sábado, agosto 27, 2011

sexta-feira, agosto 26, 2011

Para que existem os artistas? Para morrer à míngua?

Nada é impossível de mudar
Bertold Brecht
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

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“Dêem-me um anestésico. A vida dói e arde”

Roberto Piva (25 de setembro de 1937 –3 de julho de 2010)

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Não é a primeira vez que amigos de artistas doentes e desamparados pedem contribuições. Agora, trata-se do genial violonista Helio Delmiro.

Só da memória recente, o grande poeta Roberto Piva, que não morreu jogado num leito de enfermaria pública porque seus muitos amigos se mobilizaram.Passou por uma via crúcis idêntica à de milhões de brasileiros sem plano de saúde e sem aposentadoria. Ou com ambos, mas para que migalhas servem?

Artistas, jogadores de futebol são descartáveis, me disse um amigo. O povo? O povo também é descartável.Nos hospitais, eles chamam os aparelhos que mantém as pessoas respirando de “investimento”. A jovem médica residente, que em 2003 me deu notícias de minha mãe agonizante -- que não conseguiu vaga no PS do Incor de São Paulo, e ficou num “puxadinho”-- me disse essas palavras. Investimento. Pacientes são clientes. O mundo é uma roda financeira.

E nesse mundo estamos nós, calados, quietos, achando tudo “normal”. Aqui, falamos da situação dos artistas.

Os artistas, quantos, centenas deles, talvez milhares ao longo da história do Brasil, quantos não morreram desamparados? Depois de nos fazerem rir, chorar, refletir-- cantores, palhaços, atores, dramaturgos, cineastas, músicos, bailarinos, pintores, e tantos?

Que país é este que, depois de evoluir no caminho democrático, de avançar um pouco na questão social, à custa de muita luta dos brasileiros —continua deixando ao léo, sem aposentadoria decente, sem amparo, sem assistência medica decente, seus artistas?

Ao que conste, existe um e apenas um lugar dedicado a ampará-los, no Rio de Janeiro, o Retiro dos Artistas (http://www.casadosartistas.org.br/historia.html)

Mas existe alguma política pública? Gostaria de ter respostas. Gostaria que esta reflexão ecoasse entre os internautas. Sim, continuaremos contribuindo com os artistas que necessitam. Faremos eventos, shows em benefício.Porque nós os amamos, respeitamos e agradecemos o que fizeram por nós com sua arte.

Mas e as instâncias que nos governam, respeitam esses artistas ou apenas, quando eles morrem- e se são famosos-- enviam mensagens consternadas de condolências?

Para que existem os artistas 1:La patria, che bella e perduta:maestro Riccardo Muti



Na festa de 150 anos da unificação italiana, em março deste ano,o maestro Riccardo Muti fala, pelo que entendi no meu precário italiano:

"Ouvindo o coro cantar "Oh la patria, che bela e perdutta" pensei que, se continuarmos a assasinar a cultura italiana, aí sim, teremos nossa pátria tão bela e perdida".

Depois ele pede ao público que cante junto ( mas a tempo!) e todos cantam, de pé, naquela pátria de cantores. No fim, vê-se os cantores do coro chorando.


Em outro video, uma faixa: "Nos 150 anos da unificação italiana, salvemos uma identidade nacional, a ópera lírica"

E chega outra faixa, recém pintada também: "Grazie maestro"

Eu também agradeço ao maestro, salvou o meu dia

Mariano e Helio Delmiro

quinta-feira, agosto 25, 2011

sábado, agosto 20, 2011

quarta-feira, agosto 17, 2011

Porque eu tô voltando: Drummond



O SOTAQUE DAS MINEIRAS

O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar.
Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis
efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo ficou de fora?
Porque, Deus, que sotaque!

Mineira devia nascer com tarja preta avisando:
ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para
assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor.

Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma.
Certa vez quase propus casamento a uma menina que
me ligou por engano, só pelo sotaque. Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem,sabe-se lá
por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem:
"pó parar").

