsa está documentada em inúmeros livros e textos sobre o período, dentre os quais citamos:

- Dos filhos deste solo, de Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio. São Paulo: Boitempo, 1999, p. 343;
- "Em nome da verdade", abaixo-assinado publicado no jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, em janeiro de 1976 (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=301JDB006;
- Direito à Memória e à Verdade. Brasília: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos/Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, 2007, p. 408.

Conclamamos a todos aqueles que não querem que a juventude brasileira tenha como mestre alguém que colaborou ativamente com a tortura durante o regime militar, a enviarem seus protestos para:

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa São Paulo
Rua Cesário Mota Jr. 61
Vila Buarque
Cep:01221-020
diretoria@fcmscsp.edu.br
ou
diretoria.medicina@fcmscsp.edu.br

COLETIVO CONTRA TORTURA
04/10/2007

sexta-feira, setembro 28, 2007

Cortazar à viva voz

O grande cronópio Julio Cortazar lê o capitulo 7 de Rayuela, uma das mais belas peças que já li:




"Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano en tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.

Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos
miramos cada vez más de cerca y los ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio.

Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mi como una luna en el agua."







quarta-feira, setembro 26, 2007

Desta vez vai voar pena

EDITORIAL
Brasil de Fato
S.Paulo, 25.09.2007


Em meados dos anos 1970, o ator alemão Helmut Berger foi aplaudido em todo o mundo e em cada festival de cinema, por sua atuação em Os deuses malditos, do diretor italiano Lucchino Visconti. Um dos motivos do sucesso residia na cena onde Berger, travestido, mimetizava a atriz (também alemã) Marlene Dietricht, em sua performance cantando e dançando no filme O Anjo Azul que marcara época algumas décadas antes.
O jovem Berger deu muitas entrevistas e declarações até que, um belo dia, recebeu uma foto da cena original enviada por Dietricht, agora já uma senhora, com a seguinte anotação enquanto dedicatória:
Qual de nós é a mais bela?
A resposta era óbvia há perguntas que só são feitas quando se tem certeza da resposta.
Ao que tudo indica, até a próxima semana, a política institucional brasileira deverá nos brindar com episódio semelhante (farsa ou tragédia?). Comenta-se que o senador, ex-presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e ex-governador de Minas Eduardo Azeredo já está com sua foto sobrescrita com dedicatória semelhante à da Dietricht, para enviar para alguns ex-dirigentes petistas: até o dia 30 de setembro, o procurador Geral da República Antonio Fernando de Souza deverá enviar denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o escândalo do mensalão tucano, encabeçado pelo senador Azeredo. O senador capitaneia uma lista de 36 nomes com diferentes níveis de compromisso com seu partido e seu governo. Entre estes, estariam dirigentes das estatais Companhia de Saneamento de Minas Gerais – Copasa, Companhia Mineradora de Minas Gerais – Comig (atual Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – Codemig), Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), e do Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge), privatizado durante o governo do senador Azeredo. A denúncia tem como base investigações da Polícia Federal e envolve falcatruas que somam R$ 100 milhões, dos quais R$ 110 mil teriam sido enviados para a campanha do então candidato a deputado Aécio Neves, hoje governador de Minas.
A origem da especulação em torno da foto e da dedicatória que o senador peessedebista já teria prontas para enviar para os ex-dirigentes petistas, fundamenta-se na chamada arrogância tucana. De acordo com os observadores e analistas políticos, os tucanos jamais aceitam ser superados. São os melhores em tudo. São os maiores em tudo. Aliás, nesse assunto de mensalões, não temos a menor dúvida: seria covardia comparar qualquer prócer (ou ex-prócer) do atual Governo, com o ex-ministro tucano Sérgio Motta para ficarmos apenas com um exemplo, e na esfera do Executivo Federal. Isto porque, de acordo com a informação publicada em 25 de setembro na página eletrônica Congresso em Foco ( com base em dados do STF, dos 13 representantes do PSDB no Senado (entre os quais o senador Eduardo Azeredo), nove estão sendo processados por desvio de verbas, improbidade, peculato, compra de votos e outras atividades criminosas – ou seja, 70% da bancada tucana. Nessa mesma Casa, o Partido dos Trabalhadores (PT), conta com 13 senadores. De acordo com Congresso em Foco/STF, nenhum dos petistas está sendo investigado ou processado. Nenhum elogio. Não fazem mais que a obrigação. O que nos interessa aqui é o nefasto papel que vem sendo exercido pelo Partido da Mídia ( PM), que tendo acesso a essas informações, insiste em ocultá-las.

