sábado, agosto 30, 2008

1998



Lembrar é esquecer aos poucos, do contrário enlouqueceríamos, eu escrevi isso esses dias depois de vir do enterro de um amigo. No velório, passaram pessoas que são pedaços da minha vida.

Ao fim e ao cabo, somos todos pedaços uns da vida dos outros. Interdependentes e impermanentes.

Eu também escrevia que, talvez, a insana luta pelo poder seja uma maneira torta que o homem tem de tentar conquistar a imortalidade. Será?

Pôr no papel em letra, em desenho, metamorfosear a vida em traço e tipo é também uma tentativa de alcançar a imortalidade.


Melhor, muito melhor esta, embora também vã.



quinta-feira, agosto 28, 2008

Tomatina em Buñol

Minha amiga Adriana está na Espanha e conta a história da Tomatina, aquele carnaval maravilhoso de tomates em Buñol, província de Valencia.
A festa acontece há 40 anos na última semana de agosto.

"Saíram cinco ônibus de dois andares para a cidadezinha de Buñol. Foram 40 minutos de viagem.
Um caminhao (tipo caçamba) percorre o circuito da tomatina, e o povão atrás, numa rua estreita,como se fosse um trio elétrico.
O caminhã repete o circuito cinco vezes. Na primeira passagem, o grupo de atiradores (dentro do caminhao) mira com força as pessoas (prensadas na multidao).

O aperto é tanto que nao dá nem para levantar a mao para se proteger. A gente abaixa o rosto para não pegar nos olhos. Mesmo assim, dá para sentir a pancada quando acertam o tomate.
Na quarta e na quinta passagem do caminhao, a bagunça é geral.

O pessoal começa a pegar o tomate no chao e atirar uns nos outros. Aí, atiram camisetas molhadas de tomates, chinelos, óculos, o pessoal dos apartamentos bota mangueira na janela para jogar água no povo, jogam balde de água etc.

Vira uma zona.
Só tinha gente da Nova Zelândia. Eles vieram de longe só para participar da Tomatina. Estava difícil de ver espanhóis na bagunça."

sábado, agosto 23, 2008

Antonio Candido: um intelectual socialista

Candido e Boris Schnaiderman
Foto Claudio Leal
DO TERRA MAGAZINE


Claudio Leal

O crítico literário Antonio Candido de Mello e Souza, 90 anos, recebeu ontem à noite (20/08 )o prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano de 2007, conferido pela União Brasileira de Escritores (UBE). Na entrega do troféu, no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, o crítico repassou sua trajetória intelectual e política. Afirmou-se fiel à "tradição do humanismo ocidental definida a partir do século XVIII".

­- O que importa não é que os alvos ideais sejam ou não atingíveis concretamente na sua sonhada integridade. O essencial é que nos disponhamos a agir como se pudéssemos alcançá-los, porque isso pode impedir ou ao menos atenuar o afloramento do que há de pior em nós e em nossa sociedade.

Ns últimos anos, o autor de "Formação da Literatura Brasileira" se tornou mais recluso. Resolveu se dar um presente ao completar 90 anos, no último 24 de julho, como revela a Terra Magazine:

- Não dou mais entrevistas, nem leio obras novas. Estou fora do tempo..

Integra do Discurso


O troféu Juca Pato tem para mim grande significado, inclusive porque as entidades que o criaram foram importantes na minha carreira intelectual. Uma é sucessora da Associação Brasileira de Escritores, a outra é sucessora da Folha da Manhã, e a ambas se prende a fase inicial da minha atividade de crítico literário e de intelectual participante, como se dizia naquele tempo.

Em 1942 a Associação Brasileira de Escritores foi fundada no Rio de Janeiro com uma finalidade ostensiva e outra implícita. Ostensivo era o intuito de lutar pela regularização dos direitos autorais, então muito desrespeitados. Implícito era o ânimo de lutar contra a ditadura do Estado Novo e seu duro arrocho em relação à liberdade de pensamento e de expressão. Eu estava presente ao encontro fundador da seção paulista, do qual saiu a deliberação de eleger Sérgio Milliet seu presidente, pois Mário de Andrade, que também estava ali, recusou o cargo, ficando discretamente como vice. A mim, jovem principiante, foi atribuída a função de 2o. secretário, não devido a mérito pessoal, mas como reconhecimento de um grupo de moços ao qual eu pertencia e estava se lançando na vida intelectual com a nossa revista Clima, cujo título passou a nos designar: éramos o "grupo de Clima".