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e
levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas
de uais, trens e sôs. Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é
competente em tal ou qual atividade.
Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz de direito, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço.
Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: "cê tá boa?"
Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa é
desnecessário.

Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.
Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc). O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com que você mexe, não fique ofendido. Querem saber
o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta. Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz: Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não,sô.
Esse "aqui" é outro que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer, "olá,
me escutem, por favor".
É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem "apaixonado por". Dizem, sabe-se lá por que, "pêxonado com". Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.
Ouve-se a toda hora: "Ah, eu pêxonei com ele...". Ou: "sou doida com ele" (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro).
Elas vivem apaixonadas "com" alguma coisa.

Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de
"bonitim", "fechadim", e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: "E aí, vão?". Traduzo: "E aí, vamos?". Não caia na besteira de esperar um "vamos"
completo de uma mineira. Não ouvirá nunca. Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas.

No supermercado, não faz muitas compras, ele compra "um tanto de côsa".
O supermercado não estará lotado, ele terá "um tanto de gente". Se a fila do caixa não anda, é porque está "agarrando" [aliás, "garrando"] lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora! Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará: Ai, gente, que dó. É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras.

Não vem caçar confusão pro meu lado. Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro "caça confusão". Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele "vive caçando confusão".

Para uma mineira falar do meu desempenho sexual, ou dizer que algo é
muitíssimo bom vai dizer: "Ô, é sem noção".Entendeu, leitora? É sem noção! Você não tem, leitora,idéia do "tanto de bom" que é. Só não esqueça, por favor, o "Ô" no começo, porque sem ele não dá para dar noção do tanto que algo é sem noção, entendeu?

Capaz... Se você propõe algo e ela diz: capaz!!! Vocês já ouviram esse "capaz"? É lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer
dizer "ce acha que eu faço isso"? com algumas
toneladas de ironia... Se você ameaçar casar com a Gisele Bundchen,
ela dirá: "Ô dó dôcê".
Entendeu? Não? Deixa para lá.

É parecido com o "nem...". Já ouviu o "nem..."? Completo ele fica:- Ah, nem... O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o
pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum.

Você diz: "Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?".
Resposta: "Nem..." Ainda não entendeu? Uai, nem é nem.
Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?
A propósito, um mineiro não pergunta: "você não vai?".
A pergunta, mineiramente falando, seria: "cê não anima de ir"?
Tão simples. O resto do Brasil complica tudo.

É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem...Falando em "ei...".
As mineiras falam assim, usando, curiosamente, o "ei" no lugar do "oi".
Você liga, e elas atendem lindamente: "eiiii!!!", com muitos pontos de
exclamação, a depender da saudade... Tem tantos outros...

O plural, então, é um problema. Um lindo problema, mas um problema.
Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é para perdoar, com louvor,
os deslizes vocabulares das mineiras. Aliás, deslizes nada.
Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja
com a razão. Se você, em conversa, falar: Ah, fui lá comprar umas coisas..
Ques côsa? - ela retrucará. O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que.

Ouvi de uma menina culta um "pelas metade", no lugar de "pela metade".
E se você acusar injustamente uma mineira, ela,chorosa, confidenciará:
Ele pôs a culpa "ni mim".A conjugação dos verbos tem lá seus
mistérios em Minas... Ontem, uma senhora docemente me consolou:
"prôcupa não, bobo!". E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas
conjugações mineiras, nem se espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: "não se preocupe", ou algo assim.

A fórmula mineira é sintética. E diz tudo. Até o "tchau" em Minas é personalizado. Ninguém diz tchau pura e simplesmente. Aqui se diz: "tchau procê", "tchau procês". É útil deixar claro o destinatário do tchau.
Então..."

Um abraço bem apertado procê
Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, agosto 15, 2011

Soneto


Mário Faustino



Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler

À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.

Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso

Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.

domingo, agosto 14, 2011

Roberto Piva

"Eu sou uma alucinação na ponta dos teus olhos".

terça-feira, agosto 09, 2011

domingo, agosto 07, 2011

quinta-feira, agosto 04, 2011