quarta-feira, fevereiro 27, 2008

No jornal mineiro O Tempo 23/02/2008


"Saudades de um tempo que não vivi"

Com a frase acima Elizabeth Lorenzotti sintetiza sua pesquisa sobre o "Suplemento Literário", ora publicada

JOÃO POMBO BARILE


Quanto tempo o leitor médio ainda gasta lendo jornais? Qual deve ser o tamanho de uma reportagem para que ele não desista de ler uma matéria? Perguntas que ouço há pelo menos 20 anos, quando trabalhava como redator na editora Nova Cultural e que confesso: ainda hoje não tenho uma resposta. "Parágrafo curto, menino. Com no máximo quatro linhas", era a dica que cansei de ouvir dos meus primeiros editores. O conselho vinha na onda da grande moda que arrastou o jornalismo a partir dos anos 80. E que instituiu os famigerados manuais de redação nos diários brasileiros. A panacéia funcionaria bem até o advento da Internet. Até aquele momento, todo mundo se informava mesmo era lendo jornal. Mas aí veio o jornalismo on-line. E a informação, pura e simples, passou a ser função da web. E os jornais, desde então, patinam em infindáveis tentativas para terem seus infiéis leitores de volta. Segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Eduardo Lins da Silva, até mesmo o diário norte-americano "USA Today", que nos seus primórdios tentava aparentar-se a uma televisão no papel, com a difusão da Internet mudou de estratégia. E resolveu editar textos mais longos e aprofundados. "Aparentemente convencido de que o público dos veículos impressos nunca mais irá crescer e exige material de qualidade superior", escreveu o professor em um artigo recente. Para quem ainda duvida do óbvio ululante, a leitura do relatório "Sumário Estatístico dos Estados Unidos: 2007" pode ser a pá de cal no assunto. O documento, publicado na terra do tio Sam no início de 2008, indicou que, no ano passado, pela primeira vez na história, o tempo gasto per capita na Internet foi maior que o tempo dedicado à leitura de jornais. Todas essas questões me ocorreram enquanto olhava para a diagramação de uma página do suplemento literário do jornal "O Estado de S.Paulo" que está reproduzida no livro "Suplemento Literário - que Falta Ele Faz", da professora e jornalista Elizabeth Lorenzotti. O alentado estudo, que conta a história de um dos momentos mais importantes da imprensa nacional, pode servir de bússola para quem ainda se interessa pelos rumos do ofício de se fazer jornalismo cultural no país. Ao registrar a profunda mudança ocorrida nos jornais tupiniquins, a partir da história do suplemento que circulou entre os decênios de 1950 a 1970, Lorenzotti explicita como nossos jornais foram se voltando cada dia mais para o imediatismo e o registro rápido. Concebido pelo mestre Antonio Candido, e dirigido primeiro pelo crítico teatral Décio de Almeida Prado e mais tarde pelo jornalista Nilo Scalzo, o caderno cultural foi um dos frutos do projeto da elite paulista que, alguns anos antes, já tinha fundado a USP. Com o suplemento, a intelligentzia, surgida a partir do novo ambiente universitário paulistano, pôde mostrar sua cara. Durante várias décadas, leitores puderam se deliciar com ensaios do próprio Candido, além de textos de autores como Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes e Lourival Gomes Machado. Chico Na sessão dedicada à publicação de contos - alguma coisa absolutamente inconcebível para os jornais de hoje -, Francisco Buarque de Holanda publicava sua primeira incursão no gênero, um texto chamado "Ulisses". Já conhecido por causa do sucesso da canção "A Banda", Chico mostrava, pela primeira vez, seus dotes literários. Muitíssimo bem documentado, o livro da professora Lorenzotti traz ainda o plano do "Suplemento Literário e Artístico d’O Estado de S.Paulo". O documento, que estava perdido há décadas, foi cedido por Candido para a publicação no livro. Nele, em um rascunho dos vários planos de pauta, encontramos, por exemplo, artigos encomendados que deveriam ter 28 laudas! No mês passado, em conversa com o professor Sergio Paulo Rouanet, ele me contava que estava atrás de um artigo da crítica e escritora Lúcia Miguel Pereira para um ensaio que está preparando. "O artigo foi publicado no Suplemento do Estadão", dizia Rouanet. Depois da conversa com o embaixador, fiquei pensando se algum dia, sei lá, daqui a 50 anos, algum ensaísta como o Rouanet vai se interessar por um artigo publicado em qualquer suplemento de cultura brasileiro produzido nos dias de hoje. Confesso que não tenho a resposta.