Carta do leitor
Quando fechávamos este editorial, recebemos do nosso leitor JB, de Niterói (RJ), a seguinte mensagem:
Cortina de fumaça:
enquanto a gente discute esta porra de corrupção, que não leva nem 10 milhões de reais por dia dos cofres públicos, Lula paga 750 milhões por dia aos banqueiros.
JB

Resposta da redação
Prezado leitor,
concordamos que o senhor se sinta indignado com o que tem sido pago com o nosso dinheiro dinheiro do povo brasileiro aos banqueiros. Nós também nos sentimos insultados com essa sangria.
Aliás, se você tem acompanhado o nosso jornal, vimos há anos tentando chamar a atenção do presidente Luiz Inácio para o assunto.
No entanto, desconfiamos que ele e sua equipe econômica não estão muito interessados em nos ouvir.
Alguns movimentos populares também têm insistido no tema, ocupando ruas, avenidas e praças, aos gritos, mas com igual insucesso.
Apesar disso, amigo leitor, continuaremos tentando. Mesmo acreditando que o atual momento não é muito propício: não sei se você está informado, o nosso presidente acaba de ser ungido por seu colega estadunidense, senhor George Bush, da missão de Apóstolo do Etanol. E você sabe o quão empenhado, dedicado e obsessivo costuma ser um apóstolo.
BF

domingo, setembro 23, 2007

O livro didático que a Globo quer proibir

A ousadia desses escribas da Globo passou dos limites há muito. Leiam só artigo publicaod em
: http://www.novae.inf.br/


A respeito do artigo do jornalista Ali Kamel no jornal O Globo de 18 de setembro de 2007 sobre o volume de 8ª série da obra Nova História Crítica, de Mario Schmidt, o autor e a Editora Nova Geração comentam:


Nova História Crítica da Editora Nova Geração não é o único nem o primeiro livro didático brasileiro que questiona a permanência de estruturas injustas e que enfoca os conflitos sociais em nossa história. Entretanto, é com orgulho que constatamos que nenhuma outra obra havia provocado reação tão direta e tão agressiva de uma das maiores empresas privadas de comunicação do país.
Compreendemos que o sr. Ali Kamel, que ocupa cargo executivo de destaque nas Organizações Globo, possa ter restrições às posturas críticas de nossa obra. Compreendemos até que ele possa querer os livros didáticos que façam crer ’’que socialismo é mau e a solução para tudo é o capitalismo’’.
Certamente, nossas visões políticas diferem das visões do sr. Ali Kamel e dos proprietários da empresa que o contratou. O que não aceitamos é que, em nome da defesa da liberdade individual, ele aparentemente sugira a abolição dessas liberdades. Não publicamos livros para fazer crer nisso ou naquilo, mas para despertar nos estudantes a capacidade crítica de ver além das aparências e de levar em conta múltiplos aspectos da realidade. Nosso grande ideal não é o de Stálin ou de Mao Tsetung, mas o de Kant: que os indivíduos possam pensar por conta própria, sem serem guiados por outros. Assim, em primeiro lugar exigimos respeito. Nós jamais acusaríamos o sr. Kamel de ser racista apenas porque tentou argumentar racionalmente contra o sistema de cotas nas universidades brasileiras. E por isso mesmo estranhamos que ele, no seu inegável direito de questionar obras didáticas que não façam elogios irrestritos à isenção do Jornal Nacional, tenha precisado editar passagens de modo a apresentar Nova História Crítica como ridículo manual de catecismo marxista. Selecionar trechos e isolá-los do contexto talvez fosse técnica de manipulação ultrapassada, restrita aos tempos das edições dos debates presidenciais na tevê. Mas o artigo do sr. Ali Kamel parece reavivar esse procedimento. Ele escolheu os trechos que revelariam as supostas inclinações stalinistas ou maoístas do autor de Nova História Crítica. Por exemplo, omitiu partes como estas: ’’A URSS era uma ditadura. O Partido Comunista tomava todas as decisões importantes. As eleições eram apenas uma encenação (...). Quem criticasse o governo ia para a prisão. (...) Em vez da eficácia econômica havia mesmo era uma administração confusa e lenta. (...) Milhares e milhares de indivíduos foram enviados a campos de trabalho forçado na Sibéria, os terríveis Gulags. Muita gente foi torturada até a morte pelos guardas stalinistas...’’ (pp. 63-65). Ali Kamel perguntou por onde seria possível as crianças saberem das insanidades da Revolução Chinesa. Ora, bastaria ter encotrado trechos como estes: ’’O Grande Salto para a Frente tinha fracassado. O resultado foi uma terrível epidemia de fome que dizimou milhares de pessoas. (...) Mao (...) agiu de forma parecida com Stálin, perseguindo os opositores e utilizando recursos de propaganda para criar a imagem oficial de que era infalível.’’ (p. 191) ’’Ouvir uma fita com rock ocidental podia levar alguém a freqüentar um campo de reeducação política. (...) Nas universidades, as vagas eram reservadas para os que demonstravam maior desempenho nas lutas políticas. (...) Antigos dirigentes eram arrancados do poder e humilhados por multidões de adolescentes que consideravam o fato de a pessoa ter 60 ou 70 anos ser suficiente para ela não ter nada a acrescentar ao país...’’ (p. 247) Os livros didáticos adquiridos pelo MEC são escolhidos apenas pelos professores das escolas públicas. Não há interferência alguma de funcionários do Ministério. O sr. Ali Kamel tem o direito de não gostar de certos livros didáticos. Mas por que ele julga que sua capacidade de escolha deveria prevalecer sobre a de dezenas de milhares de professores? Seria ele mais capacitado para reconhecer obras didáticas de valor? E, se os milhares de professores que fazem a escolha, escolhem errado (conforme os critérios do sr. Ali Kamel), o que o MEC deveria fazer com esses professores? Demiti-los? Obrigá-los a adotar os livros preferidos pelas Organizações Globo? Internar os professores da rede pública em Gulags, campos de reeducação ideológica forçada para professores com simpatia pela esquerda política? Ou agir como em 1964?

