quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Meneghetti, o gato dos telhados, por Mouzar Benedito





De Decaranomuro

Livro novo do grande Mouzar Benedito saindo do forno: Meneghetti
o gato dos telhados. Na nova obra Mouzar, grande contador de causos, apresenta as peripécias de Gino Amleto Meneghetti, um dos mais encantadores gatunos da desvairada.

(*Pisa, 1 de julho de 1878 — +São Paulo, 23 de maio de 1976, morreu com 98 anos!)

Trecho:
Meneghetti era isso: uma lenda, até então viva. Seu nome virou sinônimo de ladrão em boa parte do Brasil. Na minha infância no sul de Minas, por exemplo, eu me lembro que, para xingar alguém de ladrão, chamava-se a pessoa de Meneghetti ou de Sete Dedos. Eram os ladrões mais famosos da história de São Paulo. Os dois chegaram a conviver na prisão, numa das passagens de Meneghetti. Sete Dedos era um mulato bem falante, que tinha mesmo apenas sete dedos. Era famoso também. Mas aqui na Pauliceia, embora Meneghetti e Sete Dedos fossem sinônimos de ladrão, os dois xingamentos tinham sentidos diferentes. Chamar alguém de Sete Dedos equivalia a xingá-lo de ladrão. Mas de Meneghetti era diferente. Era ladrão, mas não um ladrão ruim. Era esperto, humano, adepto da não violência, anarquista, contestador da sociedade capitalista, da burguesia e da aristocracia... Enfim, um herói popular. Um sujeito que fazia com a burguesia o que muita gente tinha vontade de fazer: roubá-la e gozá-la. O mesmo em relação à polícia, que ele provocava pelos jornais. Era uma polícia violenta e extremamente preconceituosa contra imigrantes pobres, como a maioria dos italianos. Meneghetti, enfim, “era isso”, “era aquilo”... Parecia uma figura da literatura, resultado da imaginação de um escritor policial e incorporado ao imaginário popular.