AGENDA - "Suplemento Literário - que Falta Ele Faz!", de Elizabeth Lorenzotti. Editora Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 208 págs., R$ 40

domingo, fevereiro 24, 2008

Onde encontrar Suplemento Literário-Que falta ele faz!



Atendendo a pedidos, vai a relação das livrarias que vendem real e virtualmente o meu livrinho:

São Paulo

Azteca - R. Bartira, 351
Sobrado - Av. Moema, 493
Paraler - R. Quatá, 300
Livraria da Vila – http://www.livrariadavila.com.br/
Rua Fradique Coutinho, 915-Vila Madalena- fone 3814-5811
Vila Madalena Telefone: 3814-5811
Alameda Lorena, 1731 - Jardins Telefone: 3062-1063

Cortez
Rua Bartira, 317 ao lado da PUC
www.livrariacortez.com.br
Cultura
http://www.livrariacultura.com.br/

Rio de Janeiro

Livraria da Travessa -

Travessa do Ouvidor, 17 fone (21) 3231-8015
Av. Rio Branco, 44 fone (21) 2519-9000

Leblon
Shopping Leblon, 2º piso (021) 3138-9600
Ipanema
R. Visconde Pirajá, 572 (21) 3205-9002

Vendas nacionais
Saraiva

http://www.saraiva.com.br

Siciliano - www.siciliano.com.br
Submarino - www.submarino.com.br

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Viva Isaurinha Garcia!



Recebi de um amigo essa incrível memória da grande cantora paulistana do Brás- e com sotaque- Isaura Garcia ( com S mesmo, saiu o nome da pobre errado no próprio disco:

"Uma história engraçada (um pouco forte, não recomendada aos mais pudicos) que ilustra a vida da lendária Isaurinha Garcia. Contada por Hermínio Bello de Carvalho em "Sessão Passatempo" (Relume Dumará). "Tinha comemorado bodas de prata de separação do único marido oficial, o tecladista Walter Wanderley: cuecas prum lado e camisolas pro outro há 25 anos, e ela, ainda assim, inconsolável. Dele, lembranças inapagáveis: as porradas, os discos e a filha que fizeram juntos, as separações motivadas por uma ciumeira descomunal, o sexo destemperado a qualquer hora do dia (gabava-lhe o instrumento fálico, de proporções inusitadas, e cuja rigidez ela atribuía aos poderes afrodisíacos da carne seca com jerimum, especialidade que, para lembrar suas origens nordestinas, ela sempre providenciava nostalgicamente à mesa), duas tentativas de suicídio, ela sozinha largada na vida e apegada a um conhaque miserável que lhe corroía a voz e, ao mesmo tempo, a fazia parecer cada vez mais Giulietta Massina nascida no Brás. Quando subia ao palco, valha-me Deus, liquidificava nossos corações com seu estilo único, que a Elis me confessou adorar. Eis que ouço a notícia da morte súbita de Walter nos Estados Unidos, onde instalara suas neuras e a indiscutível genialidade e de onde também, segundo ela, telefonava de vez em quando rogando de joelhos a reconciliação. Consolá-la, como? (Luíz Sérgio Bilheri Nogueira lembra do dia em que lhe fugiu um de seus gatos, ela conversando e a toda hora fazendo miau, indo até o bueiro da rua miando que nem desesperada, ficando de quatro, a bunda apontada pro céu, "vem cá, seu gato filho da puta, que a mamãe está sofrendo.") Lembro também de Isaura hospedada em minha casa, da uma hora corrida de choro convulso pela manhã, pranto cronometrado e infalível, eu afagando seus cabelos louros, ouvindo-a monocordicamente declarar que queria morrer, que iria se suicidar, que isso e aquilo. Amava o puto, como o amava! Dizia jamais querê-lo de volta, iria escalpelá-lo se aparecesse de repente. E agora? Me encorajo e telefono pra ela: "Warte morreu, nego", Isaura chora desbragadamente, digo as coisas convencionais de sempre, do tipo "ele descansou" (mas pensando na esbórnia que já deveria estar preparando no bar lá de cima), que ela se acalmasse, tudo ia passar etc. e tal, e ela se comporta como viúva, deve estar de negro do sutiã à calcinha rendada e, claro, de óculos escuros (que tantas vezes usou para camuflar os hematomas que ele lhe causou). Ah, que o amava tanto, que se arrependia de não tê-lo recebido de volta, que isso e aquilo, mas sobretudo: - Ah, Hermínio, ele tinha uma piroca tão bonita"