Modo Daslu de vida lança almas no mercado

fonte:http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=790

Por Laerte Braga


A modelo e atriz Pamela Anderson (protagonista do seriado SOS-MALIBU) perdeu 250 mil dólares num jogo de pôquer em um cassino de Las Vegas e pagou com "favores sexuais". É o que conta a imprensa de seu país. Pamela ficou sensibilizada e "apaixonada" por uma pessoa presente ao jogo, Rick Salomon, jogador profissional, que se ofereceu para quitar a dívida.

O jornal francês LE MONDE revela que o estado do Pará está sendo devastado pelas plantações de soja. O jornal dá conta que em poucos anos a continuar o ritmo de desmatamento a Amazônia paraense deixará de existir. O estado vai ficar igual ao Mato Grosso, onde as florestas deram lugar às plantações de soja transgênica. O governo Lula sabe e autorizou.

Um colecionador anônimo, de 90 anos de idade, enviou ao Museu do Holocausto fotos inéditas do campo de concentração de Auschwitz. As fotos, já autenticadas por especialistas, mostram oficiais nazistas, homens e mulheres, se divertindo num dos mais bárbaros campos de prisioneiros judeus na IIº Grande Guerra. Tal era a pressa em matar judeus ao fim da guerra que os fornos crematórios enguiçaram e muitos corpos foram queimados em valas abertas dentro do próprio campo. O médico Joseph Mengele, que fazia experiências com seres vivos, era um dos protagonistas das festas. Mengele morreu no Brasil. Um dado a ser observado. O comandante do campo, ao término da guerra, cumpriu pena de sete anos de prisão depois de descoberto exercendo uma função qualquer num banco da Alemanha e, quando saiu da cadeia foi recontratado pelo banco. Há dois aspectos nesse fato. O compromisso de banqueiros com o nazismo. Lucraram horrores e o caráter comum das pessoas que muitas vezes se transformavam em monstros e monstros foram na esteira da boçalidade nazi-fascista, hoje com roupagem DASLU. Os nazistas tinham o hábito de carregar pastas para onde quer que fossem. Era marca registrada e alguns algemavam as pastas ao seus punhos para evitar que fossem perdidas ou roubadas.

