segunda-feira, agosto 16, 2010

Atentados à liberdade de expressão no Maranhão de Sarney

Li também que em Imperatriz, bebês morrem por nao ter acesso às UTIs, mesmo com as familias entrando na Justiça.

Jornal Pequeno
Oswaldo Viviani

Após os tumultos no lançamento do livro “Honoráveis Bandidos – Um Retrato do Brasil na Era Sarney” em São Luís e Imperatriz, provocados por baderneiros ligados ao ex-secretário de Esportes do governo Roseana Sarney, Roberto Costa, o autor da obra, Palmério Dória, disse na sexta-feira ao Jornal Pequeno que não vai se intimidar e já prepara novos lançamentos do livro em outras cidades maranhenses, como Caxias, Pinheiro e Açailândia. “A ação dos agressores, que invadiram o campus da Uema na quinta-feira para nos intimidar, teve efeito contrário. Agora é que eu vou redobrar esforços para lançar o ‘Honoráveis’ em outras regiões do Maranhão. Não posso recuar, senão aí eles [os agressores] venceriam, conseguiriam seu intento, que é impedir, pela violência, a divulgação de uma obra”, afirmou Palmério ao JP.

Paraense radicado em São Paulo, Palmério Dória, 62 anos, contou que não viveu uma situação como a ocorrida em Imperatriz nem na época da ditadura militar. “Foi muito mais grave do que em São Luís. E não foi pancadaria. Pancadaria pode sugerir algo até pitoresco. Foi agressão mesmo. Agressão séria. É muito triste ver um campus de universidade servindo de palco para intolerância e violência, com a polícia lá dentro, lançando bombas, dando tiros”.

Com segurança pessoal – Palmério ainda permaneceu em Imperatriz na sexta-feira. Por conta de ameaças recebidas por integrantes da organização do lançamento, foi contratado um segurança para acompanhar o autor, o tempo todo, tanto no hotel Shalom, em que ficou hospedado, como em seus deslocamentos pela cidade. “É uma situação absurda. Nunca tive de fazer isso na minha vida”, disse o escritor.

De acordo com Palmério, embora a Polícia Militar tenha evitado que acontecesse algo mais grave em Imperatriz, a ação dos policiais foi “no sentido de proteger os agressores”. O escritor disse que a PM soube de antemão da chegada dos baderneiros em dois ônibus, duas vans e outros dois veículos, mas nada fez até o momento em que eles invadiram o campus e o auditório da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

“Eles agrediram, usaram de violência e ninguém foi preso.

A polícia só agiu para proteger os agressores, e isso só depois que as pessoas que participavam do lançamento reagiram, expulsando os invasores. No fim, os agressores ainda saíram da cidade escoltados pela PM até a BR-010, para retornarem ‘em segurança’ a São Luís”, contou Palmério.

Para o autor de “Honoráveis Bandidos”, a constatação mais lamentável no episódio foi ver que uma certa parcela da juventude – representada pelos promotores do tumulto em Imperatriz – não tem nenhum respeito por grandes figuras humanas, como os líderes camponeses Manoel da Conceição e Zezinho do Araguaia (Micheas Gomes de Almeida), que estavam presentes no lançamento.

“No momento da invasão, Manoel da Conceição dava um depoimento comovente, falando de sua história de lutas, de paz, de liberdade de expressão. O relato foi abruptamente interrompido pelos ovos e pedras que vieram em nossa direção. Manoel só não foi atingido porque se deitou no chão. Imagine um homem com a sua história, com tudo o que ele já passou, ali deitado no chão. Isso é de deixar qualquer um indignado”, relatou Palmério Dória.