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Um suplemento literário

JB ONLINE

[ 26/01/2008 ] 02:01


Elizabeth Lorenzotti. Suplemento literário: que falta ele faz!. Do artístico ao jornalístico: vida e morte de um caderno cultural. São Paulo: Imprensa Oficial, 2007.)

Criado em 1956, o Suplemento Literário d´O Estado de S. Paulo singularizou-se desde logo pela rigorosa estruturação orgânica, meticulosamente planejada por Antonio Candido. O plano previa o rodapé de crítica literária, a cargo de quem escreve estas mal traçadas linhas, mais um número variável de resenhas, de cujos autores se esperavam artigos curtos, tratando dos livros como críticos "em que haja uma certa informação sobre o conteúdo e uma análise crítica brevemente traçada".

Além do rodapé, o núcleo intelectual seria reservado às letras estrangeiras, às nacionais, as dos estados e à literatura brasileira. Quanto às estrangeiras, haveria duas partes: um artigo crítico de 3 a 4 laudas em média e uma série de pequenas notas informativas as mesmas observações aplicando-se às letras dos estados. Inovação importante referia-se à literatura brasileira: "O Diretor deverá combinar com os escritores constantes da lista os temas de seus artigos, podendo inclusive sugeri-los. Os artigos podem ir do tipo crítico-apreciativo ao tipo erudito-informativo, contanto que sejam de natureza a despertar interesse pela nossa literatura passada".

No que se refere às literaturas estrangeiras os 16 ou 17 sábados do ano seriam preenchidos da seguinte maneira: 4 com literatura alemã; 3 com a portuguesa; 2 com a argentina e a mexicana, mais um alternadamente com a espanhola, síria-libanesa, israelita, russa, suiça e japonesa. Assim, o Suplemento determinava superar o paroquialismo e o localismo, reunindo um plantel de colaboradores: para as letras francesas, Brito Broca; para as italianas, Lauro Escorel; para as argentinas, Norberto Frontini; para as portuguesas, Adolfo Casais Monteiro; para as alemãs, Anatol Rosenfeld, e assim por diante, lista preliminar modificada segundo as necessidades.

Para a literatura dos estados, previam-se convites a Osman Lins (Recife), Afonso Ávila (Belo Horizonte), Wilson Chagas (Porto Alegre) e assim por diante, enquanto para os artigos, diagamos, mais históricos ou eruditos sobre a literatura brasileira estavam previstos nomes como José Aderaldo Castelo, Antonio Soares Amora, Edgard Cavalheiro, Lúcia Miguel-Pereira, Augusto Meyer, Eduardo Frieiro, Moysés Velhinho e outros, sem prejuízo das desistências e de novos colaboradores que surgissem. O mesmo critério seria aplicado às resenhas (literatura, filosofia, sociologia, economia, etc..), ao setor artístico e à parte variável.