O senador Renan Calheiros voltou a Brasília, reassumiu as funções de presidente da dita Câmara Alta e vai tratar de segurar os novos processos contra ele. Deve sacrificar algumas vacas de seu rebanho mágico para escapar à cassação. Tem um vasto campo para negociar, ainda mais agora que o mensalão mineiro foi divulgado e entre os beneficiados, o principal, está o pastel Eduardo Azeredo, não por acaso tucano. Não teria a menor importância e nem faria diferença se fosse petista ou democrata. FHC nem dorme com Cacciola preso e naturalmente ávido por poder sair e gastar os milhões que pegou com o Banco Central do Brasil. Se contar o que sabe e como as coisas aconteceram cai a última máscara do ex-presidente. A pose de bandido impune. Um dado importante é que o ministro do Supremo Tribunal Federal que deu a Cacciola o hábeas corpus que lhe permitiu fugir para a Itália, é Marco Aurélio Mello, primo de Collor e vizinho do banqueiro. Ambos têm um apartamento no condomínio Golden Green, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (há dúvidas sobre se a Barra integra o Rio, ou se é subúrbio "pobre" de Miami. Vera Loyola deve poder sanar essa interrogação nos momentos em que estiver livre das tarefas de levar a cachorrinha de helicóptero para o cabeleireiro). O fato foi revelado pelo colunista Ancelmo Góis do jornal O GLOBO. (Ancelmo com "c" mesmo).

A DASLU prepara a coleção de verão e em alto estilo. Vai liquidar os seres mercadorias para lançar almas no mercado. Têm grife, são contrabandeadas com todo cuidado em embalagens climatizadas e segundo alguns já estão todas vendidas. Pré venda. Devem ornamentar as passeatas do CANSEI, participar de torneios de tiros de ovos podres nas "vagabundas", contribuir para o CRIANÇA ESPERANÇA e esparramarem o modelo para a classe média em versões mais baratas e no crediário com juros extorsivos. Os pobres poderão comprar as cópias feitas pela pirataria. Não têm lá muita garantia, mas funcionam. Virão naquele esquema de pastas imundas recheadas de bondade e preços baixos, acompanhadas de mensagens de luz e salvação.
Aleluia!

segunda-feira, setembro 17, 2007

Embriaguem-se

De Charles Baudelaire

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com o quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à Vega, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são, e o vento, a Vega, a estrela, o pássaro, o relógio responderão:
É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso.
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.


Tradução Jorge Pontual

sexta-feira, setembro 14, 2007

Verdades e mentiras

"Às vezes a única coisa verdadeira num jornal é a data"

Luiz Fernando Veríssimo

sexta-feira, setembro 07, 2007

MIlton Santos e a esperança





"Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva provirá de um movimento de baixo para cima, tendo como atores principais os países subdesenvolvidos e não os países ricos; os deserdados e os pobres e não os opulentos e outras classes obesas; o indivíduo liberado partícipe das novas massas e não o homem acorrentado; o pensamento livre e não o discurso único. Os pobres não se entregam e descobrem a cada dia formas inéditas de trabalho e de luta; a semente do entendimento já está plantada e o passo seguinte é o seu florescimento em atitudes de inconformidade e, talvez, rebeldia."


Milton Santos-"Por Uma Outra Globalização - Do Pensamento Único à Consciência Universal"
Algúem contou que o cartunista Jaguar entrou numa livraria atrás de um livro de Milton Santos. O rapaz do balcão disse: "Não é Milton, é Nilton Santos", claro, o craque do futebol. Não, disse o Jaguar, com a foto do professor Milton nas mãos: é esse aqui". Ah, devolveu o balconista, esse aí é o Djalma Santos".
É pena que o Brasil não tenha acesso aos seus grandes pensadores, especialmente este que foi um raro intelectual combativo. Tive a sorte de conhecê-lo em vida, numa entrevista na Geografia da USP, para a revista Sem Terra. Vou ver se acho e posto aqui.
Negro, negro, negro, com o maior sorriso e um límpido pensamento radical. Gosto de gente assim. Uma espécie de Nobel da Geografia, escritor de 40 livros, referência contra o neoliberalismo.
Rastreando a internet ontem encontrei um artigo de outro querido professor e amigo, Jair Borin, que também já se foi, sobre Milton. Contando que, sempre que havia um problema daqueles de sempre lá no câmpus da USP, o professor estava solidário com o lado justo.Mesmo doente.
Está passando em Sampa, apenas no Cine Bombril e no Unibanco Arteplex, às 18 horas, um precioso documentário "Encontro com Milton Santos ou: O Mundo Global Visto do Lado de Cá", dirigido por Silvio Tendler.
Milton Santos, que se intitula um “intelectual outsider”, por não responder por partidos nem grupos acadêmicos, explica que a informação é o coração da globalização. É por meio dos sistemas de comunicação que as grandes empresas estabelecem atualmente seus domínios.
Diz também que o atual totalitarismo, como o nazismo, o fascismo, é o consumo. Aliás, um outro pensador, o grande cineasta Pier Paolo Pasolini, já nos anos 70 afirmava que o consumo é o fascismo da alma.
O filme se inicia com uma frase de Sartre, de 1961, falando dos horrores do mundo de então, e da esperança.
Milton Santos também era assim, cheio de esperança.
Tanto que, depois de uma hora e meia de imagens do perverso processo de globalização, que está levantando sua mais recente bandeira, a privatização da água (!!!! com fosse mercadoria e não um bem), a entrevista, a última audiovisual que o professor deu --, morreu meses depois, em junho de 2001 --, termina com uma mensagem de esperança na humanidade: "Afinal, agora que existe a humanidade em si, temos de crer nela"
Rastreando a internet, o que encontro? Em meio a várias pérolas, um crítico de cinema descendo o cacete...no público. Diz que as pessoas se regozijavam e aplaudiam,e que o filme não tem impacto!
Aplaudir no cinema é coisa rara hoje em dia, como raros são os pensadores da estatura e da seriedade de Milton Santos, neto de escravos, intelectual outsider, independente. Viva!