Na seção paulista da ABDE, sigla com a qual a Associação ficou famosa, participei da organização e da realização do histórico Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores, que teve lugar em São Paulo no mês de janeiro de 1945 e foi um movimento significativo de oposição ao regime, que aliás começou a se dissolver no mês seguinte. Mais tarde, em 1949, fui eleito presidente da seção de São Paulo e nessa qualidade presidi o Segundo Congresso Paulista de Escritores, realizado naquele ano em Jaú. A declaração de princípios deste congresso afirmou que o dever básico do escritor é a fidelidade à sua vocação, não a obediência a imperativos externos, aos quais poderia, no entanto, servir como intelectual em sentido amplo. Isso era uma retificação à tendência demasiado política justificada em tempo de ditadura. Pouco depois esse problema gerou a cisão que dividiu a entidade, recomposta felizmente mais tarde com o nome atual.

Quanto à outra instituidora, menciono que em 1943 tornei-me o que se denominava então "crítico titular" do jornal Folha da Manhã, que mudara de proprietário e passava por uma reforma modernizadora. Ligado aos autores desta era o meu grande amigo e companheiro da revista Clima Lourival Gomes Machado, que se encarregou da crítica de arte. Como os reformadores queriam estabelecer um rodapé semanal de crítica literária, ele me indicou para esta tarefa de grande responsabilidade. O meu nome foi aceito e eu, verde principiante, assumi o compromisso de fornecer semanalmente um artigo de cinco a seis laudas tamanho ofício a dois espaços sobre os livros da hora. Foi nessa tarefa, não na Universidade, que me formei como crítico, pois sou licenciado em Ciências Sociais, não Letras, e naquele tempo dava aulas de Sociologia. O meu tirocínio foi portanto adquirido dentro da tradição franco-brasileira do jornalismo, o que me ensinou antes de mais nada a procurar clareza e simplicidade na escrita. Sou, portanto, um crítico de jornal que passou mais tarde ao ensino da literatura, o contrário do que é freqüente em nossos dias.

Aquele momento era de intensa politização dos intelectuais, segundo o espírito predominante no decênio que sucedeu ao movimento armado de 1930. Eu embarquei nesse rumo, politizando talvez um pouco demais a minha atividade crítica, mas correspondendo assim ao ânimo de militância que era o dos intelectuais contrários à ditadura do Estado Novo. Afinado com as tendências radicais do momento, assumi então posições socialistas que não abandonei mais e continuam a nortear as minhas convicções relativas à necessidade de transformar profundamente a nossa sociedade desigual e mutiladora.

Mas não posso ir adiante sem mencionar que na redação da Folha da Manhã conheci e vi muitas vezes ninguém menos que o inventor do popular Juca Pato, personagem pitoresco que dá o nome a este prêmio. Refiro-me a Benedito Carneiro de Bastos Barreto, famoso sob o pseudônimo de Belmonte, escritor e desenhista de alto valor, um dos mais altos praticantes da caricatura no Brasil. Era um homem discreto e cortês, de pouca fala, mas muito simpático. Naquela altura participava da luta ideológica por meio de charges mordazes contra o nazismo.

Tendo mencionado dois motivos que contribuem para fazer deste prêmio uma alegria para mim, resta mencionar como terceiro o fato de ser ele conferido neste local. Estudei na Faculdade de Direito durante sete anos, dois no chamado "pré-jurídico", designação corrente na 1a. Seção do Colégio Universitário Anexo à Universidade de São Paulo, mais cinco no bacharelado, sendo que os três primeiros de maneira assídua e os dois últimos com muita ausência, acabando por não prestar em segunda época os exames finais, segundo o sistema da época e segundo também a minha intenção.

Portanto sou quase bacharel e sempre me senti uma espécie de aluno permanente que ainda não cumpriu a tarefa, mas tenho a honra de ser bacharel do XI de Agosto, grau que me foi conferido solenemente por uma turma de formandos. Por isso trago neste momento na lapela o distintivo do Centro, quase igual ao que, em seguida ao trote de 1939, depois de raspado o cabelo e pagas as devidas taxas, recebi junto com a flâmula e o diploma de burro em bom latim macarrônico, diploma que conservo como antídoto salutar contra eventuais assomos da vaidade...

Foi nesta Casa que comecei a militar contra as ditaduras, como um dos fundadores do Partido Libertador, surgido aqui em 1939, quando eu estava no primeiro ano do bacharelado, e que não deve ser confundido com o de âmbito nacional de mesmo nome, criado sob a inspiração de Raul Pilla. Mais tarde fui também um dos fundadores da Frente de Resistência, formada quando eu estava no 5o. ano por estudantes liberais e socialistas desta e de outras faculdades, que desenvolveu uma atividade ponderável apesar dos apertados limites impostos pela censura e a repressão.