Plano apresentado como provisório, advertia o autor, não pretendendo ser rígido nem definitivo, mas que, "uma vez aceito, e enquanto não for modificado por este modo, as normas estabelecidas devem ser observadas, para ser possível um funcionamento satisfatório". O projeto estatuía ainda a independência "como organização e matéria, do jornal quotidiano, pautando-se por normas próprias, salvaguardados, naturalmente, os princípios gerais da Empresa". E ainda: "Empenhado em manter uma atmosfera de objetividade e largueza intelectual, rejeitará os preconceitos literários e artísticos bem como a formação de 'cliques'. Neste sentido, para evitar equívocos, não publicará resenhas e artigos sobre livros de diretores e redatores, tanto seus quanto do jornal" - regra aplicável ao autor do projeto que o organizou a convite dos diretores do jornal e expressamente aprovado por eles (Júlio de Mesquista Neto e Ruy Mesquita).

Dirigido por Décio de Almeida Prado e enquanto o dirigia, o Suplemento foi certamente o melhor de nossa imprensa. Os Mesquita, observa Antonio Candido, "sempre foram contra a esquerda", o que não os impedia, acrescento eu, de empregar numerosos redatores tidos por esquerdistas, além de convidarem o citado Candido, aprovando-lhe o projeto sem restrições. Eram, na minha estimativa, liberais republicanos pelo modelo clássico, aceitando divergências ideológicas, embora combatendo-as. Sabe-se que o "dr. Júlio", como era chamado Júlio de Mesquita Filho, conversou certa vez com Décio de Almeida Prado a respeito de um colaborador conhecido como comunista, recebendo esta resposta: "não sei se é comunista (...) mas é um grande crítico. Mas se o senhor achar necessário que ele não colabore mais, eu aceito e nesse caso apresento minha demissão". O incidente terminou aí.

Isso dava a idéia da grandeza de Julio Mesquita Filho ( palavra empregada por Antonio Candido), demonstrada em mais de uma circunstância.Com a saída de Décio de Almeida Prado, começou o declínio gradativo até o seu desaparecimento em 1974,


sábado, fevereiro 09, 2008


Vestígios do dia

De manuscritos raros a registros afetivos no correio eletrônico, a historiadora Meize Lucas fala sobre os vestígios que deixarão de existir no futuro próximo

Meize Lucas
especial para O POVO

05 Jan 2008 -


Mês passado comprei, numa daquelas charmosas livrarias do Rio de Janeiro, um livro chamado A paixão pelos livros, reunindo textos que manifestam o prazer e os amores possíveis por esse objeto. A razão da compra foi, além do título, a bela capa com a foto de uma livraria bombardeada em Londres na Segunda Guerra Mundial, na qual se vêem elegantes senhores a ler.


Na semana seguinte, em Recife, compro outro livro pela beleza da edição e pelo assunto, Suplemento Literário - que falta ele faz, de Elizabeth Lorenzotti. Trata-se de um estudo sobre o caderno lançado pelo jornal O Estado de São Paulo, em 1956. Nele encontramos a reprodução do projeto elaborado (e datilografado) por Antonio Cândido para o jornal. Livros que integram minha estante pelo gesto comum a quem gosta do objeto: o prazer de entrar em uma livraria, olhar, pegar e, principalmente, esquecer do tempo e da vida. Não sei se, correndo os olhos por algum site, esses livros estariam aqui ao meu lado. Na Internet, a gente busca o que quer. Não há lá muito espaço para o aleatório.