quarta-feira, setembro 05, 2007

Santa Tereza

(Matiolli)

Santa Tereza


Elizabeth Lorenzotti




Às três da tarde de terça um homem toca saxofone na porta do bar ao lado de outro que conserta inutilidades.
E outros homens bebem, o buraco aumenta cada vez mais.
Líricas de dia de Cosme e Damião já se desenrolaram sexta: doces, algaravia, meninos.
E neste sábado, o que seus olhos procuram? Escapar da dor? Eu me rio, meu caro vizinho

(e a saparia em coro noturno a gargalhar)

Algo aqui prende as solas das sandálias ao chão de pedras, aos mesmos caminhos diariamente.
Vão e voltam e tornam a voltar
Em clima de suave compadrio
Os repetidos rituais cotidianos: os dedos tapam ouvidos quando relincha o bonde
o cego abre caminho à força da bengala branca

o grande e velhíssimo caderno marca Deve e Haver

O homem que me despe com os olhos neste domingo é uma mulher ao lado de outra e de um cão cinzento. Senhor, essa estranheza deixa passar

Que somos todos infinitamente estranhos, tal disse Orides

Essa fumaça de tantos cigarros e a garganta a arder, a arder, a arder
As Musas me visitam de madrugada enquanto escrevo a letra de "You do something to me"

you do something to me
something that simply mistifies me tell me
what should it be
you have the power to hipnotize me
let me live with your spell
do do that voodoo that you do so well
for you do something to me
that nobody else can do that nobody else can do


Eldorado de São Paulo
Imediatamente, como fosse eu a DJ, uma voz feminina canta para mim a música no rádio
Lembro de escaravelhos e do velho mestre, não por acaso
Não arde o sol costumeiro, ainda é primavera ainda é Rio de Janeiro,
ainda somos

Evoé!

quarta-feira, agosto 29, 2007

(Mosteiro da Serra do Pilar)

Por essas coisas da internet achei um antigo poema meu num site belissimo, creio que português.
Chama-se Modus Vivendi: escolhas em literatura e artes visuais.
http://amata.anaroque.com/

.E tem como lema :
"Werde der du bist." ( Torna-te quem és/ Transforma-te no que és)
Goethe
Foi publicada no dia 17 de maio deste ano. Com essa fotografia. Onde será a Serra do Pilar? Fui pesquisar.
Está na freguesia de Vila Nova de Gaia, em Portugual, e o mosteiro, hoje transformado em quartel, durante o
cerco do Porto (1832-1833), foi o único reduto que os liberais conseguiram manter a Sul do Rio Douro, e que lhes conferia o controle da foz do rio, possibilitando assim o desembarque de mantimentos, o que, de outra forma, teria levado à sua rendição.


Tempo



Sábio e grave senhor desta esfera

Alerta e instiga nossa medida
Brilha, reluz, a face que o encara
Salteador cigano em densa neblina


Vela enfunada em tanta tormenta
Rasga fronteiras, singra e ilumina
Vã sentinela, cáustica e atenta
Mago obstruso que a si determina

Nas vagas de dor, aqui e agora
É quem traz resposta, no éter perdido
Entre legiões de anos, tão preciso
Cala e ofusca o cal desta hora