domingo, dezembro 06, 2009

Bortolotto, Machbeth e a nossa vida não vale um Chevrolet

Comentário do meu amigo Liu

"Sim, nossa vida não vale um Chevrolet (hoje em dia um Audi, ou qualquer flex), a virada do século e a desilusão beat batendo com toda a beleza do blue e jazz e não adiantou exclamar: Fica frio!Dramatúrgica ocorrência, roteiro de Bukowski ou Plínio, referências dos notívagos que tem botecos como catedrais e a angústia por credo. Os caras que balearam Bortolotto e Carcarah são os outsiders confusos da noite suja que justamente atiraram num poeta dos fodidos.Ironia dramática, marcação, vacilo, cagada. A espiral da violência (perdão pelo cliché) prevista, premonitória, arrasadora, entortando nossas concepções classe média sobre segurança, generosidade e a proteção divina aos bebuns e outsiders. Ninguem mais está a salvo, muito menos osfilhos da noite.

"Life's but a walking shadow, a poor player, That struts and frets his hour upon the stage, And then is heard no more. It is a tale told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing".

Shakespeare, Macbeth. "



Sim Liu, um espetáculo de som e fúria, deve ser isso, como vaticinou o velho bardo. Mas não posso crer que não signifique nada.

Pois é, atiraram justamente num poeta dos fodidos, e tome ironia.Nem crianças, nem bebuns têm mais a proteção divina, como dizia a sabedoria popular antigamente, e quando havia sabedoria popular.Crianças atiradas de edifícios.Crianças assassinadas nas guerras.
Poetas, então, nem fala.

Nossa vida não vale mais que um casaco do segurança do espaço Parlapatões?

Quaro tiros, e por que tantos? Perguntaria a compositora dos anos 70. Estavam lá, no bar do teatro, os artistas, depois da peça “Brutal”, dirigida pelo dramaturgo.Os artistas são mesmo as antenas da raça e só eles podem traduzir o mundo, em busca da nossa salvação. Mesmo, e principalmente, traduzir a brutalidade.Mas são frágeis, esses artistas, seu tórax, sua coluna, seus braços.

Que os deuses do teatro e as Musas velem por ele.