Não vou entrar na discussão besta e já datada sobre o fim do livro ou o mal da Internet. Sobre o primeiro, o historiador Roger Chartier já respondeu mil vezes que não, o livro não vai acabar. Além disso, basta ver as cifras milionárias das editoras e o tanto de doidos que têm por aí a rodar sebos, alguns imundos, a cheirar livros, a gastar rios de dinheiro em sites e a percorrer estantes de livrarias boas e ruins. Quanto ao segundo, seria interessante ver que o cinema provocou igual celeuma quando apareceu. Dizia-se que ele podia acabar casamentos, destruir infâncias e desviar a conduta de mulheres e jovens.

Não quero falar sobre o bem ou sobre o mal dessas mudanças. Mas sobre o que se perde. Reservo-me o direito de não falar sobre os ganhos, pois esses já são amplamente propagados (alguns de forma enganosa) e vivenciados no dia-a-dia.
Comprar pela internet é prático: não tem trânsito, vendedor ruim nem o famoso "tem, mas tá faltando". Também não há o risco de perguntar pelo livro do Mia Couto e o vendedor te pedir dez vezes para repetir o nome do autor por achá-lo meio estranho. E, com sorte, podemos comprar na promoção "a partir de três livros o frete é grátis". Ganhamos, sim. Mas perdemos (ou pelo menos diminuímos) a possibilidade da surpresa e assim sermos arrebatados. A cada dia vivemos não o nosso prazer, mas compramos o nosso conforto. E, assim, vamos suprimindo junto com os desgastes alguns pequenos prazeres.

Há também uma questão de ordem prática, que diz respeito ao meu ganha-pão. Sou historiadora. E como sabem, historiadores são um povo que vive de papel velho, coisa e tal. Entre essas velharias uma das melhores é topar com alguém com vocação para tinta e papel que tenha deixado cartas, diários e anotações espalhadas por cadernetas sem fim. Basta pensar nas cartas enviadas por Freud a Fliess e a Ferenczi, base ainda hoje para os estudos da psicanálise. É também maravilhoso ver um manuscrito e perceber o texto na poesia envolvente da caligrafia de quem escreve. Nos textos de Antonio Cândido, reproduzidos no livro citado, quase podemos ouvir (tactactac) seu surgimento. Há ainda o entrelaçamento entre a escrita e a datilografia, caso de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, em que, "corrigindo" à mão os capítulos datilografados, o autor nos permite espiar a refundação do texto.

Vestígios que vão deixar de existir num futuro próximo. Documentação inexistente não por falta de acervos, mas por falta de quem os produza como rastro de suas ações. As impressões de trabalho, as trocas amorosas e as construções do pensamento se apagam repetidamente no computador. Não há mais versões até chegarmos à final, logo perdemos o percurso. E o amor desaparece sem deixar mágoas impressas no mundo.

Também teremos o esgotamento de um gênero literário por falta de estoque. Fernando Sabino guardou todas as cartas enviadas aos seus amigos Helio Pellegrino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Resende. Publicadas, renderam um belo livro.

Os exemplos podem ser multiplicados, mas, como fica claro, não ao infinito.
Dia desses tive vontade de reler um poema enviado por um amigo, hoje distante do coração e da vida. Qualquer um sabe, menos eu - aliás, hoje eu sei -, que, se uma pessoa fica muito tempo sem acessar o tal do e-mail, ele fica desativado e perde-se tudo. E foi o que aconteceu. Colocando na busca da Internet posso recuperá-lo, mas é impossível recuperar o poema junto com as palavras que o acompanhavam, a data em que foi enviado, o porquê da sua existência na minha caixa de e-mails.

Mas quem sabe no futuro ainda não topo com ele por aí numa caixa de mensagem.

