sexta-feira, agosto 14, 2009

Brava Gente, um tributo de Tide Hellmeister

No proximo dia 8 de setembro será inaugurada no Rio de Janeiro a exposição Brava Gente, com quadros de Tide Hellmeister representando personagens pinçados por ele, e algumas historinhas de suas vidas. Com muito prazer eu ajudei em alguns textos dessa exposição, e quando tiver mais dados divulgarei aqui, porque vale a pena. Esse é um dos textos que escrevi para o evento. E também não tenho ainda nenhum dos quadros, logo que tiver vou postá-los.

Brava Gente, um tributo de Tide Hellmeister


Certa vez perguntaram a Federico Fellini por que ele escolhia personagens e figurantes tão esdrúxulos para os seus filmes. Ele mesmo contou, em uma entrevista, quem fez a pergunta: uma senhora, dentro de um carro, usando um tapa-olho e com um mico no ombro.
Tide Hellmeister, um dos nossos mais importantes artistas, concordaria com Fellini, se lhe fizessem a mesma pergunta sobre os singulares personagens que compõem esta “Brava Gente”.
Somos todos nós, e de perto quem é “normal”?
Tide criou seus personagens a partir da observação do cotidiano, dos passageiros do metrô, do ônibus, dos caminhantes nas ruas. No estúdio, imaginava a história de cada um e recortava e colava e pintava seus rostos: tristes, bondosos, malandros, egoístas, avaros, generosos, abatidos, conformados, espertíssimos, tantos...
Todos com data de nascimento e de morte, as duas únicas certezas que a espécie humana possui, e a história que construíram para preencher esses espaços.
Pessoas humanas, demasiadamente humanas: Pedro, Cornélio, Julio Prosa de Jesus, Domingos, Theofilo, Gherard, Assumta, João, Benjamim, Eli Regina, Emilio, Nilo, Licurgo, Hipólito.
Pela primeira vez o homem da tesoura e do pincel, o artista gráfico que conquistou um lugar único, o homem para quem “tudo é colagem”, o artista das tantas faces, que se dizia “sem palavras”,
usou da palavra: sentou e escreveu.
Montou o seu teatro com tesoura, papel, tinta e escrita, como sempre fez, aliás, mas desta vez, escreveu histórias.
Todas impregnadas de compaixão pelo semelhante, pelo irmão, por essa Brava Gente brasileira que agora é apresentada ao público sob forma de arte de grande qualidade, como sempre foi sua produção.
Logo agora, que ele avisou: “fui ali e volto já”.
Nem precisa voltar, já que nunca partiu: a marca forte e bela de sua passagem sempre continuará entre nós.