quinta-feira, outubro 21, 2010

Mulheres beats, sim, existiram

Havia mulheres na beat generation, nos early 50's. Eu não sabia, você sabia? Uma delas, Diane di Prima, ainda está viva e atuante: poeta e mística, tem 43 livros de poesia e prosa.


No poema Uivo, de Allen Ginsberg --


que falaram 72 horas sem parar do parque ao apê ao bar ao Hospital Bellevue ao Museu à Ponte de Brooklyn


-- o tradutor Claudio Willer explica em uma nota tratar-se de Ruth Goldemberg, amiga do grupo, a mais quieta e tímida de um grupo de moças apelidadas de "as três graças". Certo dia, em 1953, começou a falar sem parar na WashingtonSquare, Village, até 72 horas depois ser internada. Levada pela familia, nunca mais se teve notícias dela.


Não sei se era poeta, mas era uma das mulheres, poucas, que andavam com eles. E por que havia poucas mulheres? Certamente porque nos anos 50 era muito dificil uma mulher participar de um grupo tão iconoclasta, libertário, chegado nas drogas, na bebida e no sexo livre. Além disso....


Lawrence Ferlinghetti, poeta e editor entrevistado por Amy Goodman


Amy Goodman: E as mulheres? E as mulheres naquela época, as mulheres na Geração Beat, as poetisas, as escritoras?



Lawrence Ferlinghetti: Bem, quer dizer, pelo menos a metade da Geração Beat era gay. E Allen realmente temia as mulheres, pensava eu, e tendia a vê-las como se não estivessem presentes. Tenho uma amiga que foi em uma viagem com ele pelo Sudeste, e um ano depois encontrou-se com ele. Eles tinham viajados juntos neste carro com outros por vários meses e um ano mais tarde, em outra ocasião, ele olhou para ela como se não a conhecesse. É como se elas não estivessem ali para ele.
Mas havia umas poucas escritoras que conseguiram ser publicadas com os Beats, como Diane di Prima, por exemplo, e um pouco depois, Anne Waldman, que agora se impõe como chefe do Instituto Naropa, a parte do Instituto Naropa que é o instituto de poesia. Mas, geralmente, se poderia dizer que talvez –
Amy Goodman: Lembro que a entrevistei logo depois da morte de Allen Ginsberg em Nova York.
Lawrence Ferlinghetti: Oh, sim. Poderíamos dizer que, em geral, apesar de as mulheres serem ignoradas, aquelas com quem eles saíam eram ignoradas, sobretudo pelos Beats, mas, como na tragédia grega, freqüentemente eram as mulheres que determinavam o destino dos homens.


Disse Claudio Willer no excelente curso da Letras/USP que estou assiitndo sobre geração beat que um deles, não sei se Gregory Corso, ao ser perguntado, respondeu que as mulheres beats eram logo internadas pelas famílias. (Aliás, vários dos homens também.)


Imaginem o que não era rebelar-se contra aquele mundo convencional e de moral retrógrada e política mais ainda. (Aliás, parece que retrocedemos a muito antes disso, pelo que se vive atualmente.) E penso em tantas mulheres valentes e talentosas internadas: Camile Claudel, Zelda Fitzgerald, quantas ...


Loucas? Por que teriam ficado loucas? Talvez esculpisse, uma, e escrevesse, outra, até melhor que os respectivos maridos?


Diane di Prima escapou. Sorte dela e nossa.


Aqui um poema de Diane di Prima, que encontrei por acaso no site http://www.subcultura.org/, e fiquei sabendo que foi criado por Iosif Landau, que morreu ano passado com quase 90 anos, um imigrante romeno que se tornou escritor no Brasil após se aposentar e...era um beatnik.


O site tem muitas poesias beats de lá e de cá.


Um poema de Diane, traduzido por ele:


Neves. Kerhonkson - para Alan



Esse, então, é o presente que o mundo nos deu


(você me deu)


de mansinho a neve


escondeu-se nos vazios


deitada na superfície do laguinhos


e parece com minhas esguias brancas velas


que estão na janela


e que queimarão na madrugada enquanto a neve


enche o nosso vale


nesse vazio nenhum amigo nele se perderá


ninguém de pele morena virá do México


dos campos ensolarados da Califórnia, trazendo maconha


todos perdidos agora, mortos ou silenciosos


ou destruídos pela loucura


do uivo resplandescente da nossa visão de então


e esse seu presente


-silêncio envolvendo o contorno de minha existência.


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Creio haver referências a Kerouac ( alguém vem do México trazendo maconha) e a Ginsberg ( o uivo) e o fim deles


todos perdidos agora, mortos ou silenciosos
ou destruídos pela loucura