Meize Regina de Lucena Lucas é doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC)

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Crítica na Folha de S. Paulo




São Paulo, domingo, 20 de janeiro de 2008
+ livrosPara gostar de ler
Livro sobre o "Suplemento Literário", do "Estado de S. Paulo" expõe atual elitização da leitura

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
M eio século e um ano atrás, "O Estado de S. Paulo" resolveu pagar bem a um grupo de intelectuais de primeira linha para produzir uma "apensa" ao jornal: seis páginas semanais dedicadas à literatura, sob o título de "Suplemento Literário". Basta mencionar os nomes dos editores e colaboradores para ter certeza da qualidade do produto: Antonio Candido, Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes, Lourival Gomes Machado, Leyla Perrone-Moisés, Nilo Scalzo, entre diversos outros. Quem ilustrava os textos dessa gente eram artistas como Aldemir Martins, Clóvis Graciano, Marcelo Grassman, Di Cavalcanti, Maria Bonomi, Hilde Weber, Renina Katz, Wesley Duke Lee, Livio Abramo.

A história deste marco da cultura brasileira, que viveu de 1956 a 1974, está relatada em "Que Falta Ele Faz!", de Elizabeth Lorenzotti. Trata-se de documento inestimável para a história do jornalismo e da vida intelectual do país. Dentre os registros que ele traz, de incalculável valor para os profissionais e estudiosos da comunicação atuais, está a reprodução fac-similada do projeto que Antonio Candido apresentou a Júlio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita para o suplemento e foi integralmente aceito pelos diretores do jornal. Em toda a sua existência, o "Suplemento Literário" não sofreu censura nem pressões. O plano original foi cumprido à risca, independentemente das tensões ideológicas e econômicas que o país viveu, como relatam seus sobreviventes.

Mas a sociedade mudou, o jornalismo também e o suplemento acabou. Lorenzotti diz que ele faz falta. Mas o fato é que aqueles seus objetivos de "servir como instrumento de trabalho e pesquisa aos profissionais da inteligência" e "nunca transigir com a preguiça mental, com a incapacidade de pensar" talvez tenham deixado de fazer sentido no mundo contemporâneo. Sem pessimismo saudosista, é difícil fugir à realidade de que hoje em dia lê-se cada vez menos. Não só aqui no Brasil; no mundo todo. Sete minutos por dia O National Endowment for the Arts (entidade pública independente nos EUA) divulgou no ano passado pesquisa segundo a qual os jovens americanos entre 15 e 24 anos gastam em média sete minutos por dia de semana em leitura voluntária (ou seja, não como tarefa escolar obrigatória). A venda de livros nos EUA caiu de 8,21 por habitante/ano em 2001 para 7,93 em 2006. A despesa com livros por domicílio americano em 2007 foi a mais baixa em 20 anos, e o preço médio cresceu substancialmente -ou seja, as pessoas estão consumindo menos livros. No Brasil, embora as livrarias estejam comemorando um crescimento de 15% em seu faturamento em 2007 em relação ao ano anterior no bojo da onda do aumento generalizado do consumo, não há nenhum sinal de que o número de leitores ou que o tempo gasto em leitura estejam também subindo. Neste cenário, será que o "Suplemento Literário" ou algo do seu gênero teria como existir? Provavelmente não se o jornalismo se mantiver no mesmo rumo que tem seguido nas últimas décadas. No último quarto do século 20, o jornalismo impresso resolveu enfrentar o avanço dos meios eletrônicos sobre o consumidor de informação mimetizando os adversários. A fórmula mais apurada desse processo foi o diário "USA Today", que tentava aparentar-se a uma TV no papel. A estratégia deu certo por uns tempos. Mas, depois de cerca de 20 anos, o próprio "USA Today" resolveu editar textos mais longos e aprofundados, aparentemente convencido de que o público dos veículos impressos nunca mais irá crescer e exige material de qualidade superior. Na edição de 24 de dezembro da revista "The New Yorker", o escritor Caleb Crain especula sobre a possibilidade de que "a leitura de livros por prazer um dia se tornará o domínio de uma "classe de leitores" especial, à semelhança da que existiu até a segunda metade do século 19, quando chegou a leitura de massa". Ler ficção poderá se tornar um hábito arcano de uns poucos, que poderão desfrutar de prestígio social ou não. Se e quando isso acontecer, talvez os jornais impressos venham a ser o veículo preferencial dessa casta, e aí, então, produtos como o "Suplemento Literário" realmente farão falta e poderão voltar a existir.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é livre-docente e doutor em comunicação pela USP e diretor de relações institucionais da Patri Políticas Públicas.