O que estou dizendo se refere cronologicamente aos anos de 1940, isto é, mais de meio século atrás. Portanto, os generosos confrades da União Brasileira de Escritores foram buscar um intelectual bem antigo, bem fora do tempo, para confortá-lo com esta distinção consagradora. Devo ser de fato tão antiquado, que venho sendo definido em algumas instâncias como "ilustrado", devidamente entre aspas, e como alguém preso a uma visão de tipo teleológico da história e do pensamento. Devo esclarecer que, ao contrário do que se poderia pensar, considero esta restrição um elogio. Ela quer dizer que me mantenho fiel à tradição do humanismo ocidental definida a partir do século XVIII, segundo a qual o homem é um ser capaz de aperfeiçoamento, e que a sociedade pode e deve definir metas para melhorar as condições sociais e econômicas, tendo como horizonte a conquista do máximo possível de igualdade social e econômica e de harmonia nas relações. O tempo presente parece duvidar e mesmo negar essa possibilidade, e há em geral pouca fé nas utopias. Mas o que importa não é que os alvos ideais sejam ou não atingíveis concretamente na sua sonhada integridade. O essencial é que nos disponhamos a agir como se pudéssemos alcançá-los, porque isso pode impedir ou ao menos atenuar o afloramento do que há de pior em nós e em nossa sociedade. E é o que favorece a introdução, mesmo parcial, mesmo insatisfatória, de medidas humanizadoras em meio a recuos e malogros. Do contrário, poderíamos cair nas concepções negativistas, segundo as quais a existência é uma agitação aleatória em meio a trevas sem alvorada.

É com este espírito talvez obsoleto de velho intelectual participante, como se dizia naquele tempo, que aqui estou para agradecer de coração esta desvanecedora homenagem.



segunda-feira, agosto 18, 2008

Uma rocha e um anjo



"E aquela voz de Caymmi, aquela voz de caverna (que seus três filhos herdaram), voz de caverna marítima, como aquela que, ecoando o ronco das ondas, soa como um rugido de leão, na costa da ilha de Fernando de Noronha, Gruta Azul. A voz de Caymmi é uma Gruta Azul com cantos napolitanos de barqueiros dentro, barqueiros que pensam que enganam os turistas. Caymmi era uma rocha e um anjo. Demasiado material, demasiado espiritual. Caymmi é um núcleo do Brasil. Caymmi será o Mundo."
Caetano Veloso, 17/8/2008

sábado, agosto 16, 2008

Las Causas



Jorge Luis Borges


Los ponientes y las generaciones.

Los días y ninguno fue el primero.

La frescura del agua en la garganta

De Adán. El ordenado Paraíso.

El ojo descifrando la tiniebla.

El amor de los lobos en el alba.

La palabra. El hexámetro. El espejo.

La Torre de Babel y la soberbia.

La luna que miraban los caldeos.

Las arenas innúmeras del Ganges.

Chuag-Tzu y la mariposa que lo sueña.

Las manzanas de oro de las islas.

Los pasos del errante laberinto.

El infinito lienzo de Penélope.

El tiempo circular de los estoicos.

La moneda en la boca del que ha muerto.

El peso de la espada en la balanza.

Cada gota de agua en la clepsidra.

Las águilas, los fastos, las legiones.

César en la mañana de Farsalia.

La sombra de las cruces en la tierra.

El ajedrez y el álgebra del persa.

Los rostros de las largas migraciones.

La conquista de reinos por la espada.

La brújula incesante. El mar abierto.

El eco del reloj en la memoria.

El rey ajusticiado por el hacha.

El polvo incalculable que fue ejércitos.

La voz del ruiseñor en Dinamarca.

La escrupulosa línea del calígrafo.

El rostro del suicida en el espejo.

El naipe del tahúr. El oro ávido.

Las formas de la nube en el desierto.

Cada arabesco del calidoscopio.

Cada remordimiento y cada lágrima.

Se precisaron todas esas cosas

Para que nuestras manos se encontraran.

quinta-feira, agosto 14, 2008

quarta-feira, agosto 06, 2008

Novo rico transforma Hotel Gloria em "Milionaire"

A indigencia mental e a ganancia campeiam a mais não poder na terrinha.
Pois nao é que o Eike Batista, aquele que quer ser o mais rico do Brasil e recentemente caiu nas malhas da PF( leia posts anteriores, com direito a nome na coleiraq da ex-mulher-- comprou o belo Hotel Gloria do Rio e demitiu todos os velhos funcionários que eram a historia do lugar?

Diz que vai se chamar "Milionaire" agora.