SUPLEMENTO LITERÁRIO - QUE FALTA ELE FAZ!
Autora: Elizabeth Lorenzotti
Editora: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (tel. 0/xx/11/ 6099-9800)
Quanto: R$ 40 (208 págs.)

sábado, fevereiro 02, 2008

A Opção Obrigatória- Capitulo 2


Navegando, achei essa noticia, num site de comunicação que reproduzia nota da fonte abaixo.

Fonte: Sindicato dos Jornalistas de S. Paulo

O jornalista, ex-assessor de imprensa do presidente Lula, Ricardo Kotscho lançou no dia primeiro de dezembro o livro Uma vida nova e feliz... sem poder, sem cargo, sem carteira assinada, sem crachá, sem secretária e sem sair do Brasil. A obra retrata a vida do jornalista entre os anos de 2005 e 2007, desde quando deixou o trabalho no governo e iniciou a sua vida profissional autônoma.

No livro, o jornalista constata como é possível ter qualidade de vida sem estar preso ao relógio e sem ter vínculo empregatício. Ele mesmo constatou isso depois de 40 anos de carreira com carteira assinada. No prefácio da obra, Mário Prata diz que o livro não é de auto-ajuda, mas de “alta ajuda” para todos os que querem conciliar trabalho com curtir a vida.
Escritor de mais 18 publicações, entre elas, Do Golpe ao Planalto - Uma Vida de Repórter, Kotscho pretende expor em seu novo livro como é a vida de um jornalista que trabalha por conta própria, faz a sua agenda, não sofre pressão de chefe, não precisa viajar e se distanciar de sua família.
Pois é, tempos atrás escrevi um artigo em resposta a outro onde Kotscho se regozijava da vida de jornalista autônomo. (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=364FDS006)

Eu observava que nossa categoria está sendo OBRIGADAa trabalhar como autoôma, sem registro, sem garantias, sem direitos, e isso não é motivo de louvação e sim de tristeza . RK respondeu por email que concordava comigo. Mas vejo que não- resolveu soltar um manual de ajuda , como se todos tivessem as mesmas condições de vida dele, a mesma situação profisisional, e pudessem se dar ao luxo de


" trabalhar por conta própria, fazer a sua agenda, não sofrer pressão de chefe, não precisar viajar e se distanciar de sua família".

Ora minha gente, que é isso????
Só para quem não sabe como é a vida de jornalista: constatações de RobertoHeloani, professor da Fundação Getúlio Vargas, da Universidade Estadual de Campinas e da Unimarcos (São Paulo), em tese de pós-doutorado pela Escola de Comunicações e Artes da USP --Mudanças no mundo do trabalho e impactos na qualidade de vida do jornalista.
De 22 jornalistas amostrados, nove trabalham de 41 a 50 horas semanais e oito até 60 horas. Apenas cinco têm jornada de até 40 horas na semana. A média de horas trabalhadas diariamente chega quase a 10 horas, muito superior à carga fixada por legislação (cinco horas) com permissão de mais duas extras.
Como eu já havia dito no meu artigo, os ares de Brasilia realmente tornam as pessoas muito fantasiosas, especialmente as que conviveram tão perto do poder, como RK.
E pior, o Sindicato dos Jornalistas dá essa noticia sem nenhum comentário e nenhuma vergonha na cara.
Alias, aquela entidade da rua Rego Freitas, que para nada serve, seria de muita utilidade se cerrasse para sempre suas portas.